Switch Mode
Participe do nosso grupo no Telegram https://t.me/+hWBjSu3JuOE2NDQx

Mushoku Tensei: Jobless Reincarnation – Volume 8 – Capítulo 6

Um Poder Inacessível (Parte 2)

— Prazer em conhecer. Eu sou, um, Fitz.

Mestre Fitz estava um pouco nervoso ao conhecer Zanoba. Zanoba, por outro lado, marchou direto para ele.

 Sou o Terceiro Príncipe do Reino Shirone, Zanoba Shiro… Aaah!

Ele estava agindo de forma tão arrogante que o acertei nos joelhos, forçando-o a se curvar. Eu normalmente não policiava como as pessoas se comportavam com um superior, mas Fitz era um veterano, e Zanoba com certeza poderia abaixar um pouco a cabeça em seu primeiro encontro.

— Zanoba, foi o Mestre Fitz quem propôs a solução à qual estamos recorrendo. Mostre o devido respeito.

Quando eu disse isso, Zanoba se curvou exageradamente.

— Entendido, Mestre. Prazer em conhecer. Meu nome é Zanoba Shirone, Terceiro Príncipe do Reino Shirone.

 N-não, você não tem que ser tão, um… formal. Você é um membro da família real, então, por favor, não faça cerimônia.  Mestre Fitz acenou freneticamente com as mãos enquanto se posicionava atrás de mim.

Zanoba arregalou os olhos. Existia uma grande distância entre: a) os rumores sobre Mestre Fitz, b) a aparência do Mestre Fitz, e c) seus maneirismos e modo de falar. Ele era chamado de Fitz Silencioso e era temido como um mago que podia usar magia não verbal, mas quando em uma conversa, ele era como qualquer outra pessoa de sua idade. Um bom veterano que cuidava de seus juniores.

— Bem, agora que vocês dois se conheceram, vamos indo.  Com isso, nós três nos movemos.

O mercado de escravos ficava no Distrito do Comércio. A compra e venda de escravos era um assunto tratado de forma silenciosa no Continente Millis e na região sul do Continente Central, mas nos Territórios Nortenhos as coisas funcionavam de outra forma. Nesse lugar, a maioria dos países havia legalizado o comércio de escravos, e isso era uma parte fundamental da economia.

As pessoas se tornavam escravas por vários motivos. Havia aquelas que ficaram órfãs durante as guerras. Havia aquelas que foram vendidas pelos pais quando as colheitas foram mal e não tiveram outra opção. E também aqueles que se venderam para salvar a família. Corria até o boato de que existia um retiro de escravos nas partes mais sombrias da Guilda dos Ladrões. As Nações Mágicas eram geralmente prósperas o suficiente para que seus cidadãos nunca tivessem que recorrer a tais meios, mas mais ao leste ficavam várias aldeias desoladas que periodicamente vendiam suas crianças como escravas. Essas escravas eram então recrutadas pelas milícias ou bandos de mercenários dos Territórios Nortenhos, ou compradas pelo governo para servir como bucha de canhão durante a guerra.

Antes de partir, reuni algumas informações na Guilda dos Aventureiros. As grandes cidades tinham vários mercados de escravos, e esta em particular tinha cinco. Os mercados menos frequentados eram lugares assustadores, então fomos para um que me foi recomendado por ser tanto mais amigável para aqueles que não conheciam o funcionamento dessas coisas quanto para clientes com bolsos mais gordos.

 Hm, este é bem diferente do mercado do meu país  disse Zanoba, fazendo um comentário de aprovação, como se estivesse impressionado.

À primeira vista, o mercado de escravos parecia como qualquer outro edifício. Era simples, composto por três edifícios de barro e pedra. Acima da entrada estavam as palavras Grupo Rium – Mercado de Escravos. Havia um braseiro perto da entrada, e ao lado dele estava um homem vestido com roupas grossas do Ártico e com uma armadura de couro abaixo dela.

— Então não é ao ar livre, hein?  comentou Fitz, surpreso.

Nos Territórios Nortenhos, os mercados de escravos eram negócios geralmente fechados. Por um motivo simples.

 Vamos entrar.

Quando entramos fomos envolvidos por uma rajada de ar quente. Havia fogueiras por todo o interior do prédio, assim como oito palcos onde os escravos eram alinhados enquanto nus – obviamente, algo que não se poderia fazer no frio sem comprometer a saúde dos escravos. O mercado que me aconselharam não visitar era realizado a céu aberto.

