Paul Carver, um funcionário municipal, disse que vivemos num mundo governado por um sistema, um sistema que mantém tudo alinhado, desde pequenos cafés até o mundo inteiro, operando com base nos seus princípios fundamentais.
No início, Oliver tinha apenas uma compreensão superficial desse conceito, mas com o passar do tempo, ele compreendeu seu significado mais profundo.
Apesar de viajar para Burton, uma pequena cidade perto de Landa, conhecer Willes e saber das relações do herdeiro real com o Demônio, o mundo permaneceu inalterado.
O sol nasceu e se pôs, e a cidade funcionava como uma máquina, tal como disse Paul Carver.
Depois de completar uma tarefa fora da cidade, Oliver voltou seu foco para a captura de prisioneiros fugitivos.
Apesar de ser um assunto menos significativo, a fuga da prisão resultou num elevado número de fugitivos, tornando-se uma questão premente.
Em vez de fazer uma pausa, Oliver optou por ganhar dinheiro durante esse período, enquanto a polícia e as forças de defesa estavam ocupadas em procurar fugitivos, levando ao fechamento dos mercados cinza e negro.
Felizmente, capturar os fugitivos era uma tarefa simples graças à administração eficiente da Prisão de Landa, que mantinha amostras genéticas de todos os presos. Oliver lançou [Nariz Sensível] para lacaios para rastrear os fugitivos, geralmente pegando um ou dois indivíduos diariamente e até sete em alguns casos.
A maioria desses fugitivos eram pequenos criminosos, mas seu alto número ainda rendeu a Oliver uma recompensa decente.
Ele até considerou a ideia da prisão ser atacada regularmente.
No entanto, também havia criminosos perigosos, como um mercenário com um machado duplo, um feiticeiro do tipo manipulação e Druidas do Prazer que roubaram oito bancos.
Esses indivíduos tinham recompensas cinco a dez vezes maiores do que outros fugitivos, mas Oliver os capturou com sucesso.
Toc. Toc. Toc.
— Posso entrar?
Oliver perguntou enquanto se aproximava da porta do Escritório Subterrâneo do Restaurante do Forrest.
Ao receber permissão, Oliver entrou e encontrou Forrest ocupado trabalhando com os livros.
— Você veio? — Forrest o cumprimentou.
— Sim, você parece bastante ocupado, Oliver observou.
— Sim, todos os Solucionadores estão ocupados em capturar os prisioneiros fugitivos, então isso naturalmente significa mais trabalho para corretores como eu.
Forrest respondeu com uma atitude profissional, apesar do cansaço transparecer em seu rosto.
— Mas não posso reclamar, desde que receba comissões. É melhor do que não ter trabalho nenhum, acrescentou, mostrando uma atitude positiva.
— Você também deve estar muito ocupado com seu restaurante, Oliver observou.
— Os funcionários estão cuidando das tarefas menores. Eu só preciso revisar as despesas intermediárias.
Forrest explicou enquanto largava a caneta, levantava-se da mesa e pegava uma pasta no fundo.
— Aqui está sua recompensa da última vez. É um pouco mais alto que o normal, provavelmente porque você pegou vinte pessoas de uma só vez.
Forrest disse enquanto entregava a pasta a Oliver.
— Graças ao Sr. Murphy. — Oliver respondeu.
— Murphy? — Forrest perguntou.
— Sim, os fugitivos montaram uma base perto do local de sua operação e pediram minha ajuda, dizendo que estavam preocupados. Ele também disse que eu poderia ficar com todas as recompensas para eles. — Explicou Oliver.
— Então, ele fez você limpar de graça. Aquele cara que nada em dinheiro agora.
Era verdade. Todos os outros estavam prosperando em seus respectivos negócios, enquanto Oliver vivia sua vida normalmente.
Arthur havia passado de Solucionador para funcionário oficial da cidade, enquanto Murphy fundiu com sucesso a Companhia de Transporte Hoffman e viu um tremendo crescimento em seu negócio.
Alguns até sussurraram que ele estava prestes a se tornar o próximo figurão do Distrito T.
Independentemente disso, todos estavam trabalhando duro e vendo resultados.
— Ele me apoiou e me deu informações sobre o entorno, então basta.
Forrest suspirou suavemente com as palavras de Oliver.
