Esses poucos nobres diante de Abel pertenciam a esse grupo de nobres em decadência, o que explicava sua posição em um canto tão discreto.
Abel olhou para os poucos nobres presentes, e eles retribuíram o olhar. Ele estava vestido com um traje moderno, que à primeira vista parecia caro. Poderia ter sido confeccionado por um mestre. O que o trouxe até ali?
Um jovem elfo nobre, com um distintivo de barão, levantou-se e se apresentou:
“Permita-me fazer as apresentações. Sou o Barão Carly; aqui estão o Lorde Ferdaisy e o Lorde Bayinsy. É um prazer tê-lo conosco. Por favor, junte-se a nós e fique à vontade para conversar!”
“Olá a todos, sou o Lorde Bennett. Tive sorte de conseguir entrar aqui!” disse Abel, fazendo uma reverência. Ele apenas exibia o distintivo de Lorde à sua frente. Seu distintivo de Mestre Alquimista estava guardado em sua bolsa de portal, já que exibi-lo seria excessivo.
Ao ouvir as palavras de Abel, o Barão Carly riu e começou a zombar de si mesmo:
“Ah, sim, a sorte ancestral nos trouxe até aqui!”
“Exatamente! Não poderíamos ter entrado no banquete do Príncipe Adolf apenas com nossas próprias habilidades. Embora todos os nossos antepassados tenham partido, o nome que ainda carregamos é suficiente para nos garantir comida até o fim de nossos dias,” comentou Lorde Ferdaisy de forma casual, enquanto o Barão Carly assentia com um sorriso ao lado.
O Barão Carly observou o traje de Abel com uma admiração descarada e comentou: “Lorde Bennett, seu terno é realmente impressionante! O tecido e o acabamento são impecáveis. De qual mestre ele foi confeccionado?”
Abel já estava acomodado em uma cadeira lateral, e mesmo sentado, o traje não perdeu sua forma. Pelo contrário, parecia ainda mais ajustado, destacando sua silhueta esguia.
“Foi um presente de um amigo, que me deu antes do banquete para evitar que eu passasse vergonha!” respondeu Abel com um sorriso, enquanto pegava uma taça de cristal e servia um pouco de vinho.
“Por que eu não tenho amigos assim?” murmurou Lorde Ferdaisy, com um tom de leve inveja.
“Talvez você tenha assustado todos eles com suas dívidas,” brincou o Barão Carly, zombando de Lorde Ferdaisy.
Abel, por sua vez, observava os três elfos nobres com uma ponta de inveja. A camaradagem entre eles o fazia lembrar de Camille e Carlos. Se ainda estivesse no mundo humano, também estaria envolvido em conversas animadas como aquela.
Ele levou a taça de cristal ao rosto, mas assim que sentiu o aroma do vinho, o afastou. Recentemente, Abel se tornou exigente com bebidas, e o gosto de vinhos comuns já não o agradava.
Perdido em seus pensamentos, instintivamente colocou a mão na bolsa de portal. Por um momento, pensou em tirar o seu vinho caseiro, mas logo percebeu onde estava. Beber o próprio vinho em um banquete seria um gesto desrespeitoso.
Mesmo que ele tivesse interrompido o movimento, o gesto não passou despercebido pelos três nobres, que notaram a bolsa com interesse. Embora suas famílias já tivessem perdido poder, eles ainda mantinham um olhar atento para itens valiosos.
“Lorde Bennett, você é um druida?” perguntou o Barão Carly, com admiração na voz.
“Sou apenas nível 3. Não sou tão talentoso!” disse Abel, acenando com a cabeça. Ele planejava manter sua verdadeira ocupação em segredo, mas era óbvio de qualquer forma, já que ele possuía uma bolsa de portal.
De repente, os nobres perderam o interesse em conversar entre si. Em vez disso, trocaram olhares silenciosos e cada um tomou calmamente um gole de seu vinho.
Abel não pôde deixar de suspirar. Os elfos, assim como os humanos, eram fortemente influenciados pelo status. Inicialmente, ele pensou que tanto os nobres elfos quanto os humanos compartilhassem uma herança semelhante, onde apenas pessoas de status igual poderiam interagir com naturalidade. Quando a diferença se tornava muito grande, a dinâmica mudava.