— Hm, há muitas lojas por aqui. Mestre, para onde devemos ir?  perguntou Zanoba.

 Eu nunca fiz isso antes. Primeiro vamos dar uma olhada por aí.

As oito lojas diferentes pertenciam a mercadores de escravos sob a jurisdição do Grupo Rium. A clientela reunida por perto era bastante diversa: havia aventureiros como eu, pessoas em trajes nobres como Zanoba e Mestre Fitz, mercadores, habitantes da cidade, camponeses e estudantes. Havia até mesmo alguns proprietários de escravos no meio, parados com seus escravos recém-adquiridos e conversando alegremente entre si.

Os mais malvestidos deviam ser os batedores de carteira – não, não seriam capazes de entrar em um mercado como este. Talvez fossem escravos, enviados por seus senhores para encontrar mais escravos para comprar. Ainda assim, continuei segurando a bolsa de moedas escondida sob meu robe. Era Zanoba quem financiava a compra do escravo, mas era eu quem cuidava do dinheiro. Afinal, se alguém aparecesse e nos roubasse, estaríamos em apuros.

— Uh, um, uau… eles realmente estão todos nus.  Fitz estava olhando para as lojas com os olhos arregalados de surpresa. Seu rosto estava brilhando de tão vermelho. Segui seu olhar em direção de um grupo de escravos magros e musculosos, provavelmente guerreiros. A guerreira no meio deles era particularmente… bem-dotada. Qualquer um pensaria que um par de melões daquele atrapalharia no combate, mas eu já sabia, ao assistir Ghislaine lutando, que isso não fazia diferença.

— É a primeira vez que vem aqui, Mestre Fitz?

— Hã? Ah, um, sim.  Mestre Fitz coçou a parte de trás da orelha enquanto timidamente puxava a capa para mais perto de si. Exatamente o tipo de reação que seria de se esperar de um virgem. — E-então, Rudeus, você está acostumado com isso?

Me senti um pouco triunfante ao pensar que poderia ter mais experiência sexual do que um veterano, mas só tinha feito isso uma vez. E minha parceira fugiu logo depois daquilo. Nada para se orgulhar.

 Tenho certeza de que você se sentirá mais à vontade quando tiver alguma experiência  assegurei-lhe.

 V-você tem certeza disso? Ei, espera, isso significa que você tem experiência…  Ele parecia subitamente abatido.

Ah, você ainda é tão jovem, pensei.

 Mestre, não queremos guerreiros, queremos? Estamos procurando uma raça com mãos hábeis e que possa usar magia, certo?  Zanoba apontou o queixo em nossa direção, como se quisesse dizer que nossa conversa lhe era irrelevante.

— Uma raça com mãos hábeis… deve ser um anão, certo?  perguntei.

 Um anão que pode usar magia da terra. Embora o segundo requisito seja mais importante do que a raça  respondeu Fitz enquanto caminhávamos pelas lojas.

Apesar do tamanho do mercado, não havia muitos anões entre os escravos. A maioria daqueles à venda eram claramente guerreiros e nenhum deles tinha as mãos hábeis que procurávamos.

 Um, acho que poderíamos nos contentar com uma criança mesmo que ela ainda não consiga usar magia, já que Rudeus pode ensiná-la mais tarde  disse Fitz.

— Por que um jovem?  perguntei.

— É mais fácil aprender magia não verbal enquanto você é jovem.

— Ah, sério, isso é verdade?

— Sim, depois dos dez anos é quase impossível aprender.

Sério? Embora, pensando bem, Sylphie foi capaz de usar magia não verbal, mas Eris não. Talvez a idade delas, no final das contas, tivesse influenciado no processo.

— Então isso está relacionado à idade, hein?

— Sim. Posso estar enganado, mas foi a esta conclusão que cheguei com base na minha experiência pessoal, na do meu mestre e nas palavras dos nossos professores. Além disso, se você começar a usar magia aos cinco anos, o tamanho da sua reserva de mana aumentará drasticamente. Se quiser ensinar o escravo a fazer estatuetas usando seu método, quanto maior for a reserva de mana que ele tiver, melhor.

