A primeira cena era de uma vela tremeluzente iluminando um quarto escuro.
Além disso, a visão de duas pessoas sentadas uma de frente para a outra em uma mesa.
A atmosfera era sombria. O motivo provavelmente não era apenas porque a mesa estava vazia.
— …
O homem sentado à esquerda, Ivan, cruzou os braços e batia os dedos. Ele não parecia estar pensando em nada. Em vez disso, estava simplesmente observando a mulher sentada à sua frente.
Eventualmente, Ivan falou…
— Eu recuso.
A voz que saiu de seus lábios era firme. Carregava sua honestidade e insistência de que ele não permitiria nenhum desacordo.
Iris, que havia ficado em silêncio por um tempo, finalmente fez uma pergunta.
— Você recusa?
— Isso.
— Por quê?
— Há uma semana, Cairo me procurou.
— O traidor?
— Diablo declarou que não tem mais intenções hostis contra nós.
— Você está me dizendo que acredita nisso?
Iris falou com uma voz exasperada e zangada quando ouviu aquelas palavras que eram além do ridículo.
— Não acredito. No entanto, tenho certeza de uma coisa. Diablo atualmente não tem intenção de lutar contra nós. Sua atenção foi atraída para outro lugar.
— Eu sei disso. É por isso que esta é a melhor oportunidade. Agora que ele está se concentrando em outra coisa.
— Uma oportunidade? Não seja ridícula. Mesmo se lutarmos contra ele na situação atual, nossas chances de vitória são menos da metade.
— Então, devemos deixá-lo em paz? Quantos ele vai matar se fizermos isso?
— Não, vamos vigiá-lo de perto. Se encontrarmos algum sinal de que ele está fazendo truques sujos, responderemos imediatamente.
Iris franziu ligeiramente os lábios e falou em voz baixa.
— Isto é errado… O que precisamos agora é de prevenção, não de resposta. Se respondermos, não teremos escolha a não ser agir somente depois que o dano for feito.
— Eu sei disso. Mas é inevitável.
— O que é inevitável? Isso é algo que você deveria dizer? Você, que perdeu sua Mestra para Diablo?
Ttuk.
Ivan congelou.
Se fosse o Ivan do passado, ele provavelmente teria balançado o punho naquele momento. Ou poderia ter chutado a mesa para longe.
De qualquer forma, teria feito alguma coisa. Ele teria expressado sua raiva de alguma forma.
Não dessa vez.
— Iris Peacefinder.
Ele murmurou calmamente o nome dela.
Não era que ele não estivesse expressando sua raiva, ele não estava com raiva.
Ivan simplesmente olhou para Iris com um olhar desdenhoso.
— Você realmente acha que Diablo é a maior dor de cabeça com a qual temos que lidar agora? Você sabe? Sobre as anomalias que foram descobertas em todo o continente?
A aura afiada que cercava Iris desapareceu. Ela permaneceu em silêncio.
— Depois do grande terremoto. Não, você chamou de [Vibração Espacial]. Após esse fenômeno misterioso, catástrofes ocorreram simultaneamente. Todos no Círculo estão atualmente encarregados de lidar com elas. Claro, eu também resgatei e forneci ajuda pessoalmente a centenas de milhares de pessoas. Se eu tivesse aceitado sua oferta e lutado contra Diablo, o que você acha que teria acontecido?
— …
— Com toda a probabilidade, todas as pessoas que salvei estariam mortas.
— O Círculo não é uma organização de socorro… Parece que você esqueceu o ideal por trás da fundação de sua própria organização.
— Eu não esqueci que é para manter sob controle seres com os quais os humanos não podem lidar. No entanto, determinei que atualmente existem assuntos mais urgentes.
— Você determinou?
— Sim. Porque essa é minha responsabilidade como Chefe.
Iris abaixou a cabeça enquanto a ponta do queixo tremia levemente.
Então se levantou de seu assento em um movimento brusco. Ela percebeu que não havia mais nada a ganhar em continuar a conversa.
Pouco antes dela sair sem sequer olhar para trás.
Ivan voltou a falar.
— Talvez eu tenha pensado que esta poderia ser uma oportunidade para reunirmos nossas opiniões.
— …
— Eu esperava que nos uníssemos e déssemos as mãos como fizemos no passado… Mas acho que foi tudo ilusão minha.
— Sim.
Iris respondeu friamente.
— Foi um delírio.
