— O que você está fazendo aqui? — perguntou Byron com os olhos semicerrados. Toda a sua postura casual e desdenhosa havia desaparecido, substituída por raiva e seriedade.
O velho riu levemente. — Estou com você há umas três semanas. Não percebeu? — disse o velho com um sorriso.
— Então, você esteve aqui o tempo todo? — perguntou Byron. — Por que não me impediu de matar o Mestre da Seita do Vento?
O velho sorriu levemente. — Você sabe que não me meto com política, pequeno Byron.
Os olhos de Byron se estreitaram ainda mais. — Tenho mais de 140 anos — afirmou com naturalidade.
O velho trocou sua bengala de mão. Aparentemente, a mão que segurava estava cansada. — Você sempre será o pequeno Byron, não importa quantos anos tenha. — O velho então olhou para o céu, relembrando. — Ainda lembro do jovem que acompanhava o velho Trevas. Você ainda era um garoto naquela época. Quanto tempo faz desde que você e meu Pequeno Relâmpago brincaram?
Byron rangeu os dentes. — Está zombando de mim?
O velho tossiu levemente, mas com um sorriso. — Ah, pequeno Byron, não tenho tempo para zombar de você. A vida é preciosa, e a minha é fugaz, na melhor das hipóteses. Vou levar esse garoto comigo. Você faça o que quiser.
Byron ainda estava solene. Ele sabia exatamente o quão perigoso era deixar Gravis viver. Gravis tinha uma velocidade de cultivo e força de batalha sem precedentes. Pelas conversas que teve com Gravis, sabia que ele precisaria de menos de um ano para alcançar o Estágio da Semente. Isso significava que em um ano, Gravis teria a capacidade de lutar contra ele, embora não de derrotá-lo. Em mais alguns anos, quando Gravis chegasse ao Estágio da Muda, Byron não teria mais chance. Ele tinha certeza disso.
— Você não pode se proteger do Ancestral Trevas enquanto protege esse garoto. Não cometa um erro, velho — disse Byron ameaçadoramente.
O velho riu levemente. — O velho Trevas não está aqui agora.
Byron zombou. — Como você saberia? Nós, cultivadores da escuridão, somos os melhores em furtividade.
O velho manteve a calma enquanto o corpo de Gravis começava a flutuar devido ao seu Espírito. — Eu conheço o velho Trevas, e ele está ocupado com outras coisas. Ele não vai perder tempo aqui. Você provavelmente nem tem um método para contatá-lo, mesmo sendo o Mestre da Seita. O velho Trevas sempre foi um introvertido desamparado, sempre tramando num canto escuro brincando com suas facas — narrou o velho.
Byron ainda mantinha a expressão solene, mas por dentro, começava a sentir medo. O velho estava certo. O Ancestral Trevas não estava ali. Mesmo que Byron pudesse chamá-lo, ele provavelmente também não viria. O Ancestral Trevas nunca se importou com essas coisas. Ele só se importava em se tornar mais poderoso. Provavelmente até diria a Byron que a culpa era dele por provocar o Velho Relâmpago.
Whoosh!
Um dos anéis de Byron brilhou levemente, mas ninguém notou. O anel estava dentro de seu casaco, que nenhum Espírito poderia penetrar. Quando Byron se moveu para o lado, seu corpo desapareceu enquanto uma imagem perfeita dele permanecia. Essa imagem até exalava o Espírito e a aura dele. Nem mesmo o velho conseguiu ver através disso. Afinal, esse era um dos itens mais poderosos de Byron.
Ainda era noite, e Byron usou a escuridão perfeitamente para esconder sua presença. Ele não usou nem seu Espírito enquanto se mantinha completamente oculto. Como Mestre da Seita da Escuridão, Byron era o supremo especialista em furtividade, apenas inferior ao Ancestral Trevas. Lentamente, ele se aproximou de Gravis. Byron sabia que não podia ferir o Velho Relâmpago. A única coisa que ele poderia fazer era matar Gravis.
Clank, Thump!
Byron avançou de uma distância de um metro quando a ponta da bengala entrou entre suas pernas e o fez tropeçar. Isso aconteceu tão rapidamente e de repente que Byron não conseguiu recuperar o equilíbrio e caiu de cara no chão. Enquanto isso, Gravis flutuou um pouco mais para criar espaço para a queda de Byron.
— Cuidado, pequeno Byron — disse o velho com preocupação. — Não brinque tão agressivamente ou vai se machucar.
Byron cuspiu um bocado de terra, e seus olhos explodiram de raiva. Com toda a sua força, ele avançou e atacou o Velho Relâmpago.
THWACK!
A cabeça da bengala atingiu a cabeça de Byron, jogando-o longe. Depois de voar mais de 20 metros, Byron se recuperou. Nenhum sangue saía de sua testa, mas, por alguma razão, ainda doía pra caramba. Byron tocou a testa e sentiu uma pequena protuberância crescendo. Isso deixou Byron ainda mais irritado enquanto se preparava para um novo ataque.
— Eu disse para não brincar agressivamente, ou… — disse o Velho Relâmpago, enquanto seus olhos de repente se estreitavam. Uma pressão poderosa assaltou Byron, fazendo-o incapaz de se mover. — O vovô tem que dar um tapa em você? — disse o Velho Relâmpago com uma voz mais sombria.
