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The Beginning After The End – Capítulo 492

Amadores

POV ALARIC MAER

Um rugido baixo, como o som suave das ondas em uma praia distante. Luz vermelha quente atravessando as pálpebras fechadas. Dor, enevoada nas bordas.

Abri os olhos, me arrependi e os fechei novamente. Naquele breve e embaçado vislumbre do mundo ao meu redor, apenas confirmei que estava em um pequeno quarto mal iluminado. Com mais cuidado dessa vez, abri apenas o olho esquerdo.

O quarto era simples, desprovido de decorações ou móveis, exceto pela cama rústica onde eu estava deitado e o penico no canto. Meus pulsos, percebi, estavam algemados com braceletes de supressão de mana. O rugido baixo era o sangue martelando nos meus ouvidos, como se houvesse um pequeno e furioso homem tentando abrir caminho para fora do meu crânio. A luz vermelha quente foi a reação.

Os desgraçados nem me deram tempo de me recuperar antes de me prenderem com essas algemas anuladoras. Eu poderia ter morrido.

No entanto, havia algo no fato de não se preocuparem em garantir minha sobrevivência. Isso significava que não precisavam realmente de mim, o que, por sua vez, significava que o dano que eu poderia causar seria limitado caso o moleque Redwater e sua Foice me quebrassem.

A memória daqueles últimos momentos estava voltando em pedaços. A morte de Edmon, a tentativa frustrada de Darrin de me salvar, o fogo da alma...

— É melhor você estar vivo, garoto — falei em voz alta, minha língua pesada e minha voz rouca. Imaginei os olhos de Darrin enquanto o maldito fogo da alma de Wolfrum Redwater dançava por trás deles, e o gosto amargo subiu em minha garganta.

Algo bateu na parede logo à minha esquerda. Inclinei-me mais, pressionando o ouvido contra a parede. Tentei imbuir mana nos ouvidos para aprimorar minha audição, mas, claro, falhei. — Quem está aí?

Não houve resposta imediata, então bati duas vezes na parede.

— Fique quieto! — Um homem sussurrou do outro lado. — Não podemos falar uns com os outros.

— Quem é você? — perguntei, modulando minha voz para um murmúrio grave que sabia que atravessaria a parede sem ecoar por todo o complexo, onde quer que estivéssemos.

Alguns segundos se passaram antes da resposta tímida.

— Ninguém. Apenas um Instilador do Taegrin Caelum. Você não precisa me conhecer.

Senti um jorro de interesse que ajudou a clarear minha mente, e me sentei na cama.

— Taegrin Caelum? É verdade que a fortaleza se voltou contra todos que estavam lá depois da onda de choque? O que…

— Eu… eu sinto muito, não posso dizer. Não sei muito, só sei que mal consegui sair de lá. — Uma pausa. — Se nos ouvirem falando, eles vão nos machucar.

Dei uma risada abafada.

— Provavelmente já pretendem nos matar de qualquer forma. — Quando isso não trouxe confiança ao Instilador, tentei outra abordagem. — Eu fui trazido com um homem chamado Darrin. Sabe se ele está em algum dos quartos próximos?

— Não, eu não sei. Os guardas não falam perto de nós. — Outra hesitação. — No entanto, nenhum outro quarto foi aberto quando te jogaram aqui, pelo menos não perto de mim. Eu teria ouvido.

Deixei minha cabeça bater contra a parede em irritação, mas ainda não estava muito preocupado. Wolfrum não precisou ameaçar matar Darrin para me trazer aqui; ele já havia me derrotado. Não havia razão para ele ter nos trazido juntos se não tivesse algum plano para Darrin também, o que significava que ele provavelmente ainda estava vivo.

A menos que eu tenha ficado inconsciente por mais tempo do que imagino.

A figura sombria de Cynthia se sentou aos pés da cama.

— Dá para saber pela secura na boca que já se passaram algumas horas. — Ela disse. — As algemas irritaram sua pele, mas ainda não romperam com o tanto que você se revirou.

Sentei-me e observei as algemas, tentando ignorar a alucinação. Eram algemas padrão de supressão de mana, dependentes de runas externas. Ao destruir as runas corretas, era possível desativá-las. Com minha mana de volta, não seria muito difícil me livrar delas. Eu sabia disso, mas não agi de imediato.