* * *
A segunda cena começou com um homem entrando em um quarto. Seu rosto não podia ser visto claramente por causa de seu cabelo emaranhado, e ele tinha um andar cambaleante e instável, como se estivesse bêbado.
Assim que entrou no quarto o homem respirou fundo.
— Huuu…
Um momento depois, jogou o cabelo para trás, finalmente revelando um rosto abatido. Ele tinha uma barba rala e havia olheiras grossas ao redor dos olhos que denunciavam seu cansaço.
O homem olhou para as pilhas de papéis espalhados pela mesa do quarto com uma expressão cansada. Então, com outro suspiro, pegou o documento mais próximo.
— …
Seus olhos se moviam silenciosamente enquanto ele lia as letras que se estendiam pela página.
[Hitume Ikar]
[Contagem oficial de danos: Aproximadamente dezessete mil mortos ou desaparecidos, cerca de quarenta mil feridos, vinte e seis inteiros e sete por cento da terra submersa.]
[Espera-se que a extensão dos danos aumente, com a expectativa de que a ilha fique totalmente submersa em seis meses.]
[O número, objetivo, base e poder de combate da Raça Submarina ainda é desconhecido.]
O documento tinha a forma de um relatório.
Quanto mais ele lia o relatório, mais a luz em seus olhos escuros parecia morrer.
E no final…
Bang!
O homem bateu com o punho na mesa. A mesa de madeira rangeu alto e vários documentos foram lançados em todas as direções.
— Droga…
Havia uma pitada de ressentimento na voz áspera que saiu.
O homem tocou sua testa. Sua expressão estava distorcida como se estivesse sentindo uma dor de cabeça repentina, e sua testa estava coberta de suor. Ele caminhou como uma pessoa desequilibrada por um tempo antes que seus olhos captassem a visão de algo sobre a mesa.
Era uma garrafa. Provavelmente uma garrafa de vinho, com a tampa aberta. Parecia ter ficado largada por um bom tempo, mas não estava vazia. Líquido avermelhado ainda era visível dentro dela.
O homem pegou a garrafa, as pontas dos dedos tremendo levemente.
Então, cuidadosamente derramou o conteúdo em sua boca como se estivesse bebendo o delicado vinho dos céus.
Gulp, gulp.
O gole cuidadoso logo se tornou um gole guloso. Ele não parecia mais se importar se o líquido vazasse por seus lábios.
Num instante, o homem esvaziou aquela garrafa cheia de vinho pela metade.
Então, desabou em um sofá próximo. O rosto do homem ficou mais calmo. Ainda estava abatido, mas de um certo ângulo, parecia um pouco melhor.
A razão era simples.
Álcool.
Porque ele bebeu álcool.
— Huhuhu…
Uma risada suave escapou dos lábios do homem. Parecia pessimista e auto-ridicularizadora ao mesmo tempo.
Naquele momento, ele sabia quem era o homem.
O homem era Peran Jun.
— …
Peran se levantou de sua cadeira e saiu cambaleando do quarto novamente.
Quando voltou depois de um tempo.
Segurava uma garrafa de vinho com as duas mãos.
* * *
A terceira cena.
Era um lugar escuro. Talvez o interior de um edifício.
Mas presenças podiam ser sentidas. Havia também o farfalhar ocasional de roupas ou conversas breves.
Paht.
A área foi repentinamente iluminada por um fraco feixe de luz. Era fácil ver que era luz artificial criada por meio de engenharia mágica.
Sob as luzes fracas, centenas de assentos e um palco gigantesco podiam ser vistos.
Parecia uma cena familiar.
Havia uma sensação de mal-estar…
— Todos vocês têm sorte.
Uma voz baixa e agradável.
O homem parado no meio do grande palco era um homem de meia idade com uma aparência elegante.
Ele tinha um rosto calmo e uma voz agradável, mesmo diante de centenas de pessoas na plateia.
Seu tom, uso adequado de sua aura e movimentos sutis. Por fim, seu bigode reto que, dependendo do seu ponto de vista, podia ou não ser um pouco ridículo.
Mesmo os que se sentaram nas poltronas mais afastadas do palco notaram aquele bigode.
Este era um homem que tinha talento para atrair a atenção de centenas. Ou seja, ele era dono de uma presença de palco natural.
— O número de eventos realizados em [Cortus] é setenta e dois. Tive a honra de ser o anfitrião de cinquenta deles.
