— Hum…
No dia em que se preparava para deixar a pousada onde estava hospedado nos últimos três dias, Eugene teve que piscar por alguns instantes ao ver como Kristina havia chegado à sua porta.
Não foi uma visita inesperada. Já que Eugene decidiu deixar Yuras e voltar para a propriedade dos Lionheart hoje, ele disse a Kristina para ir a seus aposentos antes do meio-dia.
— Mas você não está com muita bagagem?
Depois de ponderar o que deveria dizer por alguns momentos, Eugene finalmente cuspiu essas palavras.
Ele não estava apenas dizendo isso sem motivo. A bagagem de Kristina realmente era bastante. Ela tinha uma, duas, três… Quatro malas de viagem do tamanho dela.
Eugene soltou um suspiro e balançou a cabeça.
— Por que você arrumou tanta porcaria?
— São todas as coisas de que preciso. — Respondeu Kristina, séria.
Eugene olhou para uma fenda aberta em uma de suas malas. Pela abertura, ele viu vestes clericais e itens diversos que pareciam ter sido amontoados aleatoriamente. Não parecia que ela havia comprado nada novo; em vez disso, parecia ter empacotado tudo o que já estava usando.
— Quando você teve tempo de empacotar tudo? — Eugene perguntou em descrença.
— Dois dias atrás, contratei alguém para ir à Catedral de Tressia, empacotar todos os meus pertences pessoais e recuperá-los para mim. — Revelou Kristina.
Eugene argumentou:
— Havia realmente necessidade de você levar todos os itens que usava lá com você? Pode comprar novos itens quando chegarmos lá—
— Não quero mais dever nenhum favor a você, Sir Eugene. — Respondeu Kristina com uma expressão determinada. — A partir de hoje, serei completamente independente de Yuras. Anteriormente, eu usava o cartão do Bispo emitido pela Santa Sé e o cartão de Sergio Rogeris, mas a partir de agora não farei mais uso deles.
— Oh, por que não?
— Porque se eu continuar dependendo financeiramente deles, isso não seria a verdadeira independência. Em outras palavras, estou atualmente sem um tostão e sem emprego.
— Bem, tudo bem… Tanto o clã Lionheart quanto eu temos muito dinheiro, então se você precisar de alguma coisa—
— Sir Eugene. — Kristina o interrompeu mais uma vez enquanto olhava para Eugene com os olhos semicerrados. — Eu não disse isso agora? Não quero mais ter dívidas com você, Sir Eugene. Como tal, preciso levar toda essa bagagem comigo.
— Nesse caso, isso significa que você não quer um quarto na mansão dos Lionheart? — Eugene brincou.
— Sir Eugene, se quiser que eu acampe no jardim e me cubra com o orvalho frio da manhã, terei prazer em fazê-lo. — Disse Kristina com confiança.
No final, isso não significa que ela queria um quarto?
— Toda essa bagagem que você trouxe não são coisas que foram compradas com os cartões do Bispo e do Rogeris? — Eugene apontou.
Kristina argumentou de volta.
— Estritamente falando, em vez de serem comprados por mim, a maioria desses itens foi entregue a mim. E a julgar pelo que passei no passado, já paguei mais do que isso.
— Tudo bem, tudo bem. — Concedeu Eugene casualmente enquanto abria o manto.
Mer, que estava sentada na abertura, fez beicinho ao ver a bagagem de Kristina.
Como não havia como evitar, Mer decidiu aceitar. No entanto, quando considerou que esta sinistra Santa de dupla personalidade estaria entrando na mansão dos Lionheart e pairando ao lado de Eugene, Mer sentiu como se nuvens negras de cinzas estivessem emergindo do fundo de seu coração.
Mer suspirou.
— Haaah, você realmente é uma pessoa de duas caras. Por que dizer que não quer ficar mais endividada quando está aparecendo na mansão dele sem um tostão e procurando um lugar para morar?
