— Obrigado pelo elogio. Como agradecimento, vou te dar uma informação sobre seu caminho para o inferno. — Zich dobrou um de seus joelhos e encontrou os olhos do homem — Pode não acreditar em mim, mas estou tentando ser uma pessoa boa. Não importa o quanto eu pense sobre isso, vocês são os caras maus aqui e me atacaram, também.
Eram bandidos, e para ele, precisava matá-los a todo custo em prol de seu objetivo.
— Daí, vou vagar pelo mundo para encontrar pessoas da sua organização. E vou enviar cada um deles para o seu lado. Como isso parece? Não vai se sentir só no inferno.
— Olha só, que caronte gentil. Mas você seria capaz de fazer isso, mesmo? Se virar nosso inimigo, vai ficar junto a mim.
— É uma pena não poder apostar contigo. Mesmo que dissesse para eu jurar pela minha mãe, teria feito isso.
— Rezo para que sempre se lembre dessas palavras para que, quando chegar a hora, sinta medo do fundo do coração.
— Não vou esquecer o que disse. Enfim, vamos nos despedir. Tenho que ir até Snoc logo. Se for salvá-lo, é melhor ir o mais rápido possível.
— Salvar? Aquele cara? — Riu — É impossível. Acho que sei o que está pensando. Já que os fundi à força, acha que se ele fizer um contrato com Nowem, voltará ao normal? Mas Snoc nunca será capaz de aceita-lo. Mesmo que ultrapasse esse obstáculo, haverá outro. Esse é o destino dele, que foi decidido antes de formularmos esse plano.
— Destino? Essa é uma boa palavra. É uma palavra que eu realmente gosto de esmagar.
— Vamos ver você tentar.
— Eu tentarei. — Apontou a espada diretamente para o pescoço dele.
Swim!
A sua cabeça voou alto e depois caiu e rolou no chão. O homem o provocava até o fim? Ela rolou aos pés de Zich e parou, como se o observasse. O cadáver sorria grande; parecia até estar fazendo isso após a morte. Poderia ter se tornado um trauma para as pessoas comuns, e mesmo para as almas corajosas, faria com que se sentissem desconfortáveis ou desagradáveis. No entanto, Zich era indiferente. Em comparação a muitas das coisas que experimentou, não era nem considerado uma maldição.
Tut!
Chutou a cabeça, e a batalha terminou assim.
“Devo ir procurar Snoc agora?” Ampliou os sentidos.
Já que o homem era superior a ele em pura força, não foi capaz de os fortalecer tanto, pois precisava concentrar toda a atenção no oponente. Assim, ao contrário do habitual, não verificou os arredores.
“Hã?”
Sentiu uma presença que havia se regenerado, absurda e contraditória, familiar e desconhecida ao mesmo tempo. Era Snoc vazando energia da terra. O problema era que havia outras duas presenças além dele.
“Por que eles estão aqui?”
Depois de se atentar mais, escutou sons de batalha de longe. Começou a se mover em direção a eles.
Mesmo que fosse bizarro, Hans não podia processar a visão de um conhecido cair no centro de uma montanha árida no meio da noite. Mas, de certa forma, era compreensível. Não podia se dar ao luxo de avaliar a situação.
Craash!
Uma pedra quase do dobro do tamanho de uma pessoa veio voando à sua direção. Hans mordeu os lábios e endireitou a espada.
— Haaa! — Com um grito, atingiu a rocha.
Corta!
Embora as mãos parecessem um pouco dormentes, foi capaz de cortar com sucesso a pedra. Ela, que se dividiu em dois pedaços, caiu de cada lado dele.
Dur! Dur!
Ouviu vibrações fortes o suficiente para sacudir a montanha. Entretanto, não havia tempo de se concentrar nisso e bloqueou o próximo ataque.
Pop!
Desta vez, foi uma colossal estalagmite afiada que foi disparada do chão.
“Droga…” O coração bateu forte. Ainda assim, acalmou as emoções e cortou o restante chegando.
“Não entre em pânico, não importa a situação”: foi o que Zich disse enquanto o forçava a todos os tipos de cenários adversos sob o pretexto de treinamento.
Durante o treino, sentiu grande ressentimento por fazê-lo passar por tantas dificuldades, mas em compensação, pôde manter um nível surpreendente de compostura, o que permitia que mostrasse cem por cento de suas habilidades.
“Merda! Agora, não vou poder xingar ele mentalmente.”
Já que experimentou o resultado em primeira mão, não podia mais reclamar. E enquanto pensava nisso, seu corpo se moveu. Os movimentos eram fluidos, tornando difícil acreditar que viveu longe da esgrima ou do trabalho físico. Contudo, não significava que estava na vantagem.
Graças ao treino duro e ao seu talento natural, foi capaz de bloquear os ataques de Snoc. Todavia, não seria um oponente fácil. Embora os ataques fossem desorganizados e baseados em instintos, a combinação com a mana de Nowem tornou os poderes formidáveis. Além disso, havia um fardo adicional a considerar.
Bum!
Poeira se ergueu feito ondas violentas.
— Porra!
Depois de julgar que não poderia bloquear esse ataque com uma espada, tentou escapar rápido da área. Só que não era só ele ali.
— Segura com força! — Carregou Sam que nem bagagem e recuou apressado.
Craaash!
Um monte de terra varreu a área onde estava e os perseguiu. Se estivesse sozinho, teria sido capaz de se mover sem esforço e pouca mana, mas com a adição de peso, o consumo de mana aumentou muito.
