Angor estava planejando perguntar a Mara quando terminassem no restaurante, mas como havia uma boa chance agora e um mago de verdade o ajudaria, Angor explicou sua condição sem pensar duas vezes.
“Há alguns meses, o Senhor Mara me ajudou com um teste de talento. Quando toquei a Esfera de Talentos, descobri que o mundo ao meu redor mudou e flutuei no ar…”
Quando Angor falou lentamente, a expressão de todos se tornou cada vez mais estranha. Ela hesitou antes de dizer:
“Acho que vi uma descrição semelhante no 467º volume da Coleção Anual de Talentos deAbelles. No entanto, nenhum deles se parece com o que Angor estava falando.”
Os magos chegaram à suas próprias conclusões. Se o que Angor disse era verdade, seu talento certamente não era normal. Podia ser um talento especial. Ou melhor, tinha que ser. A única questão era que tipo de talento.
Até Mara olhou para Angor com os olhos arregalados.
“Ele não disse que estava apenas flutuando??”, pensou consigo mesmo.
Mara finalmente se lembrou dos detalhes naquele dia. Quando Angor terminou o teste, ele disse “flutuando”, mas também ia dizer outra coisa. Naquele momento, Mara acabou de se tornando um Aprendiz de Nível 3. Sua mana estava perturbada e seu humor, impulsivo. Ele interrompeu Angor antes que o garoto pudesse terminar.
Mara esfregou a têmpora, frustrado.
Ele deixou passar um jovem com um talento especial bem debaixo do nariz! Se tivesse descoberto antes, definitivamente lucraria com isso! Mara soltou um suspiro de arrependimento.
De repente, sentiu um olhar frio. Ele secretamente olhou para o lado. Heroline estava olhando para ele com um rosto severo.
Antes de virem para cá, quando Heroline perguntou sobre talentos especiais, Mara deu uma resposta firme: nenhum. Não demorou nem uma hora, e a verdade deu um tapa na cara dele.
Ele já não queria dizer aquilo!
Embora Heroline apenas tenha encarado Mara com raiva, ela já começou a refletir em sua mente sobre o possível talento de Angor.
“O jovem tem sorte, tem seu destino e não entra em pânico sob estresse. Ele pode possuir um bom talento…”
Heroline estava ficando cada vez mais satisfeita com Angor. Parecia que ela não precisava mais ficar de olho nele. Ela o acolheria agora. Heroline se decidiu, mas não parou a explicação de Angor. Ele ia se juntar à Academia da Ilha Flutuante do Coral Branco de qualquer maneira, então ela poderia apenas esperar até que eles saíssem do restaurante.
Com isso em mente, Heroline relaxou.
“… Minhas costas foram arranhadas por aquela mulher, com o rosto cheio de suturas. Graças a Deus eu já estava dentro do armário…”, Angor continuou contando sua aventura, e todos os sobrenaturais ao redor da mesa tentavam adivinhar que tipo de talento Angor tinha.
Do lado de fora da cortina, Sunders e Flora também ouviram a história de Angor. Flora não tinha ideia de que Angor estava falando, já Sunders franziu a testa suavemente. Ele se lembrou de algo semelhante, mas não sabia dizer quando ou o que era.
“Depois disso, muitas vezes senti coceira nas costas. Mas toda vez que me olho no espelho, não consigo ver nenhuma ferida. Também não consigo sentir nada quando toco”, disse Angor. Ele coçou a cabeça e continuou falando: “Agora mesmo, fiquei confuso com a ilusão de comida no Redbud. A terrível coceira voltou e sobrepôs minha fome. Foi assim que escapei da ilusão…”
“Isso se chama miragem, algo que acontece quando nós, magos gourmet, cozinhamos”, disse Greya. “Pessoas sem um modelo espiritual construído dentro de seus corpos não podem escapar de serem corroídas pela miragem. A coceira te ajudou a clarear a mente? Meu Deus… o que quer que tenha causado essa “ferida” em você, não foi nada comum.”
Quando Angor disse “coceira”, a sobrancelha de Sunders se contraiu, como se se lembrasse de algo.
“Posso olhar suas costas? Acho que vi algo parecido em um livro antigo”, Heroline pensou sobre isso por um tempo e falou com Angor.