— Eu não tenho dinheiro comigo agora, mas se eu usar minhas habilidades, posso ganhar quanto eu quiser, não? — Kristina disse desafiadoramente enquanto olhava para Mer, seus olhos ligeiramente entreabertos em diversão. — Estou ciente de que não há sacerdotes na propriedade do clã Lionheart. Embora você tenha excelentes curandeiros e um bom suprimento de poções para substituí-los, a magia de cura de um Sumo Sacerdote é um milagre que vai além dos limites da medicina e da magia comum.
— Isso… — Mer parou, incapaz de negar isso.
— Atrevo-me a dizer que não há outro sacerdote nesta era atual que seja mais habilidoso em magia de cura do que eu. Se alguém como eu está disposto a me entregar ao clã Lionheart em troca de minhas habilidades, então o Patriarca dos Lionheart definitivamente estaria disposto a pagar o preço. — Afirmou Kristina com confiança.
Mer gemeu de desânimo.
— Ughhh…
Kristina fungou:
— Embora seja verdade que estou sem um tostão no momento, não tenho intenção de agir como uma certa pessoa que usa seu corpinho como arma para implorar descaradamente por comida e doces.
— O-O que você disse? — Mer gaguejou quando chamas gêmeas se acenderam em seus olhos. — E-Eu nunca fiz algo assim. Na verdade, sempre fui útil. Embora pareça que a Senhorita Kristina não me conhece muito bem, sempre ajudei a magia de Sir Eugene—
Kristina a interrompeu.
— Eu nunca disse que foi você quem teve um comportamento tão sem vergonha, então por que está reagindo com tanta violência?
— Sir Eugene…! Eu realmente odeio essa mulher! — Mer gritou enquanto subia no peito de Eugene com uma expressão chorosa.
Eugene respirou fundo algumas vezes enquanto pensava no que poderia estar por vir em seu futuro.
Ele suspirou:
— Não briguem…
Kristina se fez de inocente.
— Nossa, que briga? Eu estava apenas respondendo às perguntas da Senhorita Mer.
Mer rapidamente tagarelou sobre ela.
— Aquela mulher olhou para mim e me chamou de parasita sem vergonha!
— Apenas tentem se dar bem… — Eugene distraidamente persuadiu enquanto dava um tapinha nas costas de Mer e guardava a bagagem de Kristina dentro de seu mato. — E quanto ao Lorde Raphael? Ele não vem se despedir de você?
— Eu implorei para ele não fazer isso. Como rumores inúteis já estão circulando, nada de bom resultaria disso se ele o fizesse. — Revelou Kristina.
Então já estava acontecendo.
— Bem, rumores começariam a voar de qualquer maneira. — Eugene disse com um encolher de ombros.
Inicialmente, no dia da festa de Anise, deveria ser anunciado que Kristina havia passado de candidata a santa para santa plena.
No entanto, Kristina rejeitou qualquer reconhecimento papal, e o Papa e o Cardeal Beshara aceitaram isso. Então, no final, Kristina Rogeris ainda era uma ‘candidata a santa’ no que dizia respeito ao mundo.
No entanto…
Nesta era atual, Kristina era a única candidata a santa em Yuras. Mesmo que ainda não tivesse sido oficialmente declarada Santa, todos os cidadãos de Yuras consideravam Kristina a Santa.
Então, para Kristina ser suspeita de deixar Yuras e jurar-se ao clã Lionheart de Kiehl, um país estrangeiro, resultaria em rumores extremamente impactantes que seriam impossíveis de esconder.
— Sim, certamente é verdade. — Kristina assentiu lentamente.
Uma carruagem que eles haviam reservado com antecedência os esperava do lado de fora da estalagem. Seu próximo destino era o portal de dobra nos arredores de Yurasia. Eles deveriam ser capazes de chegar à mansão Lionheart naquela noite, o mais tardar.
