Na vegetação densa, pequenos insetos zumbiam ao redor. O vento soprou suavemente e ergueu o solo do chão. Apenas a julgar pela descrição, imaginariam uma floresta pacífica que consolava os corações das pessoas. Aquela em que Zich e seus companheiros estavam se encaixava na descrição acima, entretanto não era pacífica ou aconchegante — ao menos, para Lyla.
— Ack! — Ela tropeçou em outra raiz saindo do solo, indo para frente.
— Opa!
Contudo, ela não se fez de boba caindo no chão. Zich a pegou com facilidade, já que ele estava andando na frente dela.
— Obrigada.
— Sem problemas, milady.
Depois de provocá-la um pouco, ele a ajudou a ficar de pé. Ela soltou um suspiro cansado, pois não foi a primeira vez. Além das raízes espalhadas, existiam muitas armadilhas nesta floresta. Havia buracos cobertos de folhas, lama escorregadia e um riacho cheio de pedras musgosas.
Ela olhou ao redor. Tudo o que podia ver era a vegetação densa e árvores enormes. Não pôde enxergar com clareza o que estava à frente. Nesta floresta, as plantas benéficas para os seres humanos estavam agora antagonizando.
A caminho da casa de Leona, estavam na floresta de Adrowon. Como era para aprender mais a respeito da estranha árvore sob a ruína de Violuwin, Lyla também não se opôs à decisão; pelo contrário, ela apoiou de todo o coração. Hans e Snoc sempre seguiram as ordens dadas, então concordaram. E, claro, a elfa acolheu com agrado a ideia de levar os amigos para a sua casa.
No primeiro dia, Lyla ficou muito curiosa sobre a floresta. Mesmo que tivesse conhecimento sobre grandes florestas semelhantes, nunca experimentou de primeira mão. Todavia, essa curiosidade não durou muito, porque no segundo dia ela já estava exausta. As raízes se agarravam aos tornozelos, os arbustos tão altos quanto humanos batiam sempre nos braços e rosto dela, fora o terreno irregular cansativo.
Graças ao treino duro de Zich, a resistência de Lyla era muito maior do que a de um mago normal, o que não mudava o fato de que… ela era uma maga. A jornada contínua a desgastou inteira. No entanto, ela era a única cansada. Zich e Hans, espadachins, tinham uma tremenda resistência para lutar contra a ambientação agressiva. Como uma elfa, Leona estava acostumada, então era inútil explicar como ela estava se saindo.
De todos, Snoc era o mais parecido com Lyla, porém também recebeu um treinamento difícil ao extremo. Mesmo que sua experiência fosse menor que a de Hans, não estava sem fôlego que nem ela.
— Kyah!
Desta vez, ela escorregou em uma área enlameada de água. Mas Zich a pegou antes que ela caísse, então suas roupas permaneceram um pouco limpas.
— Cara, você é muito desajeitada.
“Zich é o mesmo de sempre…”
Entretanto, não importava o quanto ela pensasse a respeito, ela não poderia esquecer do rosto que ele fez em Violuwin.
“Eu vi errado?” Ela balançou a cabeça. “Não, de jeito nenhum confundiria aquilo.”
Visto que ela estava preocupada que ele pudesse voltar a ser um Lorde Demônio, ela sempre o espionava. Por essa razão, estava certa do que viu, ainda que reprimindo a preocupação que surgia em sua mente.
“Ele assumiu o rosto demoníaco dele por um breve momento. Já que tínhamos acabado de encontrar Glen Zenard, é justo que isso tenha acontecido. Mesmo agora, ele estava agindo como de costume. Como Glen não está aqui agora, ele não se tornará um Lorde Demônio de repente.”
Contudo, ela ficou horrorizada com o vislumbre do antigo eu dele. Mesmo que não se lembrasse de tudo, ela sentiu uma pressão intensa ao se lembrar do nome de Zich Moore.
