Sam acordou. Sentiu como se tivesse acabado de sair de um longo túnel e se parecia estar com tontura. Mas paradoxalmente, seu corpo parecia normal.
— Ele voltou à vida. — Ouviu uma voz.
— Zich?
— Sim, o seu grande amigo Zich.
Se levantou. Estava na sua casa, agora cheia de várias peças de móveis e necessidades diárias, mas não parecia muito hospitaleira.
— O que aconteceu?
— Você não se lembra?
Balançou a cabeça.
— Foi até Drew para fazer uma reclamação e levou uma surra total.
Drew. Então lembrou. Depois de ouvir que Snoc foi enganado, fora reclamar e acabou sendo espancado até pensar que morreria.
Twitch!
Recordando o trauma, tremeu. Houve momentos em que entrava em brigas minerando, mas esse ataque foi em outro nível. Uma pessoa que matou criaturas vivas por um trabalho usou violência contra ele sem se importar com a sua vida.
— Não se preocupe. Eu vinguei você completamente.
— Vingou?
— Eu não disse isso antes? Se você morrer injustamente, eu vou vingar você.
— Mas eu não morri…
— Você foi espancado até estar a um pé da porta da morte. Vou contar como a mesma coisa.
Nesse ponto, Zich parecia fazer o que quisesse. Sam soltou uma gargalhada.
— Como você me vingou?
— Foi simples, só dei o troco na mesma moeda.
— Troco?
— Todos os ferimentos que você teve. Eu infligi as mesmas feridas exatas que ele lhe deu, de fraturas a pequenos arranhões.
Não conseguia esconder a surpresa. Embora tivesse desmaiado, sabia que os ferimentos eram graves.
— Ele ainda está vivo?
— Não tenho certeza. Depois que bati nele, parei de prestar atenção. É problema dele se morrer lá ou não. Mas eu não acho que vai morrer, já que a Caça-Monstros estava assistindo tudo. Deve ter conseguido ajuda.
— Então, é…
Zich sorriu.
— Mesmo que ainda esteja vivo, não será capaz de ir atrás de ninguém de novo, já que eu esmaguei completamente sua mente.
— E-entendo.
Não sabia o que Zich queria dizer com “esmagar a mente de uma pessoa”, mas não se atreveu a perguntar. A conversa terminou assim, sem ele querer ouvir mais sobre o agressor. Uma parte sua se sentiu aliviada, escutando que o cara foi destruído como ele, mas outra parte sentiu calafrios imaginando o que Zich fez com Drew.
— Quanto tempo se passou desde então?
— Dois dias.
— Todos esses ferimentos sararam em apenas dois dias? Na verdade, acho que meu corpo está melhor do que o normal.
— Eu usei poções.
Já ouvira falar de poções antes, mas nunca viu uma na vida real. Embora ganhasse um bom salário sendo mineiro, não era suficiente compra-las.
— Não são caras?
— Um pouco, mas não inacessível. Posso ganhar o dinheiro que quiser a qualquer momento.
— Os aventureiros são incríveis.
— Não são eles os incríveis, sou eu.
— O preço da poção…
— Eu não preciso disso. Não quero receber dinheiro de um amigo pobre.
— Vou te pagar uma bebida mais tarde.
— Me dê.
Era o mesmo que pagar o ouro com areia, mas aceitou a consideração do amigo e salvador grato e o coração emocionou. Embora Zich fosse frio, parecia que pensava nele como um amigo de verdade.
Daí, Zich tirou coisas de uma caixa, o que mudou a atmosfera.
— O que é isso?
— Uma compensação justa que recebi do Drew: contas médicas, recompensas, despesas incômodas e assim por diante.
— O quê? —gritou de surpresa.
Enquanto sorria, Zich abriu a caixa.
— Ah, agora que penso nisso, você foi até Drew para reclamar do dinheiro que ele pegou do Snoc, certo?
— Sim.
Claro, pensou em reclamar diretamente com Drew, mas desistiu. Depois de encontrá-lo uma vez, sabia que a lógica comum não funcionava nele.
