Katherine engoliu em seco.
Ela já tinha feito isso várias vezes, mas toda vez que fazia, se sentia nervosa.
— Eu trouxe comida.
— …
— Vou deixar aqui…
A mulher de cabelo preto como breu estava encostada em uma parede com um braço em volta da enorme foice.
Olhando para Katherine, que largou o prato de comida e deu um passo para trás, ela falou baixinho.
— Eu já disse que não preciso disso.
Katherine se encolheu e tremeu. Ela se curvou e balançou a cabeça.
— M-me desculpe.
— Vá embora.
— Sim…
Mas havia uma razão pela qual Katherine era tão educada com essa mulher.
A maior parte da Irlanda do Norte caiu nas mãos dos Demônios. Foi isso que o tio Freddy, um sobrevivente, disse a ela. Ele tinha um rádio, o que lhe permitia ter uma compreensão básica da situação ao seu redor.
Esta cidade poderia ser o único lugar seguro na Irlanda do Norte, não, em toda a Grã-Bretanha.
Katherine sabia o porquê.
Era tudo graças a esta mulher. Ela matou todos os Demônios e Bestas Demoníacas da cidade.
Ela não sabia quem ela era ou por que ela não matou nenhum humano, mas Katherine tinha certeza de uma coisa.
Foi só por causa dela que ela e seu irmão Tom ainda estavam vivos.
Ela preferia ficar sozinha.
Katherine sabia disso.
Ela não gostava de falar com Katherine mais de duas vezes por dia.
Katherine saiu. Ela pretendia ir até o tio Freddy para trocar comida e obter mais informações.
Mas o pequeno plano de Katherine foi interrompido antes mesmo de começar.
Havia alguém parado na frente de sua casa.
— Ah…
Era um homem com cabelo loiro claro.
Katherine conhecia a maioria das pessoas da cidade. Mas ela nunca tinha visto este homem antes.
No entanto, este homem parecia estranhamente familiar.
Depois de um tempo, Katherine foi capaz de reconhecer o motivo.
A mulher de cabelos pretos na casa. Ele a lembrava dela.
Quando seus olhos se encontraram, o homem sorriu levemente como se quisesse tranquilizar Katherine.
— Eu assustei você?
— N-não…
— Certo. Ainda bem… eu gostaria de lhe fazer uma pergunta.
— Certo.
— Posso perguntar quem está nesta casa?
O homem estava apontando para a casa de Katherine.
— Meu irmão mais novo e nossa benfeitora.
A benfeitora que salvou a cidade inteira.
Era assim que os sobreviventes chamavam a mulher de cabelos pretos. O fato de que ela estava hospedada na casa de Katherine não era algo para esconder, então ela revelou gentilmente.
— Benfeitora…
Com essas palavras, o homem murmurou como se tivesse ouvido algo inesperado antes de dizer.
— Você pode chamá-la?
— N-nossa benfeitora não gosta de se mover.
— Diga a ela que Lukas está aqui. Ela vai sair imediatamente.
— Não há necessidade.
Katherine estremeceu.
Quando ela se virou, descobriu que a mulher, que não havia dado um único passo para fora da sala depois de entrar, estava ali.
Com um sorriso brilhante que não combinava com sua aparência sombria.
— Você veio mais cedo do que eu esperava.
— Você espalhou tanto sua aura que eu não pude deixar de vir.
Não havia necessidade de olhar de perto. Força Externa cercava seu corpo, o único poder que permitia que alguém se movesse livremente no multiverso e um poder que um ser transcendente nunca seria capaz de imitar.
Décadas depois de vir a este mundo. Lukas estava finalmente conhecendo um ser do mesmo nível que ele.
— …
Katherine olhou nervosamente para a sala.
Fazia um bom tempo desde que Lukas e a mulher de cabelos pretos entraram lá.
Eles se conheciam? Não parecia.
No entanto, quando os dois se encontraram, uma estranha tensão pareceu surgir.
“Do que eles estão falando?”
Embora ela estivesse curiosa, não se atreveu a bisbilhotar.
Katherine só podia ficar sentada em um canto, esperando em silêncio enquanto sua ansiedade crescia lentamente.
Os dois Absolutos estavam sentados com uma velha mesa de madeira entre eles.
Tecnicamente falando, Lukas não tinha encontrado o Absoluto sentado à sua frente. Ela deliberadamente liberou sua aura e o atraiu até ela.
Assim que ela entrou neste mundo, ela espalhou sua presença por todo o continente. E então esperou.
Porque ela sabia que Lukas viria.
Foi uma decisão inteligente.
Afinal, Lukas queria proteger este mundo a todo custo.
Esta foi a sua convocação.
Se ele não tivesse respondido, não havia como dizer que desastres teriam acontecido.
— Sedi.
Quando Lukas olhou para ela com um olhar perplexo, ela continuou.
— Meu nome, mas acho que você já deve saber.
— Eu sabia…
Embora fosse a primeira vez que a encontrasse pessoalmente, Lukas já tinha ouvido falar dela antes.
— Você sabia? Hmm.
