Crack…
— Ah…
Min Ha-rin soltou um longo suspiro.
O gelo ao redor da Ilha do Deus Dragão de repente começou a derreter, e o tsunami que pairava acima de suas cabeças recuou lentamente. Claro, isso não foi um fenômeno natural.
Foi a sacerdotisa.
Ela estava criando as barreiras novamente.
— Nodiesop?
— Morto.
A forma como a Sacerdotisa respondeu mudou mais uma vez. Ela agora falava com uma voz fria. O cabelo que tinha ficado molhado e grudado em suas bochechas também ficou azul.
— …
Min Ha-rin abriu a boca por um momento, antes de fechá-la novamente.
Ela engoliu com força as palavras que ameaçavam subir pela sua garganta e sair pela boca.
Foi curta, mas a conversa que tiveram foi algo que ela nunca esqueceria por toda a sua vida…
A decisão de seu mestre foi triste e dolorosa, mas ela não pôde deixar de entendê-la em seu coração.
Ela não queria mencioná-lo ainda. Parecia que apenas dizer o nome dele iria rasgar seu coração em pedaços.
Ela olhou ao redor.
A Ilha do Deus Dragão havia ficado em uma forma muito miserável, mas eram as pessoas que viviam na Ilha do Deus Dragão que estavam mais miseráveis.
Como ela não tinha visto isso antes?
Estava com os olhos abertos, mas não era diferente de uma pessoa cega.
Lukas estava certo.
Ela estava tão focada nas coisas que perdeu, que deixou passar completamente as coisas que realmente importavam.
Ela se certificaria de que isso nunca mais acontecesse.
— Por que…
Cambaleando, Sedi se levantou.
— Vocês são as únicas aqui? Onde está o papai?
Não era apenas Sedi.
Arid e Leo também olhavam para elas.
Min Ha-rin tentou falar com a voz mais calma que conseguiu.
— Ele faleceu.
— O quê?
— Era algo que ele queria há muito tempo, e era sua própria vontade. Mesmo que eu seja sua discípula, não tenho o direito de impedi-lo de fazer o que ele quiser.
— Você… Do que diabos está falando?
Sedi rosnou em um tom baixo. Ela apareceu na frente de Min Ha-rin em um instante e a puxou para baixo pelo colarinho para que elas ficassem cara a cara.
Perto o suficiente para sentir a respiração uma da outra.
Seus olhos se encarando diretamente.
— Não tente enrolar, me diga logo… O que aconteceu com o pai?
Sua raiva era óbvia em sua voz.
Ela sabia como era Sedi.
A resposta que ela queria era a verdade firme. Mas Min Ha-rin podia adivinhar qual seria sua reação quando ouvisse a verdade.
No entanto, ela ainda tinha que dizer isso.
Porque, Min Ha-rin, como a única que viu o último momento de Lukas, era seu dever contar aos outros o que tinha visto.
— Ele está morto.
— …
Os olhos de Sedi se arregalaram. Seus lábios se moveram para frente e para trás como se ela estivesse segurando algo.
— Morto?
— Sim.
— E você… Apenas o deixou sozinho?
— …
— Me responda. Se você estivesse assistindo ao lado, deveria ter conseguido detê-lo de alguma forma.
— Não havia outra maneira. Se o Mestre não parasse Nodiesop, todos teriam morrido…
Energia demoníaca irrompeu do corpo de Sedi com essas palavras.
Ela sabia.
Sedi não era discípula de Lukas. Embora a relação pai-filha tivesse sido decidida apenas verbalmente, ela não pretendia subestimar o relacionamento deles como superficial.
Portanto, diferentemente de um discípulo, sua filha não conseguiria aceitar sua morte, independentemente do motivo.
— Você me prometeu quando papai ficou inconsciente. Disse que nós o protegeríamos desta vez e que definitivamente faria isso, mesmo que significasse arriscar nossas vidas, não foi?
— …
— Me responda!
A voz de Sedi estava impregnada de energia demoníaca.
Ela costumava ser uma Absoluta.
Então entendia a determinação e o sacrifício de Lukas melhor do que qualquer um deles.
Min Ha-rin também sabia disso, então achou difícil falar.
— Ha.
Sedi soltou uma risada curta. Seus lábios estavam torcidos de uma forma que mostrava que ela poderia chorar a qualquer momento.
Sua cabeça caiu e seus pequenos punhos tremeram.
Ela sabia o quão forte era. Mas naquele momento, Sedi parecia tão delicada quanto um gato encharcado pela chuva.
— Certo… Vocês sobreviveram. Está tudo bem já que ele salvou suas vidas.
— Eu não acho.
— Cale… Sua… Boca.
Sedi levantou a cabeça novamente, e a raiva e o ódio em seus olhos surpreenderam Min Ha-rin por um segundo.
— Eu não posso aceitar.
Depois de dizer isso, Sedi se virou sem hesitar.
— Aonde você está indo?
— Trazer meu Pai de volta à vida.
— Isso é impossível…
— Se você disser mais uma palavra, eu vou te matar.
Sua voz estava tão cheia com intenção assassina que causou calafrios na espinha de Min Ha-rin.
Sedi cerrou os dentes enquanto continuava.
— Se papai está realmente morto, então não há razão para eu ficar com você. A partir deste momento, você e eu não temos nenhum relacionamento, então não aja como se fôssemos próximas.
Depois de dizer essas palavras, Sedi desapareceu.
Ninguém ali poderia impedi-la de sair.
— …
Min Ha-rin estava com o coração partido.
Desde o início, não.
Ainda nem tinha começado e já havia discórdia no grupo deles.
— O Mestre é… Realmente…
— Ah… Ah…
Leo e Arid ainda precisavam se orientar.
