Chrysalis – Capítulo 7

‘São realmente escadas, né?’

Com meus minúsculos olhos arregalados, me aproximei da entrada da caverna para examinar as escadas um pouco mais de perto.

‘Parece que essas escadas foram esculpidas diretamente na rocha. Agora, quem seriam os responsáveis por isso.?’

‘Humanos, é claro! Civilização humana! Esta é a primeira evidência tangível que vejo de que qualquer tipo de criatura humanoide existe neste novo mundo. Fantástico! Não posso deixar de ficar animado e também um pouco nervoso. Me pergunto que tipo de mundo de fantasia é esse. Será vou ver anões? Elfos?!’

A ideia de Elfas com seios avantajados era o suficiente para me deixar tonto!

‘Isso está ficando cada vez mais interessante. Por que eles se incomodaram em esculpir escadas neste túnel e não nos outros?’

A resposta era quase autoexplicativa, aquele era um túnel usado por diversas vezes, portanto, eles deixaram-no mais conveniente para quando precisassem ir ali. Isso significava que provavelmente existisse mais escadas nas proximidades, contudo, conduzindo para cima.

‘Talvez exista caminho para a superfície!’

Rastejei pela parede e me aproximei das escadas que levam para baixo.

‘Uau! Esta é a primeira vez que tive a oportunidade de comparar meu tamanho com um objeto com o qual posso me identificar em minha vida passada!’

Presumi que as pessoas neste mundo tinham aproximadamente o mesmo tamanho que as do meu antigo mundo, então, ao comparar meu tamanho com as escadas, poderia fazer uma estimativa aproximada de quão grande eu era. Tudo o que tinha que fazer era pisar nas escadas.

‘Hmmm.’

‘Eu acho que sou um pouco menor do que eu imaginei!’

A julgar pela altura e comprimento de cada passo que os seres humanoides dariam, pude dizer que provavelmente eu era alto o suficiente somente para chegar aos joelhos de um adulto, e tinha aproximadamente o mesmo comprimento de um passo completo, então talvez um metro?

Isso significava que todos aqueles monstros que para mim pareciam terríveis e enorme, de uma perspectiva humana… seriam bem pequenos. A criatura lobo chegaria a altura da cintura, o Lagarto Espinhoso é ainda menor do que eu, mais ou menos do tamanho de um texugo, e a terrível e enorme Croco-besta alcançaria menos que a altura do ombro.

‘Os monstros nesta área são tão fracos?’

Pensando de forma lógica, seria ótimo se eles fossem, já que eu não seria capaz de sobreviver por tanto tempo se eles fossem fortes. Isso aumentava a possibilidade de haver monstros muito mais fortes, maiores e mais poderosos em outros lugares daqueles túneis.

‘Vou fazer o meu melhor para evitá-los! Que nossos caminhos nunca se cruzem.’

‘Ok, as criaturas mais poderosas provavelmente vivem nos níveis inferiores. Ao menos é assim que funciona nos jogos e este mundo é estranhamente parecido com um jogo. Trabalharei com a hipótese de que os lugares mais seguros estão mais próximos da superfície.’

Me afastei do túnel e fui mais adentro da caverna.

‘Sim! Posso ver mais sinais de modificação aqui e ali.’

De vez em quando havia um degrau esculpido no chão para tornar a caminhada mais fácil. Notei também que em intervalos regulares haviam paredes esculpidas na altura da cabeça humana. Imaginei que seriam suportes para tochas.

Na verdade, quanto mais eu andava, mais sinais de civilização eu via. O terreno também começou a se inclinar cada vez mais. Parecia que a superfície estava muito próxima…

Olhando ao redor pude ver que nesse ponto haviam poucos túneis que se ramificavam da caverna principal, nem mesmo os menores. As veias de luz pulsantes ao longo das paredes também estavam mais distantes e mais finas, tornando o espaço um pouco mais escuro que antes.

Era o ambiente perfeito para uma existência furtiva como eu.

Continuei explorando. Meu coração estava batendo forte no meu peito. Eu poderia conseguir ver uma pessoa de outro mundo! E tinha muitas perguntas. Como eles se pareciam? Qual a raça? Eles sabiam magia? Existia algum tipo de guilda de aventureiros que exploram masmorras? Talvez eu conseguisse me comunicar com eles de alguma forma, talvez a linguagem de sinais ou alguma forma de dança interpretativa!

Isso podia ser um grande avanço nas relações entre humanos e formigas!

Quantas vezes eles teriam visto uma mente humana presa em um corpo de monstro? Provavelmente eu seria o primeiro!

Quanto mais eu caminhava, mais a caverna ficava estreita, os degraus mais frequentes e a inclinação mais íngreme.

‘Realmente… estou certo? Acho que sim!’

Luz solar.

Minhas antenas balançaram com entusiasmo ao sentirem pela primeira vez a sensação da luz refletida do sol. A superfície devia estar extremamente próxima!

Continuei avançando, ansioso para respirar um pouco do ar da superfície deste novo mundo. Comecei a ver gradualmente uma fonte de luz logo à frente, ela refletia em uma pedra e se difundia pela caverna.