— Bom garoto, Al — disse a fantasma, inclinando-se ligeiramente e me olhando de soslaio. — Você acabou exatamente onde queria, então não há pressa para sair daqui. Não antes de descobrir mais sobre o que está acontecendo. Agora, apenas seus inimigos sabem quem é esse Instilador fugitivo e o que estava naquela gravação. Isso é prioridade.

— Darrin é a prioridade, idiota — murmurei, recostando-me na cama e jogando os pés para cima, atravessando a alucinação.

No fim, não precisei esperar muito tempo.  Cerca de uma hora depois, fui despertado pelo som de passos pesados parando do lado de fora da minha porta. Eu havia escutado com atenção o guarda caminhando pelo corredor, memorizando seu ritmo, mas ele nunca havia parado antes. Eles estavam vindo me buscar.

Quando a porta foi destrancada, fiquei de pé e me coloquei no centro do pequeno quarto. A porta se abriu para dentro, quase tocando o pé da cama.

— Exijo ser levado ao proprietário deste estabelecimento — falei.

O soldado, um jovem, Atacante pela aparência, deu um passo à frente, com a boca aberta como se fosse dizer algo. Ele se assustou levemente e apontou uma espada curta trêmula para o meu peito. Claramente, ele esperava que eu estivesse inconsciente ou muito machucado para me mover.

— Ei! O que você… d-desculpe, o quê? — Ele gaguejou.

Dei uma risada abafada.

— O serviço aqui é péssimo, a cama é uma porcaria e — balancei a corrente curta das algemas — a roupa de dormir fornecida é infernalmente desconfortável.

Um soldado mais velho empurrou o jovem para o lado, sorriu com a minha piada e me deu um soco na boca com o punho da manopla. Sem mana, eu não tive tempo de reagir e levei o golpe inteiro. Meus lábios se abriram com uma dor aguda, e minha boca se encheu de sangue.

O soldado me segurou antes que eu caísse, depois me arrastou meio empurrando, meio puxando para fora do quarto. Tropecei no corredor e caí de cabeça contra a porta oposta, que tremeu com o impacto. Alguém gritou de medo do lado de dentro, e os guardas gritaram para que ela se calasse. Dois deles me pegaram pelos braços e me ergueram, então fui carregado pelo corredor.

Demorei um minuto para me recuperar do golpe, mas quando estávamos lá fora, minha cabeça já estava clara novamente. A silhueta indistinta de uma mulher e seu bebê me olhava tristemente das sombras sob um gazebo próximo.

Além dos fantasmas e magos lealistas, o campus da Academia Central parecia estar quase vazio. Os estudantes haviam partido, assim como o corpo docente. Quem quer que estivesse sob o comando da Foice Dragoth, também estava fora de vista. A maioria dos prédios estava escura, e com as algemas, eu não conseguia sentir nenhuma assinatura de mana, o que me deixava cego.

Eles me arrastaram pelo relicário, que estava fortemente vigiado, e pela antiga estrutura de portal, sem portal, da qual a academia tanto se orgulhava. Eu conhecia bem o campus por minhas investidas anteriores ali, mas quando me levaram por um beco estreito em direção a um prédio baixo, percebi que não sabia para onde estávamos indo.

— Sem tempo para visitar o banheiro dos professores, então? — perguntei. Inclinando a cabeça, cheirei minha axila bem alto. — Eu odiaria chegar ao meu encontro com o querido Dragoth cheirando a… oof!

Um cotovelo subiu até meu queixo, fazendo meus dentes se chocarem. Passei a língua pela boca, certificando-me de que tudo ainda estava no lugar.

O prédio para o qual fui arrastado tinha um ar estéril. Retratos de Instiladores que não reconhecia alinhavam o corredor de entrada, e depois descemos uma escada escura, mas limpa. Acredito que descemos dois andares antes de ser puxado por uma porta, em seguida um corredor, uma esquerda, uma direita e, finalmente, outra porta, levando a um quarto mal iluminado. Não era grande, mas estava apertado com ferramentas e bancadas de trabalho ao longo das paredes. No centro do cômodo, havia o que parecia ser uma mesa cirúrgica, completa com correias para amarrar um paciente.

Os soldados me jogaram rudemente sobre a mesa e, em vez de me amarrarem, começaram a desferir socos e cotoveladas em mim, atingindo meu estômago, peito, pernas e braços com eficiência impiedosa. Encolhi-me, protegendo-me da melhor forma possível, sem me preocupar em gritar ou implorar.

