Hector destruiu o metal ao redor do corpo de seu pai e caiu no chão, incapaz até de ficar em pé. Ele estava exausto, com dor e nada fazia sentido. Nada, exceto o fato de que tudo doía.
O peso de tudo colidiu contra ele, uma série de ondas horríveis. Seu pai. Seus amigos. Sua casa. Sua escola. Tudo que devia ser normal sobre sua vida. Tudo que devia estar a salvo. Ele não conseguia pensar em uma única coisa que não tenha sido destruída. Obliterada.
Ele chorou. Ele não sabia mais o que fazer. Seu cérebro estava entorpecido. Ele não conseguia entender mais nada.
Garovel? — Ele tentou. Você já voltou… ? Por favor esteja de volta… — Ele esperou por uma resposta, mas nenhuma chegou. Ele suspirou. Realmente precisava de um conselho seu agora…
Com o tempo, ele se lembrou de Sheryl e da Sra. Trent. Se nada mais, ele podia pelo menos checar elas. Talvez ele conseguisse descobrir o que fazer depois disso.
Gemendo, coberto de sangue e apertando suas costelas, Hector lutou para ficar de pé novamente.
Hector ficou com seu elmo na frente das damas. Mesmo se estivesse sujo de sangue, ele ainda preferia isso do que revelar seu rosto abatido, de alguém que acabou de chorar. Ele honestamente não tinha certeza se conseguiria falar com elas agora sem algo para se esconder.
— Então, está tudo seguro agora? — Sheryl perguntou. — Está tudo re-realmente seguro? Você tem certeza?
— Sim…
Sheryl parecia relutante com seu alívio. — E a polícia? Onde eles estão?
— Na frente da escola. — Ele respondeu. — Vou levar vocês até eles.
— Nã-não. — Ela disse, se afastando. — Eu vou sozinha. Está tudo seguro, certo?
— Si-sim, está…
— Não me entenda mal. — Sheryl disse. — Sou grata. Você me salvou. Mas. Mas você. Por favor, só… só fique longe de mim daqui pra frente. Não… quero dizer… por favor…
Hector franziu o cenho debaixo de seu elmo. Ele tentou estender uma mão na direção dela, mas ela estremeceu.
— Não, por favor! Isso tudo é demais! Não quero ter nada a ver com você! — Ela fugiu dele. — Sinto muito!
Ele assistiu ela ir embora. Ele não conseguia culpar ela. Ele era o motivo dela estar em perigo agora. Provavelmente, era melhor desse jeito. Ele só queria não se sentir tão mal.
— Ela só está traumatizada. — Sra. Trent disse. — Dê um tempo para ela.
Ele duvidava que faria muita diferença. Ele olhou para sua professora.
Havia pequenos cortes em seu rosto. Seu cabelo e roupas estavam todos bagunçados. Ela não parecia menos traumatizada que Sheryl sinceramente.
— Co-como você está se sentindo? — Ele perguntou a ela.
— Viva. Graças a você.
— Não seja grata demais. Eu… eu sou a razão dele ter tentado te matar…
— Não entendo. — Ela disse enquanto eles começavam a andar. — O que ele estava tentando fazer, exatamente? Aquele era seu pai, não era?
— Aquela coisa não era meu pai. Era… um monstro. Ela matou ele e pegou seu corpo…
Ela hesitou. — Eu queria não conseguir acreditar em você. Mas depois… bom… não tenho como duvidar de você.
— Por que ele queria te machucar? Porque você é o Soldado do Aço Negro?
Hector pausou ao ouvir isso. — … o que?
— Ah, fala sério. Eu vi as notícias. Um jovem negro com um elmo de metal, aterrorizando criminosos por toda cidade. Você não pode me falar que é outro cara.
— Sim, tá-tá bom, esse sou eu, mas… Soldado do Aço Negro?
— Não é como você se chama?
— Uh… não…
— Bom, é o que eles estão te chamando. Você não sabia?
— Eu, uh… eu realmente não… estou prestando muita atenção nas notícias ultimamente…
— Hmm. — Sr. Trent olhou para ele de novo. — Eu comecei a ver as reportagens algumas semanas atrás e eu tinha minhas suspeitas que era você, sabe. Eu lembrei daquele elmo que você fez. E você não tem comparecido muito as atividades do grupo. Mas ainda. Eu realmente não pensei que poderia ser você. Você é só. Então…
— Si-sim, eu sei… ainda estou surpreso comigo mesmo…
— Nunca dá pra saber com os quietinhos, imagino.
Para o bem de ambos, Hector evitou passar nos corredores que ele sabia que tinha gente morta, mas eles ainda tiveram que passar perto do grupo de quatro estátuas de metal mais cedo. Sr. Trent olhou diretamente para eles e, então, para ele, mas ela não perguntou o óbvio. Talvez ela já sabia tudo que ela queria.
