Assim que Gravis entrou, ele e Lasar se encararam. Gravis sentiu o poderoso raio de Lasar, e tinha certeza de que ele era ainda um pouco mais forte que um raio natural. O raio de Lasar estava talvez em torno de 55% da Energia de Destruição, mas, claro, Gravis não podia ter certeza absoluta.
Lasar estava sentado em um trono negro e imponente. O trono tinha mais de cinco metros de altura e também era muito largo. No entanto, com o corpo imponente e poderoso de Lasar, parecia perfeitamente adequado para ele. Lasar tinha mais de dois metros de altura e longos cabelos prateados que desciam até sua cintura. Na verdade, seus cabelos e os de Gravis tinham quase a mesma cor. O cabelo de Gravis era só um pouco mais escuro, tendendo mais para o preto. Lasar manteve um olhar firme enquanto encarava os olhos de Gravis.
Enquanto isso, Lasar estava sendo surpreendido uma vez atrás da outra, embora nada disso se refletisse em sua expressão. Gravis estava a poucos metros dele, mas Lasar sentia apenas uma quantidade minúscula de Energia em Gravis. Contudo, havia uma quantidade surreal de raio dentro do corpo de Gravis. Normalmente, o único raio que os cultivadores de raio exalavam era a Semente de Raios. Mas Gravis tinha muito mais do que isso. Além disso, o raio de Gravis parecia diferente. Parecia… perigoso.
A próxima surpresa foi o Espírito de Gravis. Lasar já havia sentido muitos Espíritos, e o de Gravis era totalmente diferente. A qualidade do Espírito era a mesma que alguém no estágio inicial da Formação do Espírito teria, mas a quantidade parecia várias vezes maior. Ele supôs que Gravis provavelmente conseguia enxergar muito mais longe do que qualquer outro em seu Reino.
A surpresa seguinte foi a vontade que Lasar sentiu. Ele não havia realmente inspecionado Gravis antes, pois estava ocupado com outras coisas. Além disso, seu avô mantinha um olhar atento sobre o rapaz. Gravis não liberava sua Aura de Vontade, mas Lasar ainda sentia a poderosa vontade adormecida de Gravis. Sua força prática era equivalente à de uma pessoa ligeiramente acima da média no Estágio da Muda.
Normalmente, isso não seria tão surpreendente, pois Lasar tinha uma vontade acima da média para alguém no Estágio da Árvore, então ainda havia um nível inteiro entre eles. No entanto, o poder teórico da vontade de Gravis era tão forte que ignorava duas camadas de supressão. Baseando-se no poder teórico, a vontade de Gravis era provavelmente até mais forte que a do Velho Relâmpago. Isso parecia irreal para Lasar.
Por fim, os olhos de Gravis eram diferentes dos de um humano comum. Claro, existiam cores de olhos estranhas e até mesmo formatos, mas nada tão ridículo quanto uma pupila em forma de cruz que basicamente ‘cortava’ o globo ocular inteiro.
No geral, Gravis tinha tantas contradições em relação aos cultivadores comuns que ele nem parecia existir. Ele era basicamente um paradoxo ambulante que quebrava tantas leis de como o mundo funcionava que era difícil acreditar que ele existia, mesmo estando bem na frente de Lasar.
Os inimigos anteriores de Gravis nem conseguiam sentir metade de suas estranhezas, pois não tinham muita experiência. A vontade de outras pessoas era difícil de calcular, e eles não conseguiam sentir a qualidade e quantidade do raio de Gravis. Lasar enxergava todas essas coisas, já que ele era um cultivador de raio e um dos mais poderosos.
O único cultivador de raio mais forte conhecido era o Velho Relâmpago. Havia a possibilidade de haver um sacerdote da Seita do Céu que também cultivasse raio, mas Lasar não conhecia nenhum. Se existisse, essa pessoa teria que lutar com o Velho Relâmpago para determinar o cultivador de raio mais poderoso do mundo.
Enquanto Lasar sentia surpresas infinitas ao olhar para Gravis, Gravis só sentia um pouco de respeito por uma pessoa mais poderosa. Não havia medo, ansiedade, adoração ou algo do tipo. Para ele, Lasar era apenas alguém que atualmente era mais forte. A palavra-chave sendo “atualmente”.
Plop.
