Uma atmosfera diferente de antes fluía pelo campo de batalha. Embora o oponente deles parecesse esmagadoramente inconsciente das suas, isso não os deixou menos furiosos. Além disso, como Hans estava armazenando os blindados, parecia que as forças dele estavam diminuindo.
Os números eram força e poder, e os elfos tinham muitos lutadores fortes ao seu lado. Não importava o quão incrível o inimigo fosse, não achavam que perderiam.
— Você está nos perguntando se tem algo para ficar com raiva? Você fez nós de tolos e se atreve a dizer isso!
— Ah…! — Hans coçou a cabeça, como se tivesse percebido algo.
“Parando pra pensar, tudo o que o senhor Zich diz é sobre provocar os oponentes.”
As provocações de Zich não tinham a intenção de criar aberturas, mas sim de trazer prazer para ele mesmo. Embora o admirasse muito, Hans não tinha desejo de herdar isso. Ele havia copiado as palavras e o comportamento do mestre sem querer e não tinha a intenção de provocar os oponentes.
“Eu tenho que tirar as suas vidas por causa da situação, mas não quero jogar insultos no meio.”
— Perdão, eu errei. Se eu pensar melhor, a razão pela qual todos vocês estão quietos é óbvia. Não é porque ficaram com medo depois do meu ataque?
— O… quê? — murmurou o general.
Hans estava certo. Os elfos estavam assustados, porém ninguém aceitaria aquelas palavras como um pedido de desculpas adequado. Eles achavam que ele os estava provocando ainda mais.
— A culpa é minha. Eu não achava que as tropas de elite da Tribo do Ferro ficariam tão surpresas com apenas um único golpe, em especial quando todos vocês descobriram que eu sou o único lutador significativo nesta batalha. A culpa é minha por julgar falsamente suas habilidades. Peço sinceras desculpas. — Ele afastou a Estellade e fez uma reverência profunda.
Foi um pedido de desculpas cortês e educado. Mesmo que tivessem costumes diferentes dos humanos, os elfos sabiam o significado por trás dessas ações. Entretanto, a raiva deles só aumentou, pois a exibição de extrema etiqueta acompanhada de palavras opostas às ações entregou o comportamento dele. O problema era que ele estava sendo sincero.
— Seu filho da puta! Não nos insulte como quiser!
— Por que está ficando com raiva quando peço desculpas? — falou Hans, a expressão de injustiçado irritando mais ainda os elfos. — Eu acho que o que eles disseram sobre os elfos da Tribo do Ferro é mesmo verdade. Eles são todos temperamentais e têm uma disposição desagradável. Eu não deveria tê-los minimizado só porque são meus inimigos.
Eles estavam tão concentrados nele que, graças à audição sensível, ouviram todos os seus murmúrios.
— Ah, não. Eu não deveria pensar assim. Eles estão apenas agindo assim porque sou seu inimigo, e eles são apaixonados em batalhas até a morte. A razão e as emoções são coisas separadas, afinal — murmurou, sorrindo. Era um sorriso muito benevolente e sábio, e ele não poderia ter imaginado que esse sorriso os enfureceria ao máximo.
— Certo, eu entendo. Tenho certeza de que todos vocês ainda não podem aceitar minhas desculpas, mas lembrem-se de uma coisa: foi do fundo do meu coração.
— Matem…!
Kandis estava prestes a emitir a sua ordem, até que…
Craaaaaaaaashhhhh!
Eles ouviram uma enorme explosão por trás.
Brrrrrrrrrrr!
Foi uma explosão tão grande que todos em Mentis tremeram. Vários perderam o equilíbrio e caíram, mas o general não podia se dar ao luxo de prestar atenção neles. Veio do castelo onde residia o grande rei da tribo; castelo este que foi envolvido por uma bola de fogo feroz.
Chamas saíam de todas as janelas e portas e usavam a escuridão nos arredores como palco para a sua dança ardente.
— S-sua majestade… Vão para o castelo imediatamente!
Com pressa, ele se dirigiu até o local com os soldados. Ninguém mais se preocupava com Hans. O bem-estar de Renu era mais importante do que qualquer outra coisa, e havia também a questão do poder que precisavam recuperar.
Hans somente fez observar. A sua missão tinha acabado, e tudo o que tinha a fazer era sair. Não havia necessidade de ele perseguir inimigos em retirada, então ele recuperou o resto dos blindados e bateu no chão algumas vezes.
Brrr!
Um monte de terra subiu ao lado dele, e Snoc saiu.
— Nosso plano não era esperar que a senhorita Lyla viesse nos buscar no porão? — perguntou.
— Não acho que isso seja necessário. O senhor Zich disse que é melhor sairmos sozinhos se pudermos.
— Bem, é verdade. — Olhou para o castelo em chamas espetaculares.
— Ele deve ter feito isso, não é, sênior?
— Provavelmente.
As preocupações deles sobre as chamas do castelo acabaram ali. Nenhum deles se perguntou se Zich estava bem ou não, já que tinham certeza de que ele apareceria na frente deles bem de novo. E sua fé foi logo provada mais uma vez.
— Eu não te disse? Eles não saíram ainda.
Zich pulou para o lado deles, segurando Lyla e Romanne em ambos os braços.
Na beira do lago, um grupo estava reunido e olhando para o castelo queimando ao longe. A uma curta distância, o fluxo de mana começou a agitar as coisas e cinco indivíduos pousaram no chão da floresta. Lyla havia teletransportado o grupo.