— Deixe-me ver. — Zich abriu a tampa da caixa e os itens saíram. Sam olhou para os bens que se acumulavam no chão ao lado de sua cama sem acreditar que moedas de ouro estavam caindo do ar — Calma, quanto que eu peguei?
— O que é isso? — perguntou sobre a caixa antes.
— É um artefato que permite que você armazene mercadorias independentemente do seu volume ou peso. Há um limite, mas é útil. — Deu um sorriso refrescante — Era daquele cara. Tomei isso como compensação pelas muitas coisas que ele fez.
— Essas moedas de ouro…
— Eram deles, também.
Sam não conseguiu encontrar as palavras certas para dizer.
— Bem, agora é seu. Ele era muito rico. Com isso, pode facilmente pagar pelo preço das poções, mas é claro que tenho que compartilhá-la com você e Snoc, que sofreram os danos. — Agarrou uma das moedas de ouro e a colocou na frente de Sam.
— Quanto você quer para a compensação?
— Ah, sobre isso, pode ficar tranquilo. Tá tudo certo.
Mesmo que tivesse sido espancado por Drew, recusou a imensa pilha de riqueza na frente dele por instinto. A grande soma de dinheiro o fez se sentir desconfortável em vez de ganancioso, e Zich não continuou a pressionar o assunto.
— Sério? Certo. Acho que as pessoas ficarão surpresas se tanto dinheiro for forçado na frente delas tão de repente. Mas se mudar de ideia, me diga a qualquer hora. O tempo limite é até eu deixar esta cidade. — Botou as moedas de ouro de volta na caixa, e a pilha de montanhas desapareceu — Diz quanto Drew roubou de Snoc para que eu possa devolver. Só posso decidir quanto tomar depois de saber o quanto deixar você e Snoc.
— Você também sofreu alguma perda?
Disse a Sam que o dinheiro era uma forma de compensação. Se Zich tomou parte da capital, isso significava que também sofreu uma perda.
— Claro. — Assentiu sem hesitar.
— Além do estresse que ele me deu por atacar meu amigo, ele me forçou a sair e até me insultou. Não será suficiente mesmo se eu vendê-lo como escravo e conseguir mais dinheiro. Considerando que terminei o assunto mais na desvantagem… eu sou tão generoso.
Parecia os cálculos de um bandido de qualquer beco escuro. Sam estudou o rosto de Zich e se perguntou se ele sentia culpa ou constrangimento pelas palavras.
“Não parece nada disso.”
O rosto de Zich estava convencido.
Para não ferir os sentimentos dele, perguntou com cuidado:
— Você não disse que viveria pregando o bem? Está tudo bem para você fazer algo que nem roubar?
— Por que você diz roubar? Tudo o que fiz foi receber uma compensação justa. Não afeta meus objetivos, em tudo.
— … Entendi.
No fim, seguiu o caminho que Hans tinha tomado alguns dias atrás: reafirmou as suas crenças de que a linha de pensamento de Zich estava completamente fora da maneira comum de pensar e desistiu de tentar ententê-lo.
Drew entrou em uma montanha. Parecia muitíssimo bem, mesmo que Zich tenha o deixado meio-morto não muito tempo atrás. Foi graças ao sacerdote, a quem Paul Chenu chamou. No entanto, não importa o quão bem tenha o curado, não era o mesmo de antes.
Primeiro, não tinha dinheiro. Zich levou todo o dinheiro e itens que tinha; “compensação justa”. Assim, nem teve condições de pagar suas contas médicas e teve que pedir dinheiro emprestado usando seu artefato. Se Zich não tivesse pensado que as mercadorias dentro do seu artefato eram suficientes para sua compensação, Drew não teria dinheiro nem para se curar.
Por essa razão, teve que sair para pegar monstros assim que as feridas fecharam. Mas havia um assunto mais sério.
— Argh!
Drew engoliu a saliva de volta. Seu coração doía. Os ferimentos já estavam bem, mas às vezes sentia dor sem motivo. A causa provavelmente era psicológica, e ele sabia quando esses efeitos colaterais começaram.