— Preparei um pretexto. — Relatou Kristina.
— Que tipo de pretexto? — Eugene perguntou.
— Posso afirmar que estou acompanhando você para tratar os elfos que estão sob a proteção dos Lionheart. — Explicou Kristina. — Muitos deles não sofrem da doença demoníaca?
Isso serviria apenas de pretexto até certo ponto. Eugene também sabia que a doença demoníaca dos elfos era incurável. Até a Santa Anise foi incapaz de purificar os elfos da Doença Demoníaca. A única coisa que poderia deter e aliviar a Doença Demoníaca era a influência espiritual da Árvore do Mundo.
Todos os tipos de preocupações começaram a surgir na mente de Eugene.
Embora isso possa parecer óbvio, Eugene ainda não informou aos Lionhearts que levaria Kristina com ele. Tentar explicar as coisas por meio de uma carta seria difícil e desajeitado, então ele estava apenas planejando levá-la com ele e colocá-la em um quarto vazio.
“Eu não acho que o Patriarca terá nenhuma reclamação, mas…”
Kristina chegou a inventar uma razão plausível para sua presença.
O problema é que isso não aconteceu apenas uma ou duas vezes.
Ele levou Laman Schulhov com ele de Nahama.
Levou mais de cem elfos de volta com ele de Samar.
Então levou Mer de volta com ele de Aroth.
E agora levaria Kristina de volta com ele de Yuras…
Gilead poderia não dizer muito sobre isso, mas Ancilla poderia apenas tentar agarrá-lo pelo colarinho.
“Não… Pensando bem, ela pode simplesmente ignorar sem qualquer protesto.”
Eugene estava bem ciente de que Ancilla era surpreendentemente humana e de coração mole.
Quando Eugene trouxe cem elfos de volta com ele de Samar sem dar-lhes qualquer aviso prévio, Ancilla ficou furiosa o suficiente para esmagar seu próprio leque em suas mãos. No entanto, no final, ainda ofereceu a floresta da propriedade por pena dos elfos.
Depois de alguns meses assim, graças às mudas da Árvore do Mundo que Eugene havia transplantado, ao invés de piorar, sua Doença Demoníaca estava dando sinais de melhora. Ainda assim, Ancilla, que desconhecia esse fato, às vezes usava suas caminhadas como desculpa para parar na vila dos elfos e perguntar a Signard sobre o estado de sua doença.
“Se dissermos a ela que Kristina veio para ajudar a tratar os elfos…”
Embora cura fosse cura, não era de qualquer pessoa que eles estavam falando; esta era a Santa do Império Sagrado, a quem Ancilla confiaria o tratamento de sua família. Como poderia Ancilla, que estava obcecada em elevar o nome Lionheart a alturas maiores, recusar tal oferta?
Ou pelo menos era o que Eugene tinha pensado até agora.
* * *
O Domínio Demoníaco…
Era assim que a terra ao norte era chamada desde os tempos antigos. Mesmo agora, a maioria das pessoas neste continente ainda o chamava de Domínio Demoníaco.
Mesmo as pessoas que viviam naquela terra não negavam o fato de que este lugar era o Domínio Demoníaco. Como o significado do nome sugeria, era ali que residiam os incontáveis demônios e Reis Demônios. No entanto, esse significado sofreu mudanças significativas em relação ao que era há centenas de anos.
Para os cidadãos humanos do Domínio Demoníaco de Helmuth, os demônios eram seus vizinhos amigáveis. Eles não caçavam e comiam humanos indiscriminadamente como diziam nas velhas histórias, nem colocavam correntes em suas almas.
O Rei Demônio não era um criminoso de guerra que procurava pisotear o mundo inteiro sob seus pés e causar um massacre em massa, mas sim um cavalheiro que era mais gentil e sábio do que o rei de qualquer país comum. O Rei Demônio ouvia os pedidos de seus cidadãos humanos, os protegia e tornava suas vidas mais ricas e felizes.