Woowoong-
A foice ressoou suavemente com o murmurar de Sedi.
Os olhos de Lukas se estreitaram.
Naturalmente, esta foice não era uma arma comum.
Talvez fosse uma Arma da Alma.
Uma arma transcendente que incorporava o poder de um Absoluto.
— Vim fazer uma oferta.
— Hihi.
Enquanto Lukas olhava para a foice, Sedi balançou a cabeça.
— Você é previsível. Assim como Nodiesop disse.
— …
— Então, isso é tudo que você queria dizer?
Sedi estava indiretamente dizendo que não tinha intenção de conversar.
— Você é chamada de [Fanática da Batalha].
— Isso mesmo, homem louco.
Seu tom ficou frio.
— E daí? Eu mal estou conseguindo me segurar no momento, então, por favor, não diga nada estúpido, tá? Ah, claro, eu realmente quero ver o quão forte você realmente é, homem louco, mas…
A voz de Sedi ficou cada vez mais baixa. Além disso, uma aura feroz parecia tentar sair de seu corpo.
A casa inteira começou a tremer.
— A pessoa a quem eu sirvo quer você morto. E isso tem muito mais prioridade do que meus pequenos desejos. Além disso, eu realmente não quero ficar neste universo miserável por muito tempo. Quanto mais tempo fico aqui, mais irritada me sinto.
A reação dela foi muito mais hostil do que Lukas esperava.
No entanto, a expressão de Lukas permaneceu inalterada. Se ele pensasse que seria impossível negociar com ela, não teria feito algo tão louco como ir diretamente a ela.
O mais importante era o que aconteceria a seguir.
— O Grande Jogo.
— …
Quando ela ouviu essas palavras, a aura de Sedi se desvaneceu um pouco. A expressão dela também mudou.
— Daqui a um ano, ou quem sabe em alguns anos. Um Grande Jogo começará neste universo.
— Besteira. Mesmo que você seja um Lorde, não há como saber o momento exato. Somente os quatro Governantes e Deus poderiam saber.
A expressão de Sedi estava estranha quando ela refutou as palavras de Lukas.
— E se eu te disser que ouvi diretamente do Deus do Relâmpago?
— …
Essas palavras não podiam ser descartadas como besteira.
Sedi sabia que este universo estava sendo protegido pelo Deus do Relâmpago. Como resultado, os outros Governantes não podiam interferir facilmente e outros Absolutos não podiam entrar.
Ela também não teria conseguido entrar se tivesse se atrasado mais um pouco.
Huff.
Sua aura desapareceu. Em outras palavras, Sedi concordou em se sentar à mesa de negociação.
— Então? O que o Grande Jogo tem a ver com sua oferta?
— Nada especial. Quando esse momento chegar, trabalharemos juntos.
— Parece que você sabe o que é o Grande Jogo.
Claro, ele não sabia. Pode-se dizer que ele não sabia nada além do nome.
Mas Sedi também.
Assim como ela disse. Apenas os quatro Governantes e Deus sabiam sobre o Grande Jogo.
De certa maneira, os quatro Governantes eram inimigos. Então eles nunca se ajudariam.
O equilíbrio no multiverso só poderia ser alcançado quando os quatro Governantes mantivessem sua existência como conceitos independentes.
Se esses seres cósmicos trabalhassem juntos, a ordem do multiverso seria interrompida apenas por esse mero fato.
E se tal coisa acontecesse, as consequências afetariam todos os universos.
Então Lukas blefou.
— Bem…
— …
Os olhos de Sedi estavam cheios de suspeita.
Mas isso por si só era um sinal de um pouco de sucesso.
“Este universo está sendo protegido pelo Deus do Relâmpago.”
A interferência dos outros Governantes era impossível. Em outras palavras, Sedi não podia perguntar ou consultar o Governante a quem ela servia sobre esse assunto.
Ela não conseguia pensar na proposta de Lukas e fazer um julgamento por conta própria.
Este fato por si só era a maior vantagem de Lukas.
Ele só precisava persuadir Sedi, que estava na frente dele, não o Governante atrás dela.
“Eu só preciso ganhar pelo menos meio ano.”
Ele se fixou nessa ideia.
Se conseguisse ganhar esse tempo, teria como lutar contra os Absolutos sem precisar limitar seu próprio poder.
É claro que esse método trazia riscos, mas era muito melhor do que as alternativas.
— Seria impossível para você trabalhar junto com outro Absoluto. A menos que ambos sirvam ao mesmo Governante.
Os Governantes geralmente tinham tal influência sobre aqueles que os seguiam. Pelo menos, Lukas nunca tinha visto Absolutos que serviam a diferentes Governantes trabalhando juntos.
Mas Lukas era uma exceção.
Contanto que ele não servisse a ninguém, ele poderia cooperar com qualquer Absoluto dependendo das circunstâncias.
Era uma rara vantagem concedida a ele por seu isolamento.
— Se livrar de mim ou colocar um Governante sob os pés dele. Qual resultado você acha que seu Governante preferiria?
Formar uma aliança não significava que alguém se tornaria um Governante. Mas estava claro que as chances aumentariam.
