Gravis e o Sumo Sacerdote ficaram se encarando. O Sumo Sacerdote usava as vestes mais extravagantes que Gravis já havia visto, tão cheias de adornos, joias e Pedras de Energia que parecia difícil até caminhar com elas. No entanto, contrastando com suas roupas pomposas, ele carregava apenas um longo cajado de madeira, provavelmente sua arma.
— Então, você é o Sumo Sacerdote, hein? — Gravis transmitiu para ele.
O Sumo Sacerdote estreitou os olhos. A formiga à sua frente não parecia temer nem um pouco sua presença. Quando foi a última vez que alguém não se ajoelhou diante dele? Mas, o que importava a opinião de uma formiga para um elefante?
— E você é a formiga que quer matar meu pai — ele respondeu com desprezo.
— Pai? Achei que o Céu não tivesse gênero — Gravis comentou, casualmente.
A indiferença de Gravis o estava irritando. — Não tem. Nós atribuímos ao Céu o gênero com o qual nos sentimos mais confortáveis. Para mim, o Céu é meu pai — disse ele, com sua voz ecoando por toda a Seita do Relâmpago, sem usar seu Espírito para se comunicar com Gravis.
Enquanto isso, todos na Seita do Relâmpago olhavam com choque e medo absoluto para a figura flutuante. Nunca haviam visto o Sumo Sacerdote antes, mas se sentiam como formigas sob sua presença. Ele era o ser mais poderoso de todo o mundo! Até Lasar estava temeroso ao observá-lo.
Os olhos de Gravis brilharam. — Interessante — ele disse, também com sua voz ecoando pela Seita. O Sumo Sacerdote franziu ainda mais os olhos ao perceber que Gravis ainda podia se mover sob sua Pressão Celestial.
Vale lembrar que a Pressão Celestial do Sumo Sacerdote era equivalente a uma Vontade de Unidade de nível três. Além disso, havia uma forte supressão de nível entre eles. Isso provava que a Aura de Vontade de Gravis era muito mais poderosa do que a Pressão Celestial do Sacerdote.
— Você ainda consegue se mover — o Sumo Sacerdote comentou. — Agora entendo por que você é o inimigo do meu pai. Mas por que acha tão interessante eu chamar o Céu de pai? — ele perguntou. O Sumo Sacerdote parecia estar no controle total da situação, e sua maneira de falar transmitia essa certeza a todos ao redor.
Gravis apenas continuou sorrindo enquanto levantava a mão lentamente para coçar o queixo. — Um pai é mais autoritário que uma mãe. A conduta desse Céu inferior definitivamente se parece mais com a de um pai abusivo do que com a de uma mãe amorosa. Quem diria que o filho mais forte teria medo do próprio pai?
— Insolência! — o Sumo Sacerdote gritou, fazendo a terra tremer por toda a Seita do Relâmpago. — Como ousa tentar entender alguém tão poderoso quanto eu!? Você não sabe nada sobre meu pai.
A voz do Sumo Sacerdote sacudiu o corpo de Gravis, mas seu sorriso não desapareceu. — Eu ouvi sua voz, e essa não é a voz de alguém com raiva. É a voz de alguém com medo de ser punido.
Por dentro, o Sumo Sacerdote tremeu, mas por fora ele se manteve calmo. — Eu realmente não entendo como você pode ser tão destemido e tolo ao se confrontar com sua própria morte — ele disse.
Gravis bufou. — Minha morte? Pfft! Até parece.
O Sumo Sacerdote começou a ficar irritado. — Mesmo que você avance para o Reino da Unidade agora, você não sabe como usar seus novos poderes. Não há como você sobreviver. Além disso, seu corpo, Espírito e Magia precisam de tempo para ficarem mais fortes. O que você pode fazer nesse intervalo? — ele disse com desprezo.
Gravis sorriu novamente. — O aumento de poder dos meus centros de poder pode demorar, mas a conexão será estabelecida instantaneamente — Gravis disse calmamente. — Assim que eu os conectar, colocarei tudo o que tenho no meu corpo e Espírito. A supressão de nível vai desaparecer, e você será o suprimido. Além disso, você não pode manter sua Pressão Celestial ativa o tempo todo. Nesse momento, eu só precisarei ganhar tempo para me acostumar.
As emoções do Sumo Sacerdote começaram a descontrolar-se ao ouvir isso. Sua vontade não era poderosa, pois ele apenas pegava emprestada a Vontade do Céu. Por isso, suas emoções eram facilmente influenciadas. Mas por que ele estava ficando tão agitado? Porque Gravis estava certo. Sua tática faria com que ele sobrevivesse o suficiente para se acostumar com os novos poderes.
Mesmo que o Sumo Sacerdote agisse como uma criança mimada, ele não era tolo. Sabia que a Força de Batalha de Gravis era sem precedentes. O Sumo Sacerdote esperava que Gravis pudesse lutar mesmo sem aumentar seus centros de poder.
Ele tinha a habilidade de concentrar todo o seu poder em seu Espírito e destruir o Espírito dos outros. Foi assim que ele matou outros sacerdotes. No entanto, a vontade de Gravis era simplesmente forte demais. A vontade fortalecia o Espírito, e o Sumo Sacerdote temia que Gravis pudesse sobreviver a esse golpe. Nesse ponto, tudo se desenrolaria como Gravis havia descrito.
