— Argh!
“Ela não tem muita resistência à dor, pelo visto.”
Zich não esperava que ela fosse que nem ele, que continuava lutando à beira da morte, mas ela parecia um pouco inexperiente demais com dor. Não correspondia às suas proezas de luta. Mesmo agora, suava feito uma cachoeira por ter sido ferida, ao ponto em que era difícil se mover.
“Devo tentar tirar alguma informação dela à força?”
Na verdade, ele estava muito mais curioso sobre a mulher de cabelos prateados do que a Bargot, que já estava morta. Por outro lado, a situação era muito perigosa para tentar forçar seu oponente como de costume.
“Se ao menos eu tivesse a minha espada…”
Foi um sacrifício inevitável que o machucá-la. Por outro lado, o seu poder de batalha também estava comprometido. Porém ele não perderia.
— Senhor Zich!
De repente, sentiu um grupo de pessoas chegando.
“É o Brod.”
Ele deixou Joaquim em um lugar seguro e estava trazendo um grupo de cavaleiros junto de Hans.
— Você está bem? — gritou, preocupado após ver seu estado.
Zich acenou para mostrar que estava bem. Brod e seus soldados ficaram aliviados, no entanto, apenas por um momento. Ele começou a avaliar a situação, que era o oposto do que ele esperava.
— O que é que está acontecendo aqui…?
— Uhmm. Também queria saber. — Riu do momento atual — Posso primeiro ouvir como foi aí?
— Ah, deixamos o senhor Joaquim em um lugar seguro. Ele nos pediu para fazer o máximo de barulho possível contra a Bargot para alertar os cidadãos sobre o perigo e incentivá-los a sair logo.
— Faz sentido. Mas não acho que seja mais necessário. Aquela mulher a matou. — Apontou para o cadáver.
— Matou… a Bargot?
O corpo de um monstro com apenas a cintura para cima estava largado chão, espantando as pessoas ali.
— Está dizendo que aquela mulher fez isso?
— Sim, com apenas um ataque.
— Ela pôde matar a Bargot com um só golpe?
— Bem, foi um ataque surpresa, mas ainda é incrível. Ela é uma maga poderosa ao extremo.
— Uma maga…
Todas as palavras de Zich foram inacreditáveis. Brod engoliu a saliva e olhou para a mulher de cabelos prateados à frente. Se não estivessem em uma hora tão séria, ficaria atordoado. Entretanto, como uma “maga que matou a Bargot em um só ataque”, sua beleza sequer se registrou na mente dele.
— Eu não entendi direito, mas ela é nossa inimiga?
— Vê só… — murmurou. Brod, os cavaleiros e até ela olhou para ele — Pensando melhor, fui eu quem atacou primeiro.
— O quê?
Mesmo a mulher arregalou os olhos. Zich também ficou envergonhado e coçou a cabeça.
— É que o que ela falou me mexeu um pouco…
Ele nunca imaginou que conheceria alguém que o chamasse de Moore, então parte de sua velha personalidade voltou para ele. Contudo, agora que pensou sobre, não tinha razão para torná-la sua inimiga.
“Ela derrotou a Bargot para nós e tudo o que fez foi me chamar de Zich Moore. Tem nem por que atacá-la ainda.”
— Ei! Foi definitivamente erro meu! Peço desculpas! — Levantou a mão.
Todavia, foram longe demais para ele chegar e dizer: “nós nos entendemos mal, então vamos parar e acabar com isso!”. Além disso, não mudou o fato de que ela era suspeita.
— Se quiser, posso compensar, mas deve falar quem é! Já que entrou no castelo sem permissão, tem alguma responsabilidade disso também.
Não era uma atitude normal entrar no castelo quando estavam no meio de uma intensa conspiração.
Com as palavras, olharam para ela, calada, e mantiveram a guarda alta.
— Poxa, não vai responder? Para ser mais específico, quero pedir desculpas por ter atacado primeiro sem te ouvir. Como vê, sou um colaborador dos Draculs. Se continuar mantendo a sua identidade em segredo, não terei escolha a não ser usar a força. Então, seria considerada uma criminosa no território, com certeza.
Os cavaleiros começaram a cercar a área para apoiar as declarações dele. Só então ela abriu a boca.
— São seus subordinados?
— Você ao menos me ouviu? Eu colaboro com eles. Responda à minha pergunta primeiro. Em circunstâncias normais, teríamos que capturá-la sem questionar, já que invadiu o castelo. Porém, uma vez que estamos em um momento difícil, e você matou aquela lá sem causar danos às áreas circundantes, estamos tentando mediar pacificamente essa situação.
“Mesmo que eu tenha atacado você antes.”
Mas era verdade que ele estava agindo de um jeito muito mais pacífico do que o normal. Se seu oponente rejeitasse sua oferta depois disso tudo, ele realmente usaria todas as suas habilidades para derrotá-la. Mas, ao contrário das suas expectativas, ela parecia surpresa com as palavras, pois sua boca estava meio aberta.
— Você se preocupa com seu entorno? Você?
“Porra, ela deve ter mesmo me conhecido antes de eu regredir.”
Era compreensível que ela ficasse tão chocada com essa frase. Agora, havia ainda mais razões para ouvir o que ela tinha a dizer. Entretanto, Brod o interrompeu antes que pudesse dizer mais algo.
— Sua vadia! Que maneiras são essas? O senhor Zich trabalhou sem parar por nós! Ele descobriu uma conspiração maligna e salvou inúmeras pessoas! Tudo isso sem se importar em receber nada!
Embora tenha mostrado alguma falta de coração ao priorizar a morte da Bargot sobre todos os cidadãos de Ospurin, Brod não estava errado. Em certo ponto de vista, sua escolha poderia ser considerada decisiva e racional.
