“Um traje vermelho, ele é o dono deste prédio?”
Nesta cidade vermelho-sangue, os prédios eram os mais perigosos porque ninguém sabia o que estava oculto neles. Cada prédio era um desconhecido. O homem de jaleco era muito forte, mas por mais forte que fosse, não ousou entrar neste prédio de qualquer jeito. O vermelho mais extremo ainda era um Espectro Vermelho, porém, o homem sabia que escondido num canto desta cidade estava uma presença maior que um Espectro Vermelho.
Ele não sabia como descrever porque não viu antes, mas conseguia sentir sua presença. Era uma presença esmagadora, cada veia de seu corpo parecia estar explodindo e seu cabelo arrepiou. Naquele momento, até esqueceu que se tornou um fantasma. Diante desta presença, humano, fantasma, Espectro Vermelho… não havia diferença.
“Volte de onde veio, este lugar não é para você.” O homem no último andar do prédio moveu os lábios. Sua voz ecoou nos ouvidos do doutor.
As correntes atrás dele arrastou os monstros das sombras. O médico não deu ouvidos ao aviso do homem. Ele observou o prédio silenciosamente. Não estava com medo do Espectro Vermelho no último andar do prédio, estava com medo da outra presença desconhecida que poderia estar oculta dentro do prédio. Na cidade, cada prédio representava um mundo fechado, um pesadelo particular. Entrar neles era fácil, sair que seria difícil.
“Não deveria entrar no prédio, mas estou com tanta fome e sinto esse cheiro familiar. Consigo sentir minha alma estremecendo. Acho que conheço o dono deste cheiro. Talvez após consumi-lo, consiga lembrar por que acabei neste estado.” A fala enlouquecida desacelerou. O médico abriu os olhos vermelhos para observar o homem.
Sem nenhum aviso, mais correntes deslizaram de suas costas. As correntes que pareciam ser feitas de inúmeros vasos sanguíneos avançaram no prédio. O médico subiu as escadas e seu alvo era claro. Queria entrar no décimo terceiro andar e então consumir o homem que estava do outro lado da porta.
Este prédio queimado era território do homem de camisa vermelha. A porta estranha no décimo terceiro andar deveria estar relacionada a ele, então a chance de ele ser o empurrador de porta era alta. O empurrador de porta poderia liberar duas vezes mais poder no mundo que construiu, então quando viu o médico entrar no prédio, não recuou.
O mundo atrás da porta foi construído pela memória do empurrador de porta. Se render ao pesadelo significava trair seu eu passado, entregando a memória a um estranho. A menos que fosse absolutamente necessário, nenhum empurrador de porta abandonaria seu próprio mundo para fugir.
O médico avançou na direção da porta do décimo terceiro andar e naturalmente, o homem pretendia ficar no caminho. Ele permaneceu na borda do prédio e abriu as mãos. Saltou e seu corpo caiu na direção do médico como uma bala.
Quando caiu, a borda da sua camisa ficou extremamente afiada e desgastada, parecia um pouco com facas, porém, mais como penas. Abaixo da camisa vermelha, podia-se ver cicatrizes assustadoras. O corpo do homem foi gravemente queimado. Só daquelas cicatrizes, era possível imaginar quão doloroso sua morte foi. O ressentimento no homem era forte. Seus olhos eram afiados, cheios de destruição.
Ele era similar ao médico no fundo do prédio. Eles pareciam ter lentamente se adaptado a cidade vermelho-sangue após estar ali por tanto tempo. Eles se perderam e ficaram fora de controle e enlouquecidos.
O homem se inclinou de cima e mirou no médico. Os cantos dos lábios abriram, mas o médico já parecia ter esperado isto. Viu o homem se aproximando e não só não entrou em pânico, como até revelou um sorriso assustador.
“Você está tão desesperado para ser minha comida? Está tão ansioso para ser parte do meu corpo? Tudo bem, realizarei seu desejo.” O médico abriu o jaleco para revelar o amontoado de correntes. O homem assustador vinha ocultando sua verdadeira habilidade.
Cerca de metade da sua energia foi usada para resistir a si mesmo — esta era uma pessoa completamente insana. Sangue vazou de seu corpo e formou serpentes que pareciam que nunca poderiam ficar satisfeitas. As serpentes envolveram o corpo do médico, como se quisessem consumi-lo também.
Enquanto o homem caía de cima, o médico liberou uma risada enlouquecida. Removeu a limitação que vinham o contendo. Correntes vermelhas infinitas saíram de suas costas. Havia tantas que não podiam ser contadas. Olhando de longe, parecia com uma árvore comedora de homens gigantesca da cor vermelha havia crescido ao lado do prédio.
Suas raízes estavam se movendo rapidamente como se estivessem tentando consumir o prédio inteiro. A luta que antecipava não aconteceu. O homem logo foi envolvido pelas correntes e então foi arrastado para as costas do médico.
Os dois ficaram de costas um para o outro e o médico podia ouvir nitidamente seus gritos de desespero e aflição. Rasgado pelas correntes vermelhas, o corpo do homem foi digerido lentamente. Como nutrientes, ele foi absorvido pelo corpo do médico. Ao longo do processo, o homem continuou resistindo, mas não era páreo para o amontoado de correntes grossas vermelhas.
Quando a voz do homem desapareceu, o médico mordeu seu dedo. Com o sangue, desenhou um corte no braço.
“Esse é o quarto. Logo… Já consigo sentir algo saindo do meu corpo! Isso deve ser o novo eu, mas antes de receber esta nova vida, ainda quero descobrir e entender meu passado.” O médico tocou na cabeça em seu abraço.
“Por que lágrimas surgem sempre que olho para ela? O que é esta emoção? Como ela morreu? Quem me matou? E quem levou seu corpo embora e deixou apenas sua cabeça? O que devo fazer? Devo buscar vingança ou ajudá-la a receber uma nova vida comigo?”
O médico parou no décimo terceiro andar e seu olhar recaiu na porta especial. Seus lábios voltaram ao normal lentamente. Ele puxou todas as correntes e ficou na porta.
“Este cheiro familiar, a pessoa que estou procurando está do outro lado.” O homem balançou o braço e as correntes bateram na porta. Queria abri-la, mas parecia ter enfurecido o prédio. Um fedor horrível vazou dos cantos e, ao mesmo tempo, o sangue na porta espalhou. Em alguns segundos, esta porta ficaria completamente vermelha.
*****
Parado no décimo terceiro andar, Chen Ge segurou o martelo e olhou para as três portas.
“O barulho desapareceu neste andar, então o fantasma da água deve ter se escondido num destes apartamentos. Eu deveria arrombar todos para dar uma olhada?”
Antes que pudesse decidir o que fazer, a porta mais à esquerda ficou colorida com veias vermelhas. A porta aparentemente normal avermelhou lentamente.