A atitude descontraída de Oliver era um tanto pouco ortodoxa para um Solucionador.
Mas ele não queria discutir sobre isso. Ele já conhecia a personalidade de Oliver, então sabia que era inútil aconselhá-lo e, acima de tudo, não odiava aquela atitude estranha.
Essa atitude frouxa, difícil de ver neste campo, ironicamente deu uma estranha confiança.
Na verdade, alguns clientes de distritos à frente da Alphabet, famosos por serem exigentes, enviavam solicitações.
Alguns tentaram reduzir o preço, mas Forrest ignorou isso.
— Sr. Forrest?
Oliver perguntou depois de embolsar o dinheiro no Saco Glutão.
— Posso sair agora?
— Espere um minuto. — Respondeu Forrest.
— Posso fazer algumas perguntas primeiro?
— Claro.
— A ordem de emergência está prestes a terminar. — Começou Forrest. — Todos têm trabalhado duro desde a invasão à prisão, mas perdemos alguns que escaparam para fora de Landa ou para o Distrito X. Esses não podem ser evitados. De qualquer forma, você vai trabalhar imediatamente?
Oliver pensou por um momento.
— Tenho alguns assuntos pessoais, então estava pensando em fazer uma pausa.
— Isso é um alívio. — Disse Forrest.
— Alívio?
— Sim, originalmente eu teria pensado em rolar o máximo possível para conseguir uma comissão, mas hoje em dia, por causa da situação atual, temos que ganhar algum tempo.
— O que você quer dizer com situação?
— Ouvi dizer que a Igreja Parter em breve iniciará uma repressão massiva.
Oliver lembrou-se da notícia que viu recentemente, a notícia de que um estranho poder foi detectado na terra do Gelo, causando um rebuliço na Igreja Patter.
Ele pensou que eram apenas rumores, mas parecia que eram verdade.
— Então acho que seria melhor dar uma pausa. Claro, a cidade irá protegê-lo, então você não precisa se preocupar muito, mas é melhor ficar abaixado durante a repressão. Enquanto isso, vou encontrar um emprego decente para você. Descanse bem por enquanto.
— Sim. Vou seguir seu conselho.
— Tudo bem. Você está livre para ir agora. Tenha um bom descanso.
* * *
Depois de receber a recompensa, Oliver saiu do restaurante e foi direto para sua casa.
No caminho, parou numa mercearia de rua e comprou jornais de diversas editoras.
O dono da mercearia o cumprimentou.
— Boa escolha, senhor. Existem muitos artigos interessantes sobre a cidade. Graças a isso, vende duas ou três vezes melhor que o normal. Não é um alívio?
Oliver não tinha certeza se era um alívio, mas o que o proprietário disse estava correto.
Ao voltar para sua acomodação, leu os jornais e encontrou muitos artigos interessantes.
Relatos de danos à cidade causados por fugitivos e policiais corajosos que tentavam resolvê-los foram amplamente discutidos e publicados em editoriais.
Acadêmicos e vereadores analisaram o problema e propuseram soluções, como o fortalecimento da força policial, o tratamento menos brando dos presos, o desenvolvimento de zonas contaminadas e a construção de prisões ali.
— Interessante…
Oliver achou tudo muito interessante e até admirável como a cidade estava usando o caso da prisão para promover seus projetos.
— O que há de tão interessante? — Uma terceira voz interveio.
— Hum? É divertido ver um ponto de vista que outros não conseguem ver… Ancião. — Ele respondeu enquanto se virava.
E no ponto onde seu olhar parou, estava Merlin.
— Não está surpreso em me ver? — Merlin perguntou.
— Não, imaginei que você poderia aparecer a qualquer momento já que foi você quem usou o portal para me mandar aqui.
— Já lhe disseram que você não é engraçado?
— Como você sabia?
— Digamos apenas que é a intuição de um velho. — Merlin encolheu os ombros.
Merlin então pegou o jornal de Oliver e leu.
— Interessante. Então, eles estão tentando estabelecer um grupo armado para manter os magos sob controle, não estão?
Oliver ficou chocado.
— Como você sabia?
— Outra intuição de velho. — Merlin sorriu.
— Oh, isso é ótimo.
