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Damn Reincarnation – Capítulo 228

Cânion (1)

Muita coisa mudou quando eles entraram em Lehainjar. Em primeiro lugar, o clima estava horrível. Não estava nevando eternamente no campo de neve, embora mais do que frequentemente, mas havia momentos em que o sol enviava seus raios quentes. Mas era muito difícil até ver o sol em Lehainjar. Claro, o sol estaria ocupado durante o dia em algum lugar alto no céu, mas a nevasca insana tornava impossível até mesmo distinguir a cor do céu. Com o fato de estar nevando sem parar, era difícil pensar no interminável cristal branco como algo diferente de simples lixo.

Não apenas nevava, também. Ocasionalmente, ou melhor, com bastante frequência, pedaços de gelo maiores que seixos, mas menores que pedras, caiam do céu, e esses pedaços eram duros o suficiente para quebrar a cabeça de um homem normal com um único golpe.

— O que há de errado com essa montanha? É como se Sienna tivesse lançado um feitiço sobre ela. — Resmungou Eugene enquanto olhava para o ataque de neve e gelo.

Sienna sempre foi a definição de toda força, sem cérebro, então ela sempre causava desastres naturais antes de uma batalha em grande escala. Entre os muitos feitiços em seu repertório, Sienna sempre favorecia conjurar tempestades de neve assassinas e granizo sobre uma grande área.

É claro que a neve e o granizo de Lehainjar não eram páreo para a nevasca de Sienna, e certamente não eram fortes o suficiente para quebrar o crânio ou os ossos de Eugene, mesmo que ele ficasse ao ar livre por vários dias. Mesmo assim, não tinha intenção de sofrer uma surra perpétua, então conjurou um feitiço ao seu redor para bloquear a neve e o granizo.

No entanto, não era natural se sentir péssimo depois de ser espancado por um longo período de tempo?

— Kieeng. Abel gritou de descontentamento. Desde que entrou em Lehainjar, Abel de repente se tornou mais obediente a Eugene. Ele entendeu claramente que o garoto o protegia da neve e do granizo.

— Está ficando mais difícil quanto mais subimos. — Comentou Kristina.

Por mais paciente que fosse, ela também se sentia bastante cansada desta montanha. Além do ataque de Noir Giabella, ou melhor, da saudação travessa, eles não encontraram nenhuma dificuldade. A maioria dos monstros os evitava devido à presença de Eugene, e a nevasca também era suportável.

Mas Lehainjar era diferente. Embora a montanha estivesse conectada ao campo de neve, parecia uma área desolada completamente separada do campo de neve. Era a tal ponto que a Floresta Samar parecia um bom lugar para passear comparada a ali.

Além disso, os monstros da montanha eram destemidos e ferozes. Mesmo sem Eugene esconder sua presença, os monstros avançavam, trazendo suas presas e garras.

[Esta é a parte mais setentrional do continente, afinal de contas.] comentou Anise.

O vasto campo de neve que cruzavam ficava no extremo norte do Reino Ruhr, e Lehainjar era uma montanha nevada que se erguia no extremo norte do campo de neve. Esta era a fronteira de Ruhr.

—A Tribo Bayar protege o fim do continente.

Moron dizia essas coisas com uma expressão orgulhosa sempre que falava sobre sua casa.

—Os monstros e bestas demoníacas do reino demoníaco são ferozes, mas os monstros que vivem no extremo norte do continente, que é protegido por nossa tribo, são igualmente ferozes. Eu caço esses monstros desde criança, então as bestas demoníacas e monstros aqui parecem ovelhas gentis.

—Besteira. Você quase morreu da última vez quando estava cercado por bestas demoníacas.

—Mesmo ovelhas mansas podem matar um homem se centenas se reunirem e o cercarem.

—Por que uma ovelha gentil iria querer matar alguém em primeiro lugar?

Moron manteve a boca fechada por horas depois dessa pergunta.

