A Igreja da Vida Eterna era uma religião emergente que aos poucos foi ganhando destaque em todo o mundo.
Na verdade, era a religião mais proeminente na Austrália, onde dedicou a maior parte de seus esforços e onde permaneceu por mais tempo. O mesmo podia ser dito para a Europa, onde lentamente expandiu sua influência.
Depois de “conquistar” essas duas regiões, a Igreja da Vida Eterna voltou seus olhos para a Ásia.
Na verdade, não tinham muita escolha. Não importa o quão ambicioso Slei fosse, ele sabia que seria loucura focar na América do Norte naquele momento.
Ásia.
Em particular, Slei se concentrou na Península Coreana.
Ele sentiu que seria fácil atrair crentes, porque lá havia sofrido grandes danos dos Demônios no passado e foi negligenciado pela Associação dos Caçadores. Isso significava que serviria como o ponto perfeito para apoiar sua expansão na China, que era considerada o centro da Ásia.
E suas expectativas estavam corretas.
A maioria dos cidadãos da Coreia não conseguiu deixar de lado seus sentimentos de perda, o que permitiu que Slei conquistasse seus corações mostrando-lhes milagres.
Tudo estava indo conforme o planejado.
Paak!
Slei rolou pelo chão mais uma vez. Ele rolou algumas vezes antes de finalmente se levantar.
Ele nem mesmo viu Sedi.
Puk.
— U-Urgh…
Tudo o que ele sentiu foi uma dor no lado do corpo antes de ser enviado voando pelo ar mais uma vez. Seu corpo colidiu com uma parede como um meteoro.
As paredes do auditório, que uma vez já foi o campo de treinamento para caçadores e podiam suportar os ataques de vários mísseis, agora estavam cobertas de rachaduras por causa dos impactos contínuos.
— Urgh…
Slei tossiu com a boca cheia de sangue, sua mente turbulenta.
Ela era forte.
Ela era muito forte.
“Ela não é uma Absoluta ou um Demônio… Então como?”
Essa pergunta permanecia em sua mente.
Ao mesmo tempo, ele estava cheio de arrependimentos.
Se os três vice-bispos que lideravam cada região… Não, se mesmo dois deles estivessem lá, eles teriam sido capazes de lidar com a vadia monstruosa.
Taht.
Sedi não deu a Slei a chance de pensar. Novamente, ela chutou o chão e rapidamente diminuiu a distância entre eles.
No entanto, desta vez, Slei foi capaz de reagir a tempo. Ele mal levantou a mão direita, bloqueando o golpe de seu cajado, que agora estava nas mãos de Sedi.
Crack!
Mas só porque ele conseguiu bloquear o ataque com sucesso não significava que ele foi capaz de negar o dano.
Os ossos de sua mão direita foram despedaçados assim que entraram em contato com o cajado.
No entanto, Slei usou a raiva crescente para suprimir sua dor enquanto agarrava o cajado. Seus olhos estavam cheios de ódio.
— Isso é meu!
— Foda-se.
Enquanto ela murmurava em tom cínico, Sedi estendeu a mão esquerda. Sua delicada mão branca tomou a forma de uma lâmina enquanto deslizava pelo antebraço de Slei.
Shuk—
O som que surgiu não era algo que uma mão deveria ser capaz de fazer. Slei olhou para o braço dele com uma expressão vazia.
Lá, ele viu uma fina linha vermelha, da qual o sangue começou a escorrer lentamente. Então, o antebraço de Slei deslizou suavemente como um bolo perfeitamente fatiado.
— Uaargh!
Slei soltou um grito de dor antes que um flash de luz brilhante explodisse de seu corpo.
Sedi franziu a testa ligeiramente. Ela ainda não tinha descoberto o que exatamente era esse poder. Claro, não achava que fosse particularmente ameaçador, mas nunca se podia ter certeza.
Ela tinha visto pessoas que estavam à beira da morte ignorarem tudo e levarem seus assassinos com elas muitas vezes.
“Ele é pego como um rato, de qualquer maneira.”
Não havia nenhuma razão para ela apostar com sua vida. Com um sorriso malicioso no rosto, Sedi ampliou a distância entre eles.
— Coff coff…
Slei tossiu fortemente, e seu corpo tremeu.
Antes disso, ele sempre fizera o possível para manter uma aparência elegante. Seu cabelo branco descolorido estava sempre bem penteado, sem um único fio errante, sua expressão sempre foi calma e gentil, e sua voz sempre quente e suave.