 Achei que o tamanho da reserva de mana de uma pessoa fosse fixado ao nascimento  falei.

 Isso é incorreto. Os livros podem dizer isso, mas a verdade é que a reserva de mana de uma pessoa para de crescer quando ela atinge a idade de dez anos  explicou o Mestre Fitz.

Entendo. Isso explicava o motivo pelo qual minha reserva de mana era tão vasta, já que comecei a usar magia quando tinha dois ou três anos. E como o Mestre Fitz disse que falava por experiência própria, provavelmente também tinha uma reserva de mana impressionantemente grande.

— Você também usa magia desde que era bem jovem?

— Sim. Bem… a muito tempo atrás, meu mestre me salvou e eu pedi a ele para me ensinar, e foi assim que aprendi.

— Aha.  Seu mestre talvez tivesse o salvado de monstros em uma floresta ou coisa do tipo. Não… se ele fosse criança, era mais provável que tivesse sido sequestrado. O tráfico de crianças era um negócio próspero neste mundo e, mesmo usando óculos escuros, o Mestre Fitz era bonito. — Então seu mestre também pode usar magia não verbal?

— Sim. Ele é incrível. O respeito profundamente.

— Isso é ótimo. Adoraria conhecê-lo  falei. Conhecer outro professor de magia não verbal poderia me ajudar a melhorar as minhas próprias habilidades.

Mestre Fitz soltou uma risada amarga.

— Uh, tenho certeza que isso é impossível.

— Sério? Acho que ele deve ser uma pessoa muito importante.  Afinal, o Mestre Fitz era o guarda-costas de uma princesa, então seu mestre poderia ser um mago da corte ou algo assim.

 Ele, um… não é muito conhecido, mas é da Região de Fittoa.

— Ah…  Alguém que foi pego no Incidente de Deslocamento? Portanto, Fitz não devia saber sobre a localização dele.  Não tenho certeza do que dizer, então… Espero que ele ainda esteja vivo.

— Ele ainda está vivo. Na verdade, já o encontrei.

Pensando bem, ele disse que começou a pesquisar o teletransporte para procurar um conhecido. Então era o seu mestre, hein?

— Espera, então por que não posso conhecê-lo?

— Hehe. Isso é segredo.  Fitz mostrou um enorme sorriso.

Por que meu coração pareceu bater mais forte quando vi o seu sorriso? Claro, eu poderia desmaiar por causa de garotos bonitos da ficção, mas não era gay. Talvez isso fosse o meu corpo tomando medidas drásticas em sua busca pela recuperação.

Seguindo as sugestões do Mestre Fitz, estabelecemos três critérios ao procurar um escravo. Um, deviam ter cerca de cinco anos (se fosse qualquer um mais jovem do que isso, teria muitas chances de não ser capaz de falar.) Dois, tinham que ser anões (por causa de suas mãos hábeis). E terceiro, tinha que ser uma garotinha fofa (minha preferência pessoal).

— Uma garota? De qualquer forma, não me importo, mas, Mestre, você não está perdendo nosso objetivo de vista?

— Rudeus…

Foi minha última exigência que levou os dois a me repreender.

— Hein??

 Dito isso, não podemos esperar que uma criança de cinco anos tenha recebido muita educação. Se tudo o que ela falar for a língua do Deus Fera, então podemos esquecer de tentar ensinar magia.

— Eu falo a língua do Deus Fera. Posso ensinar as coisas.

— Sério, Mestre, você sabe a língua do Deus Fera? Você nunca falha em me impressionar!

— Heh, acho que sim.  Bufei orgulhoso diante de seu elogio. Eu podia até não parecer, mas era poliglota! E no passado ensinei até uma criança de cinco anos de idade.

Falando nisso – onde será que Sylphie estava? Elinalise e o Mestre Fitz eram testemunhas da minha fascinação por elfos, cuja beleza delineada agradaria a qualquer fã da velha escola de fantasia. Sylphie tinha sangue de elfo em suas veias, e ela já devia ter cerca de quinze anos. Aposto que havia se tornado uma beldade de cabelos verdes e, a julgar pelo que Paul havia dito, suas habilidades mágicas também deviam ter avançado. Sua fama deveria estar se espalhando por toda parte, mas eu não tinha ouvido um único sussurro sobre alguém que se encaixasse em sua descrição.