—O nome da terra guardada pela Tribo Bayar é Lehain. É a minha casa e, por mais terrível que seja, também sinto falta dela. Subindo mais ao norte de Lehain, você encontrará uma cordilheira de neve e gelo alta o suficiente para perfurar o céu, Lehainjar. Lehain significa norte na linguagem do campo de neve, e Jar significa montanha. Em outras palavras, Lehainjar significa a montanha do norte em nosso idioma.

—Bem…. Existe uma razão para você ser tão arrogante ao explicar o nome…?

—Bayar significa coragem na linguagem dos campos de neve. Portanto, um guerreiro Bayar significa um guerreiro corajoso. Eu sou Moron de Bayar, o Corajoso Moron.

—Certo….

—Mas nem Lehain nem Lehainjar podem ser chamadas de verdadeiro fim do mundo. Além de Lehainjar está Raguyaran. Uma terra desolada vazia, uma terra que não deve ser atravessada, o fim do mundo. A Tribo Bayar reside em Lehain e Lehainjar para impedir que alguém cruze para Raguyaran. Bem como para proteger qualquer coisa de cruzar de Raguyaran.

—O que você quer dizer com isso?

—Existe uma velha lenda em Bayar. Talvez seja apenas uma história para assustar as crianças. Ouvi essas histórias de minha mãe e meu pai quando eu era jovem. No meio da noite, os Nur surgem em Raguyaran. Eles percorrem um amplo trecho de terra e cruzam para Lehainjar. Qualquer criança que se recusasse a dormir seria devorada pelos Nur…

—O que é Nur?

—Apenas um monstro. Eu acabei de te dizer, não disse? É uma velha lenda, uma história para assustar qualquer criança mal comportada. Eu não era mais uma criança desde muito cedo e, como guerreiro Bayar, era corajoso. Muito corajoso mesmo. Então, para provar minha coragem, já cruzei Lehainjar antes.

—Então, você conseguiu ver Raguyaran.

—Era uma terra vasta, um lugar onde o céu era furioso. Não havia sol, nem lua, nem estrelas. O céu estava nublado e sujo, como neve pisoteada por pés enlameados. Era assim até onde os olhos podiam ver. De pé no pico mais alto da montanha de Lehainjar, pude ver o amplo mar no final de Raguyaran. Era um mar congelado. Não havia Nur. Na verdade, não havia uma única alma viva naquela terra. Era um lugar incapaz de abrigar qualquer vida.

Trezentos anos atrás, Hamel e Moron haviam compartilhado uma conversa dessas perto da fogueira, e quando Moron falava de Bayar e do campo de neve, seus olhos brilhavam como os de uma criança. Esses olhos brilhantes e claros não combinavam em nada com a grande figura de Moron, mas na época Hamel ouviu sua história sem zombar.

—Mas em vez de me contar essas histórias, você pode me levar lá um dia, certo?

—Quer ir ao campo de neve comigo?

—Não sei quando essa maldita guerra vai acabar, se é que vai acabar, mas quando acabar… Bem, vou ficar entediado e relaxado de várias maneiras, então vagar por novos lugares não seria ruim.

—Hamel, se você for ao campo de neve comigo, eu o ajudarei a ficar com a segunda guerreira mais bonita de nossa tribo.

—O que você está dizendo, seu idiota?

—Sienna, não se preocupe. Se desejar, vou garantir que você fique com o segundo guerreiro mais corajoso de nossa tribo…

—Pare com suas bobagens.

—Mas por que o segundo melhor?

—Você está fazendo a pergunta mais óbvia. É porque sou o guerreiro mais corajoso da tribo Bayar. Você quer se casar comigo, Sienna?

—Vá se matar.

—Eu sabia que você não iria gostar. E a guerreira mais bonita da minha tribo está fadada a se juntar a mim. Então, Hamel, vou deixar você ficar com a segunda guerreira mais bonita…

—Vaza daqui!