Embora o Sumo Sacerdote fosse claramente o mais poderoso entre os dois, era ele quem estava nervoso. Um movimento errado e ele estaria condenado, mas, por outro lado, se não atacasse Gravis e este morresse para o Céu, o próprio Céu o destruiria. Ambos os caminhos levavam à morte.
Depois de alguns segundos, o Sumo Sacerdote soltou um suspiro trêmulo. — Agora entendo por que meu pai teme você — ele comentou. Pela primeira vez, sua voz não exibia confiança infinita.
Gravis continuou sorrindo. — Falando nisso, como e por que você veio? Pelo que sei, o Céu não deveria conseguir te contatar há uns cinco anos.
Pela primeira vez, os olhos do Sumo Sacerdote se arregalaram de choque. Isso era um segredo, e apenas ele sabia! O Céu realmente havia ficado completamente silencioso por cinco anos. Não importava o quanto o Sumo Sacerdote orasse ou pedisse respostas, o Céu nunca respondia.
Como Gravis sabia disso? Era porque ele vinha de um mundo superior e sabia mais sobre o Céu? Essas coisas não eram segredo nos mundos superiores?
— Como você sabe disso? — ele perguntou com a voz trêmula.
O sorriso de Gravis não desapareceu. Agora, parecia que ele era o dono da situação. — Porque até cinco anos atrás, esse Céu inferior não tinha ninguém o supervisionando. Era como uma criança sozinha em casa. Mas, cinco anos atrás, um adulto apareceu e o forçou a seguir as regras da casa. Sob a supervisão do adulto, a criança não pode quebrar as regras.
As emoções do Sumo Sacerdote voltaram a se agitar. Que regras? O Céu tinha que seguir regras? — Que regras? — ele perguntou.
— Não pode contatar ou interferir diretamente no mundo — Gravis transmitiu, já que não queria colocar a Seita do Relâmpago em perigo. Se eles soubessem os segredos do Céu, estariam em risco. — Então, nada de falar, nada de novos Nascidos do Céu, e nada de matar pessoas diretamente.
O Sumo Sacerdote começou a hiperventilar. Era como se um novo mundo estivesse se abrindo diante de seus olhos.
Gravis não parou por aí. — Isso também significa que o Céu não vai te matar. O pior que pode fazer é roubar toda a sua Sorte Cármica, deixando você sem sorte pelo resto da vida. — Gravis e o Sumo Sacerdote não eram amigos, então ele não se importava com as consequências de revelar os segredos do Céu.
A mente do Sumo Sacerdote estava funcionando a toda velocidade, pensando em todas as coisas que ele poderia fazer sem a constante supervisão do Céu. Será que nada mais o impedia? Ele finalmente poderia fazer o que quisesse?
Mas, rapidamente, o Sumo Sacerdote sacudiu a cabeça, tentando se recompor. Esse pensamento parecia bom demais para ser verdade. Mesmo que Gravis tivesse demonstrado conhecer muito sobre o Céu, não havia garantia de que ele não estivesse mentindo agora. Diante da morte, talvez até um cultivador de raio pudesse recorrer a mentiras.
Ainda assim, o Sumo Sacerdote não sabia como proceder. Se atacasse Gravis, havia uma grande chance de morrer. No entanto, se não atacasse, ele também poderia morrer para o Céu. O Sumo Sacerdote temeu o Céu durante toda a sua vida, e esse medo não desapareceria magicamente apenas porque alguém disse algumas palavras.
“Não há outra saída”, pensou o Sumo Sacerdote com frustração e nervosismo. “Eu preciso arriscar, ou vou definitivamente morrer!”
Gravis ainda estava com um sorriso no rosto, mas, de repente, esse sorriso desapareceu. Seus olhos ficaram vidrados, sem vida, e sua Aura de Vontade e Espírito sumiram. Surpreendentemente, a mesma coisa aconteceu com o Sumo Sacerdote, que pousou no topo da Torre do Relâmpago com os olhos sem vida.
Todos na Seita do Relâmpago puderam se mover novamente, mas ninguém se atreveu a interferir. Mesmo que pudessem, esse não era um combate em que eles poderiam se meter. O silêncio prevaleceu, e tudo estava nas mãos de Gravis agora.
Enquanto isso, dentro do Espaço Espiritual de Gravis, dois indivíduos apareceram. Um era Gravis, e o outro era o Sumo Sacerdote.
Assim que entrou no Espaço Espiritual de Gravis, o Sumo Sacerdote suspirou de alívio. Ele havia conseguido fazer isso sem que Gravis percebesse. Se Gravis tivesse notado a entrada do Espírito do Sumo Sacerdote, ele teria alcançado o Reino da Unidade. Felizmente, o Sumo Sacerdote conseguiu não ser notado e, silenciosamente, agradeceu ao Céu.
Gravis, por sua vez, estava surpreso por ter sido levado ao seu próprio Espaço Espiritual sem desejar isso. Quando viu o Sumo Sacerdote, seus olhos se estreitaram. Além disso, Gravis percebeu que seu Espírito estava isolado de tudo. Ele não conseguia nem sentir seu corpo ou seu raio, o que impossibilitava de alcançar o Reino da Unidade.
Os dois se olharam novamente, um com os olhos estreitos, e o outro com um sorriso presunçoso.