Este era o novo Domínio Demoníaco, uma terra de oportunidades. Embora o custo de aquisição da cidadania fosse bastante alto, se alguém o desejasse sinceramente, não era totalmente inacessível. Além disso, o sistema de apoio à imigração de Helmuth era muito humano e, dependendo do número de anos de trabalho com o qual você concordasse após a morte, o custo poderia ser reduzido significativamente.
Graças a isso, as pessoas que viviam nos países mais pobres do norte costumavam bater à porta do Ministério das Relações Exteriores de Helmuth, apanhadas no Sonho Helmuth.
A Cidade dos Arranha-céus, a Terra das Oportunidades, a Capital do Império de Helmuth, Pandemonium.
Os edifícios nesta cidade eram mais altos do que qualquer outra cidade no continente. Em vez de torres de castelos, a cidade estava cheia de arranha-céus com dezenas de andares. Esses altos arranha-céus que não poderiam ter sido erguidos por nenhuma força humana eram a prova da grandeza do Rei Demônio.
Entre esses arranha-céus, havia um prédio preto e elegante bem no centro de Pandemonium.
Era Babel.
Com noventa e nove andares, este edifício não era apenas o mais alto de Pandemonium, mas também o mais alto de toda Helmuth. Sem nada a esconder, Babel era o Castelo do Rei Demônio, onde residia o Rei Demônio do Encarceramento, que governava toda Helmuth pessoalmente.
— O mestre do Castelo do Dragão Demoníaco está ausente de novo desta vez?
No nonagésimo andar de Babel, a Lâmina do Encarceramento, Gavid Lindman, estava com as mãos atrás das costas enquanto olhava para baixo através das paredes de vidro do prédio. Muito abaixo, ele podia ver a floresta de prédios que, embora incomparáveis com Babel, ainda eram altos o suficiente para serem chamados de arranha-céus. Dezenas de peixes, grandes e pequenos, flutuavam entre os prédios.
Estes eram os Peixes Aéreos.
Os Peixes Aéreos que nadavam pelos céus de Pandemonium faziam parte do sistema de segurança que mantinha a taxa de criminalidade da capital sob controle perfeito. Os Peixes Aéreos eram capazes de monitorar toda a cidade de arranha-céus sem nenhum ponto cego enquanto transmitiam tudo o que observavam para o Centro de Controle de Babel.
Mesmo naquele exato momento, no Centro de Controle dezenas de andares abaixo, milhares de almas que se contraíram em trabalho pós-morte, e as centenas de demônios, que controlavam essas almas, estavam trabalhando duro para proteger a segurança da cidade cavando através as imagens de monitoramento enviadas pelos Peixes Aéreos.
A porta da espaçosa sala de reuniões se abriu quando um homem de meia-idade entrou e respondeu à pergunta de Gavid com um sorriso:
— Parece que sim. Eu gostaria que ele tivesse pelo menos enviado uma mensagem…
O homem tirou a cartola que usava da cabeça, colocou-a sobre a mesa e pousou o cajado que segurava no colo.
O cajado tinha uma cor semelhante à de sangue coagulado, e as veias que o cobriam se contorciam como se estivessem vivas.
Esse cajado se chamava Vladmir e, junto com o Akasha da Sábia Sienna, era um dos dois únicos cajados neste continente que havia sido feito com um Coração de Dragão.
Este homem era o único dos Três Magos do Encarceramento que residia em Helmuth, um mago negro com o título de Conde, Edmond Codreth. Ele acariciou o bigode enquanto sorria.
— Vossa Graça, somos os únicos dois membros da Realeza presentes nesta reunião também? Se for assim, não podemos nem chamar de reunião de verdade… — Edmond suspirou.