O traje refinado e a bolsa de portal de Abel evidenciaram seu status. Embora ele tentasse ao máximo parecer humilde, aqueles elfos nobres não eram ingênuos. Desde jovens, aprenderam a importância dos símbolos de riqueza e poder. Sabiam que era raro alguém do nível 3 de druida possuir uma bolsa de portal.
Abel ergueu seu copo de vinho, curvou-se educadamente para os três elfos e foi se sentar em outra mesa, agora vazia.
“Você viu isso?” comentou o Lorde Ferdaisy.
“Ele diz ser apenas um Lorde, mas olhe o quão arrogante foi aquela reverência. Aposto que ele é filho de algum grande nobre.”
Enquanto Abel estava sentado em um canto com seu copo de vinho, refletindo sobre suas fórmulas de alquimia, quase todos os convidados já haviam chegado. De repente, uma voz ecoou do lado de fora:
“A prestigiada Condessa Carrie chegou!”
Além do príncipe Adolf, a pessoa mais importante a participar do banquete era a Condessa Carrie. Assim, ao ouvirem seu nome, todos os convidados no salão se levantaram, aplaudindo suavemente para recebê-la.
Abel também se levantou junto com os outros elfos e, ao fazê-lo, avistou a Condessa Carrie usando um elegante vestido de ombro único de cor roxo. No pescoço exposto, ela exibia uma joia reluzente pendurada em um colar de design tradicional, o que a tornava ainda mais graciosa.
Atrás dela, seguia o mordomo Derek, do palácio do Grão-Duque, trajando um terno preto impecável. Ele mantinha uma postura cuidadosa, sempre meio passo atrás da condessa, destacando a diferença de status entre eles.
A Condessa Carrie dirigiu um breve olhar aos nobres presentes e se inclinou levemente, agradecendo a recepção calorosa. Quando os aplausos cessaram, ela ignorou os olhares ao redor e continuou a observar o salão, até que encontrou um lugar vago e se sentou.
Apenas depois que ela se acomodou, outras nobres elfas de prestígio se aproximaram e ocuparam os assentos ao seu redor.
Todos os elfos presentes eram jovens de alto status, especialmente aqueles que se autoproclamavam poderosos e aptos á conquistar a Condessa Carrie. De repente, todos ficaram estupefatos; a Condessa raramente aparecia em eventos públicos como aquele.
Com todos os olhares focados na Condessa, o mordomo Derek foi até Abel.
Derek, que já havia organizado banquetes para a Condessa no passado, sabia exatamente o que o lugar de Abel representava. Por isso, perguntou, confuso:
“Lorde Bennett, por que você está sentado aqui?”
“Sente-se aqui, Derek, é agradável. Você pode ver todo o salão,” disse Abel, soltando uma risada suave.
Derek olhou impotente para Abel, ciente de que ele não desejava chamar atenção, e que um druida não se sentiria à vontade em um banquete como aquele. No entanto, a Grã-Duquesa Edwina lhe pediu pessoalmente que o ajudasse, explicando a ele o funcionamento do status da nobreza.
A chegada de Derek fez com que todos naquele canto ficassem em silêncio. Enquanto ele se acomodava, o Barão Carly, o Lorde Ferdaisy e o Lorde Bayinsy ficaram atordoados. Eles sabiam que, se tivessem sido um pouco mais amigáveis naquele momento, talvez suas circunstâncias tivessem mudado.
“O prestigiado Príncipe Adolf chegou!”
Quando o grande anúncio ecoou pelo salão, aplausos entusiasmados irromperam entre os convidados. Um elfo vestido com um terno branco, adornado por uma coroa com detalhes dourados, adentrou a sala acompanhado por dois guerreiros elfos em armaduras prateadas e brancas
“O Príncipe Adolf é um druida de nível 7. Hebois, filho único do Grão-Duque Francisco Doyle, carrega um nome bastante respeitável!” explicou Derek, ao lado de Abel.
Nesse instante, o Príncipe Adolf acenou com a mão, revelando um sorriso radiante que parecia iluminar todo o salão. Sua presença magnetizava a atenção de todos, fazendo dele o foco absoluto da festa. Os elfos nobres, encantados, se sentiram tocados por aquele sorriso, que transmitia sinceridade e calor.
Era um sorriso tão genuíno e acolhedor que fazia com que cada convidado se sentisse especial e incluído.