Angor hesitou um pouco antes de decidir tirar a roupa de cima na frente de todos. Seu corpo magro e pele branca e limpa eram quase transparentes sob a luz brilhante da lâmpada.
Ele ainda era jovem, então as pessoas olhavam para o corpo nu e infantil sem nenhuma ideia imprópria. Greya até beliscou o braço de Angor, brincando. Seus braços quase não tinham músculos.
Angor apenas manteve a cabeça baixa timidamente, e colocou as mãos sobre o estômago. Ele não teve nenhuma chance de se exercitar no navio, e seu abdômen dividido começou a se fundir em um. Apenas os entalhes ao redor provavam que ele já foi um menino magro.
Angor se virou para que todos pudessem olhar para suas costas.
Branca e impecável. Não havia nem mesmo um pontinho. Mas isso não era importante. Todos estavam se concentrando em onde Angor dizia que sua condição era—em torno de suas escápulas.
Nada fora do comum por fora.
Greya usou uma magia chamada Visão Verdadeira para observar. Conclusão: nada.
Todos os magos que estavam interessados na história de Angor usaram seus próprios meios para verificar. Ninguém encontrou nada.
Greya usou um feitiço Magos Solenes podiam usar: Eliminar Delírio.
Era uma magia de nível 1; o efeito era principalmente encontrar verdades ocultas. O princípio por trás era usar pequenos vestígios para encontrar verdades que apareciam na linha da história.
E mesmo com isso, Greya não encontrou nada de errado.
“Estranho”, Greya ficou intrigada.
Talvez Angor estivesse mentindo? Mas como ele se livrou da miragem então? Além disso, Angor não tinha nenhum motivo para contar mentiras na frente de todos esses magos.
Eles não encontraram a ferida causada pela “mulher com o rosto suturado” que Angor mencionou.
Os aprendizes sussurraram entre si para trocar ideias, enquanto os magos tinham por seus próprios pensamentos.
“Aqui, vou dar a Angor um teste adequado e determinar qual é o talento dele. Lidaremos com o ‘arranhão’ mais tarde”, disse Heroline enquanto se aproximava. E acrescentou: “Angor será um estudante da Academia da Ilha Flutuante do Coral Branco em breve, podemos muito bem terminar o teste aqui.”
Heroline enfatizou intencionalmente “um aluno da Academia da Ilha Flutuante do Coral Branco”.
Se nada se desviasse muito, Angor certamente possuía um talento especial. Isso não significava que ele se tornaria um mago, mas qualquer um com um talento especial, que realmente tivesse sucesso, certamente alcançaria grandes coisas. Heroline falou assim para desencorajar os magos das outras organizações de reivindicá-lo para si.
Considerando os magos em cena, Boko, da Floresta Gravitacional, não estava presente, então poderia descartá-lo. Sabot era da Cidade Mecânica Flutuante, então não interviria. Isso significava que as palavras de Heroline foram dirigidas a Jellal, da Torre da Tempestade.
Claro que Jellal sabia o que ela queria dizer. Ele apenas deu um pequeno aceno de cabeça.
Um talento especial chamaria um pouco a atenção de um mago. No entanto, se Angor falhasse em se tornar um Mago Solene, pereceria assim como todos os mortais. A Torre da Tempestade já recrutou um aluno excepcional com um alto nível de poder espiritual—Easy. Então não precisavam cuidar de outro.
Quando Heroline viu a atitude de Jellal, caminhou até Angor com um sorriso e se preparou para dar ao jovem um teste formal de talento.
Todo talentoso passaria por esse teste assim que chegasse à sua respectiva organização. O teste era diferente do Olho de Abelles. Esse daria ao examinado uma avaliação completa. Normalmente, fazer o teste formal significava que o talentoso havia se juntado oficialmente à organização.
Isso porque a organização pegaria uma amostra do sangue do examinado durante o teste. Quando o teste terminava, o sangue era usado para fazer um símbolo de identificação com o emblema da organização, e o símbolo era cravado no examinado.
Depois disso, o examinado seria considerado membro da organização.
Todos, exceto Angor, sabiam o que isso significava. Sabendo disso, Florent e Mara começaram a enxergar Angor com um pouco mais de simpatia.
Antes que Heroline pudesse desfrutar plenamente do fato de que acabara de ganhar um aluno de verdade, o som de uma explosão gigante encheu a sala.