— O que você pensou quando ouviu pela primeira vez o nome Igreja da Vida Eterna?
— Que é um culto.
Min Ha-rin falou em um tom brusco, e os olhos de Kim Min-chul se arregalaram.
— Min Ha-rin!
— Hahaha!
Slei, por outro lado, caiu na gargalhada. Min Ha-rin se perguntou brevemente onde aquele corpo magro encontrou energia para soltar uma risada tão alta.
Este velho na frente dela era o Bispo, a mais alta autoridade na Igreja da Vida Eterna. Então ela queria ver como ele reagiria se ela insultasse sua religião na frente dele.
Foi muito rude, mas ela não conseguia pensar em outra maneira. Para Min Ha-rin, era mais importante do que qualquer outra coisa descobrir exatamente o que era essa religião misteriosa e como tirar seus irmãos mais novos dela.
— Na verdade, havia um culto que carregava esse nome no passado. No entanto, somos muito diferentes deles, assim como o nosso caminho. A imortalidade não é algo que os mortais possam esperar alcançar.
— Então por que vocês se chamam Igreja da Vida Eterna?
— Vida eterna, vida perpétua… O que você acha que significa ter uma vida assim? Termina quando seu corpo morre? Não. Enquanto a alma não desaparecer, o ser não desaparecerá. O mesmo vale para o caminho que percorremos. Tudo será reencarnado.
— …
A reencarnação era um termo religioso usado principalmente no budismo.
Então, quando este velho em vestes sacerdotais disse esta palavra, pareceu um pouco estranho.
— Parece-me que a Igreja da Vida Eterna pegou conceitos que pertencem a outras religiões e os interpretou como bem entende.
— É natural nos basearmos neles. Afinal, somos retardatários. Religiões que foram criadas antes de sermos dignos do conhecimento de sua época. Se as coisas que eles dizem são a verdade, não é irracional dizermos isso também.
Os lábios rígidos do velho torceram-se ligeiramente.
— Mas você sabe a diferença crucial entre nós e eles?
— Não.
— De todas as religiões, a Igreja da Vida Eterna é a única capaz de provar a existência das almas e da vida após a morte.
— Hã?
Incapaz de entender, Min Ha-rin piscou por um momento. Então, ela balançou a cabeça e respondeu.
— Não é apenas “se você acredita no Deus em que acreditamos, você irá para o céu” ou algo assim? Não vejo como isso os torna diferente de outras religiões.
— Existem muitas diferenças. Porque não temos os deuses que a maioria das religiões acredita.
Slei riu.
— Existem muitas religiões neste mundo, mas o poder sagrado que eles usam não vem do Deus em que acreditam. Em vez disso, vem de sua própria fé e crença… Em outras palavras, sua própria força de vontade.
— E vocês são diferentes?
— Isso mesmo. Porque tomamos emprestado o poder do Deus em que acreditamos.
Slei gesticulou para Kim Min-chul atrás dele.
— Você se importaria de nos dar um minuto? Eu gostaria de falar com Min Ha-rin a sós.
— Mas Bispo…
— Pfft, não se preocupe. Não importa quantos anos eu tenha, ainda posso lidar com essa criança.
— Entendido…
Kim Min-chul estava relutante, mas não ousou desobedecer a uma ordem direta do bispo. Com passos pesados, ele saiu da sala.
Tak—
A porta se fechou e o silêncio caiu mais uma vez.
Slei soltou uma risada suave.
— O que você pensa quando ouve a palavra “Deus”?
— Deus, o Criador, o ser que fez todas as coisas.
Ela não acreditava em Deus.
Min Ha-rin engoliu suas palavras antes que pudesse dizê-las, mas Slei foi capaz de entender o que ela estava pensando.
— Hmm. Você é ateia. Costumava haver muitos ateus na Coreia.
— É mesmo?
Hoje em dia, havia muitas cruzes e outros símbolos religiosos para onde quer que se olhasse, então ela não estava ciente disso.
No entanto, antes do advento dos Demônios, a porcentagem de ateus na Coreia estava entre as mais altas do mundo.
— Onisciência e onipotência. Essas são características que somente Deus está qualificado para possuir. Nesse sentido, só pode haver um ser que pode ser chamado de Deus em todos os universos. A maioria dos seres não sabem desse fato, mas nós fomos capazes de reconhecê-lo.
Todos os universos.
Essas palavras soaram estranhas para ela, mas Min Ha-rin optou por não apontar isso.
— O ser absoluto. O único Deus verdadeiro. Você não está tentando dizer que é você, está?
A maioria dos líderes de cultos tendiam a se referir a si mesmos como Deus ou alegavam ser filhos de Deus que herdaram seu sangue.
O mundo já estava quebrado. Multidões de pessoas feridas e desesperadas lamentavam nas ruas, seus corações e vontades se despedaçando ao menor toque.