“Ah, droga! Por que tinha que acontecer agora!”
Ela já estava em conflito sobre a própria identidade; ela não tinha tempo para pensar em uma bomba como Zich Moore.
— Lyla, você está bem? — Antes que ela percebesse, Leona estava ao lado dela. Apesar de estar à frente de todos, ela voltou por preocupação.
— Sendo honesta, é um pouco cansativo. Já estamos perto?
— Estamos quase lá. Se andarmos um pouco mais, poderemos ver uma aldeia.
Esperando que “um pouco mais” significasse mesmo “um pouco mais”, a maga assentiu com a cabeça. Felizmente, a ideia dela de “um pouco mais” se encaixava nos padrões comuns, porque não precisaram andar muito mais até que o dito antes acontecesse.
— Quem são vocês?!
Em um grande galho de árvore, cinco elfos apareceram. Mesmo que os galhos fossem grossos, eram ásperos e redondos; os elfos se equilibravam com facilidade enquanto apontavam as flechas para o grupo — o que não amedrontou ninguém, pois eram muito fracos na visão de Zich e o resto. A cautela dos elfos era compreensível, porque muito poucos humanos chegaram àquela parte da floresta.
— Abaixem as flechas — disse Leona.
Os elfos abriram mais os olhos. Não esperavam que um da raça deles estivesse entre um grupo de humanos. No entanto, um dos elfos ficou chocado com um assunto diferente.
— Princesa!
Isso também foi suficiente para deixar Zich e seus companheiros em choque.
O grupo foi guiado à aldeia mais próxima, que tinha centenas de elfos vivendo lá sobre as árvores, mais grossas do que os braços estendidos de dez pessoas. As casas construídas em cima delas eram grandes e espaçosas, completamente diferente das casas na árvore dos humanos.
Surpreendentemente, não havia muitas árvores na aldeia, que aparentava estar tentando se expandir, levando em conta que o verde nos limites estava sendo destruído. Em lugares que não tinham casas, havia um recuo gigante, como se a vegetação tivesse sido arrancada. — Os elfos não amam a floresta? — murmurou Snoc ao ver a cena.
— Eles devem ser diferentes das imagens que os humanos têm — falou Lyla — Mesmo que tratem a floresta como especial, provavelmente é na medida em que é vantajosa para eles. Ela está entrelaçada com a vida de um elfo. É comum que transformem a floresta para atender às suas necessidades até certo ponto, visto que é o sustento deles.
“Ah, entendo.”
Os elfos estavam curiosos sobre os novos forasteiros, e eles saíram das casas um por um. Seus olhos não tinham muita boa vontade, porém não eram tão hostis. Estavam em um estado de severa cautela.
Zich virou a cabeça e examinou os arredores. Um casal que ele avistou vacilou ao encará-lo.
“Mesmo que seja normal que eles sejam cautelosos com novos humanos, isso é mais extremo do que o normal.”
Os elfos que não tinham interação com os humanos poderiam reagir dessa maneira. Leona disse que suas tribos tinham interações raras, mas consistentes, com os humanos.
“Por isso que roubaram a Lágrima do Lago?”
Entretanto, mesmo para isso, essa vigilância era estranha. Se soubesse que receberam tais perdas humanas, os olhos dos elfos estariam cheios de hostilidade em vez de cautela.
O elfo que os conduzia parou na frente de uma árvore.
— Por favor, fiquem nesta casa enquanto estiverem aqui.
A casa para a qual o grupo foi levado ficava no topo de uma alta árvore. Por ser uma casa de hóspedes, ela estava um pouco longe, mas as instalações eram suficientes. Era espaçosa, para que cada pessoa pudesse ter o próprio quarto, levando Lyla a agradecer ao guia.
— Agradecemos.
— Não, não foi nada. Na verdade, devo me desculpar por só poder oferecer isso pelos companheiros da princesa.