— Na verdade, não havia nenhuma necessidade real de convocar uma reunião. — Gavid o corrigiu. — Minha única intenção era discutir casualmente nossas opiniões sobre a situação atual. O Povo Demônio e os humanos têm sentidos de tempo muito diferentes, então, se não tivermos compromissos como este, pode levar décadas até que todos nos vejamos novamente.
Edmond deu de ombros.
— Se forem apenas algumas décadas, tudo bem para mim também. Talvez até mais do que isso ainda seja aceitável.
Gavid perguntou:
— Você ainda está procurando a vida eterna? Já deve estar perto disso.
— Haha… A vida eterna que obtive atualmente nada mais é do que estender minha própria expectativa de vida humana. — Disse Edmond com desdém. — Isso pode realmente ser comparado ao povo demônio, que são seres verdadeiramente eternos?
— Não é tão diferente nem para nós. Assim como os humanos fortes podem viver por muito tempo, os demônios fortes vivem mais do que o resto. — Gavid murmurou suavemente, mas Edmond apenas sorriu abertamente sem dizer nada em resposta.
Gavid estava bem ciente de suas razões para isso. Os Três Magos do Encarceramento, os três magos negros que assinaram um contrato pessoal com o Rei Demônio, eram todos excêntricos… Não, eram todas pessoas que, embora humanas, possuíam uma insanidade que era desumana.
O Mestre da Torre Mágica Negra de Aroth, Balzac Ludbeth, queria ver o pico de toda a magia. Ele queria ir muito além dos limites do que os humanos conseguiram alcançar e estava obcecado com o pico da magia que qualquer humano certamente seria incapaz de tocar — não, a questão era se tal pico existia em primeiro lugar.
O proprietário de Vladmir, Edmond Codreth, queria melhorar seu gênero como humano e se tornar uma espécie totalmente nova. Ele aspirava a se tornar uma nova raça de humanos abandonando tudo o que o tornava humano, como seus pensamentos e comportamentos. Ao refinar seu poder demoníaco até os limites extremos do que a mana poderia alcançar, ele planejava passar por uma metamorfose e se tornar uma nova raça de humanos.
Quanto à Mestra da Masmorra do Deserto, Amelia Merwin…
— Hm. — Os olhos de Gavid, que estavam completamente imóveis, de repente tremeram.
Ele olhou para um objeto no céu noturno que estava voando em direção a eles à distância.
Por um momento, Gavid se perguntou se estava tendo alucinações. Ele até suspeitou se poderia estar sonhando ou não agora. Esta foi a primeira vez que ele ficou tão surpreso desde a última vez que foi repelido pela fúria de Hamel, o Tolo, trezentos anos atrás.
— Edmond. — Gritou Gavid.
— Sim, Vossa Graça? — Edmond respondeu.
— Venha aqui… E dê uma olhada nisso. — Instruiu Gavid. — O que diabos isso parece para você?
Edmond inclinou a cabeça para o lado em curiosidade com a convocação repentina. Ele se levantou da cadeira e caminhou até o lado de Gavid. Então ficou lá com o rosto pressionado contra a parede de vidro enquanto olhava para o céu noturno distante.
Fosse o que fosse, era rápido. Mesmo neste exato momento, o objeto voador estava se aproximando rapidamente deles. Quanto mais perto chegava, melhor era a visão que eles tinham da aparência do objeto voador.
Edmond se engasgou de surpresa e deu alguns passos para trás. Ele cometeu um erro com o feitiço? Não, não poderia ser. Edmond balançou a cabeça, esfregou os olhos e olhou pela janela mais uma vez. Agora o objeto voador estava tão perto que ele nem precisava usar um feitiço para vê-lo com muita clareza.
Mas isso…
Era uma cabeça gigantesca.
De que outra forma a descrever? Feito de metais caros e raros, como Oricalco, Mithril e Adamante, uma maravilha da engenharia mágica que foi transformada em uma aeronave voadora… Não, uma cabeça voadora. Com essa cabeça sozinha, você teria dinheiro suficiente para comprar dez prédios em Helmuth e ainda sobraria.