Byron respirou fundo. O Velho Relâmpago sempre foi gentil, até mesmo com os inimigos da Seita do Raio. Fazia tanto tempo que Byron havia completamente esquecido o apelido do Velho Relâmpago, que ele tinha quando jovem.
“Tirano do Relâmpago”, Byron lembrou.
Em sua juventude, o Velho Relâmpago era um louco. Se alguém não soubesse que ele cultivava o raio, pensaria que ele era um lunático da Seita do Fogo. Assim que alguém dizia algo ruim sobre alguém que ele se importava, o Velho Relâmpago enlouquecia.
Ele até atacava as sedes de outras Seitas diretamente. Claro, ele não tinha força, na época, para derrubá-las, mas sempre conseguia sobreviver. O Velho Relâmpago criou uma avalanche de dores de cabeça para seu Mestre de Seita quando era jovem.
Mas, não foi só para seu Mestre de Seita. O Velho Relâmpago foi um tormento para cada Seita quando era jovem, sem exceções. Isso incluía também a Seita Celestial. Ele até tinha uma contagem de mortes de dois dígitos contra os executores da Seita Celestial.
Toda vez que ele enlouquecia e matava enxames de cultivadores, a Seita Celestial enviava executores atrás dele. Mas, o Velho Relâmpago sempre vencia. A Seita Celestial até mandava executores do mesmo Reino que ele, sem sucesso.
Em algum momento, eles pararam de enviar executores. Claro, seus sacerdotes poderiam matá-lo, mas onde ficaria a honra deles? Assim, deixaram-no fazer o que quisesse, desde que não passasse dos limites.
Byron guardou suas adagas e se acalmou. Não fazia sentido jogar sua vida fora. Gravis poderia ser um perigo para sua vida no futuro, mas se Byron continuasse atacando, ele não viveria para ver esse dia. Além disso, ele tinha coisas mais importantes a fazer. Afinal, ele havia alcançado seu objetivo de matar o Mestre da Seita do Vento.
Sem o Mestre da Seita, a maioria das Matrizes de Formação da Seita do Vento não funcionava mais. Assim, Byron poderia se infiltrar na Seita do Vento e assassinar toda a alta cúpula. Depois disso, a Seita da Escuridão chegaria e aniquilaria o restante. Com isso, toda a riqueza e recursos da Seita do Vento pertenceriam à Seita da Escuridão. Com esses recursos, finalmente poderiam matar seus inimigos.
Byron olhou para o ancião gravemente ferido da Seita do Vento e para Manuel. O ancião estava se segurando na vida por um fio, e Manuel também havia sido severamente ferido pelo tapa de Byron. Byron estreitou os olhos enquanto planejava seu próximo curso de ação.
— Você deu sorte — disse Byron a Manuel, que o olhava com um olhar de morte. — Matar você agora alertaria a Seita do Vento sobre o que está por vir. Vou deixar você vivo por mais algumas horas. Aproveite o tempo — ele disse, desaparecendo na escuridão.
Manuel e o ancião ficaram apavorados. Com o Mestre da Seita morto, ninguém poderia defender a Seita dos ataques de Byron. A Seita do Vento estava prestes a ser aniquilada?
— Estimado Sênior! Por favor, espere! — gritou Manuel, correndo em direção ao Velho Relâmpago e se ajoelhando no chão com os dois joelhos. — Por favor, salve a Seita do Vento! É o nosso lar, e eu farei qualquer coisa que você quiser! Por favor! — Manuel gritou com lágrimas nos olhos.
Manuel tinha uma vontade incrivelmente forte, mas a possível destruição de seu lar ainda o fazia chorar. Manuel cresceu na Seita do Vento, e ela era seu lar, ocupando o lugar mais importante em seu coração. Ele faria qualquer coisa para protegê-la, mesmo que significasse dar a própria vida.
Pat, pat.
O Velho Relâmpago deu um tapinha na cabeça de Manuel com um sorriso. — Sinto muito, mas não me envolvo com política — disse, destruindo toda esperança na mente de Manuel — mas meu Pequeno Relâmpago já esperava algo assim quando soube que Gravis matou pessoas da Seita do Vento. Ele já está dentro da Seita do Vento.
Manuel olhou para o Velho Relâmpago com confusão. — Pequeno Relâmpago? — perguntou.
O Velho Relâmpago riu levemente. — O atual Mestre da Seita do Raio — disse ele.
Uma figura heroica, coberta de sangue, com longos cabelos prateados, apareceu na mente de Manuel. O Monarca do Relâmpago estava sendo chamado de Pequeno Relâmpago por essa pessoa? Quem era essa pessoa?
Clank, clank!
O velho bateu duas vezes o chão com sua bengala e começou a flutuar em meio a raios. Esse era o clássico Movimento do Raio que todos usavam. Raios também apareceram ao redor do corpo de Gravis, mas só por um breve momento. Eles desapareceram rapidamente quando o corpo de Gravis desabou no chão. Os olhos do Velho Relâmpago brilharam com interesse ao ver isso. No final, ele simplesmente colocou o ensanguentado Gravis nas costas, como uma criança pequena, e disparou para longe.
— Nada vai acontecer à sua Seita — veio a voz do Velho Relâmpago dentro da mente de Manuel.
Manuel ficou primeiro chocado e depois tomado de alegria. Ele se ajoelhou ainda mais na direção do Velho Relâmpago.
— Obrigado, Sênior! — gritou com toda a sua força.