— Lasar? O Mestre da Seita!? — o Patriarca gritou em choque. Eles tinham ativado a Matriz de Transmissão mais poderosa, mas isso não justificaria a vinda pessoal do Mestre da Seita. Normalmente, apenas alguns anciãos seriam enviados.
Gravis esperou até que Lasar estivesse a 80 quilômetros de distância, momento em que já podia ver o que estava acontecendo dentro do Clã Freya. — Adivinha só — Gravis transmitiu para Lasar, mantendo Marvin e Reginald na conversa — aparentemente, eu sou um invasor que mente sobre sua identidade para roubar ou aniquilar o Clã Freya.
Os dois cultivadores no Estágio da Muda ainda não sentiam a presença de Lasar, o que os deixou céticos. Como Gravis era capaz de notar Lasar enquanto eles não conseguiam? O alcance do Espírito deles deveria ser maior que o de Gravis.
Um suspiro surgiu em suas mentes. — Então, realmente era você, Gravis — eles ouviram a voz de Lasar. Ele parecia bastante cansado. — Certo, o que aconteceu?
Gravis soltou um bufar de frustração. — Eu chego aqui e entro pela porta da frente. Digo que vim para pagar minha dívida, e o que eles fazem? Me cercam com várias pessoas no Estágio da Semente, me chamam de mentiroso, de ‘Distorcido’, e querem que eu aguarde o ‘julgamento’ do Patriarca — Gravis transmitiu a todos, pronunciando a palavra julgamento com uma quantidade impressionante de desprezo.
— E você não se explicou? — Lasar perguntou.
— É claro que me expliquei! — Gravis transmitiu, claramente irritado. — Mas não…, é impossível chegar ao Estágio da Semente em apenas três anos. Portanto, eu sou um mentiroso. Aquele cara — Gravis apontou para o Grande Ancião — até me atacou. Merda, estou tão frustrado e com raiva por causa dessa palhaçada! — Gravis basicamente gritou.
— Uau, Gravis, você precisa se acalmar — Lasar transmitiu. — É obviamente um mal-entendido. Eu conheço o Clã Freya, e eles não fariam algo tão nefasto.
Marvin e Reginald ouviram a conversa, e seus interiores começaram a tremer. Eles conheciam a voz e o Espírito de Lasar, então tinham certeza de que era ele quem estava falando. O fato de Lasar não ficar bravo com Gravis gritando com ele mostrou que considerava Gravis como um amigo e alguém de igual status.
— Eu sei disso! — Gravis gritou — mas você sabe como é quando alguém passa no seu limite. Meu raio está louco e fora de controle. A única razão pela qual eu ainda consigo me controlar é porque lhes devo algo. Essa é literalmente a primeira vez no Reino da Formação do Espírito e a segunda vez no total que alguém passa no meu limite e sobrevive.
A primeira e única vez que alguém não foi morto por Gravis após pisar em seu limite foi no encontro com Aion no Muro dos Ventos. Gravis queria que Aion o atacasse, e ele também sentia que devia algo a Aion, o que foi razão suficiente para não matá-lo imediatamente.
Gravis não esperava sentir-se tão enfurecido. Sua vontade era poderosa, e manter suas emoções sob controle não era problema, mas essa situação o enfureceu além da conta. O lado bom vinha com o lado ruim, e sua proximidade sem precedentes com o raio o forçava a aderir ao seu limite. Era como se ele estivesse discutindo consigo mesmo sobre por que era aceitável que essas pessoas continuassem vivas após atacá-lo.
Outro suspiro apareceu na mente de todos os presentes. — Eu sei disso — Lasar disse calmamente. — Tente descarregar sua raiva em algum lugar. Vou conversar com eles para resolver esse mal-entendido, está bem?
Gravis também soltou um suspiro irritado, sendo observado pelos outros dois com nervosismo. Eles podiam sentir a raiva de Gravis pelo tremor do seu Espírito. Normalmente, quando alguém tem uma reação emocional, o Espírito treme levemente, quase imperceptível para outros. No entanto, o Espírito de Gravis estava praticamente vibrando.
— Certo! — Gravis disse entre dentes cerrados e saiu. Ele havia conseguido suprimir sua raiva até a chegada de Lasar. Qualquer demonstração de fúria poderia resultar em uma luta, algo que ele não queria. Por isso, manteve-a contida até Lasar chegar. Mas quando ele finalmente chegou, Gravis liberou tudo. Reprimir isso só o prejudicaria em lutas futuras. Afinal, fúria cega é chamada de fúria cega por uma razão.
Gravis saiu do Clã Freya sem ser impedido por ninguém. Marvin e Reginald haviam dito às pessoas que elas não podiam cruzar o caminho de Gravis sob nenhuma circunstância.
Quando Gravis deixou o clã, Reginald e Marvin respiraram fundo, tremendo. — Acho que cometemos um grande erro desta vez — Reginald transmitiu para Marvin.
Momentos depois, Lasar chegou ao Clã Freya. Ele olhou com uma expressão complicada para o Patriarca e o Grande Ancião. — Vocês têm ideia de quão sortudos são por estarem vivos?
Reginald olhou para Lasar com culpa e frustração. — O que deveríamos ter feito? — ele perguntou. — Ele afirmou que alcançou o Estágio da Semente a partir do Reino de Refinamento Corporal em apenas três anos. Você sabe que isso é impossível. Que motivo alguém teria para mentir e tentar entrar em nosso clã se não fosse para fazer algo nefasto?
— Mas ele não mentiu — Lasar disse, chocando os dois novamente. — Ele estava dizendo a verdade.