— Parece… Ser uma cabeça. — Edmond engasgou em descrença.
Não era apenas uma cabeça simples. Cabelos encaracolados brotavam da cabeça, contorcendo-se como tentáculos e batendo como asas. Um chifre vermelho também brotava do topo da cabeça.
Os olhos enormes eram tão grandes quanto a cabeça em que estavam inseridos e brilhavam como se estrelas estivessem embutidas neles.
— Ahahaha!
A testa se abriu.
A Rainha dos Demônios da Noite, Noir Giabella, ergueu os braços em alegria de onde estava sentada em seu trono de veludo.
Noir gritou.
— O que acham do meu Rosto-de-Giabella?!
Seu grito foi recebido com silêncio.
— Foi originalmente planejado para ser exibido durante a cerimônia de conclusão do Parque Giabella! Mas foi concluído muito antes do que eu esperava, então o que mais eu poderia fazer? É por isso que decidi mostrá-lo a vocês primeiro. Não é incrível? — Noir perguntou animadamente.
Edmond e Gavid ficaram perplexos.
Sem ser impedida pelo silêncio, Noir continuou:
— O Rosto-de-Giabella será o mascote do Parque Giabella! Ele flutuará nos céus durante as manhãs, tardes e noites… Em todos os momentos, os convidados do Parque Giabella poderão olhar para este rosto e se encher de amor e admiração. Atormentados por seu desejo por mim, eles vão esbanjar suas economias no cassino e até gastar sua força vital…
— Estou envergonhado só de olhar para isso. — Gavid murmurou para si mesmo com um aceno de cabeça.
Edmond, que estava na retaguarda, também parecia sentir vontade de dizer algumas coisas que realmente não podia dizer.
Mas Noir não sentiu a menor ofensa com suas reações secas.
Clique.
Com um estalar de dedos, a expressão metálica do Rosto-de-Giabella lentamente começou a mudar.
Gavid e Edmond mantiveram o silêncio enquanto observavam o sorriso do aparelho.
Gavid estava com um pouco de medo de que os cidadãos de Pandemonium, que viviam muito abaixo, ainda pudessem ver essa exibição vergonhosa.
— Sorria. — Noir cantou alegremente enquanto levantava os cantos dos lábios com os dois dedos indicadores em um sorriso próprio.
Então ela se levantou de seu trono de veludo e saiu da cabine.
Clack, clack, clack!
O carpete no chão da cabine se estendia sozinho. Noir caminhou graciosamente pelo tapete vermelho e se aproximou da parede de vidro.
Então passou casualmente pelo vidro e entrou no quarto. Percebendo os assentos vazios, os cantos dos lábios de Noir se curvaram para cima em um sorriso de escárnio.
— Então o mestre do Castelo do Dragão Demoníaco está ausente de novo desta vez? — Noir repetiu sem saber.
— Não há como evitar. — Respondeu Gavid.
— Humph, estou muito, muito curiosa. Quanto tempo mais você vai permitir que o problema do Castelo do Dragão Demoníaco apodreça? Não é o suficiente que você os ignorou nos últimos duzentos anos? — Exigiu Noir.
— Duzentos anos podem ser considerados muito tempo, mas não tanto para um dragão. — Argumentou Gavid. — Mesmo que o jovem mestre do Castelo do Dragão Demoníaco seja inadequado para sua posição, ainda precisamos esperar mais cem anos.
— E por que exatamente devemos esperar mais? — Noir insistiu. — Por causa da raridade dos Dragões Demoníacos? Veja aqui, Gavid, trezentos anos atrás, os dragões caídos eram raros e dignos de serem usados como um símbolo de nossa força. Mas as coisas não são um pouco diferentes agora?
Gavid a lembrou:
— Não importa a época, os dragões sempre foram vistos como grandes e nobres existências. É difícil desistir da importância simbólica que vem de ter tido tal queda de existência e receber um título do Rei Demônio do Encarceramento.