Sem que os dois notassem, o Velho Relâmpago sentou-se em um trono ao lado de Lasar. O trono era o segundo em importância após o de Lasar, enquanto os outros dez tronos estavam todos posicionados na parte inferior. Gravis supôs que o segundo trono era provavelmente destinado ao Vice-Mestre da Seita. No entanto, se quisesse, o Velho Relâmpago poderia se sentar em qualquer assento que desejasse. Afinal, ele era, sem sombra de dúvida, a pessoa mais poderosa da Seita do Relâmpago.
— Parem de ficar se olhando — disse o Velho Relâmpago, e então convocou uma cadeira no meio da sala para Gravis. — Sente-se. Isso vai demorar um pouco.
Gravis deu de ombros e se sentou. Enquanto isso, Lasar teve outra surpresa. Alguém no estágio inicial da Formação do Espírito mostraria medo ou adoração diante dele, mas Gravis parecia não se incomodar. Claro, Lasar não era tão fraco de espírito a ponto de se irritar com a falta de adoração. Só o surpreendeu.
WACK!
O Velho Relâmpago bateu na cabeça de Lasar com sua bengala. — Pare de olhar para ele como se fosse um esquisito. Isso é falta de educação! — disse o Velho Relâmpago com autoridade. — Vá se apresentar!
A expressão de Lasar não mudou, mesmo após ser acertado na cabeça pela bengala. Ele já estava acostumado, mas ainda não apreciava ser atingido na frente de visitantes. Ele se sentiu um pouco envergonhado com isso, mas percebeu que realmente era estranho que não tivesse falado uma única palavra.
— Bem-vindo, Gravis — disse Lasar com autoridade, como se não tivesse acabado de ser atingido na cabeça. Sua voz ecoou pelo vasto e vazio salão. Este era o Salão dos Anciões. Todas as decisões importantes da Seita eram tomadas ali, então o lugar era bastante grande. Com apenas três pessoas presentes, o salão parecia desolado.
— Obrigado, Mestre da Seita — disse Gravis, levantando-se de seu assento para fazer uma pequena reverência educada. Porém, ele rapidamente se sentou de novo. Era apenas uma formalidade.
— Certo, chega de formalidades — disse o Velho Relâmpago com um tom irritado. — Gravis, acho que é melhor você começar contando desde quando apareceu em nosso mundo. Acho que um relato cronológico normal responderia a maioria das nossas perguntas.
Lasar mostrou sua primeira reação desde que Gravis entrou, com a boca aberta ao olhar para o Velho Relâmpago. — O que você quer dizer com isso? — ele perguntou, incrédulo.
O Velho Relâmpago pareceu lembrar de algo. — Ah, certo. Eu não te contei ainda. Gravis não é do nosso mundo. Ele vem de um mundo superior. Eu ouvi ele e aquele jovem da Seita da Escuridão falando sobre isso. Como era o nome dele? Bryan ou algo assim.
— Byron — Lasar corrigiu inconscientemente. — E o que você acabou de dizer? Ele não é do nosso mundo? Como isso é possível?
Gravis estava em seu assento com as sobrancelhas franzidas. — Até você sabe disso, velho? — Gravis perguntou e suspirou. — Byron sabia, você sabe, todos na Seita do Céu sabem, agora o Mestre da Seita do Relâmpago sabe. Inferno, provavelmente a Seita do Vento inteira já sabe, já que aqueles dois caras me ouviram conversando com Byron. Isso virou conhecimento comum agora? — ele perguntou com irritação.
O Velho Relâmpago deu de ombros. — E daí? Poder ainda é tudo. Qual a diferença se você vem daqui ou de um mundo superior? Isso faz alguma diferença? — ele perguntou.
Gravis suspirou. — Não, não faz. Não muda absolutamente nada — Gravis admitiu. — Se você é mais poderoso, não precisa saber nada disso para me matar, e se for mais fraco, esse fato também não vai mudar nada. No máximo, alguém pode planejar melhor para lidar com meus poderes ocultos, mas confio o suficiente na minha adaptabilidade para que isso não faça muita diferença numa luta.
Gravis suspirou de novo. — Além disso, a Seita do Céu é minha maior inimiga, e se eles já sabem, qual o ponto de manter isso em segredo? Posso muito bem contar tudo.
Os olhos do Velho Relâmpago brilharam. — A Seita do Céu é seu maior inimigo?