‘Oooo.’

‘Mais construção humana! Quase se parece com algum tipo de parede.’ Movimentei minha cabeça para tentar ter uma visão melhor. Minha visão parecia ainda pior do que o normal por conta do efeito causado pela luz solar natural.

‘Preciso me aproximar.’

Parecia uma espécie de parede construída contra a lateral da passagem, haviam pequenas fendas esculpidas na pedra, provavelmente para que quem estivesse atrás da parede pudesse ver e atacar.’

‘Será que é uma sala de guardas?’

Era algo que fazia sentido: eles fariam uma sala com vigias para que pudessem monitorar a entrada da masmorra e afastar qualquer monstro que se aproximasse da superfície. Provavelmente havia um guarda de prontidão naquele exato momento.

Enquanto refletia o assunto, vi que uma luz vermelha brilhar de repente através das fendas na parede e ouvi movimentos rápidos, como se alguém estivesse se levantando de uma cadeira.

De repente, duas pessoas apareceram atrás da parede, de pé em uma plataforma elevada de pedra, talvez a um metro acima do chão do túnel.

‘São humanos! Humanos reais! Estou um pouco triste por eles não serem elfos, mas ei, gente!’

Eles estavam usando um tipo de armadura de metal com couro preto por baixo. Ambos tinham espadas na cintura e botas justas amarradas nas canelas, também pretas. A julgar por suas figuras, pareciam que era um homem e uma mulher.

A mulher estava segurando um tipo cristal na mão que estava emitindo uma luz vermelha brilhante, talvez fosse assim que eles sabiam quando monstros estavam se aproximando. Parecia que eles estavam vasculhando o túnel, tentando identificar qual era a ameaça. Com meu nível de furtividade, acho que era um pouco difícil de me encontrarem.

De repente, o homem levantou as duas mãos e, incrivelmente, elas começaram a brilhar com uma luz ardente. Ele fechou os olhos para se concentrar enquanto a luz se transformava em figuras estranhas ou runas, que giravam lentamente em torno de suas mãos.

Fiquei chocado.

‘Isto é magia! Magia real! Santo Gandalf! Magia realmente existe nesse mundo! Caracas, caracas, caracas, será que essas pessoas poderiam me ensinar?’

Depois de apenas alguns segundos, o guarda empurrou as palmas das mãos para a frente e a caverna explodiu em luz. Grandes chamas irromperam nas paredes, banhando o túnel com calor e afastando as sombras.

A mulher que segurava o cristal vermelho começa a concentrar a luz e iluminar a ameaça.

Ou seja….

Uh, eu.

….

‘QUE DIABOS ESTOU FAZENDO?!’

A mulher colocou o cristal em uma bolsa presa ao cinto e pegou uma besta com flechas de suas costas, enquanto o homem me olhava nos olhos e mais uma vez levantaou as mãos.

‘Ele não parece amigável, Gandalf!’

‘CORRACORRACORRACORRACORRACORRACORRA.’

‘Anthony, seu idiota estúpido, o que diabos você está fazendo se exibindo para os guardas que vigiam a caverna dos monstros, quando você é um monstro?!’

Minhas seis pernas começam a bambear enquanto virava e começava a correr como um louco para as rochas mais próximas. As luzes intensas das tochas em chamas queimaram meus olhos, tornando difícil de enxergar, mas não consegui desacelerar e mesmo tropeçando e perdendo o equilíbrio, continuei em frente.

Pude ouvir gritos e passos atrás de mim, mas não me virei para olhar. Uma explosão de calor surgiu à minha direita e outra em uma pedra bem na minha frente.

‘São bolas de fogo, né? Magia de fogo?! Tenham misericórdia de mim, sou apenas uma formiguinha!’

Só pude continuar a correndo em velocidade máxima e me esconder de vez em quando atrás de pedras e pilares.

‘Vai vai vai vai vai Anthony seu idiota! Se eu sobreviver a isso, vou me banhar no meu próprio ácido como punição por essa idiotice, vou até beber daquela maldita água!’

Uma flecha da besta atingiu uma pedra entre duas de minhas pernas enquanto eu corria. A explosão lançou fragmentos da pedra em minha carapaça.

‘Santo Deus! Essa senhora atira bem demais! Eu preciso de ajuda! Eu preciso de uma distração ou algo assim.’

‘Talvez?!’

Voltei para a caverna mais ampla em velocidade máxima e vi as entradas dos túneis menores que se ramificavam pela caverna principal, que aparecem aqui e ali. Enquanto corria, tentei passar por perto deles e movimentei freneticamente minhas antenas para detectar qualquer cheiro vindo deles.

‘Nada no primeiro! Nada no segundo!! Vamos, seu estúpido… SIM!!!’

No terceiro túnel eu senti o cheiro nojento que procurava. Sem parar, virei as costas para o fundo do túnel e disparei três rajadas de ácido. Ao fazer isso, aproveitei a chance para olhar para meus perseguidores…

‘DESVIE!’

Me joguei no chão enquanto outra flecha passava por cima da minha cabeça, quebrando a pedra atrás de mim.

‘Isso não parece nada bom, Gandalf!’