— Trezentos anos atrás, os dragões realmente existiam. — Noir prontamente concordou. — Mas agora? Já se passaram trezentos anos desde que os dragões desapareceram na clandestinidade. Ainda existem dragões ativos nos tempos modernos? De qualquer forma, os dragões são como seres de seus mitos distantes para as pessoas desta época. Você não acha que, em vez de um símbolo tão obsoleto, seria um símbolo melhor ter alguém que se tornou um duque com sucesso enquanto ainda é humano?
Quando Noir disse isso, ela se virou para Edmond e se dirigiu a ele:
— O que você acha, Edmond? Se assim desejar, terei todo o gosto em te emprestar minha força. Você entende o que estou tentando dizer, certo? Estou lhe dizendo que terei prazer em destruir o jovem dragão do Castelo do Dragão Demoníaco com minhas próprias mãos.
Edmond riu desajeitadamente.
— Haha… Estou muito grato pela oferta, mas…
— Hmph, por que você está agindo de forma tão inocente? — Perguntou Noir, amuada. — Eu gosto tanto de você, porque você é uma aberração. E se o mestre do Castelo do Dragão Demoníaco acabar sendo derrotado e precisarmos escolher um novo duque? Em vez de um daqueles malditos marqueses que bisbilhotam ao meu redor, tentando me manter sob controle mesmo enquanto sonham acima de sua posição, acho que seria melhor criar um conde como você para se tornar um duque.
— Não sabia que você me considerava tanto. — Edmond humildemente prevaricou.
— Se você não sabia antes, então lembre-se disso agora. — Insistiu Noir. — Se você quiser, posso enviar pessoalmente uma mensagem para o Rei Demônio do Encarceramento. Em troca da minha ajuda, vou pegar o cadáver do jovem dragão para mim. Afinal, você já tem Vladmir, certo?
Gavid, que estava ouvindo silenciosamente essa conversa acontecer, suspirou e acenou com a mão em despedida.
— Não traga essas coisas para o nosso Rei Demônio do Encarceramento quando ele com certeza não permitirá. Além disso, Noir, o que você faria com o cadáver de um dragão que a faz querer tanto?
— Cada pedaço de dragão tem sua utilidade, não? Em primeiro lugar, pretendo processar suas escamas, couro e ossos para fazer armas e colocá-los em exibição como prêmios para o Cassino do Parque Giabella. — Noir revelou, sua resposta excedendo toda a imaginação.
Gavid olhou para Noir, incapaz de pensar no que dizer sobre isso. Noir apenas sorriu alegremente diante de sua surpresa.
— O Cassino do Parque Giabella será o melhor cassino do passado, presente e futuro. — Declarou Noir com orgulho. — Certamente não há outro lugar no mundo onde armas feitas de um dragão possam ser trocadas por fichas de cassino.
— Certamente será um local chocante de várias maneiras. — Gavid finalmente disse secamente.
— Além disso, o coração de dragão será transplantado para o Rosto-de-Giabella. O gerador mágico que instalei atualmente é ótimo, mas se eu pudesse transplantar um coração de dragão para ele, não seria ainda mais incrível? — Noir disse com ganância em seus olhos.
Edmond olhou para o Rosto-de-Giabella flutuando do lado de fora da janela com os olhos semicerrados. À primeira vista, aquele objeto voador praticamente se afogando no narcisismo parecia ridículo, mas como Arquimago, Edmond percebeu que não era simplesmente uma cabeça com a capacidade de voar.
“Para ela ter pensado na ideia de vincular os olhos de seu veículo voador aos seus próprios Olhos Demoníacos, independentemente de ser magicamente possível, sou forçado a reconhecer o quão absurda é a mana da Duquesa Giabella.” Edmond pensou.