— De qualquer forma, já delimitamos nossas exigências, então vamos tentar consultar alguns comerciantes.

Fui até o Centro de Informações. Atrás da mesa estava um cara do tipo machão, um careca da cabeça brilhante com um bigode. Ele pareceu confuso quando viu o Mestre Fitz e eu, mas então balançou a cabeça, satisfeito, quando avistou Zanoba.

— Um, com licença, nós estamos procurando…

O Machão me ignorou e se dirigiu a Zanoba.

 Olá, bem-vindo. O que você está procurando? Um lutador que pode atuar como guarda-costas? Estamos com alguns que podem aprender a usar uma espada disponíveis. Também temos alguns magos, mas nesse caso provavelmente seria melhor dar uma passada pela universidade. Ou será que está interessado em alguém do tipo que pode, uh, sabe, né? Nah, não precisa nem dizer. Só pela sua cara já posso dizer que você não faz o tipo que atrai muitas moças. Temos uma garota toda delineada que está na casa dos vinte anos. Uma ex-prostituta, então ela é muito hábil em… Aaaah!

O homem teve seu rosto agarrado por um aperto de ferro e foi erguido no ar.

— Não ignore o meu mestre. Vou arrancar essa sua ridícula língua solta e tirar a sua mandíbula fora enquanto estiver fazendo isso.

— E-ei, vamos lá! O que você está fazendo?!

Dois guardas apareceram para subjugar Zanoba, mas ele não se moveu um centímetro sequer. Na verdade, tudo que precisou fazer para afastá-los foi mover os ombros. Impressionante, pensei. Este otaku enorme e desnutrido dominou dois guardas musculosos por completo sem nem mesmo tentar. Então era esse o poder de uma Criança Abençoada, hein?

Ah, espera, eu não deveria estar só assistindo.

— Pare! Zanoba, pare com isso. Calma, garoto!

— Sim senhor!

Ao som da minha voz, Zanoba soltou o homem. Me virei para o guarda e fiz uma reverência rápida.

— Sinto muitíssimo por isso, ele ficou um pouco animado.

— Não, tudo bem… só tente não ficar selvagem demais, certo? Da próxima vez vamos sacar as nossas espadas.  Felizmente deixaram as coisas de lado, então fingi não notar o medo em seus olhos.

O mais inesperado, entretanto, foi a reação do Mestre Fitz. No momento em que os guardas agarraram Zanoba, ele parou na minha frente com a varinha erguida. Seus movimentos foram incrivelmente rápidos, mas nada inesperado para o guarda-costas de uma princesa.

Bem, que seja, chega de papo!

— Estamos procurando uma anã com cerca de cinco anos  falei, repetindo o nosso pedido ao Machão.

O homem estava tremendo enquanto corria os olhos pela lista de inventário à sua frente. Ele virou página após página e semicerrou os olhos.

 Para começar, não temos muitos anões por aqui, especialmente crianças de cinco anos.

Parecia que, afinal, nossos requisitos eram específicos demais. Os anões viviam principalmente no Continente Millis, ao sul da Grande Floresta, na base das Montanhas Wyrm Azul.

 Não precisa ser uma anã. Se for hábil com as mãos, já vai servir.

— Ah, nós temos uma. Só uma.  O Machão bateu o dedo em um lugar da sua lista de inventário. — Uma anã de seis anos. Seus pais estavam com uma dívida, então toda a família foi vendida como escrava. Entretanto, ela não está saudável. Bem, provavelmente vai melhorar se comer alguma comida. A garota não fala a linguagem humana e, como só tem seis anos, também não sabe ler.

— Entendo. E qual é a situação dos pais dela?

 Já vendemos os dois.

— Bem, então por que não vamos em frente e damos uma olhada nela?

O Machão deu um grito e um comerciante apareceu. Ele tinha a pele escura, era provavelmente do Continente Begaritt. Era baixo e forte, e estava suado, enxugando-se sem parar com o pano úmido em volta de seus ombros, já que o mercado estava quente. Eu tinha tirado o meu robe, Zanoba tinha retirado sua capa; apenas o Mestre Fitz continuava com todas as roupas. Na verdade, a julgar pela expressão em seu rosto, ele parecia perfeitamente confortável. Bem, certo, seu rosto estava vermelho, mas isso era por uma razão totalmente diferente.