Não teve escolha a não ser colocar mais mana nas pernas e aumentar a distância. Tentou deixar Sam escapar muitas vezes, porém por alguma razão desconhecida, Snoc também continuou atacando sem piedade Sam.
— Snoc! O que tá fazendo? Pare! Sou eu! Sam! — gritou. Sentiu que estava enlouquecendo, já que que quem cuidou como um irmão ganhou um poder estranho e estava tentando matá-lo. Mas tudo o que podia fazer ali era gritar.
— Kuuaaaaaah! — Foi respondido por gritos ferais e ataques.
Hans se esquivou e jogou pedaços de pedra que vieram voando em sua direção.
“Acho que será difícil escapar enquanto carrego ele. Mas não posso simplesmente jogá-lo fora como isca para fugir. Não posso fazer muito, mas espero que o senhor Zich sinta a luta e venha correndo para cá.”
Nem queria pensar em uma situação em que Zich não estivesse por perto ou não conseguisse senti-los. Surpreendentemente, nem passou pela cabeça dele que Zich pudesse perder.
Crash!
Cortou uma pedra do tamanho de um punho.
“Por que esta é a minha primeira batalha real sem ele?”
Precisava proteger um civil enfrentando um oponente um tanto quanto forte. Lamentou o fato de que sua sorte deve ter acabado quando partiram nessa jornada.
Bloqueou todos os ataques tão bem que até ele ficou impressionado consigo mesmo. Finalmente, o trabalho duro estava valendo a pena.
Craaaash!
Ondas turbulentas de mana forte surgiram. Depois de atormentar Hans de todas as maneiras, Snoc parecia atordoado. Uma pilha maciça de sujeira subiu na frente dele, e pedras se aglomeraram e formaram uma parede, uma massa gigante de mana se espremendo nela.
Craash!
Uma explosão varreu a área. Pilhas de poeira se espalharam e barreiras de pedra se separaram em pedaços. A última linha de defesa, a armadura de pedra que Snoc havia rapidamente envolvido, desapareceu ao toque da mana sem dissolver o impacto todo da mana, fazendo-o rolar no chão.
— Por que estão aqui?
Era uma voz calma, indiferente aos sentimentos sentidos enquanto lutava com a vida em jogo. Algo negativo pareceu despertar dentro do coração, mas ignorou e reconheceu que estava mais feliz do que qualquer coisa.
— Senhor Zich!
— Zich!
As vozes dos dois se sobrepuseram. Entretanto, ele não prestou tanta atenção e acenou.
— É, é, sou eu. — Ignorou os olhos brilhantes deles e prestou atenção em Snoc.
Queria saber por que estavam lá, mas perguntaria mais tarde. O garoto era um problema mais urgente.
— Ele ainda está fora de controle.
— Fora do controle? Você sabe por que ele ficou assim? — Sam perguntou.
— Ele se envolveu em um assunto problemático. Já matei o cara que deixou ele assim.
— O que você quer dizer com “um assunto problemático”? Ele é apenas um mineiro! E um menino! Por que se envolveria em algo assim?!
— Sam, mesmo que tenha uma vida normal, não significa que você não será arrastado para problemas. As pessoas que geralmente causam esses problemas não pensam em não causar danos aos outros o máximo possível. — Poderia dizer isso com certeza como alguém que costumava instigar esses problemas —Além disso, Snoc não é apenas um mineiro normal. Ele tem talento.
— Talento?
— Sim, um bastante notável. Essa é uma razão boa o suficiente para se meter em problemas.
Uma pessoa com talento excepcional na maioria das vezes atraía a atenção dos outros. Dependendo da situação, às vezes recebiam atenção ruim ou boa; infelizmente, para Snoc, atraiu a ruim, desta vez.
Sam ficou chocado ao ouvir alguém como Zich, orgulhoso ao extremo, elogiar o garoto. Ele devia possuir algo incrível para Zich admitir aquilo. Mas essa não era a questão importante agora.
— Você está dizendo que Snoc ficou assim por causa de seu talento?
— Definitivamente é um fator.
— Então, ele pode voltar ao normal?
Mesmo Zich não podia dar uma resposta clara.
— Tenho outra coisa em mente. Temos que fazer algo sobre aquela besta da terra que se fundiu à força com ele.
— Besta da terra?
— Provavelmente é o que vocês chamam de monstro mineiro.
— É apenas uma lenda…!
— Entre lendas, algumas são reais e dão às pessoas uma dor de cabeça de verdade. Este é possivelmente o caso. — Fixou o aperto na espada.
Snoc se levantou de sua queda e exalou raiva pura.
— De agora em diante, vou lutar com ele, então fiquem a uma boa distância. E Hans!
— Sim, senhor!
— Não sei por que trouxe Sam aqui, mas me deixe dizer algumas palavras.
Estava bravo com ele por não proteger Sam do jeito certo? Ou queria repreendê-lo por não derrotar Snoc? Hans engoliu a saliva de volta. No entanto, não eram críticas, mas um polegar para cima.
— Bom trabalho! Sua resposta foi incrível em uma batalha difícil onde tinha que proteger alguém enquanto lutava contra alguém problemático! Vou te dar notas máximas para esta batalha!
Por um minuto inteiro, não conseguiu compreender as palavras por estarem completamente fora de suas expectativas. Porém, depois de processar o que disse, o rosto dele se iluminou.
— M-muito obrigado, senhor!