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Paragon of Destruction – Capítulo 140

O Dragão

“Quantas pessoas estão aqui?” Arran perguntou, com os olhos percorrendo o acampamento enquanto Tuya o guiava até o castelo.

Ao passarem pelo acampamento, ele pareceu ainda maior do que à distância, se espalhando em todas as direções como uma cidade construída com tendas. Haviam recrutas por toda parte, muitos deles com espadas e lanças, e mais uma vez Arran achava que parecia mais um exército que qualquer outra coisa.

A figura gigante de Tuya chamou muitos olhares dos recrutas que passavam, mas Arran viu reverência ao invés de surpresa em seus olhos – eles claramente já a conheciam, o que significava que o acampamento não era novo.

“Existem vários grupos de novatos”, disse Tuya. “Cada um com cerca de cem recrutas.”

“Mas por que eles estão aqui?” Arran perguntou. “E por que tantos?”

“O conflito entre as facções deixou as terras da fronteira muito perigosas para os novatos solitários”, disse Tuya. “A facção da Lua Minguante já atacou dezenas de novatos, matando muitos deles. Mas aqui, nossos novatos estão sob a proteção de meu pai.”

Enquanto falava, Arran suspeitava que ela não estava contando toda a história.

Provavelmente era verdade que os novatos vieram até aqui em busca de proteção, mas se a proteção era tudo o que eles precisavam, bastava formar pequenos grupos – certamente não havia necessidade de um grande exército como esse.

Com tantos homens e mulheres armados ao redor, deveria haver algo que eles estavam esperando. Ainda que Arran soubesse pouco sobre o conflito entre as facções Sol Nascente e Lua Minguante, ele teve a impressão de que eles estavam se preparando para uma grande batalha.

Caso estivessem, isso seria algo muito além de qualquer coisa que ele já tinha visto antes – centenas de magos e milhares de guerreiros se enfrentando, multidões sem fim se rasgando com espadas afiadas e magia poderosa. Os rios de sangue fluiriam, e a devastação preencheria as terras por quilómetros à volta.

Aliás, neste momento, já havia recrutas suficientes para uma grande guerra. Se ele matasse apenas alguns, a sede de sangue rapidamente iria enchê-lo de força, e com tantos números de soldados para alimentá-la poderia rapidamente tornar-se poderoso o suficiente.

“É melhor nos apressarmos,” disse ele rapidamente, percebendo que estava prestes a atacar o acampamento.

Tuya lançou-lhe um olhar de lado. “Você está sentindo a raiva?”

Arran acenou com a cabeça. “Parece que está se tornando mais forte.”

“Ou está perdendo o controle”, Tuya respondeu, com a testa franzida. “De qualquer modo, estamos quase lá.”

Realmente, ao olhar para a frente, Arran pôde ver que estavam a aproximar-se do castelo. Grande e imponente, pairava sobre o resto do acampamento como uma montanha no meio de um prado.

No portão havia vários guardas, mas eles deixaram Tuya e Arran entrar sem dizer uma palavra, já que a estatura de Tuya era a prova suficiente de sua identidade.

Já no pátio, Arran viu dezenas de homens e mulheres lutando uns contra os outros. Vestiam-se como magos, mas não precisava ver as roupas para saber o que eram – mesmo não usando magia, combatiam com uma força e velocidade que nenhum plebeu seria capaz de igualar.

Muitos dos magos olharam com interesse para Tuya e Arran enquanto passavam, mas ao ver o olhar firme no rosto de Tuya quando se dirigiam para o castelo propriamente dito, nenhum se aproximou deles.

“Vamos ver o meu pai imediatamente,” disse Tuya quando entraram.

“Posso ver a Snow Cloud primeiro?” perguntou Arran.

Tuya balançou a cabeça. “O meu pai pediu-me para buscar você sem demora. Pode falar com ela mais tarde”.

Arran franziu os olhos, não gostando da resposta. Ele queria falar com a Snow Cloud primeiro, para descobrir se ela sabia o que o pai de Tuya queria fazer com ele. Mas pela expressão de Tuya, ficou claro que ela não seria influenciada, então ele não teve escolha se não entrar às cegas e esperar pelo melhor.

A mulher gigante guiou-o rapidamente pelos corredores labirínticos do castelo, até que parou diante de uma grande porta de madeira. Ela abriu-a sem bater e atravessou a porta, com Arran a segui-la.

Lá dentro, Arran ficou sem palavras. Existia um grande escritório em madeira, acompanhado por uma cadeira de madeira ainda maior, na qual estava sentado um homem tão grande que mal parecia humano.