Estrelas explodiram diante dos meus olhos quando um soco perdido me atingiu na bochecha, fazendo minha cabeça bater na mesa de metal. Senti meu corpo ficar mole, enquanto minha mente flutuava na beira da inconsciência, já sem me importar com o ataque, mas um comando abafado chegou aos meus ouvidos zumbindo, e o ataque cessou. Meus braços e pernas foram puxados e, quando voltei a mim, as correias ao redor dos meus pulsos, tornozelos, pescoço e cintura já estavam presas.

Tossi sangue e cuspi para o lado da mesa. Um dos soldados xingou e deu um salto para trás quando a saliva vermelha espirrou em suas canelas.

— Ele é um velho durão, isso você tem que reconhecer.

Minha cabeça girou enquanto eu me virava para a fonte da voz. Fiquei decepcionado ao encontrar Wolfrum do Alto Sangue Redwater em vez da própria Foice Dragoth, seus olhos de cores diferentes brilhando com uma malícia divertida. Ou talvez fossem apenas as estrelas que eu estava vendo.

Ele se aproximou, surgindo do canto como uma de minhas alucinações. Antes de falar novamente, pressionou uma mão contra o meu peito. Chamas negras brotaram de sua carne e se infiltraram na minha. Minha mandíbula se contraiu, e meu corpo se arqueou, apesar dos meus melhores esforços; cada nervo no meu torso queimava como um pavio de vela sob a pele.

— Por que seu homem estava vasculhando a academia? — Wolfrum perguntou, inclinando-se para me observar.

Tomei uma respiração sufocante e desesperada contra a dor. — Procurando por… provas. — Forcei as palavras entre os dentes cerrados.

— Provas de quê? — exigiu.

— Que… que… — pausei, sendo forçado a engolir, esperando não engasgar com a própria língua. — Que sua mãe era uma cabra da montanha.

Wolfrum sorriu. — Você está velho, Alaric. Restam apenas algumas faíscas de força vital. E está queimando a cada segundo. Cada palavra que você pronuncia deve ser dita com cuidado. Pode ser sua última.

— Então vou me certificar… de não desperdiçá-las — rebati, forçando uma risada que se transformou em uma tosse borbulhante, enquanto o sangue subia pela minha garganta.

— E eu tentarei não te matar rápido demais. — Ele disse dando um tapinha no meu ombro.

As perguntas continuaram. A dor ia e vinha. Era melhor quando permanecia, persistente, consistente. A mente se adaptava a ela. Todavia, as chamas saltavam e dançavam, caindo apenas para crescer novamente, queimando primeiro uma parte do meu corpo, depois outra. Era uma agonia, e logo minhas piadas se tornaram fracas e mal pensadas. Perdi a noção do que Wolfrum havia perguntado ou de como eu tinha respondido. Nomes e locais, a estrutura da organização, informações sobre Seris…

Através da névoa da dor, reconheci a tática. Ele estava verificando informações que já havia recebido de outros e buscando uma linha de base para medir o quanto eu estava sendo honesto. Sem saber exatamente o que havia dito, só podia torcer para não ter revelado nada essencial. Não que houvesse algo essencial na nossa operação neste ponto, pensei em algum lugar profundo na minha mente, onde a dor não conseguia alcançar.

Quando Wolfrum retirou de repente seu fogo da alma, um choque me atingiu como se eu fosse mergulhado em água gelada. Arfei e engasguei, contorcendo-me nas correias enquanto o couro queimava minha carne. Havia algo mais ali, opressivo, pairando no lugar da dor. Uma intenção fervente e raivosa.

Dedos poderosos se entrelaçaram em meu cabelo e puxaram minha cabeça para trás, quase quebrando meu pescoço.

Encarei o rosto largo e idiota da Foice Dragoth Vritra. Só que ele estava sem um chifre desde a última imagem que tinha visto dele. Não tive forças para mencionar o fato.

Ele rosnou algo, exigindo informações. Olhei estupidamente para ele.

— Você contrabandeou coisas para Seris. Comida. Armas. Pessoas. — A mão que não tentava arrancar meu couro cabeludo envolveu meu pescoço, mas não apertou. — Me conte tudo. Quem, onde, como. Quero cada detalhe da sua rede.