O comerciante se apresentou, estendendo a mão na direção de Zanoba.

 Saudações, sou o gerente da filial da loja Domani, uma subsidiária do Grupo Rium. Meu nome é Febrito.

Zanoba já estava levando a mão em direção ao rosto do homem, então peguei a mão do comerciante com a minha e dei um aperto.

— Prazer, me chamo Rudeus Atoleiro.

Quando falei o meu nome, o homem pareceu duvidar por um momento, mas sua expressão logo mudou para um enorme sorriso.

— Ah, então você é o Atoleiro! Já ouvi falar de você. Dizem que no ano passado você matou um errante.

— Tive sorte. Meu oponente já estava enfraquecido.

Febrito deu uma olhada rápida em Zanoba e no Mestre Fitz.

— Então você está em busca de uma anã?

 Sim, esse homem aqui vai financiar o início de um novo empreendimento. Estamos procurando uma criança para ensinar as habilidades necessárias desde cedo.  Foi uma explicação ao acaso, mas não era uma mentira.

 Entendo, entendo. Realmente não te recomendaria este espécime em particular, mas… por que não dá uma olhada primeiro? Por aqui, por favor.

Seguimos Febrito até o depósito de escravos. Bem, eu chamei de “depósito”, mas eram apenas filas de gaiolas de aço conectadas a polias. Cada gaiola tinha cerca de um único tatame de largura, com uma ou duas pessoas lá dentro. Os comerciantes provavelmente os lavavam e poliam antes de levá-los à exposição, mas no momento estavam imundos, e uma respirada foi o suficiente para me fazer torcer o nariz. Após uma inspeção mais próxima, vi crianças chorando e outras pessoas com olhares penetrantes cheios de intenções assassinas direcionadas a nós. Havia alguns outros como nós, conversando com outros comerciantes na área do depósito.

Febrito caminhou rapidamente pelas brechas entre as gaiolas de aço, chamando alguém que estava parado na beira do caminho.

— Ei, aquela criança anã ainda está viva?

— Sim, por enquanto.

— Onde?

— Por aqui.

Fomos ainda mais para dentro do depósito. Os aquecedores não pareciam funcionar no local, então estava um pouco frio. O subordinado de Febrito parou em frente a uma gaiola que continha uma garota com um olhar vazio, sentada com os joelhos dobrados contra o peito.

— Bem, traga-a para fora.

— Entendido.  O subordinado de Febrito acenou com a cabeça e abriu a gaiola de aço, arrastando a garota para fora.

A criança tinha uma coleira em volta do pescoço e algemas nos pés. Seu corpo esquelético estava coberto por trapos patéticos. Seu cabelo podia já ter sido laranja, mas agora estava todo bagunçado e desgrenhado, todo imundo e com fios cinzas por toda parte. Seu rosto estava pálido e seus olhos vazios enquanto ela passava os braços em volta de si mesma, tremendo. Percebi que estava frio, mas essa não parecia ser a única razão para seus tremores. Foi algo doloroso de se ver.

— Tire a roupa dela.

Seus tremores não pareceram incomodar o subordinado de Febrito, que rapidamente arrancou os trapos dela. Seu corpo mortalmente magro e subnutrido ficou todo exposto.

O rosto do Mestre Fitz se contorceu enquanto ele observava.

— Rudeus…

Até eu achei que isso era mais do que abominável. Só queria me apressar e comprá-la para que pudéssemos dar uma refeição e um banho quente para ela. No entanto, os olhos da garota me preocuparam. Aqueles olhos vazios. Eu já tinha os visto em algum outro lugar.

 Como você pode ver, ela é uma anã. Seis anos de idade, então realmente não tem nenhuma habilidade para se mencionar. Ambos os seus pais eram anões. Seu pai era ferreiro e sua mãe trabalhava com joias. Ela deve ter as mãos hábeis que você deseja, assumindo que herdou a habilidade deles, mas a única língua que fala é a língua do Deus Fera. Não achamos que poderíamos vendê-la, então sua saúde também não está nas melhores condições. Se a quiser, podemos te dar um desconto.

Mestre Fitz parecia perturbado ao se aproximar da garota, levando a mão ao rosto dela. Depois de alguns segundos, a pele dela melhorou um pouco. Ele provavelmente lançou algo nela.