Eugene lembrou como Sienna uivou para Moron quando ele olhou para a montanha alta e nevada. Lehainjar era o porteiro de Raguyaran. Era alto e largo. Embora Eugene estivesse escalando a montanha sob a orientação de Abel, ele não sabia exatamente quanto tempo ainda teria que escalar para chegar ao Grande Cânion do Martelo.

— Au, au.

Abel de repente parou. Depois de farejar ao redor, ele olhou para a nevasca com as orelhas pontudas. No entanto, não olhou ou emitiu gritos ameaçadores como quando sentiu um monstro. Eugene seguiu o exemplo e parou no lugar sem passar por Abel. Não foi até Kristina, que seguia de perto atrás dos dois.

A luz veio dos Patrulheiros de Lehainjar. Eles usavam casacos grossos de inverno e seguravam lanternas mágicas que emitiam um brilho laranja em suas mãos. Era bastante perceptível mesmo à distância, mas sua grande estatura ficou ainda mais clara quando se aproximaram. Os três guardas pararam a certa distância de Eugene e dos outros. Cada um deles tinha bem mais de dois metros de altura.

— Abel. — Foi o patrulheiro na frente quem gritou. Seus olhos brilharam em reconhecimento por trás de seus óculos grossos. O patrulheiro olhou para o rabo abanando de Abel e Eugene antes de perguntar. — Lionheart?

— Eu sou Eugene Lionheart.

— Eu sou Kristina Rogeris.

Os dois se apresentaram.

— Por que estão com Abel? — O patrulheiro perguntou.

Sua voz era rouca e indistinta. Ele parecia proficiente em ouvir e falar a língua comum, mas sua pronúncia não era totalmente precisa. Era difícil distinguir seus rostos por causa de suas roupas grossas, chapéus e óculos de proteção, mas Eugene presumiu que fossem descendentes da tribo Bayar.

— Sua Majestade, o Rei de Ruhr, nos permitiu pegar Abel emprestado. Ele disse que o lobo nos mostraria o caminho para Lehain. — Explicou Eugene.

— Não é nesta montanha que acontecerá a Marcha dos Cavaleiros. Então, por favor, desça. — Respondeu o patrulheiro.

— Sua Majestade, o Rei, sugeriu que fôssemos ao Grande Cânion do Martelo de Lehainjar. Eu vim aqui seguindo Abel como Sua Majestade desejou, então eu realmente terei que descer de volta? — Perguntou Eugene.

Em vez de responder imediatamente, os guardas trocaram olhares. Finalmente, o chefe dos patrulheiros respondeu após um momento: — Permitiremos sua passagem se Sua Majestade deu permissão, mas saiba que vocês dois podem estar em perigo.

— Viemos até aqui só nós dois, mas não senti nenhum perigo. — Disse Eugene.

— O Grande Cânion do Martelo é a fronteira de Lehainjar. Quanto mais perto você chegar, mais perigoso ele se tornará. — Explicou o patrulheiro.

— Existem mais monstros e eles se tornarão mais ferozes? Ou o clima fica ainda pior do que agora? — Perguntou Eugene.

— Não. Os Nur aparecem no Grande Cânion do Martelo. — Disse o patrulheiro. Nur – era o monstro de que Moron falou trezentos anos atrás.

Quando Eugene assumiu uma expressão curiosa, o ranger continuou.

— O Nur é um monstro, mas é diferente de outros monstros. Também não é uma besta demoníaca. Tenho certeza de que você vai sentir quando o ver, mas explicar com palavras é impossível.

— O que isso significa? — Eugene perguntou surpreso.

— Eu disse que era impossível explicar com palavras. Se você não tem medo dos Nur, continue seguindo Abel montanha acima. Se vocês dois insistirem em escalar a montanha com a permissão de Sua Majestade, os patrulheiros não bloquearão seu caminho. No entanto, nós não poderemos guiar seu caminho. Se você não gosta do perigo, por favor, volte por onde veio. — O patrulheiro deixou as coisas bem claras.

