— Você tem que proteger o Sam de longe. Continue fazendo o de sempre.
— Sim, senhor!
Elogios eram uma das melhores maneiras de motivar alguém. Hans afastou todas as preocupações e medos e usou tudo para proteger Sam. Os dois foram a uma distância segura, mas como Sam estava preocupado com Snoc, não saíram completamente da área de batalha.
Zich não mandou que fossem além. Poderia sem esforço protegê-los enquanto lutava. Além disso, mesmo que alguns dos ataques passassem por ele, Hans aguentaria. Mas acima de tudo, Sam podia ser necessário para ajudar Snoc a voltar.
“Bem, nunca se sabe. Vai que um próximo pode tocar seu coração ou coisa do tipo.”
Na pior das hipóteses, teria que matá-lo, e pelo menos sua única família estaria com ele nos momentos finais.
— Kuuaaah! — gritou, abalando o local.
— É, pra um doidinho, até que ficou quieto por um tempo.
Embora estivesse cauteloso em relação a Zich, não aguentava mais esperar.
Zich levantou a espada e o menino-besta correu em sua direção.
— Para dizer a verdade, não sei como posso te fazer voltar ao normal. Nem sei se isso vai funcionar. Então…
Tum!
Correndo, deu um soco no rosto dele:
— O jeito é te bater até cair duro!
Quando lutaram três de uma vez, batalharam em níveis semelhantes. No entanto, a situação era diferente agora. Pensando bem, pensou que era absurdo dizer que foi uma batalha a três; estava mais para um duelo entre ele e o homem encapuzado. Sem o assassino do lado, Snoc se esforçava até para manter a cabeça erguida contra Zich.
Pop!
Estalagmites dispararam por baixo, e pedregulhos enormes caíram. Zich bufou, observando os ataques complicados abaixo e acima dele ao mesmo tempo.
— Tô me cansando desse padrão, já.
Acelerando um pouco, escapou do ataque e revidou no rosto do oponente.
Tum!
— Kuugh! — O seu rosto avermelhou na hora. Por mais que as rochas protegessem sua pele, vacilou com o impacto.
Tut! Tut!
Os pedaços de pedra do corpo dele caíam mais e mais devido aos golpes. Se fosse atingido por uma lâmina em vez de punhos, a luta teria terminado há muito tempo. Ampliou a distância entre eles, como se fugisse. Quando se afastou, as pedras no chão flutuaram e se prenderam aos seus pés.
— Ele quer manter a armadura?
O corpo dele se alterou para uma espécie de golem volumoso. Exceto pelo rosto, estava todo coberto.
— Kuaaaah!
Crash!
A armadura era pesada ao ponto de esmagar onde quer que pisasse.
Tum! Tum!
Apenas o som dos movimentos era o suficiente para empalidecer de medo quem sentisse. Entretanto, Zich não ligou.
— Massa, boneco de massinha!
Aquilo não parecia nem um pouco massa de modelar.
Tutum!
Snoc se aproximou até que estivessem a um pé de distância.
— Krugh! — Soltou um grito estranho e balançou o punho do tamanho de um homem.
Swish!
Antes de ser atingido, Zich foi alertado do que estava por vir e recuou exatos três passos.
Craaash!
O ataque foi direto no chão árido, e Snoc procurou desesperadamente por ele.
Quase torceu o corpo naquela virada nervosa. Considerando a armadura rígida, seria de esperar que parecesse “preso”, porém seus movimentos eram surpreendentemente suaves.
— Kuuuh! Kuuuh!
Continuou a golpeá-lo; socava, chutava e tentava agarrar, mas sempre errava por um fio de cabelo. Zich se movia que nem um mosquito daquele jeito, desviando apenas o mínimo e irritando quem tentava acertá-lo. Se fosse pego, talvez seria jogado de um lado para o outro.
— Kuuuuuah!
Crash!
Juntou as mãos e bateu forte no chão. Contudo, foi desajeitado, então não acertou. Bateu de novo, mas Zich usou a chance para diminuir a distância entre ambos.
Como se estivesse feliz em ver que estava mais perto, Snoc respondeu de imediato. Confiando na dureza da armadura, não entrou na defensiva. Pelo contrário, partiu à ofensiva e tentou abraçá-lo para esmagá-lo.
— Se só confiar na armadura, vai se machucar um pouco.
Swish!
Ergueu a espada. Normalmente, seus movimentos eram leves o bastante para cortar o ar, mas mudou o estilo da esgrima: estendeu os sentidos às extremidades da lâmina e mudou a forma da mana que liberou dentro. Os lados da espada projetaram mana para fora, circundando o ar. “Linhas” afiadas de vento giravam em torno da espada como se estivessem presas.
Dezenas de agulhas de vento voaram em direção a Snoc.
Whoosh!
Uma pequenina relou nas suas bochechas. E esse foi apenas o começo do ataque.
As finas linhas acertaram a armadura. Surpreendentemente, ela se partiu e rachou mais a cada acerto.
Pedaços da armadura caíram no chão. Graças ao controle preciso de Zich, o vento não atingiu nenhuma das partes vitais de Snoc. No entanto, não mostrou misericórdia para o resto do corpo dele.