— Não, estou mentindo. Você acreditou nisso? Recebo muitas informações aqui e ali. Posso prever isso ouvindo.
— …
— Não me olhe assim, cara. Estou lhe ensinando uma lição aqui. É a base da magia.
— Está mentindo?
— Não… Sim, mas não. É fingimento.
— Fingimento?
— Sim, estou fingindo ser sábio, fingindo ser grande. Essa é a base da magia. É mais provável que as pessoas admirem você e não resistam se você transmitir essa impressão. — Explicou Merlin.
— É por isso que você está aqui, para me ensinar essa lição? — Oliver perguntou.
— Pareço que tenho tanto tempo livre? Não, estou aqui por outro motivo,
— E ele é?
— O local para enviar Rosbane e as crianças foi decidido.
Rosbane e as outras crianças que escaparam da Mattel seriam alojadas em uma filial de propriedade da Escola de Magia Elemental.
Para garantir sua segurança, eles seriam enviados para um local remoto, e todas as crianças concordaram com esse acordo.
Enquanto Merlin e Oliver caminhavam pelo corredor da mansão, Merlin comentou a situação.
— Alguns deles não têm escolha, são apenas crianças. Mas todos entendem suas circunstâncias.
— Entendo. — Oliver respondeu.
— Você é frio, cara. Eles não são lamentáveis?
— Sinto muito, mas não há nada que eu possa fazer,
Merlin sorriu com sua resposta e Oliver sentiu que era uma pena não conseguir ler suas emoções.
Merlin continuou:
— As crianças serão treinadas em magia na filial. A Mattel alterou seus corpos para conter e aproveitar a mana, e eles os treinarão para aproveitar ao máximo. É melhor do que não fazer nada.
— Eu entendo, mas por que você me trouxe aqui? — Oliver perguntou.
— As crianças queriam encontrar você antes de partirem. Eles queriam agradecer e dizer alguma coisa.
Oliver estava sem palavras.
Ele não queria que as crianças lhe agradecessem em primeiro lugar.
Merlin falou em tom sério, como se pudesse sentir os pensamentos de Oliver.
— A vida na filial será difícil para as crianças, principalmente para Rosbane que já tem quinze anos e muito mais que a idade típica para iniciar o ensino básico na Torre Mágica.
— O que devo fazer? — Oliver perguntou.
— Dê-lhes algum conselho ou algo assim. Eles parecem admirar você. — Sugeriu Merlin.
Oliver ficou surpreso com a sugestão.
— Me admiram?
— Sim, você. — Merlin confirmou. — Às vezes, uma pequena mentira pode ajudar alguém a enfrentar uma vida difícil. Pode parecer estranho, mas é verdade.
Oliver não entendeu muito bem, mas se sentiu obrigado a concordar com a cabeça.
Os dois entraram juntos em uma sala logo depois.
Presume-se que as crianças tenham permanecido no quarto.
Havia cinco camas e as crianças estavam sentadas na frente delas, lotadas.
— Uh…!
Assim que as crianças viram Oliver, todos os tipos de emoções brilhantes — boas-vindas, saudade, gratidão, adoração e boa vontade brilharam.
Oliver não conseguiu dizer nada, porque a luz era pesada, e as crianças também se levantaram e mexeram os dedos nervosamente.
Um silêncio constrangedor encheu a sala.
Enquanto isso, Rosbane se aproximou de Oliver desesperada e corajosamente.
Foi semelhante à primeira vez que ele pediu a Oliver para ensiná-lo.
— Pro… Professor.
— Sim, Rosbane.
— É… Obrigado. Graças a você, consegui um lugar para ficar. Eles… Disseram que eu também posso aprender magia.
Em consonância com isso, as outras crianças também se aproximaram com cuidado e o cumprimentaram.
— Obrigado.
— Obrigado.
— Muito obrigado.
— Obrigado…
Oliver ficou em silêncio, sem saber o que dizer.
Esse tipo de coisa… Parecia difícil para ele.
Ele percebeu novamente que era estúpido, pois não sabia o que dizer nesta situação.
Oliver quebrou a cabeça em busca de algo para dizer.
— Hum, posso falar confortavelmente? Eu não sei muito sobre isso.
Rosbane, que estava tenso, respondeu.