Eles não tentaram bloquear ativamente o caminho de Eugene, talvez graças à permissão do rei. No entanto, também não permitiram uma passagem fácil para eles. Era porque Eugene pertencia à família Lionheart e Kristina Rogeris era a Candidata a Santa do Império Sagrado. Os dois vieram para o Grande Cânion do Martelo por recomendação do Rei de Ruhr, e se eles morressem a caminho do Grande Cânion do Martelo, a responsabilidade por sua morte recairia sobre o Rei de Ruhr.

— Já percorremos todo esse caminho. — Disse Eugene com um sorriso malicioso. Ele deu um passo à frente. Não estava pensando em nenhuma questão política, real ou potencial. Ele poderia simplesmente subir e depois descer. O Rei Besta Aman Ruhr, o Rei de Ruhr, disse que a lenda da família real era transmitida no Grande Cânion do Martelo. Ele o rotulou como o lugar onde os descendentes da família real renasciam como guerreiros.

E os Nur?

Moron havia dito que tal coisa não existia trezentos anos atrás. A lenda da família real se referia aos Nur? O Reino de Ruhr foi fundado por Moron. Isso não significa que a lenda do Grande Cânion do Martelo também se originou de Moron?

— Por favor, tomem cuidado. — Avisaram os patrulheiros depois de se afastarem ao verem que Eugene não ia parar.

— Nur? — Perguntou Kristina.

— Aparentemente, é um monstro que vive nesta montanha. Moron me contou sobre isso trezentos anos atrás. — Respondeu Eugene.

— A Senhorita Anise disse que nunca ouviu falar disso. — Disse Kristina.

— Bem, tenho certeza que não. Quando Moron me contou sobre os Nur, Anise estava bebendo no canto como uma louca, dizendo que não era interessante. — Disse Eugene.

[Bem, não era mesmo interessante. O que mais esperava?] Resmungou Anise. Kristina involuntariamente começou a rir em resposta.

Após o encontro com os patrulheiros, os dois escalaram Lehainjar por dois dias inteiros. Eles nunca desaceleraram e nunca descansaram, exceto quando era necessário. O único obstáculo era o clima esquisito da montanha, sua inclinação e a velocidade com que Abel podia viajar. Abel foi relativamente rápido no campo de neve, mas desacelerou significativamente depois de entrar em Lehainjar e escalar a montanha. Ele continuava a cheirar enquanto olhava cautelosamente ao redor e mudava de direção enquanto encontrava o caminho.

Lehainjar era tão grande quanto a montanha Uklas, onde ficava o Castelo dos Leões Negros. Portanto, era inevitável que levasse algum tempo para localizar o Grande Cânion do Martelo. Os patrulheiros alertaram sobre os perigos do local, mas Eugene não experienciou nada nos últimos dois dias que explicasse o aviso. De fato, o número de monstros e sua ferocidade aumentaram, mas Eugene não achou que valia a pena avisar.

Na segunda noite, armaram uma grande tenda e uma barreira para bloquear a nevasca. A barraca era a mesma que eles usavam desde a jornada pelo campo de neve. Assim como fizeram em Samar, Eugene e Kristina se revezaram na vigia. A única diferença era que o tempo que passavam na vigia não era tão monótono quanto antes, graças à presença de Mer e Anise. Mer entretinha Eugene enquanto ele assumia a vigia, e Anise recontava histórias de trezentos anos atrás durante a vez de Kristina.

— As fontes termais em Lehain. Vou com você, Sir Eugene? — Perguntou Mer.

— Você está louca? — Perguntou Eugene.

— Eu trouxe meu maiô. Sir Eugene, você não tem sua roupa de banho?

— Não é uma questão de eu ter ou não. Não seremos os únicos a entrar.

— Você está dizendo que está envergonhado por causa do que os outros podem pensar? Estou completamente bem com isso. Sou uma familiar. Você esqueceu?

— Pare de falar besteiras. Você vai com Kristina ou pode entrar com Ciel.