Era o pai de Tuya, Arran soube imediatamente, mas só de ver o homem ficou estupefacto. De cabelos escuros e queixo quadrado, o homem tinha ombros tão grossos e musculosos que pareciam barris, mesmo sentado ele superava Arran.

Arran não se perguntava mais por que o homem era apelidado de “O Dragão” – o seu tamanho era suficiente para o fazer parecer um.

Ao entrarem, o gigante ergueu os olhos de um livro à sua frente, que na sua mão enorme parecia comicamente pequeno.

“Pai,” disse Tuya, acenando educadamente para o homem. “Eu trouxe o recruta.”

“Estou vendo”, respondeu o homem, com uma voz calma e agradável. Ele olhou para Arran, e acrescentou, “E parece que você o encontrou antes que a loucura tomasse conta. Lâmina Fantasma, não é?”

“Sim, Ancião Naran”, disse Arran, adivinhando como dirigir-se adequadamente ao homem. Não houve nenhuma correção, o que o deixou aliviado por ter escolhido corretamente – ofender o Ancião gigante parecia uma má idéia.

“Tuya, pode ir buscar a Snow Cloud?” disse o Ancião Naran. “Creio que ela gostaria de estar presente durante a discussão dos nossos próximos passos.”

Tuya saiu da sala, e o Ancião Naran fez um gesto para uma das cadeiras. “Por favor, sente-se.”

Arran obedeceu ao homem, contendo sua surpresa por descobrir que, apesar do tamanho e do apelido temível, esse homem falava como um estudioso e não como um guerreiro.

“Agora, então”, disse o Ancião Naran. “Eu vou explicar como eu espero ajudá-los depois que Tuya voltar com a Snow Cloud, mas talvez queiram ouvir o que está realmente afetando vocês?”

“Eu gostaria”, respondeu Arran imediatamente.

O Ancião Naran abriu-lhe um sorriso de aprovação e depois começou a falar.

“A magia de sangue é uma das magias mais curiosas que existem. Não depende de Reinos nem da Essência Natural que envolve o mundo, mas sim do consumo direto da força vital para obter o seu poder.”

“Consome a minha força vital?!” Os olhos de Arran se arregalaram, assustando-se com o fato de que as coisas podiam ser ainda piores do que ele pensava.

“Não a sua”, o Ancião Naran corrigiu-o calmamente. “Um Cristal de Sangue é criado absorvendo a força vital de milhares de pessoas, e então torcendo e condensando-a em uma única partícula de poder. Se alguém o absorve, este poder se funde com seu corpo e mente, se tornando parte dele.”

Arran franziu os olhos. Isso podia explicar o fato de ele se curar tão rapidamente, mas não explicava a sede de sangue ou a força que sentia durante a batalha. “Mas e quanto aos efeitos? Por que é que isso me faz ficar mais forte e me enche de sede de sangue?”

“Uma boa pergunta”, disse o Ancião Naran, assentindo com a cabeça. “Quando as pessoas morrem à tua volta, seja em combate ou de outra forma, a magia do Sangue absorve a sua força vital cortada. Só uma pequena parte é absorvida, e o restante acaba sendo desperdiçado, mas antes que o excesso escape de você, é possível aproveitar brevemente o seu poder.”

O homem gigante arranhou a garganta, depois continuou, “A fúria que sentes é como fome ou sede – é um instinto primordial que faz agora parte de você. Quando mais forte se tornar, mais difícil será resistir-lhe. Os efeitos diminuem depois da batalha, de cada vez que matar, a magia do Sangue aumenta o seu poder dentro de si”.

Por vários minutos, Arran ficou em silêncio.

“Consegue removê-lo?” perguntou ele finalmente.

“Não posso”, respondeu o Ancião Naran. “Faz parte de você agora, e removê-la o mataria. Talvez eu possa ajudá-lo a controlá-la e, se conseguir, isso será uma bênção na sua vida”.

Os olhos do homem brilhavam de entusiasmo com as últimas palavras, mas a mente de Arran ainda estava no que veio antes. Pelo que o Ancião Naran disse, ele não tinha certeza de que poderia ajudar.

Naquele momento, a porta abriu-se e Tuya entrou, Snow Cloud um passo atrás dela.

Arran assentiu para Snow Cloud, que lhe deu um sorriso em resposta. Entretanto, quando se virou para o Ancião Naran, seu rosto ficou duro.

“Você já descobriu como ajudá-lo?”, ela perguntou, com a voz severa.

“Eu descobri”, respondeu o Ancião. “Existe algum risco envolvido, mas eu acho que existe uma boa chance de salvá-lo.”

“O que pretendes fazer?” perguntou Nuvem de Neve.

“A têmpera1”, disse o Ancião Naran.

Arran interpretou isso como um mau sinal quando Tuya ofegou em choque.


Nota:

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