E sangue esguichou dele.
— Kuuuuah!
Quando toda a armadura foi arrancada, ele caiu no chão e ficou apenas com feridas agudas inscritas nele inteiro.
— Uh, isso é, um…!
Sam afundou em seus pés. Vendo o seu estado lamentável, queria parar Zich, porém não podia, já que era uma batalha que poderia determinar a vida ou a morte do menino. Indiferente aos sentimentos dele, Zich se aproximou de Snoc.
Os ferimentos eram profundos. Sangue vermelho encharcou o chão e o tingiu em uma nova cor. Todavia, ainda não perdera as habilidades.
“Mesmo agora, ele está se curando.”
Ferimentos leves desapareceram, e feridas profundas diminuíram. Fora isso, a energia estranha que o cercava ainda estava afiada como sempre.
“‘Hm. Se eu fizer mais, eu acho que ele pode realmente morrer.”
O primeiro plano de feri-lo para enfraquecê-lo e fazer ele voltar ao normal falhou. Tentou enfiar as ponta da lâmina de leve no seu corpo, e ele se regenerou. Ficou desapontado por não ter enfraquecido ele quanto queria.
“Tudo bem, então. Plano B.”
Embora tenha o plano B, não era um método que queria usar. Não importava o quão graves fossem, ferimentos físicos poderiam ser curados com poções de alta qualidade ou grandes sacerdotes.
Porém, não havia poção no mundo que curasse o psicológico.
Wiiing!
A espada sibilou. Quando uma espada se enchia de mana, na maioria das vezes fazia isso; agora, entretanto, tinha algo diferente. Snoc também parecia ter notado a diferença e olhou para ele.
“Parece que ele perdeu os sentidos depois de ser psicologicamente atacado, então não queria fazer isso. Mas já que é o jeito…”
O que mais poderia fazer quando o primeiro plano falhou? Colocou a ponta da lâmina na cabeça dele.
— Não fique bilu teteia.
Tang!
A afundou na sua cabeça. Não, era mais preciso dizer que forçou uma imagem na sua mente. A sensação era de que ela estava se despedaçando em fragmentos, e então desmaiou.
Parecia estar sonhando há muito tempo. Seus sentidos aumentavam, e a cabeça ficava mais e mais desperta. Em contraste, o corpo caía como se estivesse cheio de água, e a fadiga se infiltrava em diferentes partes de seus músculos.
— Ah!
Sentiu algo parecido com agulhas perfurando todo o corpo e soltou um grito sem querer. Todavia, foi um grito curto; não porque não doía mais, e sim porque tinha tanta dor que era doloroso até gritar.
Snoc piscou, e lágrimas começaram a descer dos olhos inchados.
— Foi um sucesso.
Ouviu uma voz muito satisfeita consigo. Não sabia quem era ou de onde veio, porém estava repleta de orgulho.
“Acho que sei quem é.”
A ouvira antes, e olhou para a fonte dela.
— Senhor Zich? — Viu um rosto familiar.
— Como se sente?
— O que aconteceu?
— Snoc! — Alguém gritou seu nome.
Conhecia aquela voz também. Sam parecia meio aliviado e meio triste; foi ridícula a forma a qual correu até o garoto. Hans se aproximou logo a seguir, e Zich os impediu de chegarem mais perto.
— Foi mal, amigos, mas esperem um pouco mais. Ainda não acabou.
— Não acabou? O que não acabou?
Não entendia a situação atual; não sabia por que acordou no meio de uma montanha no meio da noite e por que os três o cercavam
— Certo, Snoc. Vamos avaliar a situação primeiro. Você foi sequestrado. Se lembra disso?
— Sequestrado?
A cabeça dele doía. Depois que ouviu a palavra “sequestrado”, sua memória começou a voltar para ele em partes. Começou a se lembrar do homem encapuzado, da mina em que foi arrastado, e a verdadeira identidade de Nowem.
Se contorce um pouco para rasgar as roupas esfarrapadas que basicamente se tornaram trapos e viu algo embutido em seu peito.
— É uma pedra de vedação.
Hans e Sam pareciam surpresos, mas não Zich.
“Será que aquele cara fundiu Nowem e ele com a pedra?”
Depois de vê-la, muitas expressões coloridas surgiram e passaram pelo seu rosto: surpresa, raiva, desespero, tristeza e todo tipo de sentimentos. E o último que restou foi o rancor.
Agarrou a pedra com as mãos e colocou força nos dedos. Parecia querer tirá-la, e Zich não deixou ao prender seus braços usando os pés.
— Espere. Você provavelmente não pode tirar, e mesmo se pudesse, não deveria.
— Então, como posso tirar?
Como se fosse um inseto nojento, estremeceu de nojo.
— Essa coisa presa no seu peito mescla você com a besta da terra. Ignora as suas duas vontades e funde os dois. Não sei como tirar com força, mas se fizer um contrato com a besta, ela vai cair na hora…
— Me recuso! — gritou. A rejeição foi firme e clara.