Falei alguma coisa, embora não tivesse certeza do que exatamente. Os nomes de homens mortos e de barcos afundados, e a localização dos esconderijos queimados, eu esperava.

Ele me soltou e começou a andar de um lado para o outro ao meu lado. Wolfrum havia se encolhido no canto.

— Como essas pessoas… esses clientes… entram em contato com você? Quero todos que possam trazer alguém para seu grupo. Todos. Disseram-me que você os conhece todos.

Ele parou de andar de repente, agarrou as laterais da mesa e a ergueu, de modo que eu não estava mais na horizontal. Mesmo se não estivesse amarrado à mesa de metal, não poderia ter feito nada enquanto ele cravava as pernas da mesa na parede. A pedra cedeu com um estalo horrível enquanto as pernas de metal eram cravadas na parede. Eu pendia dolorosamente das correias, que eram feitas para me segurar no lugar, não para me sustentar. Dragoth estava cara a cara comigo, perto o suficiente para que eu pudesse ver os pelos em seu nariz torto.

Cuspi alguns nomes, todos em Dicathen e sem valor para Dragoth. Meus pensamentos entravam e saíam de foco.

— Por Vritra, que se dane tudo isso. — Dragoth xingou, voltando-se para Wolfrum. — Ele não me serve assim. Leve-o daqui. Faça um curandeiro garantir que ele não morra. Quando ele puder falar novamente, me avise. Sem esperar uma resposta, ele começou a sair.

— E o outro? — Wolfrum perguntou, seu tom tenso e nervoso. — Estou confiante de que ele não sabe nada de valor.

Dragoth parou e me observou de perto. — Prendam-no por enquanto. Se a dor não é suficiente para motivar este aqui, assistir seu amigo sendo desmembrado, uma articulação, um ligamento por vez, pode ser.

— Tire-o daqui — disse Wolfrum depois que Dragoth saiu. Os soldados, que haviam ficado do lado de fora da sala até aquele momento, apressaram-se em obedecer, e eu me deixei cair em uma abençoada inconsciência.

Não durou tempo suficiente. Acordei me sentindo vazio. Contusões se formavam em minha carne, mas as cicatrizes do fogo da alma eram muito mais profundas e intangíveis. Ainda assim, eu tinha conseguido o que precisava.

A questão sobre torturar alguém com a expectativa de que a garganta dela será cortada em breve e sua carcaça despejada para as bestas de mana era que certos detalhes facilmente escapavam no interrogatório.  Nem Wolfrum nem Dragoth eram experientes nisso, um fato dolorosamente óbvio por suas exigências amadoras por informações e falta de sutileza. Dragoth, em particular, demonstrava seu desespero e medo tão claramente quanto o único chifre restante em seu crânio cheio de pedras.

Eles não sabiam onde estava seu desertor, o que significa que o Instilador havia escapado. E havia algo mais. Eu não podia ter certeza absoluta, mas o medo exterior que Dragoth não conseguiu conter me fez pensar que ele ainda estava guardando essa gravação. Ele pensava que eu havia enviado Edmon e o garoto Severin para a academia para encontrá-la.

Isso fazia sentido. Ele estava por conta própria. Apesar de ser uma Foice, ainda era um servo. Tudo o que ele já havia recebido era devido ao sangue Vritra que corria como veneno em suas veias, mas agora não havia nenhum Vritra para dar tapinhas em sua cabeça e petiscos. Ele estava com muito medo para destruir a gravação, e mais medo ainda para mantê-la.

Isso sugeria uma janela de tempo estreita.

Comecei a me sentar, soltei um gemido de dor seguido de um longo lamento e me deixei cair de volta. Em vez disso, rolei para o lado e cuidadosamente empurrei-me para uma posição sentada.

Houve uma batida na parede atrás de mim, suave, mas persistente.

— Olá? — disse a voz abafada do meu vizinho.

— Estou aqui — respondi, modulando a voz para que ficasse profunda, mas baixa, a fim de passar melhor pela parede. Meus pulmões e garganta protestaram com esse esforço.

Houve um barulho abafado e, então:

— Seu amigo. Ele está aqui. Três portas à esquerda, do outro lado do corredor. Ouvi eles falando sobre ele quando te trouxeram de volta.

Essa notícia me animou. Passar tempo procurando por Darrin era exatamente o tipo de tempo que eu não podia desperdiçar, mas não deixaria o garoto aqui para apodrecer e morrer nas mãos de um canalha como Wolfrum.