— Mas como isso é possível? — perguntou Marvin, chocado.
Lasar suspirou, exausto. Aquilo exigiria uma longa explicação.
Enquanto isso, Gravis estava andando furioso. Ele nunca imaginaria que um incidente relativamente pequeno o deixaria tão enfurecido. Algo assim poderia, na melhor das hipóteses, ser considerado um inconveniente. Mas então, por que ele estava tão incrivelmente irritado?
— Sempre que algo invade o domínio do raio, ele ataca o intruso com tudo o que tem — Gravis murmurou para si mesmo. — O mal-entendido não foi o problema. A barreira de espinhos e os cultivadores no Estágio da Semente também não foram problema, mas assim que aquele cara me atacou, minha raiva explodiu. Droga, foi tão difícil não matar aquele desgraçado naquele momento! — O murmúrio de Gravis se transformou em gritos de fúria ao final.
BANG!
Gravis deu um chute numa árvore, destruindo-a no processo. — Merda, por que eu ainda estou tão puto!? — Gravis gritou. — Estou realmente tão preso a essa coisa de limite!? Droga, o que eu faço então? Não ser forçado a agir de uma certa maneira também é um tipo de opressão! Meu objetivo não é a liberdade? Qual a diferença entre ser oprimido pelo Céu e ser oprimido pela disposição do raio? É a mesma merda!
Normalmente, Gravis pensava de maneira muito lógica e racional, mas sua raiva dificultava sua concentração. Ainda assim, ele conseguiu manter o foco em parte. “Em primeiro lugar, por que isso me irrita tanto, enquanto as surras do velho são apenas irritantes? As surras do velho também poderiam ser consideradas ataques. Caso contrário, eu não me machucaria com elas.”
Gravis ainda estava andando furiosamente. — A única diferença real que consigo pensar é a intenção por trás do ataque. O velho quer me ensinar algo com suas surras, mesmo que só ele considere essa porcaria inútil como ensino. O desgraçado de antes só queria defender seu clã do perigo. Logicamente, eu não posso culpá-lo por isso. Do ponto de vista dele, ele agiu corretamente. Qualquer observador diria que seu ataque foi justificado. Afinal, ele não teve a intenção de me matar. Se tivesse, teria descarregado suas armas. Ele só queria me parar.
Gravis zombou. — Mas do meu ponto de vista, foi um ataque com a intenção de me ferir e me suprimir. As razões por trás disso são irrelevantes para mim, porque nunca mostrei hostilidade ao clã. Eu nem machuquei ninguém. Bem, exceto o arbusto espinhoso, mas eu dei uma chance para ele recuar.
Gravis se virou e olhou na direção do Clã Freya com fúria nos olhos. — Então, falando logicamente, ambos os lados agiram corretamente e estavam justificados. Ele só queria defender a família, enquanto eu fui alvo de um ataque hostil. — Gravis cuspiu de lado. — Tch, acho que isso pode ser chamado de azar, né?
Então, Gravis olhou para o céu. — Será que isso é mais um exemplo de como minha falta de Sorte Cármica funciona? É difícil discernir se isso é culpa da minha falta de Sorte Cármica ou apenas uma coincidência. Mas o azar, teoricamente, não existe só em coincidências? O azar não seria apenas uma coincidência fora do meu controle que me coloca numa situação ruim? Merda, tudo isso é filosófico e abstrato demais!
Vários minutos se passaram, e a raiva de Gravis não diminuiu nem um pouco. Ela permanecia no mesmo nível, o que o surpreendeu. — O que, vou ficar com tanta raiva assim até resolver isso? Você tá de sacanagem!? — Gravis gritou.
— Merda! Merda! Merda! — Gravis gritou enquanto chutava uma montanha a cada palavra, criando crateras toda vez que o fazia.
— Certo, preciso de uma solução para isso! Quanto a essa coisa de opressão por causa do meu limite, vou pensar sobre isso depois que me acalmar. Agora, não consigo me concentrar. Acho que sei uma solução que vai me acalmar por enquanto. Azar da Joyce, no entanto. Ela não teve culpa em nada disso, mas acaba perdendo o que conquistou.
Gravis saltou em sua Prancha de Relâmpago e disparou de volta para o Clã Freya. Assim que liberou seu raio para acelerar, ele saiu em uma quantidade muito maior do que ele queria. A Prancha de Relâmpago acelerou rápido demais, e Gravis caiu, batendo no chão.
— Droga! Eu sabia que a raiva é ruim! Nem consigo controlar direito meu raio agora! — Gravis gritou. — Se eu lutar assim, provavelmente nem conseguirei usar 50% do meu poder! Merda, isso não é uma fraqueza enorme!? Preciso resolver isso!
Em vez de usar sua Prancha de Relâmpago, Gravis correu de volta para o Clã Freya. À medida que se aproximava, sua raiva finalmente começou a diminuir. Isso porque ele já havia decidido o que fazer, o que acalmou suas emoções e o raio. Aparentemente, sua solução foi suficiente para o raio e foi aceita.
Assim que ele atingiu uma distância de 80 quilômetros do Clã Freya, ele contatou Lasar.
— Diga a eles que eu não vou matar a pessoa que me atacou, mas também não vou mais dever nada ao Clã Freya. — A voz fria, mas calma de Gravis surgiu na mente de Lasar. — O Clã Freya me ajudou no meu cultivo, e eu pagarei essa dívida salvando hoje a vida de um de seus especialistas mais fortes.
— A partir de hoje, não devo mais nada ao Clã Freya!