— Mas e se você sentir minha falta? Não é? Você pode querer me ver.

— Não vou querer.

— Então o que você acha da Senhorita Sienna? Um banho misto… Com a Senhorita Sienna… Maiôs… Hehe…

Eugene não se incomodou em responder. Ele não queria imaginar um banho misto com Sienna, nem Sienna de maiô. Mas a imagem continuou circulando em sua cabeça…

[Kristina, você ouviu isso? Aquela familiar desagradável está tentando seduzir Hamel.] Anise disse irritada.

“Irmã…! Eu preciso dormir.”

[Por que você sempre mente assim? Kristina, eu posso sentir claramente uma chama maligna queimando dentro do seu coração, como chamas vindo direto do inferno.]

“Irmã! Sei que já passamos por muita coisa, mas ainda sou uma sacerdotisa, uma adoradora da Luz! Como você pode dizer que as chamas do inferno estão queimando no fundo do meu coração? Mesmo que seja você, irmã, por favor, evite dizer essas coisas.”

[Oh, que coisa… Não estou falando com a Santa da Luz. Estou falando com Kristina Rogeris. Por que você continua tentando esconder isso, Kristina Rogeris? A única que te vê agora é… Hehe, sou só eu.]

“Uah…” A exasperação nos pensamentos de Kristina era evidente.

[Então você não precisa se esconder ou mentir para si mesma… Uhehehe…] Anise continuou com suas provocações.

— Kyaaaaahk! — Kristina de repente começou a gritar enquanto cobria os ouvidos. As memórias dos fogos de artifício de repente vieram à tona. A provocação maldosa de Anise estava estragando um momento milagroso e sonhador. Uma lembrança tão linda e doce quanto um sonho, uma lembrança que ela queria guardar para o resto de sua vida, estava sendo distorcida por Anise…

— Isso me assustou.

— Por que você está gritando de repente?

Ambos Eugene e Mer estavam olhando para ela após o grito repentino. Kristina ficou de pé de um salto, abriu e fechou os lábios, então deu um tapa em suas bochechas ardentes com ambas as mãos.

— Ah… Tive um pesadelo. — Mentiu ela.

— Um pesadelo? — Perguntou Eugene.

— Sim. Um demônio sinistro e perverso apareceu em meu sonho e sussurrou em meus ouvidos. — Disse ela.

— Pode ser… Foi Noir Giabella? Aquela vadia velha e suja cavou no seu sonho? — Perguntou Eugene.

— Sim… Não, o quê? N-Não, não é isso. Não era a Rainha dos Demônios da Noite. Era… Apenas um demônio… Sim, apenas um demônio. — Respondeu Kristina.

[Eu fui a mais brilhante Cavaleira da Luz na história de Yuras. Como pode me chamar de demônio…? Isso é um sacrilégio. Blasfêmia!] Resmungou Anise, mas Kristina a ignorou.

Kristina acalmou seu coração trêmulo e voltou seu olhar para fora da tenda. O chão estava cheio de cadáveres de monstros que ousaram se aproximar durante a noite e ao amanhecer. Cerca de metade deles teve a cabeça esmagada pelo mangual de Kristina, enquanto a outra metade foi mutilada pela magia de Eugene.

— Por que não vamos logo? — Disse Kristina depois de uma pausa.

— Você dormiu o suficiente? — Perguntou Eugene.

— O sussurro do diabo dissipou todo o meu cansaço. — Kristina respondeu com um suspiro.

Ela abriu a aba da tenda. O interior dela estava escuro o suficiente para dormir confortavelmente, mas o mesmo não acontecia do lado de fora. Embora tudo parecesse obscuro e nebuloso por causa da intensa nevasca, o sol permanecia imóvel no alto do céu. Era uma visão familiar. Estranhamente, o sol nunca se pôs depois que eles entraram em Lehainjar.

— Se você diz. — Disse Eugene. Abel também se levantou do chão enquanto abanava o rabo. Eugene deu um tapinha em sua cabeça e começou a desmontar a barraca.

