Zich e os seus companheiros chegaram à cidade de Westillburd. Como esperado da capital do reino de Cronon, era próspera. Apesar de terem viajado bastante, foi a primeira vez que Snoc e Hans viram a capital de um reino.
A palavra “capital” fazia toda a cidade parecer diferente, como se os edifícios, as pessoas e vegetação em frente às casas fossem muito mais chiques e elegantes.
Os dois servos patéticos, aos olhos de Zich, não esconderam a empolgação, arrancando um suspiro decepcionado dele. Ele tentou buscar conforto no olhar de Lyla, porém, ela estava do mesmo jeito. Aquilo era uma negação.
Embora uma capital fosse o centro do sistema econômico e político de Cronon, Westillburd era ainda mais vibrante do que outras capitais do mundo. As expectativas e esperanças das pessoas pareciam flutuar no ar.
— Senhor, olhe para isso! — disse Snoc, em frente a um pôster.
Zich, Hans e Lyla estiveram o ensinando a ler e escrever, então ele agora era capaz de ler devagar frases e palavras menos complexas.
— Aqui diz que o aniversário do rei está chegando! E vai ser o quinquagésimo!
— Por isso a atmosfera está tão animada — falou Hans.
— Eles provavelmente terão um festival em breve. Quantos dias faltam? — perguntou Lyla, curiosa.
— Aqui diz que faltam cinquenta dias!
— Ainda falta muito tempo.
Os três olharam para Zich. Se restassem poucos dias, teriam implorado o máximo que pudessem para ficarem.
— Beleza. — Ao contrário das preocupações deles, ele assentiu — Devemos primeiro encontrar um lugar para ficarmos?
Zich chamou Lyla para o seu quarto.
— O quê?
— Se lembra das condições do nosso acordo?
— É claro. — Ela cerrou os dentes.
Com a desculpa de ajudá-la, ele a levava ao limite. Mesmo que tenha conseguido lutar contra ele de igual para igual antes, depois que ele despertou toda a mana em Violuwin, ele entrou em outro patamar. Além do mais, possuía a Windur, que aumentava a sua força mais do que a Estellade ou Tornium.
Era inevitável que ela fosse empurrada para trás em termos de proezas de batalha. Ele era rigoroso e brutal. Nem Hans e Snoc sofriam tanto quanto ela nos treinos, os quais a banhavam em sangue. Os dois servos até se acostumaram ao treinamento deles, contudo, tiravam o olhar sempre que Lyla era treinada.
— Graças a você, me acostumei a lutas.
— Não precisa me agradecer. Foi um acordo justo.
Ela cerrou os dentes de novo.
— Está tudo bem agora. Sei que o sarcasmo não vai funcionar contigo. Me chamou para falar sobre as condições dele, não?
— Sim — Ele se inclinou para frente — Estou tentando encontrar Evelyn Rouge, uma das minhas subordinadas. Ela vive aqui.
— Mas temos mesmo que nos esforçar para achá-la? No momento, você não é relacionado a ela, e será assim no futuro.
Havia um traço de nitidez em seu tom. Lyla odiava qualquer coisa relacionada a Zich Moore, tanto que era inflexível a respeito de ele usar a Tornium. Por isso, ela não estava muito interessada em conhecer Evelyn.
— Sendo honesto, o negócio que tenho não é com ela, mas com a galera que a corrompeu.
— Hã?
— Não parece que você sabe deles.
Aquela organização não aparentava aparecer nos sonhos dela, e nem ela podia se lembrar. Então, ele explicou o que sabia deles para ela.
— Existem pessoas desse jeito?
— E tem uma grande chance de que sejam os que estão te perseguindo.
A expressão dela endureceu. Apesar das memórias nebulosas, havia uma força estranha dentro dela que a pressionava a fugir para nunca ser pega por eles.
— Como eu disse antes, não quero encontrar os meus companheiros demônios quando estou tentando ser uma pessoa gentil. Também tenho contas a acertar com aqueles assassinos desgraçados.
— Sabe quando os seus subordinados seriam corrompidos?
— Nem. Felizmente, falei com o Joaquim antes de ele se transformar. Durante esse tempo, eu nem sabia que havia gente por trás da transição dele. Mas a Evelyn é diferente. Eu lembro do primeiro passo dela para se transformar.
— E quando foi?
— Durante o quinquagésimo aniversário do rei de Cronon.
— Estamos exatamente nesse tempo.
— Uhum. Chegamos aqui na melhor hora.
Lyla agora sabia por que Zich aceitou o pedido de ficar sem sequer hesitar.
— Onde está uma dos seus “quatro grandes subordinados” agora?
— Não vamos nos encontrar com ela tão rápido. Ela me contou que era de uma família nobre de alto escalão.
— Você também não me disse que Joaquim Dracul também era? Ele virou conde, segundo você. Tem que ser da nobreza ou semelhante a fim de trabalhar para um Lorde Demônio?
— É tudo uma coincidência. Os outros dois não vieram de boas famílias.
— Bem, tanto faz. O que vai fazer agora? Se ela é tão importante, será difícil.
— É aí que preciso da sua ajuda. Ao encontrar alguém por pura coincidência, estar com uma mulher torna menos suspeito.
— Por que estou com uma leve impressão de que quer fazer algo sombrio…?
— Não é como se estivéssemos fazendo uma coisa ruim. De certa forma, estamos tentando protegê-la.