— Como se atreve a insultá-lo? Como se atreve a questionar as preocupações dele por não causar danos aos arredores? Uma maga suspeita como você e que invadiu o castelo não tem o direito de falar assim com o senhor Zich!
“Cacete, o cara tá muito chapado.”
Ele comeu algo errado? Ou ficou doente com a Bargot? Por mais que Lubella e Weig já o tivessem agradecido antes, foi a primeira vez que Zich recebeu um “elogio” tão estranho por fazer atos gentis à sua maneira. Devido a eles, todos no território o tratavam feito um santo. Brod, que o acompanhou desde a sua chegada, o admirava mais do que qualquer um.
Em suma, ele sabia tudo o que Zich fez pelo condado Dracul. Foi por isso que até mudou a maneira como se dirigia a ele, anexando “senhor” ao nome. Além disso, não parecia ser o único que se sentia assim, já que todos os outros cavaleiros olhavam para ela com raiva e cautela.
— Você é mesmo o Zich? — perguntou, em um estado claro de confusão.
— Sim, sou.
— Qual é o seu sobrenome?
— E isso importa?
Ele não tinha mais sobrenomes, era apenas Zich. Zich de Zich.
— Não sei o quanto você sabe, mas a minha imagem que está pensando agora não me representa.
Ele não era mais o filho mais velho dos Steelwalls ou um Lorde Demônio, de qualquer forma. Isso fez ela observá-lo com desconfiança. Mas logo pareceu ter percebido algo.
— É?! — Pôs as mãos nos lábios. Seu olhar, que o observara como uma criatura misteriosa, mudou; tinha tanta hostilidade que os cavaleiros recuaram. Todavia, também havia uma certa tristeza em seus olhos, como se sentisse falta de alguém. Claro, Zich sentiu a mudança.
— Eu não consigo entendê-la de jeito nenhum.
Ele recebeu muitos olhares hostis em vida, mas foi a primeira vez encontrando alguém que parecia sentimental ao mesmo tempo. Ademais, não eram emoções superficiais.
— Mas agora é diferente — murmurou ela
“Ela não tem intenção de falar comigo.”
Tentar dialogar por mais tempo seria uma perda de tempo, o que o levou a tirar uma poção e beber e pegar emprestada uma espada. Apesar de o cavaleiro parecer surpreso, emprestou a espada.
— Beleza, senhorita. Eu não queria ser tão bruto, mas se continuar não cooperando, não vou poder mais te convidar para um encontro.
— Sim, e eu já disse que esse não é o jeito certo de me convidar para sair.
— Vou tratá-la como um intruso estranho que invadiu o castelo. — Apontou a lâmina para ela, fazendo os cavaleiros o imitarem.
Ela olhou ao redor. Lutar contra ele sozinho seria um pouco complicado, no entanto, se os cavaleiros entrassem em cena, não teria chances de ganhar. Ciente disso, olhou para ele de novo antes de fechar os olhos, tentando imaginar o que ele estava pensando.
Bam!
Zich se moveu primeiro, imbuindo mana na lâmina. Os cavaleiros atacaram-na ao mesmo tempo.
Clink!
Um som metálico soou perto do peito dela, e o seu colar azul passou a brilhar.
“Um artefato!”
Ele não sabia o que era, porém era óbvio que não era nada de bom, então estendeu a espada para usar o Espaço Perfurante.
Tang!
Ar repleto de mana foi disparado que nem flechas. No momento em que a força intangível estava prestes a alcançá-la…
Whoosh!
… Ela desapareceu. A força perfurante voou à toa, deixando uma grande marca na parede atrás.
— Isso é…! — Brod correu para onde ela estava. Ele olhou em volta e até tentou raspar o chão de terra com os pés. Entretanto, sua presença não estava em lugar nenhum.
— É teleporte.
— Como é possível? Achei que era um feitiço incrivelmente difícil.
— Sim, é.
Era uma magia da maior dificuldade que apenas magos especialmente escolhidos poderiam usar.
— Eu não posso acreditar que ela era uma maga tão incrível!
— Por mais que seja verdade que ela é ótima, não parece que fez sozinha. Ela não disse um cântico antes.
Se tivesse usado o Encantamento Silencioso, o poder de sua magia teria sido menor e não teria ido muito longe. Contudo, a sua presença desapareceu da esfera de sensoriamento de Zich.
— Se ela não fez isso… o colar dela devia ser um artefato.
— O quê? Um artefato de teleporte! Como isso existiria?!
— E o que mais seria? Você viu.
Todavia, entendeu a surpresa dele.
“Bem, criar um artefato desse nível consumiria uma imensa quantidade de dinheiro e esforço. É compreensível por que ele não pode acreditar.”
Bem, era isso.
— Vamos enviar um esquadrão para persegui-la.
— Vai ser difícil. Nem sabemos para que lado ela foi. É perda de tempo.
— Mas…
— Se não tivermos mais nada para fazer, podemos tentar. Mas não é melhor cuidar dos problemas atuais no território?
— Ughhh!
Brod sabia que Zich estava certo. A partir de agora, o condado Dracul teria que manter um estado de emergência e necessitariam de toda mão de obra possível. Enviar um esquadrão para procurar uma maga que mal tinham informação seria um completo desperdício de recursos humanos.
— Fazer o quê.
— Tomou a decisão certa. — Zich elogiou, vendo a região — Tudo acabou agora que a Bargot e Shalom, que planejaram tudo, morreram. Vamos limpar as coisas.
Assim, o caso que virou o condado de cabeça para baixo com doenças, culpa e loucura chegou ao fim.