Sala de Comunicações.
Min Ha-rin operava o equipamento de comunicação enquanto estava sentada em frente à Joanna.
Não era nada de especial. Tudo o que ela precisava fazer era digitar a senha da linha de comunicação confidencial que conhecia e esperar por uma resposta.
— Quando foi a última vez que você esteve na Coreia?
— Cerca de três anos atrás? Acho que mais ou menos esse tempo.
— É mais tempo do que eu imaginava.
— Sim. O dano à Coreia não foi tão grande. À medida que meu desempenho melhorava, eu era enviada para a China com mais frequência. Mais tarde, mudei-me para ficar lá.
— Hmmm.
Joanna assentiu lentamente antes de perguntar em um tom levemente cauteloso.
— E sua família?
— Eu tenho dois irmãos mais novos na Coreia.
— Imagino que eles não sejam caçadores.
— Sim.
Joanna sorriu suavemente.
— Isso é bom. Quero dizer, ter uma família.
— E quanto a você, senhorita Joanna?
— Você pode me chamar apenas de Joanna.
Talvez fosse porque ela era americana, mas Joanna era muito mais aberta do que ela esperava.
Enquanto pensava nisso, Min Ha-rin se repetiu.
— E quanto à sua família…
— Eu não tenho uma. Eu sou uma órfã.
— Ah.
Isso foi um pouco surpreendente.
Por sua atitude, Min Ha-rin pensou que ela nasceu e foi criada em uma família rica, ou pelo menos abastada, mas esse não era o caso. Em outras palavras, ela se sentia e se comportava como uma descendente de alguma grande “família” ou “força”.
Joanna parecia familiarizada com essa reação.
— É por isso que chamo o presidente da Associação de meu pai. Porque ele me criou quando criança e me mostrou meu caminho.
Uma luz terna brilhou nos olhos de Joanna quando disse isso.
Min Ha-rin podia entender seus sentimentos de certa forma. Talvez o mesmo respeito e admiração que ela agora tinha por Lukas, Joanna tinha por Neil Prand.
A expressão de Joanna tornou-se séria quando encontrou o olhar de Min Ha-rin.
— Então… Por favor. Por favor salve o Presidente da Associação.
— Sim…
Assim que a determinação de Min Ha-rin foi renovada, finalmente recebeu uma resposta da tela na frente dela.
— Acho que a linha foi conectada.
— Sim. Espere um momento.
Pit—
De repente, a tela se iluminou.
— …
Min Ha-rin piscou.
A pessoa na tela era obviamente alguém que ela conhecia, mas levou um momento para perceber isso.
Não. Ela ainda não tinha certeza, embora estivesse olhando para ele com seus próprios olhos. Ela lambeu os lábios algumas vezes antes de abrir a boca hesitante.
— Tio Min-chul?
[Como esperado, é Ha-rin.]
O homem atrás da tela sorriu brilhantemente. Min Ha-rin não pôde deixar de sentir uma pitada de descrença ao ver isso.
— Por que é você, tio? E o irmão mais velho Sung-hyun?
[Ele está morto.]
— Hã?
Os olhos de Min Ha-rin se arregalaram.
[Muita coisa aconteceu. Há tanta coisa que eu quero falar com você. Como você entrou em contato com esta linha de comunicação, deve significar que você está voltando para a Coreia, certo? Quando você vai voltar?]
Essas palavras deixaram Min Ha-rin sem saber o que falar por alguns momentos.
Ela pretendia voltar para a Coreia e estava confiante de que eles a deixariam entrar, mas achou que levaria algum tempo para convencê-los.
Mas a atitude de Kim Min-chul a fez hesitar.
Parecia que ele queria que ela voltasse para a Coreia o mais rápido possível.
Ele respirou fundo e cerrou os punhos.
As palavras do médico flutuavam em sua mente em um loop. Não havia nada de errado com seu corpo.
Na verdade, ele sabia disso melhor do que ninguém.
— Huu.
Ele respirou fundo novamente e preparou sua mente. Então, fechou os olhos e relaxou o corpo o máximo que pôde.
Não era difícil se lembrar “daquele tempo”.
Em apenas alguns momentos, a imagem de uma mulher apareceu em sua mente. Uma mulher com cabelo vermelho como sangue.
Um ser que era tão temível que sua aparência inofensiva a tornava ainda mais assustadora.
Duquesa Rose.
Só de imaginar o rosto dela, todo o seu corpo estremeceu violentamente. Se ele não estivesse deitado na cama, seus pés teriam falhado e ele teria desmaiado.
Ele não temia mais os Demônios como no passado.
Ele tinha certeza de que havia superado isso até certo ponto.