— Tudo bem, eu entendo. Já que fizemos um acordo, farei o meu melhor para cumprir a minha parte.
— Sim, esse é o espírito.
De imediato, ele se pôs a explicar o plano. A conspiração gradualmente foi gerando frutos.
A estadia deles em Westillburd foi monótona. Ao contrário da estadia em outras cidades, Hans e Snoc não puderam passear. Cinquenta dias era muito tempo para férias. Ademais, não havia garantia de que deixariam esta cidade após os exatos cinquenta dias.
O treinamento intenso foi mais difícil do que o normal. Na maioria das vezes, Zich os deixava com energia mínima para se moverem. Em Westillburd, ele fez com que não tivessem mais força nenhuma. Logo, queriam se bater até a morte por antes quererem ficar na cidade.
A única esperança deles era que o aniversário do rei chegasse mais cedo enquanto caíam e levantavam repetidas vezes. Todavia, ele não os treinava todos os dias e nem sempre estava com eles.
— Vou sair um pouco — disse Zich, ao lado de Lyla — Nós dois vamos sair por vários dias. Estão livres para fazerem o que quiserem durante esse tempo. Brinquem, pulem, corram, tanto faz.
— Sim, senhor!
— Senhor, cumpriremos a sua ordem!
Alegres, sorriram intensamente.
Kooooo!
O grito de Nowem se somou ao entusiasmo e ao senso de libertação deles, irritando Zich um pouco e fazendo com que ele se questionasse se deveria fazê-los continuar treinando.
Os dois servos já tinham muita experiência com a personalidade desprezível do mestre. Ao verem um brilho estranho se formando nos olhos dele, assumiram expressões sombrias e endireitaram a postura. Nem Nowem escapou.
— Vamos logo. Não torture as pessoas sem motivo.
Por mais que Lyla tivesse o puxado, Hans e Snoc não aliviaram os nervos até o fim. Se uma ordem saísse da boca dele, não tinham escolha a não ser cumprir na hora. No entanto, como se ele não pudesse evitar, ele foi arrastado.
“Ela é um anjo!”
“Casa comigo!”
“Kooooo!”
Os dois saíram de Westbillburd. Vagarosamente caminhavam pelas ruas e trocavam conversa fiada; de relance, se assemelhavam a amantes aproveitando o momento. Porém, a conversa deles estava longe dos doces sussurros esperados.
— Evelyn Rouge é filha do marquês Rouge — disse Lyla — Acho que ela está um nível acima de Joaquim Dracul.
— Já que ele agora é um conde, o seu status é bem maior do que o de Evelyn. Ela é apenas uma criança do marquês.
— Ambos são grandes o suficiente. — Ela balançou a cabeça — Não podemos nos aproximar com facilidade de nenhum deles.
— É por isso que temos que abordá-los com o plano sobre o qual falei com você. Felizmente, posso prever um pouco o que ela estará fazendo neste tempo.
— O seu relacionamento com os seus subordinados é bom? Especialmente porque você pode de ver um futuro onde vocês compartilham este tipo de informação.”
— De jeito nenhum.
Não foi ruim, mas ninguém revelou tudo sobre a sua história. No caso do Joaquim, eu só fui vê-lo de longe a partir de rumores. Foi uma coincidência eu ter me envolvido tanto com os assuntos dele. Ele só me contou o básico de si, nunca nada específico.
— E quanto a Evelyn?
— Ela era a mais sentimental de todos nós. Quando ficava bêbada, às vezes me contava o seu passado, mas ainda assim não falava tudo. Ela repetia as mesmas coisas várias vezes.
— E uma dessas coisas é a base do plano, certo?
— Uhum, isso mesmo.
Quando se distanciaram bastante da cidade, a fim de não atraírem atenção indesejada, aceleraram os passos e entraram na floresta.
— Oh, você está ficando muito rápida na floresta também.
— Cale a boca. Não fale comigo.
Como ela se acostumou devido ao hábito de Zich, não ficou muito feliz com isso, tirando uma risada alta dele. Então, correram por meio dia até chegarem ao seu destino.
— Minha nossa!
Os olhos dela se arregalaram com a visão do lago enorme. Depois da névoa pálida, ela podia ver a borda dele. O peixe energético saltando para fora da água clara que refletia a luz do sol e brilhava um azul vívido tornava a paisagem inesperada dentro de uma floresta densa tão bela quanto contos de fadas.
— Ao contrário das minhas expectativas, chegamos facilmente. Pensei que levaria vários dias a mais.
— Este é o lugar certo? — perguntou ela, encantada pela aparência do lago.
— Sim. Não tem outro deste tamanho por aqui. A Eveyln brincava aqui quando criança. De certa forma, era o seu esconderijo secreto.
— Ah, é isso?
Zich podia entender os sentimentos de Lyla, pois se sentiu um pouco à vontade ali. Entretanto, claro, este sentimento era tão grande quanto o globo ocular de uma formiga.
— Quando ela virá?
— Não sei o dia exato, mas tenho certeza de que será em breve. De acordo com o que ela disse, ela veio aqui uns trinta dias antes do aniversário do rei.
— Vamos ficar por alguns dias?
— É.
Sorrindo intensamente, ela olhou para a água uma vez e depois para Zich.
— Então, durante esse tempo, posso passe…
— Faz o que tu quiser.
— Eba! — Infantil, exclamou.