— Obrigado.

Não houve resposta do outro lado enquanto o guarda passava em sua patrulha ao longo do corredor.

Respirando fundo, sentindo dor, alcancei a boca e explorei com os dedos em busca do meu dente falso. Ele se moveu quando o toquei, e só pude ficar grato por não ter sido arrancado na surra que levei. Inclinei a cabeça para a frente e balancei o dente até que se soltasse das gengivas, removendo-o rapidamente da boca para evitar derrubar seu conteúdo nela.

Quando o dente ficou de cabeça para baixo sobre minha palma, uma cápsula caiu. O papel encerado era ligeiramente transparente, revelando uma pequena quantidade de pó dentro. Meus dedos tremiam enquanto tentava abrir o pacote.

— Controle os nervos, Al — disse Cynthia da cama ao meu lado. Suas mãos incorpóreas envolveram as minhas.

Apesar dela não estar realmente ali, o tremor diminuiu. Desenrolei o pacote com muito cuidado, então ajustei os braços para expor as runas gravadas no metal da algema esquerda. Com precisão meticulosa, polvilhei o pó sobre as runas. Estando tão desidratado, levei um tempo para juntar saliva suficiente para catalisá-lo e, quando deixei o líquido espumoso escorregar dos meus lábios para umedecer o pó, ele estava tingido de rosa.

De qualquer forma, funcionou. Fumaça ácida começou a se elevar do pó ao entrar em contato com a saliva. Em poucos momentos, faíscas brilhantes e quentes começaram a saltar da algema. Não me movi, mesmo quando uma delas queimou minha manga e atingiu a pele do meu antebraço. Outras fumegavam na cama, deixando pequenas marcas pretas, ou pulavam pelo chão, soltando mais faíscas.

Em segundos, a cortina de aço que as algemas envolviam minha mana se desfez. Meu sentido de mana hesitou, aumentando e diminuindo conforme a magia das das algemas falhava. Puxei a mana atmosférica como um homem desidratado se esbaldando em um oásis. A mana já purificada que estava contida em meu núcleo fluiu por meus canais, infundindo meus músculos para proporcionar força e conforto.

Tive que me dar tempo para aclimatar com isso e ouvi o guarda passar mais duas vezes antes de estar pronto para agir. Pelo menos minha assinatura de mana estava tão fraca que não foi difícil suprimi-la.

Por fim, quando percebi que era o momento certo, coloquei mana em meus braços e torci o punho esquerdo. A corrente se rompeu no ponto de conexão. Rapidamente, arranquei a algema e a usei para abrir a algema direita, deslizando-a entre a pele irritada do meu pulso e o metal e torcendo-a em seguida. Meu esforço fez um pouco de barulho, mas não senti nenhuma reação dos guardas.

Movendo-me em direção à porta, canalizei mana em Explosão Solar e esperei. Quando o guarda que patrulhava estava bem do lado de fora da minha porta, alcancei os artefatos de iluminação no corredor, fazendo-os brilhar com uma luz horrível. O guarda gritou de desespero. O brilho durou apenas um instante antes que os artefatos de iluminação se estilhaçassem, mergulhando o salão na escuridão.

Eu me atirei contra a porta.

Ela rasgou a moldura e abriu para fora, as dobradiças se soltando do corredor. A porta atingiu o guarda, que estava curvado, esfregando os olhos. Ele voou contra a porta oposta à minha e caiu em uma pilha. Mais uma vez, um grito de susto veio de dentro da sala, mas desta vez foi seguida por gritos ao longo do corredor, inclusive de outros dois guardas.

Eles dispararam na escuridão, mana queimando ao redor de suas armas, ofuscando ainda mais a visão. Não consegui administrar um segundo pulso de Explosão Solar e, em vez disso, canalizei Decadência Miópica, visando os dois ao mesmo tempo. Eles gritaram alarmados, pois sua visão já insuficiente ficou embaçada e seus olhos começaram a lacrimejar dolorosamente.

Arrancando uma adaga da bota do guarda a meus pés, arremessei-a contra o guarda mais próximo. Ela afundou no pescoço do homem. Com a outra mão, peguei uma espada e corri em direção à guarda restante. Ao ouvir minha aproximação, ela atacou às cegas, mas foi fácil desviar de sua arma brilhante. A minha encontrou a abertura em sua armadura logo acima de seu quadril, empurrando para cima. Cobri sua boca e a deitei no chão enquanto ela morria em meus braços.