 E ela é virgem, é claro. A desintoxicaremos só por segurança, caso decida comprá-la. Embora eu realmente não possa recomendar que faça isso.

Mestre Fitz olhou para mim igual a uma criança que encontra um cachorrinho abandonado e quer levá-lo para casa. A garota atendia aos nossos critérios… mas aqueles olhos realmente me incomodaram.

— Olá, senhorita.  Me ajoelhei e conversei com ela na linguagem do Deus Fera.  Meu nome é Rudeus. Qual é o seu?

 …

— Veja, há algo que eu gostaria que você fizesse.

 …

— Um…

Ela apenas olhou para mim com aqueles olhos vazios, sem oferecer uma única palavra em resposta. O subordinado de Febrito estendeu a mão para o chicote que descansava em sua cintura, mas o detive com minha mão.

— Mestre, o que houve?  questionou Zanoba.

 Ela perdeu todas as esperanças. Tem a aparência de alguém que não quer mais viver.

— Você já viu alguém assim antes?

— Várias vezes. Há muito tempo.

Tanto Zanoba quanto Mestre Fitz pareciam ter ficado preocupados, mas, se eu pudesse evitar, não pretendia oferecer mais informações sobre a minha vida passada. Isso não renderia nada de bom.

O vazio no olhar da garota despertou algumas memórias. Quando eu tinha cerca de vinte anos costumava ter a mesma aparência. Não estava estudando, não possuía esperanças para o futuro, nenhuma perspectiva de trabalho. Tudo o que podia fazer era comer, cagar e sobreviver.

Parando para pensar, ainda não era tarde demais para mudar as coisas. Mas em vez disso, me afundei ainda mais no desespero, optei por me isolar por completo, perdendo ainda mais as esperanças. Eu queria morrer.

 Você não quer mais viver?  perguntei na língua do Deus Fera.

 …

— Você sente como se tudo já estivesse perdido. Sei bem como é isso.

 …

Seu olhar pousou lentamente em mim.

— Se as coisas estão ruim assim, devo acabar com tudo para você?

Eu poderia dar o meu melhor para salvar essa garota. Poderia comprar roupas, poderia alimentá-la, poderia até mesmo oferecer palavras gentis. Mas eu precisava saber se ela queria.

 …

— Diga alguma coisa  falei na língua do Deus Fera.

A garota nem mesmo estremeceu. Ela apenas abriu os lábios rachados, bem lentamente.

— Não quero morrer  murmurou ela em voz baixa.

Foi uma resposta indiferente, mas já servia. Estaria tudo bem se ela não “queria viver”. Pelo menos não queria morrer, e isso já bastava.

— Nós vamos comprá-la.

Enrolei o robe que eu estava carregando em seus ombros. Então usei magia para aquecê-la e entoei um feitiço de desintoxicação. Magia de cura não faria nada pela sua resistência, então só teríamos que dar um pouco de comida para ela.

 Senhor Febrito, quanto?

Custou o equivalente a dez moedas de cobre grande asuranas. Esse foi o seu preço.

Levamos a criança a uma área de lavagem na beira do mercado de escravos para dar banho nela e depois fomos ao Distrito do Comércio para comprar roupas e outras coisas necessárias. Por fim fomos a uma cafeteria refinada – não era um lugar ao qual eu teria ido por conta própria, mas foi o Mestre Fitz quem escolheu. Ele se encaixou perfeitamente bem no lugar, enquanto Zanoba ficava imperturbável, assim como esperado da realeza. A garota que tínhamos acabado de comprar estava totalmente focada em engolir a comida, tornando-me a única pessoa que se sentia desconfortável em um ambiente tão luxuoso.

Mestre Fitz parecia estar de bom humor.

 Que bom que você gostou  disse ele, acariciando a cabeça da garota. — A propósito, Rudeus, qual é o nome dela?

— Qual é o seu nome?  perguntei na língua do Deus Fera.

A garota olhou para mim, confusa.

— Nome?

Hã? Eu não estava me comunicando de forma clara o suficiente? Já fazia cerca de três anos que não usava o idioma, mas tinha me saído bem na Grande Floresta. Será que o povo da aldeia Doldia estava me agradando da mesma forma que um japonês faria quando um americano aparecia em Tóquio falando que era fluente em japonês?

— Um, como você se chama?

 A filha de Bazar do Aço Sagrado e Lilitela do Belo Cume Nevado.