— Está tudo bem, eles são legais.
Leona se gabou, e o elfo guia sorriu de leve. Contudo, ele logo corrigiu seu sorriso e assumiu uma voz séria: “peço desculpas, mas por favor, evitem sair”.
— Hã? Por quê? — perguntou Leona, surpresa. Lyla a impediu.
— Entendemos. Você pode nos dizer quanto tempo temos que ficar?
Parecia que Lyla também notou a estranha atmosfera que cercava a aldeia. O guia aparentou se sentir aliviado por ela entender.
— Alguém virá durante o jantar e explicará a situação com mais detalhes. Então, adeus.
O guia se despediu e saiu. Leona ainda não sabia o que estava acontecendo e ficou perplexa com as palavras, então Zich deu um tapa nela, dizendo: “não pareça tão confusa. Parece que algo aconteceu aqui”.
— Algo aconteceu na aldeia?
— Sim. A vigilância dos elfos está muito acima do normal.
Ela tentou se lembrar das reações dos membros da tribo. Como ela estava tão feliz em trazer de volta a Lágrima do Lago e apresentar Zich e o resto da equipe, não conseguiu avaliar do jeito certo a reação da tribo. Agora que parou para pensar, eles pareciam estranhos.
— Darei uma saída rápida!
Zich parou Leona antes que ela pudesse sair.
— O que você vai fazer?
— Tenho que ir e descobrir o que aconteceu! Eu sou a princesa desta floresta!
— Não deveria. — Ele balançou a cabeça — Se tentar investigar agora, só vai agravar a ansiedade e a preocupação dos outros elfos. É melhor você esperar com paciência até que alguém venha no jantar.
— Uh, hm.
Por mais que ela quisesse sair de imediato e bombardear as pessoas com perguntas, ela enfim assentiu. Até agora, tudo acabava sendo muito bem sucedido sempre que ela ouvia as palavras de Zich.
— Pode ser.
— Então, vamos relaxar sozinhos e nos ver durante o jantar.
— Eu vou dormir.
Ela tinha sofrido mais desde que entraram na floresta, então logo escolheu um quarto para si e entrou. Leona olhou para a porta da casa uma vez e depois escolheu um quarto para si mesma.
— Vocês vão em frente também — ontou Zich a Hans e Snoc, que ficaram. Porém, os dois pareciam querer dizer algo com um enorme desespero.
— Vocês estão surpresos que Leona seja uma princesa?
— S-senhor, c-claro, estou surpreso! — exclamou Snoc, fingindo admiração.
Hans também assentiu calmamente. Foi chocante descobrir que o elfo com quem eles viajaram o tempo todo era uma princesa elfa.
— Não tem por que se surpreender. Um rei elfo é diferente de um rei humano. Mesmo que o rei lidere os súditos, é o representante da tribo. Recebe um tratamento um pouco mais especial, mas não é como os reis humanos, que têm uma grande quantidade de poder. O tratamento de Leona, princesa, é diferente das humanas recebem.
Se uma princesa humana visitasse uma aldeia, não expressariam uma reação tão simples que nem os elfos fizeram. Hans e Snoc não pareciam poder entendê-lo bem. Era compreensível que o mundo em que viviam fosse cem por cento diferente de como os elfos viviam.
— Você não precisa entender isso. Só pense nisso e deixe por isso mesmo. Trate Leona como você a tem tratado até agora.
Depois de escolher um quarto para si, Zich desapareceu no seu cômodo. Hans e Snoc se entreolharam, pois agora eram os únicos que restavam. Já que poderiam pensar nisso como um: “é assim que as coisas têm que ser? Ignorando o preconceito?”. Com toda a honestidade, eles não tinham outra escolha a não ser seguir esse conselho.
Enquanto ainda estavam em estado de choque, eles tentaram gravar com força as palavras de Zich em suas mentes e entraram nos quartos que escolheram para si mesmos.