Então caberia a Min Ha-rin cuidar deles e liderá-los…
“Eu não vou desistir.”
Ela continuaria o desejo de Lukas.
Vencer as qualificatórias, retornar à Terra, expulsar todos os Demônios e certificar-se de que o nome Argento Spell fosse conhecido por todo o mundo.
E ela também queria fazer um funeral para Lukas. Poderia não parecer possível agora, mas ela esperava que Sedi estivesse com eles até lá.
Não seria fácil e provavelmente levaria muito tempo, mas, pelo menos, ela tinha um objetivo claro.
Ela não vai mais vagar sem rumo.
“Eu nunca esquecerei.”
Ela nunca esqueceria a bondade que recebeu dele. Ela iria se provar para ele.
“Então, por favor, descanse bem, Mestre.”
Você realmente trabalhou duro.
Mestre.
Tempo passou.
…
…
Muito tempo se passou.
…
…
Então, por que ele ainda ‘existia’.
— Ah…
Lukas falou depois de muito tempo. Era incrível que ele tivesse uma voz para começo de conversa. Não, talvez ele estivesse apenas pensando que tinha feito um som.
Lukas…
Ele escolheu fazer do Abismo sua tumba.
Ele se preparou para ser aniquilado lá e isso era exatamente o que deveria ter acontecido.
Mas assim como seu corpo, que ainda estava flutuando incorrupto no espaço, sua mente ainda permanecia consciente.
“Por que… Por que ainda não desapareci?”
Depois de flutuar sem rumo naquele mundo, ele já deveria ter sido assimilado pela escuridão.
Esse era o fim que Lukas esperava e o fim que deveria ter encontrado.
Até mesmo naquele momento, metade de seu corpo e mente estavam imersos na escuridão.
No entanto, Lukas ainda existia.
Ele ainda era capaz de pensar.
Levantando a mão, Lukas deu um tapinha em seu corpo. E percebeu um fato surpreendente.
As rachaduras foram seladas. Como se suas feridas estivessem sendo reparadas.
“Eu fiz isso?”
Lukas era a única coisa que existia no Abismo naquele momento.
Além de Lukas, não havia ninguém capaz de curar seus ferimentos, o que o levou a pensar em si mesmo.
Mas ele não conseguia se lembrar de ter feito isso.
“Eu inconscientemente curei minhas feridas?”
A raiva surgiu dentro dele por um momento.
Foi uma resposta desajeitada que nem poderia ser chamada de medida temporária. Na melhor das hipóteses, isso simplesmente diminuiria sua taxa de aniquilação.
Portanto, sua raiva foi dirigida a ninguém menos que ele mesmo.
Não foi ele quem disse que queria morrer? Mas agora que finalmente chegou ao ponto da morte, de repente desenvolveu um desejo pela vida? Isso significava que ainda havia alguns arrependimentos persistentes em seu coração que até ele não sabia?
“Isso não é possível.”
Lukas tinha certeza de que seu desejo de morte era sincero.
Mesmo que fosse subconsciente, era impossível para ele fazer algo como prolongar sua vida.
[Não desista…]
— !
De repente, ele ouviu uma voz fraca.
Lukas soube imediatamente a quem pertencia aquela voz.
[Nunca desista…]
A voz ficou cada vez mais alta até se tornar um grito que ressoou em seus ouvidos.
[Não importa o quê! Eu nunca vou desistir!]
Era uma voz desconhecida e familiar ao mesmo tempo.
Lukas se virou.
Parado ali estava um homem.
Um homem de cabelos loiros e olhos azuis estava desabafando seus sentimentos no vazio.
Lukas não pôde deixar de chamar o nome do homem.
— Lukas…
‘Lukas Trawman’ estava ali na frente dele.
Este não era um reflexo de seu eu atual, como se ele estivesse olhando para um espelho.
Em vez disso, este era o Lukas do passado.
Para ser mais preciso, era o Lukas que foi derrotado pelo Lorde e ficou com sua alma presa no Abismo.
O que era isso? Seria uma miragem? Ou era uma memória remanescente do passado que permaneceu neste mundo? Ou talvez fosse algum tipo de fenômeno criado pela força externa que havia sido liberada no mundo…
Lukas parou de pensar naquilo.
Mesmo diante de um fenômeno desconhecido como esse, não havia necessidade de analisá-lo muito profundamente.
[Tenho medo de desistir!]
Tundum.
Aquele grito ressoou no peito de Lukas.
A voz deste homem que não desistiu se tornou uma adaga afiada que perfurou seu peito.
Ele sabia o motivo, mas fingiu não saber.
Em vez disso, apenas olhou para ‘Lukas’ novamente.
Era fraco, mas se lembrava um pouco dessa vez.
Não foi muito depois de quando entrou no Abismo pela primeira vez.
Em outras palavras, alguns milênios teriam que passar antes que o homem pudesse escapar daquele lugar.
Mais importante, isso era algo que o ‘Lukas’ naquela época nunca saberia. Ele não sabia quando ou mesmo se conseguiria escapar, mas nunca desistiu…
Enquanto olhava para ele, Lukas não pôde deixar de murmurar.
— Como diabos você suportou isso?
[—.]
Foi nesse momento que ‘Lukas’ abriu a boca e murmurou algo.
Provavelmente não era uma resposta para sua pergunta. Embora pudesse parecer que o presente e o passado de Lukas existissem no mesmo espaço, era impossível para eles interagirem um com o outro.
No entanto, não queria ouvir essas palavras. Porque sabia que assim que ouvisse aquela voz, uma mudança incontrolável começaria a ocorrer dentro dele.
Ele tinha medo disso.
Lukas cobriu os ouvidos com as duas mãos.