— Sim…
— Acho que todo mundo está com medo de alguma coisa agora. Vocês podem me dizer o que é assustador?
As crianças não negaram. Enquanto todos hesitavam, Rosbane falou como representante.
— Bem, podemos nos adaptar bem lá? Quero dizer. Podemos realmente ser magos?
— Hum? Não sei sobre isso… Mas posso te dizer uma coisa.
— …
— Eu também me tornei discípulo de um Bruxo na idade de Rosbane. Conheci meu mestre, quero dizer, meu professor naquela época.
— Sério?
— Sim. Então Rosbane e os outros poderiam se tornar magos também.
Não era muito lógico, mas felizmente pareceu funcionar. O medo que dominava a mente das crianças foi aliviado um pouco.
Exceto Rosbane.
Ele viu esperança e foi novamente tomado pelo desespero.
— Mas…
— Por favor fale o que pensa. Estou aqui para ouvir.
— Ah, é só isso. Professor, você é uma pessoa incrível, mas sinto que não sou nada.
— O que você quer dizer com nada?
— Quero dizer literalmente. Eu li isso em um livro aqui. Magia requer talento e não tenho nenhum.
— Você não saberá até tentar.
— Mas tenho certeza de que não serei bom o suficiente. Não apenas talento, mas também coragem e sabedoria. Eu não acho que posso fazer isso bem.
— O que você está falando? Você tem coragem.
— …?
— Rosbane, você se lembra do dia em que veio até mim e me pediu para te ensinar?
— Sim…
— Você foi corajoso então, mais corajoso do que eu. Estou falando sério.
— …
— Eu não poderia fazer isso. Tornei-me discípulo de Bruxo, não por bravura, mas porque tive sorte. Se meu Mestre não tivesse me encontrado na mina, eu ainda estaria lá mesmo se tivesse talento em magia negra.
Rosbane perguntou hesitante:
— Sério?
— Sim, tive sorte. Comparado a mim, você é mais corajoso. Não tive coragem de falar com ninguém quando estava na sua posição.
Oliver olhou para as outras crianças.
— O mesmo vale para todos vocês. Vocês cuidaram um do outro quando foram pegos, não tentaram fugir sozinhos e não choraram. Eu acho que isso é coragem.
As crianças ouviram em silêncio.
Oliver olhou para Rosbane novamente e disse:
— Não posso prever o futuro e não posso prometer nada, mas acredito que se você tentar, se sairá bem. Você aprende rápido e é inteligente.
— Sério?
— Sim.
Rosbane ficou sem palavras e abaixou a cabeça.
— Posso te fazer mais uma pergunta?
— Claro vá em frente.
— Estou com raiva da Mattel. Eu quero vingança, mas isso é errado? O que devo fazer?
A raiva e o ódio de Rosbane, que ele havia reprimido profundamente, vieram à tona.
— Quero retribuir, fazer com que sintam o medo e a dor que nós sentimos. Tento esquecer, mas não funciona. O que devo fazer?
Oliver pensou por um momento e respondeu:
— Faça o que quiser se for realmente imperdoável.
— Posso…?
— Sim, Rosbane. Não entendo emoções como raiva e perdão, por isso não posso lhe dar uma boa resposta.
— …
— Como Solucionador, tenho que matar pessoas se necessário. Posso pedir perdão às pessoas que mato? Isso não está certo.
As emoções de Rosbane tendiam para a raiva e o ódio.
— Mas Rosbane.
— …
— Pelo que sei, mesmo que você acumule forças e busque vingança, será muito difícil. O mundo é como uma grande máquina e não tolera que ninguém tente pará-lo.
— Eu não ligo…
— Isso é bom. Mas se você fizer isso, terá que dedicar seu conhecimento e força suados para lutar pelo resto de sua vida. Você tentou aprender comigo a lutar assim?
— …
— Não estou te forçando, só quero saber. Quando você me disse que queria aprender a ler e escrever, quais eram seus pensamentos e o que você almejava? Pelo menos não acho que seja por causa da luta.
— …
— Vou repetir. Não tenho intenção de impedi-lo, mesmo que queira vingança. Esse é o seu direito. Mas se você desistir da vingança e perseguir o objetivo que você sonhou originalmente, bem… Eu vou te ajudar mais uma vez quando você precisar de mim.