Eles não precisavam mais correr, já que penhascos altos e escarpados eram visíveis do outro lado da nevasca. A essa distância, os penhascos elevados pareciam semelhantes à cabeça de um martelo gigante.

Eugene e Kristina estavam atualmente no vale que levava aos penhascos do Grande Cânion do Martelo. Se tivessem decidido não passar a noite ali, já teriam chegado ao Cânion. No entanto, levando em conta o aviso dos patrulheiros e cuidando de suas condições, eles decidiram descansar durante a noite antes de continuar.

— Estou bem em continuar, mas por que não tomamos café da manhã primeiro? É você que vai fazer hoje. — Disse Eugene.

— Para ser precisa, não sou eu, mas a Senhorita Anise. — Respondeu Kristina.

— Não quero aquele mingau que a Anise faz. É como ração para suínos. Não pode ser você em vez dela…? — Perguntou Eugene.

— A Senhorita Anise me pediu para lhe dizer para não se precipitar. Seu mingau é uma dieta completa focada na absorção eficiente e recuperação de resistência. E por que você está dizendo que não quer comer a comida dela quando comeu muito bem em sua vida passada? — Disse Kristina.

— Bem… É porque não tínhamos outra escolha. E havia Sienna, que cozinhava ainda pior do que Anise… — Murmurou Eugene.

— A comida da Senhorita Sienna é excelente. — Disse Kristina.

— Você nunca experimentou. — Disse Eugene.

— Não tinha outro jeito. E você acabou de dizer, Sir Eugene. Naquela época, não havia suprimento suficiente para refeições adequadas. A Senhorita Sienna foi quem teve que fazer uma refeição com ingredientes tão terríveis. Isso significa…! Que talvez as habilidades culinárias da Senhorita Sienna não fossem tão ruins, certo? — Disse Kristina.

— É… Não. A Sienna era a pior cozinheira de todos nós. Mas logo depois vinha a Anise. Até o Moron era melhor do que aquelas duas em preparar algo comestível. O melhor cozinheiro era Vermouth. — Disse Eugene.

— A Senhorita Anise diz que o Sir Vermouth era melhor em tudo do que Sir Hamel. — Disse Kristina.

— Troque com Anise agora mesmo. Eu vou bater nela uma vez. Posso? — Perguntou Eugene.

— Não, você não pode. Este é o meu corpo. — Respondeu Kristina com uma expressão firme.

Eventualmente, a preparação do café da manhã começou. No entanto, não era Anise quem estava cozinhando, mas sim Kristina. Anise deu instruções apenas dentro de sua cabeça, enquanto Kristina obedecia e usava as mãos.

[Vamos adicionar vinho.]

“O quê?”

[Você não sabe? O vinho ajuda a eliminar qualquer cheiro forte de carne e realça o sabor do prato.]

“Mas isso é mingau…”

[Se você adicionar vinho tinto, ele também realça a cor do mingau.]

Ingredientes não faltavam, graças ao preparo minucioso de Eugene. Kristina derramou vinho na panela fervente, conforme as instruções de Anise, e enquanto o horrendo café da manhã estava sendo preparado, Eugene limpou os corpos nas proximidades. Embora tenha nevado a noite toda, havia monstros demais, e eles eram tão grandes que os cadáveres não estavam completamente cobertos de branco.

Eugene não tinha intenção de olhar para uma cena tão horrível enquanto comia. Afinal, ele estava preso a comer algo que era menos do que desejável, para dizer o mínimo. Claro, não era grande coisa trezentos anos atrás, mas… Não havia razão para fazer o mesmo que no passado, quando viviam em uma era diferente.

Eugene de repente congelou enquanto jogava os corpos dos monstros. Kristina também enrijeceu no processo de esvaziar o conteúdo de uma garrafa inteira de vinho no mingau, observando o vinho colorir os ingredientes. Abel, que estava pairando ao redor dela, enrolou-se em uma bola e prendeu a respiração. Mer ficou pior. Ela não simplesmente enrijeceu, mas colapsou no local. Como familiar, Mer era muito sensível a qualquer mudança na mana.

