Agatha teve um dia agitado. Quando retornou ao castelo, o céu já estava completamente escuro. Ao empurrar a porta, ela ficou surpresa ao encontrar Wendy esperando por ela na sala de estar.
— Por que você trabalhou até tão tarde novamente? — Wendy perguntou, franzindo a testa, mas em seu tom, não havia o menor sinal de acusação, apenas um pouco de preocupação — Espero que você possa voltar mais cedo da próxima vez para que possamos pelo menos jantar juntas.
— Desculpe, perdi a noção do tempo. — Agatha disse enquanto tirava o casaco e pendurava na porta — Minha mente estava toda focada na produção do último lote de nitrogênio, então eu não percebi que o céu já estava escuro quando saí do trabalho. Você deveria culpar o Lorde por instalar luz elétrica na fábrica de produtos químicos tornando-a tão brilhante quanto o dia.
— Eu trouxe o jantar para você. — Wendy disse enquanto suspirava impotente — Está na mesa. Ainda está quente, então é melhor comer depressa.
— Obrigada. — Agatha disse, sentindo-se tocada.
Wendy é a bruxa mais respeitada da Associação Cooperativa das Bruxas e o Lorde confia plenamente nela. Se ela estivesse em Taquila, teria sido pelo menos alguém de grande importância, abaixo apenas das Três Chefes. Seria absolutamente impossível na Aliança que uma pessoa nessa posição me trouxesse o jantar. — Agatha pensou.
— De nada. — Wendy deu um tapinha no ombro dela — Se você estiver cansada, não faça cerimônias e peça a Eco para cantar uma canção de primavera quente para você… Não se esqueça que você também faz parte da União das Bruxas.
A União das Bruxas…
Depois que a porta foi fechada, Agatha ficou imóvel por um momento, depois foi até a mesa e abriu a caixa de metal que estava bem fechada.
A caixa continha três pratos e uma sopa, sendo um bife assado com um cheiro delicioso, cogumelos fritos, pão fatiado e sopa de ovo. Para sua surpresa, em um canto da caixa estava uma pequena cumbuca com mel.
Agatha não pôde deixar de engolir sua saliva.
Wendy até notou que…
Durante suas décadas de luta contra os demônios em Taquila, todos os tipos de materiais se tornaram cada vez mais escassos. Naturalmente, isso incluía a própria comida. Embora Agatha tivesse um posto relativamente alto, suas refeições diárias consistiam principalmente de grãos e frutas plantadas por bruxas auxiliares. Claro, ela podia comer carne, mas seu suprimento não era muito estável. Coisas como temperos, açúcar e mel estavam fora de questão. Temperos e açúcar eram um luxo exclusivo para os oficiais de alto nível da Aliança, e quanto ao mel, as bruxas que conseguiam manter as abelhas eram todas enviadas para o campo de batalha, pois a Aliança não iria “desperdiçá-las” na produção de coisas doces e não essenciais.
Na bem da verdade, Agatha gostava muito de comer coisas doces, especialmente mel.
Durante a festa com churrasco, quando a maioria das pessoas escolhia pimenta em pó e sal como tempero, ela apenas comia silenciosamente um pote inteiro de mel. Agatha não esperava que Wendy tivesse notado isso.
De repente, ela sentiu algo diferente em seu coração. Como Agatha não podia sentir frio, ela também não era muito sensível ao calor. Além disso, ela raramente usava água quente enquanto tomava banho porque não queria incomodar Anna. Considerando sua própria identidade e origem, Agatha pediu a Roland para arrumar uma sala separada para si mesma, assim como sua residência no último andar da torre de experimentos.
Mas agora, ela estava sentindo um pouco de frio no quarto.
Talvez viver com os outros não tenha sido uma má ideia…
Agatha pegou a cumbuquinha de mel, espalhou-o no pão e colocou-o lentamente na boca. Naquele momento, ela genuinamente sentiu o calor provocado pela fragrância e doçura da comida.
Depois do jantar, ela planejou ler Química Elementar por um tempo antes de dormir. O conhecimento dos livros pode não ser capaz de ajudá-la a evoluir novamente, mas pelo menos poderia evitar que ela se sentisse envergonhada diante das pessoas comuns.