Se o primeiro Demônio que ele encontrasse não fosse um dos Cinco Duques…
Ele balançou sua cabeça.
Todos esses pensamentos eram apenas desculpas.
No final, tudo isso se resumia ao fato de que ele era muito fraco.
Ele queria superar o medo. Queria seguir em frente. Queria dizer adeus ao seu eu fraco e patético e lutar contra os Demônios com confiança. Este era o futuro que ele derramou lágrimas de sangue para alcançar.
Pensou que iria alcançá-lo se ele se esforçasse um pouco mais, mas agora, aquele objetivo que achava que estava ao seu alcance, estava mais distante do que antes.
Não. Foi ele quem fugiu do objetivo.
No fim, ele não era um homem capaz de superar seu trauma. Ainda era um garoto inglês, jovem e fraco, que não conseguia superar seu medo de demônios.
— Droga!
Crack!
Incapaz de conter sua raiva de si mesmo, Leo Freeman deu um soco na mesa ao lado de sua cama. Esta foi a primeira vez que ele agiu de uma maneira tão emocional. E, no entanto, a sensação de vergonha não desapareceu. Pelo contrário, suas emoções negativas ficaram mais estranhas quando sentiu que seu lado patético estava ainda mais evidente agora.
— Droga… Droga…
Sangue jorrou de seu lábio quando o mordeu.
— Pare de se machucar.
— !
Leo virou a cabeça rapidamente. Sem ele perceber, Lukas entrou em seu quarto e estava de pé ao lado de sua cama.
— Mestre…
Sem dizer uma palavra, Lukas foi até ele e lhe entregou um lenço de papel. Leo aceitou e pressionou-o contra os lábios. O tecido branco ficou manchado de vermelho.
Lukas olhou para Leo por um momento antes de se sentar na cadeira ao lado da cama.
Por alguma razão, o som do tique-taque do ponteiro dos segundos do relógio tornou-se excepcionalmente evidente naquele momento.
— Eu sinto muito.
Mesmo depois de dizer isso, Lukas não disse nada.
— Sei que esta é uma oportunidade que provavelmente nunca mais vou receber, e queria muito me sair bem desta vez… Mas não deu certo…
— …
A voz de Leo estava tensa e rouca. Ele sentiu que, se continuasse a falar, começaria a chorar. Ele sabia que já parecia patético, mas não queria se envergonhar mais do que já tinha se envergonhado.
No entanto, como tinha começado, teria que terminar.
Porque o silêncio o incitava a continuar.
— Vi um vídeo do que aconteceu no campo de treinamento.
Um grupo de alguns dos melhores caçadores da América do Norte enfrentou uma garota mais nova que eles. E, no entanto, essa garota, cujo cabelo escorria até os pés, os derrotou com facilidade.
Foi uma luta tão linda que ele nem sentiu ciúmes. Ficou claro para Leo que ele teria que trabalhar duro a vida inteira. Mas não tinha certeza se poderia chegar a esse nível apenas com seu talento e trabalho duro.
Só havia uma coisa de que Leo tinha certeza. Ele não seria capaz de atingir nem metade desse nível, nem mesmo depois de dez anos.
Foi preciso muita determinação para abrir a boca novamente.
— Eu—
— Por que você está se desculpando?
Lukas o interrompeu.
— Sinto que decepcionei o Mestre.
— Eu já te disse isso ou demonstrei tal atitude?
— Não. Mas…
— Então por que você está fazendo suas próprias suposições e julgamentos?
As palavras estavam cheias de culpa, mas o tom em que foram ditas era suave.
Leo ficou em silêncio por um momento, sem palavras.
— Isso…
— Você está indo bem.
— Hã?
— Você está indo bem. Você não fez nada de errado.
— …
Os olhos de Lukas estavam brilhando tanto que doía olhar para eles. O brilho em seus olhos era tão deslumbrante que parecia que ele queria afastar as nuvens escuras de sua mente.
— É como eu disse. Você está sempre tentando enfrentar seus medos de frente. Isso não é uma tarefa fácil.
— Qualquer um pode apenas pensar sobre isso!
A voz de Leo ficou mais alta no final. Seu rosto ficou contorcido.
— Vou tentar mais da próxima vez. Amanhã será diferente de hoje. Esses pensamentos fáceis são coisas que todo mundo repete para si mesmo na cama antes de dormir… Certo. Só fica repetindo. Sinto que minha determinação se desvaneceu e me tornei autoindulgente.
O que realmente importava era não perder a motivação.
Mas Leo sentiu que não poderia fazer isso.
— Cada um tem seu tempo.