— Aquele desgraçado…!
Raiva e ódio se exaltaram, mas ao mesmo tempo, o medo e o desespero encheram o seu coração. Fora atacado da mesma maneira que atacou Sam sem um traço de desconforto no rosto. Mesmo ele estava ciente de que era uma pessoa sem qualquer senso de humanidade, porém acreditava que Zich o excedeu em muito naquela área. Tinha certeza de que Zich não sentia remorso ao machucar alguém.
“Era só um trabalho bobo para ele.”
Resumindo, Zich não o via como um humano ou mesmo uma criatura viva.
“Droga! Para! Para com isso!”
Suas pernas tremiam fora de controle, e bateu os punhos sobre elas. A única coisa que ganhou com o ato foi mais dor e marcas de contusão. Não conseguia impedir aquilo. Era o mesmo que quem lutou contra monstros ou em guerras de outras nações sofreram. Era o que chama ridicularizando de “bombinha com pé”, mas agora estava enfrentando isso.
Sabia de que forma parar o efeito: remover a causa do trauma. Mas assim que pensou nisso, o coração caiu.
“Lutar… com aquele cara… de novo?”
O rosto de Zich, seu sorriso viscoso e suas pupilas severas… Assim que apareceram na cabeça dele, toda a força em suas pernas o deixou.
Pei!
Caiu no chão. Felizmente, estava nas montanhas, e ninguém o viu. No entanto, não se sentiu aliviado; mais do que constrangimento, o medo o superou.
“É-é impossível!”
Era apenas um pequeno átomo um pouco forte em comparação à força do oponente.
— Oh, Deus! Sua condição é pior do que eu esperava.
De repente, ouviu uma voz que não gostava e virou a cabeça.
“Quando ele se aproximou de mim?” Uma figura coberta da cabeça aos dedos dos dois em um roupão preto estava na frente dele.
— E você é…
— Não foi tempo suficiente para eu dizer… “faz um tempinho”.
Era um tom gentil e quente, mas ele não sentia um pingo de sinceridade nas palavras do homem que fizera um estranho acordo com ele há não muitos dias. Encontrou os olhos com ele, em seguida, agachou os joelhos no chão para estar no mesmo nível de Drew, se movimentando que nem um pai ensinando um filho a andar. Entretanto, o rosto do homem, que estava coberto pela escuridão do manto, deu calafrios nele.
— O que você veio fazer aqui?
— Eu tenho outra comissão que eu quero que você cuide.
— O quê? Se for decente, quero.
Ofereceu uma fortuna por apenas ajudar Snoc a ativar sua mana e fazê-lo andar pela mina até encontrar uma toupeira. Para Drew, que não tinha dinheiro algum, a oferta não podia ser mais atraente. E a figura olhou para cima e para baixo para ele, avaliando-o.
— Você será capaz? Ouvi dizer que você foi humilhadíssimo agora há pouco.
— Estou bem o suficiente para aceitar uma comissão.
— E se você tiver que entrar em conflito com o homem que te deixou assim de novo?
— O-o quê…? — O seu rosto ficou pálido, as mãos tremendo.
“Sem chances.”
O homem balançou a cabeça.
“Eu tinha um palpite, mas isso está além das minhas expectativas. Eu não acho que esteja quebrado a esse ponto.” Achou que a utilidade de Drew tinha ido para zero.
— Hmm.
O homem contorceu o nariz em insatisfação e endireitou o joelho. Drew viu que o homem ia deixar para lá, então gritou:
— Eu posso lidar com isso! Eu ia me vingar daquele cara de qualquer!
— Não, obrigado — respondeu. Qualquer traço de polidez desapareceu, e seu tom parecia sério. O outro congelou com a mudança repentina da sua personalidade.
Pugh!
Uma lâmina perfurou a sua garganta.
— Não preciso de você.
Honestamente queria queo Drew ficasse vivo, pra humilhar ele mais