— …
Sedi franziu as sobrancelhas enquanto agonizava com as palavras de Lukas. Ela até soltou um gemido audível.
Ao contrário da impressão fria, parecia que ela tinha um lado simples.
Então ela de repente levantou a cabeça e perguntou.
— A propósito, você…
— O que foi?
— Você tem confiança para lidar com os outros dois que vieram para cá?
Lukas riu.
— Obrigado.
— Do que você está falando?
— Então, três Absolutos entraram neste universo.
— Ah…
Sedi fez uma careta. Então ela olhou para Lukas com um olhar injusto em seus olhos, mas Lukas habilmente evitou seu olhar.
Entre os Absolutos, havia uma quantidade surpreendentemente grande de pessoas simplórias.
Suas mentes estavam desgastadas por uma eternidade de trabalho repetitivo.
Portanto, embora esse lado de Sedi tenha sido inesperado, não foi surpreendente.
— Você quis dizer desgraçado…
— …
Hm.
Lukas ficou surpreso com a acusação dela por um momento, mas logo se recompôs e respondeu à pergunta.
— Para mim, seria difícil fazer isso sozinho. Contudo…
Quando ele olhou para ela, Sedi soltou uma risada.
— Eu não pretendo ajudá-lo com isso.
Bem. Talvez ele estivesse esperando demais. Para Lukas, o fato dela não fazer nada já era bom o suficiente.
— …
Sedi agonizou por mais um momento. Então, como se ela tivesse pensado em algo, sua expressão se iluminou.
— Posso lhe dar algumas informações.
— Informações?
— Sim. Mas há condições.
— Quais?
— Você não pode matar mais Demônios no futuro.
— …
Lukas olhou cuidadosamente para Sedi quando ouviu essas palavras.
Sua aparência, a essência de sua aura e sua Arma da alma.
E agora, o comentário de não matar Demônios.
Era como se a imagem de um Governante aparecesse atrás de Sedi naquele momento.
— O Deus Demônio de Chifres Negros. Esse é o Governante a quem você serve.
Sedi assentiu. Parecia que ela não tinha intenção de escondê-lo.
Mas Lukas perguntou confuso.
— Os humanos aqui te chamam de benfeitora. Você não matou todos os Demônios e Bestas Demoníacas nesta cidade?
— Se eles não conseguem reconhecer o nível de seu oponente e pulam para a batalha como tolos, então eles são inúteis.
Parecia que ela valorizava assuntos inteligentes. Lukas havia identificado uma das características de Sedi.
Talvez fosse por esta mesma razão que ela não matou os humanos nesta cidade. Os humanos nesta cidade, sem saber, ganharam um porto seguro que era ainda melhor do que os Estados Unidos do outro lado do oceano.
— De qualquer jeito. Eu não me importo com os humanos que você ajudou, mas você não pode se envolver pessoalmente.
Seu pedido não era particularmente difícil.
Lukas não tinha intenção de revelar sua força por enquanto. Ele queria esconder sua existência o máximo possível.
Até esse encontro cara a cara com Sedi foi uma grande aposta para Lukas. No entanto, quanto mais conversavam, maior era a possibilidade de negociação. E ele ficou ainda mais convencido.
Quando ele percebeu que ela estava servindo ao Deus Demônio.
“Este universo tem o potencial de se tornar um dos reinos do Deus Demônio.”
Claro, Lukas nunca toleraria tal situação, mas o outro lado pode ter pensamentos diferentes. Os Demônios, essas criaturas que foram criadas pelo Deus Demônio, já haviam engolido cerca de metade da terra deste mundo.
Ele não podia falar sobre os pensamentos do Deus Demônio, mas sua subordinada, Sedi, certamente consideraria este mundo como um “Universo para proteger”.
Mas os outros Absolutos eram diferentes.
Lukas não tinha certeza do que eles fariam. Ele só podia esperar que eles estivessem conscientes de suas identidades como Absolutos.
Então ele não iria tocá-los por enquanto. Ele tentaria evitá-los o máximo possível até que percebessem o que estava acontecendo.
— Entendido.
Lukas aceitou a oferta de Sedi.
Mas ambos sabiam que essa aliança era tão forte quanto papel molhado. Entretanto, por enquanto, pelo menos, era benéfico eles trabalharem juntos.
— Então nossa aliança está formada.
Crack!
Uma grande foice parou no ar bem em frente a Lukas. Ele lançou uma barreira para parar o ataque de Sedi.
Mesmo que ele tenha colocado um pouco de mana na barreira, ela ainda rangeu quando a foice pressionou contra ela enquanto liberava energia escura.
— O que você está fazendo?
— Esta é minha última condição.
Um grande sorriso floresceu no rosto de Sedi.
— Vamos soltar nossos corpos um pouco. Eu controlarei meu poder. Não usarei nenhuma força além do que este universo pode suportar.
Ambos os lados lutariam enquanto se controlavam.
Ele não podia recusar.
Ele poderia dizer apenas olhando para o rosto de Sedi.
Lukas suspirou.