— Meu Deus, você realmente nos teletransportou.
Romanne olhava para Lyla com um rosto chocado. Se alguém considerasse apenas o feitiço, não era tão surpreendente. Era surpreendente que uma humana, em especial uma que parecia tão jovem, pudesse se teletransportar.
Os elfos tinham vidas longas e grande compatibilidade com a magia, então alguns podiam usar a magia de teletransporte igual. Entretanto, mesmo assim só podiam se teletransportar com apenas uma ou duas pessoas. Se mais estivessem no meio, a distância que poderiam percorrer seria bem menor.
“Pra sair de lá pra cá, na beira do lago, ela não deve ser uma maga comum.”
Não, não era só ela que era extraordinária. O homem que se apresentou como Hans possuía uma espada que aparentava ser especial. Já o garoto, Snoc, usava os poderes da besta mágica da terra.
“E aquele humano, o Zich.”
Ele era brincou com a Tribo do Ferro sob o castelo. Além do mais, a julgar pelas ações, ele parecia ser o líder daquele grupo único.
“Que tipo de pessoa ele é?”
Eles apenas trocaram nomes e ainda não haviam se apresentado de maneira formal um ao outro. Zich havia dito a ela que eles precisavam escapar primeiro, e a xamã concordou com isso. No entanto, ele também disse que era amigo de Leona.
“Como a minha neta imatura conseguiu amigos como esses…”
O fato de que eles a salvaram e se apresentaram como amigos de sua neta a fez confiar bastante neles.
— Eles estão bem ali — falou Lyla, apontando.
Os reis e rainhas estavam juntos, protegidos por soldados das suas respectivas tribos. Eles pensaram que era mais seguro ficarem juntos, então eles se aglomeraram enquanto esperavam que a xamã chegasse. Eles também notaram o grupo.
— Mãe!
Retree e Sidia correram em direção a ela na hora. Eles a abraçaram com força, mas Zich interrompeu.
— É melhor não a apertar. Ela perdeu muito sangue.
— Sangue? — Retree examinou o rosto da xamã.
Ele ergueu os olhos e viu como a palidez do rosto dela; qualquer um podia ver que ela não estava em boas condições. Além disso, as roupas que ela usava estavam cobertas de sangue.
— V-você es…
— Estou.
Ela afastou o filho, que estava surtando, e assentiu para a nora, que olhou para ela com preocupação, e então seguiu em frente. Ela viu os outros reis irem até ela. Pareciam cansados e abatidos, mas nenhum deles aparentava ter sofrido ferimentos graves.
— Felizmente, todos estão seguros.
— Sim, estimada xamã. Tudo o que eles fizeram foi nos aprisionar. Parece que esse não foi o caso para você — comentou o rei da Tribo da Montanha, o primeiro a falar.
— Não precisam se preocupar comigo. Como podem ver — sorriu —, fui resgatada com segurança e não tenho ferimentos. Serei capaz de voltar ao normal logo depois de descansar um pouco.
Romanne, que estava confortando e acalmando todos ao seu redor, era a personificação da simpatia. Lyla se lembrou das falas dela antes e sentiu uma estranheza superbizarra. Todavia, Zich não pensou muito nisso. Havia muitas pessoas que agiam de forma diferente dependendo do ambiente, e o elfo a quem xingaram juntos era um inimigo.
“Tudo o que você faz a um inimigo é perdoável.”
Esta era talvez a crença número um que não havia mudado desde que ele regrediu.
Depois de terminar a sua conversa com os reis, Romanne ficou ao lado de seu filho, Retree.
— O que vamos fazer a partir de agora? — O rei da Tribo do Oceano foi o primeiro.
— O que você quer dizer com o que vamos fazer a partir de agora? — indagou a rainha da Tribo da Montanha. — Temos que voltar para as nossas tribos primeiro e trazer a força militar para esmagá-los.
— Nós precisamos mesmo voltar? Não temos soldados suficientes agora para assumir o controle total sobre Mentis? Mesmo que eles tenham a vantagem na defesa, basta olhar para eles. Eles não devem ter escolha a não ser se concentrar nela. — O rei da Tribo da Planície apontou para o castelo envolto em chamas brilhantes.
Entretanto, o rei da Tribo das Montanhas expressou a sua oposição. — Mesmo que nosso inimigo esteja em um estado de caos, não podemos ignorar sua localização vantajosa. Além disso, a força militar que temos agora não basta.
A maioria dos soldados eram especializados em reconhecimento e infiltração, já que foram enviados para resgatar os reféns se pudessem encontrar a chance. Portanto, careciam muito de combate direto, ainda mais considerando que teriam que atravessar uma ponte estreita enquanto lutavam. O rei da Tribo Planície também parecia concordar com esse ponto, pois ele não disse mais nada e soltou um suspiro.
— Devemos recuar por ora. Vamos reunir formalmente as nossas tropas e atacar a Tribo do Ferro juntos — falou Retree. Todos concordaram com ele.
— Peço desculpas pela interrupção — disse Zich —, mas se quiserem atacar, devem ir o mais rápido possível.
— Hmm?
— O poder que eles estavam tentando conquistar despertou.
Enquanto escapava, ele teve a chance de olhar para dentro da porta. No meio de um fogo ardente, em vez de folhas verdes, uma enorme árvore com folhas vermelhas flamejantes estava no meio. Com certeza era o que a Tribo do Ferro tanto buscavam.