Mas agora, essa aparência havia sumido.
Seu cabelo estava desgrenhado, seu rosto estava distorcido como um demônio e seus olhos estavam cheios de puro ódio.
Sedi sorriu brilhantemente para ele por um momento antes de seus olhos serem atraídos para o cajado em suas mãos. Lá, ela viu a mão direita de Slei, ainda segurando firmemente.
— Humpf.
Ela fez uma expressão de desgosto antes de balançar a mão levemente, fazendo com que a mão nojenta caísse no chão com um baque.
Slei gritou com a voz quebrada.
— Você sabe o que está fazendo?!
— Livrando-se de um velhote que deveria ter morrido há muito tempo.
— Nossa Igreja da Vida Eterna tem mais de um milhão de seguidores!
— Por que eu me importaria com isso?
Sedi ergueu uma sobrancelha.
Ela esperava que esse velho não dissesse besteiras como “se você me matar, todos eles se tornarão seus inimigos”.
— Me matar significa destruir todas as suas esperanças! Está preparada para isso? Você está preparada para ser aquela que roubará suas oportunidades de se reunirem com seus entes queridos e sentir a felicidade mais uma vez?!
Felizmente para Slei, ele não disse o que Sedi esperava, mas isso não mudou nada.
Ela ficou ainda mais irritada.
Como se para desabafar sua raiva, Sedi pisou na mão direita decepada na frente dela.
Estranhamente, houve um estalo fraco como se ela tivesse pisado em um velho galho de árvore em vez de uma mão.
Slei estremeceu como se pudesse sentir sua mão sendo pisoteada.
— Preparada? Sempre. Estou sempre preparada para matar lixos que gritam como se fossem os seres mais lamentáveis do mundo.
— O que você…
— Você me ouviu. Eu não me importo com lixos que merecem ser abatidos.
Esta era uma verdade que Sedi aprendeu em seu mundo natal.
Leis e Justiça? Eram simplesmente ilusões dos fracos.
— É a lei da natureza que os fracos percam tudo e sejam devorados. Se eles não gostam, então simplesmente têm que se tornar fortes.
Depois de dizer isso, Sedi sorriu.
Foi só nesse momento que Slei finalmente percebeu.
Apesar de sua aparência de boneca, o ser na frente dele não era uma garotinha. Em vez disso, ela era um monstro em forma humana que usava a máscara de uma garotinha.
— Qualquer um que escute de bom grado suas tolices é um idiota. Eles são fracos e patéticos por seguirem e confiarem em um tolo como você. Um tolo que tem ilusões de grandeza, mas nenhum poder real para apoiá-las.
Slei gritou com uma voz rouca.
— E-Eu não posso acreditar que você diria isso sobre pessoas que perderam suas famílias e ficaram cheias de desespero… V-Você é uma besta demoníaca.
— No passado, eu poderia ter tomado isso como um elogio…
Sedi murmurou essas palavras e fechou os olhos.
Verdade. Antigamente, ela gostava de ficar com os olhos fechados assim. Como tudo o que ela podia ver era a escuridão, sempre sentiu que fechar os olhos permitia que se conectasse um pouco mais com ele.
Mas não mais.
Sedi Glaston não era mais filha do Deus Demônio de Chifres Negros.
— Agora, eu me sinto meio mal…
Depois de dizer isso, Sedi apontou seu cajado para Slei.
Parecia que ela não tinha mais nenhuma intenção de manter esse velho vivo.
Se nada tivesse acontecido naquele momento, a ponta de seu cajado provavelmente teria perfurado a garganta do velho.
— Hã?
No entanto, Sedi de repente levantou os olhos para olhar para o teto.
Ela podia sentir duas fontes de energia demoníaca se aproximando em alta velocidade. Lukas provavelmente podia senti-las também.
— Os Cinco Duques?
Só podiam ser eles.
A energia demoníaca deles era semelhante à do duque, que ela havia encontrado na África.
No entanto, era estranho.
Sedi também sabia que os Duques Demônios só chegariam a Busan na manhã seguinte se continuassem em seu ritmo original.
“Não.”
Não era tão estranho.
Primeiramente, como estavam a apenas um dia de distância, era possível que estivessem cansados de destruir as cidades ou matar os humanos e decidissem aumentar sua velocidade.
— Não… Espera.
Além dos Duques Demônios, ela também sentiu outra assinatura de energia.
Pela primeira vez em muito tempo, a expressão de Sedi ficou séria.