Eugene imediatamente a abraçou e a levou para dentro de seu manto. Não importava o que acontecesse ali, ela ficaria bem no espaço isolado dentro do manto. Mer finalmente conseguiu respirar depois de entrar no Manto das Trevas.

[S-S-Senhor Eugene.]

[Hamel.]

Mer gritou em pânico, e Tempest falou de dentro de Winith também. Antes que percebesse, Kristina estava ao seu lado. Da mesma forma, ela estava olhando para Eugene com uma expressão pálida.

— Hamel. — Gritou ela, mas não era Kristina. Semelhante a Mer, Kristina havia perdido a consciência, transferindo o controle do corpo para Anise.

— Pois é. — Eugene assentiu.

Fwoosh!

Oito asas se desdobraram nas costas de Anise, e Eugene utilizou a Fórmula da Chama Branca para se vestir com chamas roxas. Os dois não hesitaram enquanto corriam para fora da barreira. Não estava mais nevando, anormalmente. Simplesmente não havia neve caindo do céu, como se o fenômeno tivesse sido interrompido artificialmente. No entanto, o mundo ainda parecia tão nebuloso quanto antes.

Os dois correram e voaram em direção ao seu destino, mas a distância até o alvo não parecia mudar em nada. Eugene não estava familiarizado com as coisas que estava sentindo agora. Ele sentiu nojo e medo… Assim como outras emoções negativas semelhantes. Ele instintivamente sentiu repulsa pelo Grande Cânion do Martelo. Ele não queria chegar perto daquilo. Na verdade, queria ficar o mais longe possível dele. No entanto, embora fosse um sentimento desconhecido, não era exatamente a primeira vez que experimentava tais emoções.

Ele tinha experimentado isso uma vez, trezentos anos atrás.

“Por quê?”

Eugene e Anise compartilhavam a mesma pergunta. Eles haviam experimentado o mesmo medo irresistível uma vez antes, um medo que era visto, mas não podia ser compreendido. Pertencia a um de seus alvos de eliminação, uma existência além da compreensão.

“Por que aqui?”

O Rei Demônio da Destruição.

A existência misteriosa e inexplicável existia em Helmuth trezentos anos atrás. Como era o caso dos outros Reis Demônios, o Rei Demônio da Destruição nunca havia deixado Helmuth e raramente se mostrava.

A primeira vez que sua existência foi testemunhada foi em Ravesta, onde a maioria dos dragões foi morta. Era um lugar localizado longe da capital de Helmuth, Pandemonium, e também do território do Rei Demônio da Destruição. Após a primeira localização, o Rei Demônio da Destruição começou a vagar por Helmuth como um desastre natural, e quaisquer exércitos infelizes o suficiente para ficar no caminho de sua ruína foram eliminados sem exceção. Trezentos anos atrás, quando Hamel e seus companheiros viram o Rei Demônio da Destruição de longe, cinquenta mil soldados pertencentes a Nahama desapareceram sem deixar um único corpo.

Era exatamente como Vermouth havia avisado. — Não lute contra o Rei Demônio da Destruição. Era tal existência, uma presença impossível de combater. Sim, era verdade que todos os Reis Demônios eram como desastres naturais, mas o Rei Demônio da Destruição era uma destruição viva em si. O único consolo era que ele não vagava mais por Helmuth depois da guerra, mas voltou para Ravesta e permaneceu em silêncio por centenas de anos.

Eugene não conseguia entender. Ali não era Helmuth. Em vez disso, era Lehainjar, uma montanha que funcionava como uma barreira bloqueando a passagem para Raguyaran, que era o fim do mundo. Então, que razão o Rei Demônio da Destruição teve para deixar seu território, Ravesta, depois de centenas de anos de silêncio apenas para chegar até Lehainjar?