Recentemente, um grupo de estranhos chegou à fábrica de produtos químicos. O jornal lhe disse que todos eram da Oficina Alquímica da Cidade Real de Castelo Cinza. Todos os dias, Agatha podia vê-los caminhando entre o laboratório e a fábrica de produtos químicos, às vezes liderados por Kyle Sichi e outras vezes por Chávez, o aprendiz de Kyle. Mas, sempre que Agatha os via, seus rostos exibiam uma expressão de incredulidade. Era possível colocar um ovo em qualquer uma de suas bocas, como se essa fosse a única expressão que pudessem mostrar. Além disso, vários deles eram excessivamente curiosos e pareciam tomá-la como uma famosa alquimista. Sempre que tinham uma chance, eles faziam muitas perguntas a ela. No começo, as perguntas eram extremamente simples, mas gradualmente se tornaram um tanto difíceis de responder.
Para manter a dignidade das bruxas seniores e a honra da Sociedade Expedicionária, Agatha decidiu manter essa imagem aos seus olhos.
Depois de passar aqueles dias com os plebeus, ela mais uma vez confirmou que o que a Aliança fez foi errado.
Roland provou ser um grande sábio e possuir a habilidade de um nobre, mas a sabedoria dessas pessoas comuns não era menor que a das bruxas. Bastou somente algumas pessoas comuns para dominar o funcionamento do equipamento de liquefação enquanto, ao mesmo tempo, compreendiam o processo de extração de nitrogênio. No começo, as pessoas comuns estavam discutindo sobre o número de elementos no ar, mas agora elas já estavam discutindo a composição da amônia sintética. Até mesmo alguns homens de cabelos brancos, sorrindo timidamente, consultavam Papel, deixando-a extremamente surpresa.
Obviamente, eles estão aprendendo rapidamente tudo ao seu redor.
Ao ponderar sobre todas estas mudanças, Agatha sentiu-se sobrecarregada de emoções.
As bruxas não são nem as afortunadas escolhidas pelas divindades nem as infelizes abandonadas pelas divindades. Essencialmente, não são diferentes das pessoas comuns e possuem o mesmo e inevitável destino. Nesta Batalha da Vontade Divina, todos devem descobrir seus destinos correspondentes, e as bruxas são apenas um pequeno grupo destas pessoas. Talvez esta seja a intenção original das divindades. Caso falte apenas uma pequena parte, os seres humanos não serão capazes de vencer esta batalha do destino. — Agatha pensou quando, de repente, ouviu alguém bater na porta e disse:
— Entre. A porta não está trancada.
Ao virar-se, Agatha viu uma mulher alta, loira e sem o capuz de costume. Ainda assim, Agatha sentiu que essa mulher diante dos seus olhos estava sempre envolta em uma sombra.
Era Rouxinol.
— Algum problema? — Agatha perguntou a ela.
— Vossa Majestade Roland quer ver você.
— Se ele quer enfatizar a teoria de equilibrar trabalho e descanso e me convencer a voltar antes do pôr do sol, eu já sei disso muito bem e vou prestar mais atenção nisso no futuro. — Agatha disse, sorrindo — Não há necessidade de desperdiçar seu precioso tempo comigo.
— Realmente… — Rouxinol disse, deu uma piscadinha e sentiu que Agatha não iria agir sempre mal-humorada se alguém não a provocasse deliberadamente — Esta é apenas uma das razões. Sua Majestade também disse que quer lutar contra os demônios.
Agatha ficou surpresa por um momento.
— O quê? — Jogando o livro na mesa, Agatha disse — Então vamos, me leve até ele!
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Agatha correu para o escritório do Lorde. Antes que Roland pudesse dizer qualquer coisa, ela perguntou ansiosamente:
— No momento, não temos nem dez Canhões Cancioneiros e você quer atacar a Comunidade de Demônios? Você acha que eles são tão frágeis quanto os seres humanos que jogam seus capacetes fora e fogem depois que milhares dos seus são mortos? Você vai arruinar a cidade e a boa situação aqui!
— Hã? — Roland pareceu espantado — Do que você está falando?
— Você não está planejando lutar contra os demônios?
Roland olhou para Rouxinol e riu.
— Não, esse não é o meu plano. Eu não quero destruir o acampamento deles. Eu só quero pegar alguns demônios vivos.