Eu não fazia ideia do que estava acontecendo, então só traduzi as suas palavras de forma literal. Quando o fiz, Mestre Fitz simplesmente respondeu: “Ah, certo”, balançando a cabeça para si mesmo com um olhar astuto no rosto.

 Os anões não recebem um nome oficial até que tenham sete anos  explicou ele.

 Um “nome oficial”?

 Quando completam sete anos, recebem um nome que foi criado a partir de algo em que são bons, algo pelo que se sentem atraídos ou algo de que gostam.

Então era isso. Mestre Fitz foi sábio como sempre.

— Ainda assim, precisamos de alguma forma para chamá-la  falei.

 Seus pais se foram. Só precisamos dar um nome.

— Agora vamos decidir o seu nome. Você tem alguma preferência?  perguntei à garota, mas ela só balançou a cabeça.

 Ela é uma garotinha. Vamos dar um nome fofo.  O raciocínio do Mestre Fitz parecia seguir a linha de pensamento de uma garota. Isso me fez querer fazer o oposto e dar a ela um nome que soasse grosseiro… mas não, não poderia fazer isso. Tínhamos que fazer isso direito.

— Zanoba, diga a sua opinião!

Ele olhou na minha direção.

— Hm? Tem certeza de que posso decidir?

— Bem, quem financiou o empreendimento foi você.

— Então vai ser Julias  disse ele, sem qualquer sinal de que havia feito qualquer consideração.

— Esse não é um nome de garoto?

— Sim, foi uma vez o nome do meu pobre irmãozinho. Aquele que matei quando não controlei a minha própria força.

Não consegui controlar minhas feições quando ele disse isso. Eu sabia que Zanoba havia matado seu irmão mais novo, mas não sabia como reagir à indiferença com que falava. Mestre Fitz parecia apenas confuso.

 Ela vai ficar no meu quarto, não vai? Então deve ter um nome com o qual eu sinta alguma conexão.

— Que seja ao menos Juliette. Afinal, ela é uma menina.

— Por mim tudo bem. Então vai ser Juliette.

— Juli… ette, hehe, esse é um bom nome.  Mestre Fitz riu alegremente, como se tivesse achado o nome divertido.

 A partir de hoje, seu nome será Juliette  retransmiti para a garota na língua do Deus Fera.

— Julie…?

— Juliette.

— Julie  disse ela com um sorriso desajeitado. Passou perto.

E foi assim que Juliette (apelidada de Julie) ficou aos cuidados de Zanoba. À noite, eu lhe ensinava magia não verbal e a língua humana, enquanto Zanoba dava palestras sobre as propriedades dos bonecos e estatuetas. Ele também a fez passar por exercícios de desenvolvimento de destreza ao seu lado, provavelmente porque ainda queria ser capaz de algum dia fazer estatuetas por si mesmo.

Nesse ínterim, ainda não havia aparecido nenhum sinal de que eu alcançaria o meu verdadeiro objetivo tão cedo.

Considere fazer uma Doação e contribua para que o site permaneça ativo, acesse a Página de Doação.

Comentários

5 5 votos
Avalie!
Se Inscrever
Notificar de
guest
5 Comentários
Mais recente
Mais Antigo Mais votado
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários
O Colecionador
Editor
O Colecionador
5 meses atrás

Links para compra da novel e do manga de Mushoku Tensei, livros originais em formato físico publicados pela editora Panini.

Lista com todos os links:

https://rentry.co/ndkfd98z

geygey
Visitante
geygey
4 meses atrás

cara se o goat(Ruijerd) visse o Rudeus cogitando comprar uma criança como escrava ele ia cagar na cabeça desse mago imundo

João tagliarine
Visitante
João tagliarine
4 meses atrás

Rudeus é muito burro meu Deus do céu

Cara de Óculos
Membro
Cara de Óculos
10 meses atrás

Juliette , sylphiette, sacaram? Por isso ela(ele) riu.

Lucas BuenoD
Membro
Lucas Bueno
8 meses atrás
Resposta para  Cara de Óculos

Boa amigão, interpretação tá em dia, também acheri irado esse detalhe, sério, O Fitz dá um milhão de dicas de que ele na verdade que a Sylphie, como que o Rudeus não percebe????

Opções

Não funciona com o modo escuro
Resetar