“Não, isso é diferente…”

Eugene contemplou a situação mais uma vez. Não era como se ele pudesse ver o Rei Demônio da Destruição com seus olhos, apenas foi atingido pelo mesmo, ou melhor, um sentimento semelhante ao de quando encontrou o Rei Demônio da Destruição no passado.

“Isso não é o mesmo. Apenas olhe para mim agora; mesmo que eu sinta isso, não estou fugindo. Estou indo em direção a isso. Não é o Rei Demônio da Destruição à frente”, Eugene supôs.

Então o que era? A primeira explicação que lhe veio à mente foi… Oberon, um dos quatro reis celestiais da Fúria. Após a morte do Rei Demônio da Fúria, Oberon se submeteu ao Rei Demônio da Destruição. No final, ele foi morto por seu filho, mas Jagon ainda residia em Ravesta, o território do Rei Demônio da Destruição.

“Um lacaio da Destruição? É por isso que me sinto assim? Não é o Rei Demônio da Destruição, mas alguém que recebeu seu poder…”

Ele não sabia dizer. Eugene não poderia fazer um julgamento preciso, então decidiu renunciar a mais análises até ver o que era responsável por fazê-lo sentir tais coisas. Anise chegou à mesma conclusão. Nenhum deles sentiu uma vontade irresistível de fugir como fizeram trezentos anos atrás.

Algo se movia no penhasco do Grande Cânion do Martelo.

— Jagon… — Murmurou Eugene depois de parar. Parecia que não estava chegando perto, mas antes que percebesse, os dois já estavam no fundo do penhasco. — Não, não parece ele…

O pai de Jagon, o Depravado Oberon, tinha sido um urso, então Jagon também seria um urso. Mas o que estava no topo do penhasco não era um urso. Em vez disso, era um… Macaco? Era um macaco ou um gorila do tamanho de um gigante. Embora chifres cruéis se projetassem de sua cabeça, a criatura definitivamente se parecia com um macaco. Era um enorme monstro de duas pernas e dois braços com pelo branco. Não, era uma besta demoníaca…? A aura sinistra que emanava da criatura era semelhante a uma besta demoníaca, mas não era exatamente a mesma. Além disso, a sensação repulsiva que atingiu o coração de Eugene era diferente das bestas demoníacas.

~

—O Nur é um monstro, mas é diferente de outros monstros. Também não é uma besta demoníaca. Tenho certeza de que você vai sentir quando vir, mas explicar com palavras é impossível.

~

Eugene lembrou-se do aviso do patrulheiro de dois dias atrás.

— Nur? — Murmurou Eugene enquanto olhava para o monstro. Ele viu olhos horríveis olhando para ele. A boca da criatura se abriu amplamente para dar lugar a uma língua grotescamente longa. Saliva negra escorria de seus dentes afiados e língua escorregadia.

— Krrr.

A criatura abaixou sua postura como se estivesse se preparando para pular do penhasco. Eugene colocou a mão dentro do manto para pegar uma arma.

Fwoosh.

Mas antes que Eugene pudesse sacar uma arma, a cabeça do monstro caiu no chão. A neve começou a cair mais uma vez, e na rajada de branco, um gigante pendurou um machado limpo e brilhante sobre seu ombro.

Eugene olhou para o penhasco, incapaz de dizer qualquer coisa. Ele podia ver alguém pisando na cabeça decapitada.

— Moron.

Eugene falou o nome de seu amigo de trezentos anos atrás.

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Deus Maligno
Membro
Deus Maligno
26 dias atrás

Nenhum desses porra é humano mais, como um humano vive trezentos anos? Olha os deuses mano..

Flavin
Membro
Flavin
1 mês atrás

Kakakakakakakakakak como ninguém comentou nessa obra prima de capítulo!?????? Meu irmão que entrada foda

Giovanne
Membro
Giovanne
1 mês atrás

Caralho… uma entrada digna de um rei se é loko

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