Gritos irromperam das salas ao redor, os prisioneiros desesperados para se fazerem ouvir.

— O que está acontecendo…?

— …para nos ajudar, por favor, estamos…

— …malditos idiotas, Dragoth vai nos matar, calem a boca, calem…

— …precisa nos deixar sair!

A voz de Darrin não estava entre eles, o que significava que ele estava inconsciente ou inteligente o suficiente para ficar calado e ouvir, em vez de gritar como um louco.

O guarda que eu havia atingido com a porta ainda respirava. Corrigi isso rapidamente e, em seguida, aliviei seu corpo de um anel de chaves comuns. Felizmente, tinham números gravados.

Fui direto para o quarto de Darrin, conforme indicado pelo Instilador que havia falado através da parede. O chaveiro tilintava enquanto eu procurava o número certo, o metal escorregadio em meus dedos manchados de sangue. Eu precisava me apressar.

A fechadura girou com um clique suave, abri a porta e dei um passo para trás. Darrin estava lá, seu torso nu coberto de feridas, ambos os olhos quase fechados devido às contusões, e uma perna de cama quebrada segurada como uma adaga em seu punho.

— O que exatamente você ia fazer com isso? — perguntei, acenando para a arma improvisada.

— Te esfaquear por demorar tanto — respondeu Darrin, sua voz mal reconhecível.

O chaveiro não tinha nenhuma maneira de desativar ou remover as algemas. Em vez disso, peguei a adaga do guarda e arranquei a corrente de um lado, permitindo que Darrin tivesse total liberdade de movimento com os braços. Não desabilitou completamente o efeito de supressão de mana, mas desestabilizou o artefato, que dependia de ambas as runas estarem conectadas.

— Pronto. Pelo menos a mana deve começar a circular pelo seu corpo novamente — falei. — Podemos terminar quando…

— Então vamos logo. — Ele exigiu. Seu olhar saltava de uma extremidade do corredor para a outra, depois para os cadáveres. — Com certeza algum tipo de alarme deve ter soado.

— Um segundo, garoto.

Corri para a porta ao lado da minha, destranquei-a e a abri. Lá dentro, encolhido em sua cama, havia um homem pequeno com barba de algumas semanas e olhos arregalados e molhados de terror. Não deveria ter sentido pena do pobre coitado, considerando que ele era um dos Instiladores de Agrona. Quem sabe que tipo de horrores ele havia cometido em Taegrin Caelum. Ainda assim, não podia simplesmente deixá-lo… todos eles. E a fuga deles ajudaria a cobrir a nossa.

Joguei o chaveiro para ele.

— Presumo que você consiga tirar essas algemas por conta própria?

— Obrigado — respondeu assentindo fracamente com a cabeça..

— Não perca tempo. — Com um gesto rápido de despedida, marchei para longe, fazendo sinal para Darrin me seguir. Apesar de suas preocupações, nenhum alarme havia soado.

— Eles são amadores — disse Cynthia, nos seguindo, suas mãos atrás de suas costas como se estivesse examinando uma sessão de treino. — Desesperados e se debatendo. O último suspiro de um império moribundo. Logo, Dragoth estará morto, e todos verão que criaturas patéticas eram os Vritra.

— Espero que seja tão fácil assim, comandante.

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Dantas
Membro
Dantas
3 horas atrás

Só pra relembrar aos chorões de plantão que Caera e ART nunca passou de um delírio de vcs.
O Deslike de vcs é minha alegria.
E Time Artess (BOA P NOIS FAMILIA 👍👍)

ꓷၜȋၜꓓD
Membro
ꓷၜȋၜꓓ
4 horas atrás

Eu no maior otimismo que seria continuação do POV Arthur. TM seu desgraçado, enfim vamos lá ao capítulo. —————— Alaric é realmente um cara muito doidinho, eu gosto bastante dele como personagem, é meu top2 Alacryano depois da Deusa Seris… E o homem é vivido em? Finalmente conseguiu se libertar, tanto ele quanto Darrin. Estou curioso para saber quem exatamente é esse “Instilador” de Taegrim Caelum e quais informações ele vai nos fornecer de sobre lá, Alaric parece que vai… Ler mais »

Ygor
Visitante
Ygor
4 horas atrás

Obrigado pelo capítulo

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