Depois de dizer isso, ele abaixou a cabeça enquanto soava um rugido de aplausos.
— Obrigado.
Depois de expressar seus agradecimentos, o homem continuou.
— Eu lhes asseguro. Dos cinquenta eventos que organizei pessoalmente e dos doze que não fui responsável, hoje será certamente o melhor evento de todos.
Ele se lembrou. Onde tinha visto uma visão semelhante antes. Era a casa de leilões demoníaca na terra. Foi uma cena surpreendentemente semelhante àquela época.
Claro, também havia uma diferença. Os que controlavam a casa de leilões eram humanos, não demônios, e ao contrário da casa de leilões da época, onde apenas humanos eram tratados como produtos, várias raças foram levadas ao palco.
Humanos estavam entre eles.
“…”
Assim que a visão de humanos colocando preço em outros humanos se desenrolou diante dele, uma voz apareceu de repente em sua mente.
—Os humanos não são uma raça bonita.
—Não, você não sabe. Não estou falando sobre dualidade ou duas faces. Os seres humanos são inerentemente feios. Eles são a raça mais nojenta e maligna.
O evento prosseguiu lentamente.
Aqueles sentados em silêncio na plateia revelaram seus desejos horríveis. Quando o calor do evento atingiu um nível suficiente, o anfitrião falou novamente.
— Este é o destaque do evento de hoje. Tenho certeza de que muitos entusiastas vieram aqui depois de ouvir sobre este produto.
Uma grande comoção tomou conta da multidão.
Alguns figurões que haviam ficado em silêncio antes revelaram sua presença. Todos eles olharam para o palco com olhos gananciosos.
— Haha, entendido. Não vou prolongar mais.
Flafla.
— A Besta Divina, a Fênix. Em particular, este é um indivíduo notório que, décadas atrás, eliminou sozinha um exército de mil homens.
Enquanto falava, uma mulher foi trazida ao palco.
O cabelo característico, claramente visível à distância ou no escuro, era comprido o suficiente para tocar o chão.
Era uma mulher com aparência humana, mas não era humana.
— Eu trago para vocês! O Pesadelo de Ispania! A Rainha Monstro!
Aplausos irromperam da plateia. Não era só porque a mulher era deslumbrantemente bela.
A Rainha Monstro.
Não, Nix, estava de pé no meio do palco com todo o corpo coberto de algemas.
Seus olhos, manchados de ódio e ressentimento, ardiam como chamas.
* * *
Talvez esta tenha sido a última cena.
Foi um sentimento instintivo.
Boom…
Nuvens de trovoada passavam acima. Chuva pesada caía como se houvesse um buraco no céu. No meio da noite, inúmeros cadáveres jaziam em um lugar que deveria ser um campo.
No meio, havia um esqueleto, mas não um cadáver.
Diablo.
O Lich Ancião, que atingiu o pico da necromancia, ficou parado na chuva torrencial.
[Essa foi uma luta imprudente.]
O olhar de Diablo estava direcionado para um buraco no chão.
Ali jazia o corpo de alguém.
Era uma garota de cabelos prateados. Não, para ser preciso, era um golem de batalha em forma de garota. Ela estava em um estado miserável. Metade de sua cabeça foi esmagada e seus membros não estavam à vista. Às vezes, seu corpo estremecia, mas não era uma reação biológica.
[Tenho muito trabalho a fazer, mas acabei consumindo meu poder inutilmente.]
Assim que seu suave murmúrio terminou, ouviu-se o som de passos na lama.
Um cavaleiro caminhava lentamente sob a chuva forte. O Cavaleiro, que vestia uma armadura negra, carregava sua espada sobre o ombro, da qual o corpo de alguém pendia como uma bagagem.
[Snow?]
Na pergunta de Diablo, o Cavaleiro da Morte, Lucid, balançou a cabeça.
[Entendo. No entanto, foi uma conquista suficiente.]
Lucid abaixou a pessoa que havia sido espetada em sua espada no chão.
Splash.
Outro cadáver foi adicionado à lama.
Este cadáver era diferente dos outros. Ele queria ver com seus próprios olhos, foi por isso que Lucid trouxe para ele.
Porque sentiu que precisava confirmar pessoalmente a morte dessa mulher.
[Hmm.]
Depois de um tempo, ele assentiu com satisfação.
Porque ele percebeu que Iris Peacefinder certamente estava morta.
Hm 😶