— Tempo?
— Sim. As pessoas costumam chamar isso de destino, mas eu pessoalmente chamo de “tempo de florescimento”.
— O tempo de… Florescimento…
— É apenas uma diferença de tempo. Só porque uma flor desabrocha mais tarde não significa que seja menos bonita. E eu…
Lukas sorriu.
Quando Leo viu esse sorriso, sentiu seu coração inchar e sua garganta fechar.
Ele podia sentir isso só de olhar para esse sorriso.
O quanto essa pessoa na sua frente acreditava nele. E quão altas eram suas expectativas.
— Eu acredito que você vai florescer em uma flor que é mais brilhante do que qualquer outra flor.
Glup.
Leo foi incapaz de impedir que suas lágrimas quentes caíssem. Nunca houve alguém que tivesse tanta fé nele em toda a sua vida.
Ele era alguém que não conseguia nem levantar um dedo na frente de um Demônio. Quão ridículo isso era para alguém que queria se tornar um caçador? Alguém que arriscaria sua vida em cada missão.
— Por que você tem tanta fé em mim?
— Porque eu sou seu mestre.
O sorriso de Lukas se alargou.
— Você confia em mim?
— Sim…
— Então confie em meus olhos também. O Leo Freeman que vi e julguei não é de forma alguma um homem que se curvaria a esse nível de frustração.
— Mestre…
— Estou ansioso pela flor na qual você vai desabrochar.
Quando Lukas saiu do quarto do hospital, encontrou uma garota de cabelos pretos com uma expressão azeda.
Sedi Glaston.
Não… Deve ser Sedi Trawman agora. Ela se tornou estranhamente ligada a Lukas desde que se tornou uma mortal.
Sedi apontou para o quarto do hospital, sua expressão ainda taciturna.
— Ele também é seu discípulo, pai?
— Sim.
— Ele é muito fraco.
Lukas olhou para Sedi por um momento.
— O quê?
— Sedi, o que você acha que um pai deveria ser?
— Alguém maior e mais forte do que eu?
— Então você me chama de pai porque eu sou mais forte do que você?
— Isso. Existem apenas quatro pessoas neste universo agora que são mais fortes do que eu.
Ela estava se referindo aos quatro Absolutos.
Nodiesop, Letip, Lukas. E Kasajin.
Naturalmente, Lukas era o único entre eles que era gentil com Sedi.
Não havia necessidade de mencionar Nodiesop, com quem ela parecia ter um relacionamento ruim, e Kasajin, que a deixou do jeito que ela estava. Letip, que parecia ser neutro, era um coringa, e ninguém sabia o que ele estava pensando.
— Eu nunca tive uma filha.
— Eu sei. Você nunca fez aquilo.
— Certo. Esse não é realmente o ponto agora, mas, de qualquer forma, eu sei que você e eu não temos um relacionamento normal de pai e filha.
— Um relacionamento normal de pai e filha?
Sedi inclinou a cabeça para o lado.
Provavelmente não tinha sido intencional, mas sua ação estava cheia de inocência que combinava com sua idade aparente.
— O que isso significa?
— Não sei.
— Do que você está falando? Você está tentando fazer uma piada?
— Não. Como eu disse, nunca tive uma filha.
Ele sabia sobre os laços entre amigos, mestres e pais.
Recentemente, ele aprendeu a como tratar um discípulo.
Esta era a primeira vez que Lukas tinha uma filha. Embora a origem do relacionamento fosse um pouco estranha, ele não queria tratar esse vínculo descuidadamente agora que estava formado.
Mesmo que ela não fosse sua filha de sangue, ele ainda queria tratar seu vínculo com seriedade e formar o relacionamento mais desejável para os dois.
Enquanto tinha esse pensamento, Lukas olhou para Sedi.
— Então eu vou pensar sobre isso de agora em diante.
— Pensar sobre o quê?
— Como um pai deve tratar sua filha. O que posso fazer por você. E como deve ser um relacionamento ideal entre pai e filha.
— …
Sedi olhou para Lukas com uma expressão vazia por um momento.
Ela se sentiu estranha.
Ela não sabia o motivo, mas as palavras de Lukas tocaram profundamente seu coração. Pela primeira vez, Sedi sentiu que a parte que faltava dela estava sendo preenchida temporariamente.
— Então você também deve pensar seriamente… Sobre o que você quer de um pai.
Por alguma razão, ela não conseguia mais olhar para Lukas.
Sedi virou a cabeça e disse.
— E-Entendo.
Ela não sabia o porquê, mas seu rosto estava queimando. Incapaz de conter seu nervosismo, Sedi batia o pé no chão.