Ele escoltou Sr. Trent para o estacionamento lateral, onde ele havia deixado sua moto e encontrou uma multidão grande de estudantes e oficiais de polícia. Ele ficou silenciosamente aliviado de ver que tantas pessoas conseguiram sair em segurança.
Um grito de repente atraiu a atenção dele e ele viu um grupo de estudantes apontando para ele atrás de um grupo de oficiais de polícia.
— É ele! — Uma garota gritou. — Eu vi ele matando alguém!
— Só olha pra ele! Ele está coberto de sangue!
— Ele matou aquele menino no banheiro!
A polícia pegou seus tasers e começaram a andar em direção a ele, todos os sete de uma vez.
— Não! — Gritou Sr. Trent. — Ele não é o assassino! Ele nos protegeu!
Os oficiais trocaram olhares incertos, mas ainda persistiram. — Por favor venha conosco. — Disse o mais perto. — Nós só precisamos entender o que aconteceu.
Hector olhou para a multidão mais uma vez, uma miríade de rostos com raiva e assustados. Ele também conseguia ver a moto deitada na calçada, só a cinco metros dele. De repente, ele tinha que tomar uma decisão.
Agora, mais do que nunca, ele queria que Garovel estivesse aqui.
Hector soltou um suspiro longo, cansado. Fugir da polícia parecia algo exaustivo agora. Ele quase deixou eles o prenderem naquele impulso apenas. Mas ele não se esqueceu. Ele matou várias “pessoas” hoje. E explicar isso para a polícia não parecia só algo cansativo, mas totalmente impossível.
Ele teria gostado de mais tempo para deliberar, mas os policiais não pareciam preparados para aquiescer. Então, ele transformou os tasers deles em tijolos de metal e correu para sua moto durante a confusão. A Sra. Trent gritou algo, mas ele não conseguiu escutar o que era.
Um dos oficiais correu em sua direção com um cassetete enquanto ele ligava a moto. Hector levantou uma parede antes do homem alcançá-lo e, então, se separou da calçada. Ele deu uma volta larga pela multidão, colado na borda do estacionamento até ele encontrar a estrada.
Porém, uma surpresa desagradável o estava esperando. Ele passou debaixo de um helicóptero da polícia e quando ele olhou de volta, ele o viu se virando para persegui-lo.
Ele voltou seu olhar espantado para a rua na sua frente. — Como caralhos eu despisto um helicóptero?!
Ele nem sabia para onde estava indo. Não era como se ele só pudesse voltar para sua casa. E depois de alguns minutos, ele ouviu mais sirenes e viu luzes de faróis em seu retrovisor. A polícia deve ter limpado as ruas na frente dele, porque o trânsito deixou de existir , o que o ajudou visto que ele não poderia colidir com ninguém, mas ele pensou que isso significava que eles fizeram bloqueios na estrada.
Dito e feito, dentro de alguns minutos, ele avistou uma barricada da polícia bem a frente. Quatro caminhões massivos encheram a rua e as calçadas, faróis acesos junto com oficiais uniformizados esperando, armas sacadas.
Ele só tinha uma ideia. E parecia a coisa mais estúpida que ele já pensou.
Ele queria uma ponte, uma que passaria acima dos caminhões da polícia e, então, de volta para rua. Mas ele nunca criou tal coisa antes. Ele nunca materializou uma estrutura de fato, muito menos uma que precisava suportar a força de uma moto andando a 150 km/h.
Mas ele fez seu melhor, criando ferro constantemente na frente da moto acelerada. Ele o fez bem largo, esperando que os pneus perdessem tração contra o metal e, então, ele o inclinou, talvez um pouco íngreme demais visto que ele sentia a moto dar um solavanco. E conforme ele subia e o metal começava a se deformar, ele adicionava vigas de apoio cruzadas.
A ponte pendeu um pouco conforme ele passava por cima do bloqueio. Ele estava com medo de mais de dar o apoio apropriado, não querendo transformar nenhum dos policiais em um espetinho sem querer. Mas ele chegou no outro lado rapidamente e tentou fazer vigas de novo, só, que agora estava íngreme demais e os pneus começaram a deslizar. A ponte atrás dele começou a ruir atrás de si também, e ele aniquilou ela antes dela poder esmagar alguém.
A moto acertou a rua, pneu da frente primeiro, e por um segundo, ele pensou que ela ia virar, mas então o pneu de trás encontrou o pavimento e ele encontrou seu equilíbrio novamente. O motor começou a rugir conforme ele acelerava.
Ele logo viu carros na rua de novo e teve que desacelerar. Então, ele notou um engarrafamento próximo. E o número de pedestres significava que passar pela calçada estava fora de cogitação. Ele podia tentar passar entre os carros parados com a moto, mas não estava inteiramente se ela ia passar. Em vez disso, ele só decidiu parar, virar o pneu da frente e colocar um pé no asfalto conforme ele olhava de volta para o helicóptero.