Os Olhos Demoníacos, que podiam ser ativados com apenas um olhar, consumiam grandes quantidades de mana. O Olho Demoníaco da Fantasia possuído por Noir Giabella era um dos mais fortes entre todos os Olhos Demoníacos que dizem ter existido no mundo. Seu Olho Demoníaco, como o próprio nome sugere, tinha o poder de transformar a realidade em fantasia e a fantasia em realidade.
Noir estava planejando que esse Rosto-de-Giabella gigante flutuasse nos céus acima da instalação que também levava o nome dela, Parque Giabella. Quando finalmente fosse concluído, muitos turistas riam ao Parque Giabella todos os dias. Se um objeto flutuante tão bizarro quanto o Rosto-de-Giabella estivesse pairando no céu, ninguém teria escolha a não ser olhar para ele pelo menos uma vez, mesmo que não quisesse vê-lo.
Nesse momento, os turistas seriam capturados pelo Olho Demoníaco da Fantasia e caíram na ilusão criada por Noir Giabella.
— Eu sei que estou me repetindo, mas o Rei Demônio do Encarceramento não rescindirá o título do jovem mestre do Castelo do Dragão Demoníaco. — Gavid lembrou a Noir.
— Então que tal uma caçada? Eu não gosto daquele jovem dragão, então se for para meus desejos, o Rei Demônio do Encarceramento não vai me impedir de caçá-lo, vai? — Noir perguntou.
— Se você fizer isso, serei eu quem vai impedi-la. — Disse Gavid em tom calmo.
No entanto, no fundo de seus olhos, uma luz vermelha estava brilhando. Era a luz emitida pelo Olho Demoníaco da Glória Divina de Gavid, um Olho Demoníaco no mesmo nível que o Olho Demoníaco das Trevas de Iris e o Olho Demoníaco da Fantasia de Noir.
— Acho que muito tempo realmente passou. Você, que já foi chamado de assassino, está agindo como o guardião de um jovem dragão. — Noir comentou sarcasticamente.
Gavid disse a verdade.
— Não se trata de proteger o jovem mestre do Castelo do Dragão Demoníaco. É para mantê-lo sob controle. Mesmo que ainda não esteja totalmente crescido, um dragão ainda é um dragão. Para alguém como você, que já é poderosa o suficiente, não quero que fique intoxicada pelo poder do Coração de Dragão.
Este era apenas um leve aviso do poder de Gavid. Noir também estava apenas sendo durona. Ela provavelmente não tinha nenhuma intenção de caçar seriamente o jovem mestre do Castelo do Dragão Demoníaco.
— Tudo beeeeem, entendi. Então você pode parar com esse seu olhar assustador? — Noir choramingou enquanto jogava para trás seus cabelos grossos e ondulados com um sorriso.
Com isso, Gavid também deu de ombros e desativou seus Olhos Demoníacos da Glória Divina. Edmond, que acabava de observar os dois, também riu educadamente e voltou ao seu lugar.
— Uma vez que os dois duques começam a pregar peças travessas e fingir estar com raiva um do outro, é difícil até respirar direito. Então, por favor, vamos falar de outra coisa. — Propôs Edmond.
— Tem acontecido alguma coisa interessante ultimamente? — Noir perguntou.
— Acho que depende da sua opinião sobre o que considera interessante. — Disse Edmond, tirando a mão do casaco e erguendo-a.
Quando sua mão se moveu levemente no ar, um orbe esbranquiçado do tamanho de dois punhos apareceu acima dela.
Esta era a alma de um humano.
— Não estou totalmente certo disso, mas… — Edmond tocou a alma com a ponta dos dedos enquanto falava. — Parece que um Herói e uma Santa apareceram.
Gavid estreitou os olhos.
Incrível omo o Eugene leva absolutamente todo mundo pra porra da casa dele KKKKKKKKKKKKKK e olha o maldito desse Edmond fazendo merda
Filhos da pota