Ironicamente, este era o melhor momento para as religiões florescerem.
Aqueles que estavam feridos, doentes ou perderam seus entes queridos instintivamente buscavam algo para se apoiar.
Min Ha-rin nunca pensou que religião fosse uma coisa ruim. Afinal, ela estava feliz que os feridos e doentes pudessem encontrar abrigo.
O que ela realmente odiava eram aqueles que usavam os fracos para seus próprios meios.
Pessoas que tratavam a fé como um negócio, que não passavam de lixo.
— Hehe.
Apesar do tom áspero e da atitude rude de Min Ha-rin, Slei permaneceu calmo.
— Claro que não. Não sou nada mais do que um mortal que teve a sorte de se sentar neste assento pela mão do destino.
— …
Sua atitude pegou Min Ha-rin de surpresa.
Ela podia dizer pela expressão dele. Este homem não estava tentando ser humilde, nem era pretensioso. Ele realmente pensava assim.
— Vamos voltar ao assunto principal. A alma é nossa fonte, um repositório de nossas memórias, de nosso caminho até aqui. Geralmente, nenhum ser tem o direito de extinguir a alma, então pode-se dizer que existe algum grau de imortalidade. Então, enquanto nossas almas não desaparecerem, nossas vidas não desaparecerão. Isso não poderia, então, ser chamado de vida eterna?
Slei se levantou, seu rosto levemente corado e sua respiração visivelmente mais rápida.
Parecia que ele estava tão animado que não conseguia mais se conter.
— Mas a vida eterna também é um santo graal envenenado. Quanto tempo levaria para que a bênção da vida eterna parecesse uma maldição de tortura eterna? Cem anos? Mil? Não sei, porque não vivi tanto tempo… Mas tenho certeza de que seria muito mais curto do que eu pensava. Então eu pensei, ponderei, agonizei sobre isso antes de finalmente encontrar a resposta. Para viver uma vida eterna, é preciso estar acompanhado por aqueles que se ama verdadeiramente.
— Hã?
Os olhos de Min Ha-rin se arregalaram com a observação inesperada.
Slei soltou uma risada baixa.
— Seja sua família, irmãos, amigos ou amantes, qualquer um servirá. Enquanto houver alguém para acompanhá-lo através das eras, a bênção nunca se tornará uma maldição.
A expressão de Slei mudou quando ele murmurou em voz baixa.
— [Vida Eterna junto com quem você ama]. Essa é a doutrina de nossa Igreja da Vida Eterna.
— Você está tentando dizer que se eu entrasse na Igreja da Vida Eterna, meus irmãos e eu poderíamos ficar juntos para sempre?
— Não é só isso. Eu não disse antes? Nós provamos a existência de almas e vida após a morte.
— !
Os olhos de Min Ha-rin de repente se arregalaram com essas palavras.
— Impossível…
— Nós também podemos reviver os mortos.
Min Ha-rin respirou fundo e pesado.
Naquele momento, os rostos de Kim Min-chul, que parecia estranhamente calmo todo esse tempo, e Kim Sung-hyun, a quem ela amava muito, apareceram na mente de Min Ha-rin.
— Eu não forcei nenhum de seus irmãos mais novos a se juntar a nós. Eu simplesmente lhes disse uma coisa. Em troca de se juntar à Igreja da Vida Eterna, vocês poderão ver seus pais novamente.
— Essas crianças não têm memória de nossos pais…
— Isso não significa que eles não gostariam de conhecê-los.
— …
Min Ha-rin percebeu tardiamente que o desafio em sua voz havia se tornado maçante.
Talvez Slei tenha notado também.
Ele fixou sua expressão antes de falar em um tom baixo e pesado.
— Ha-rin, você não quer ver seus pais mortos de novo?
Lukas percebeu que a pessoa na frente dele tinha os “Olhos da Alma” mais poderosos que ele já tinha visto antes.
“Não.”
Não eram apenas Olhos da Alma. O poder que ele sentia daqueles olhos não podia ser descrito com apenas um termo.
Um brilho branco apareceu nos olhos de Lukas. Ele começou a examinar os olhos da pessoa com Clarividência.
E logo, ele recebeu um resultado surpreendente.
Para surpresa de Lukas, mesmo sua clarividência não conseguia ver através dos olhos dele. Lukas olhou propriamente para eles mais uma vez.
Olhos brancos puros, sem a menor mancha, olharam para ele sem piscar.
“Alma… Eles me chamaram de alma.”
Parecia que essa pessoa o havia confundido com uma alma.
Lukas decidiu usar esse mal-entendido em seu benefício.
[Quero saber seu nome.]
A pessoa sorriu e respondeu a essa pergunta absurda sem qualquer hesitação.
— Meu nome é Arid.