Após um mês inteiro de viagem, Gravis e Orthar chegaram a um ambiente com cerca de quatro vezes a densidade de Energia. Essa densidade era aproximadamente igual à do Continente Central do mundo inferior anterior de Gravis. Ao longo do caminho, eles também encontraram duas outras Bestas Espirituais de grau alto.
A primeira era uma estrela-do-mar de tamanho considerável, com cerca de 300 metros de diâmetro. Orthar ficou imediatamente interessado e a enfrentou em combate enquanto Gravis assistia.
Seus tentáculos colidiam em uma constante disputa de superioridade. No entanto, graças à inteligência de Orthar, ele conseguiu girar a estrela-do-mar de costas para ele. Nesse ponto, o bico de Orthar fez o resto.
— Eu não me sentia tão vivo há eras! — Orthar transmitiu a Gravis com entusiasmo. — Parece que minha juventude está voltando!
Gravis apenas sorriu, deixando Orthar curtir seu momento de alegria. Orthar não enfrentava um oponente poderoso há sabe-se lá quanto tempo.
Enquanto Orthar comia, Gravis perguntou quanto ele ainda precisaria caçar para alcançar o próximo nível. Orthar explicou que, até então, ele não havia enfrentado uma besta do mesmo nível que ele, mas tinha devorado muitas Bestas Espirituais mais fracas. Embora essas não fossem tão nutritivas quanto as bestas de nível igual, a quantidade também era uma forma de qualidade.
Orthar calculava que precisaria de mais uma besta desse tipo para alcançar o Estágio Unidade. Nesse ponto, ele poderia reformar seu corpo para algo mais adequado ao combate, algo que ele aguardava ansiosamente.
Surpreendentemente, a segunda besta que encontraram também era um polvo gigantesco. Orthar não era muito fã de comer outro polvo, e esse era grande demais para Gravis. Mesmo com seu novo tamanho, levaria uma eternidade para comer tudo aquilo. Por isso, eles decidiram deixá-lo em paz.
O polvo parecia pensar da mesma forma, pois também não os atacou. Às vezes, simplesmente não havia motivo para lutar.
Assim, depois de um mês, eles chegaram a um local peculiar.
— O oceano está ficando raso rapidamente — disse Orthar. — Estamos nos aproximando da massa terrestre central?
— Acho que sim — respondeu Gravis, franzindo a testa. — Temia que isso pudesse acontecer.
— Como assim? A massa terrestre não é nosso objetivo? — Orthar perguntou.
— Não exatamente — respondeu Gravis. — Lembra do mapa do mundo que mostrei? Estamos mirando os territórios oceânicos que se estendem para dentro da massa terrestre. Assim, não precisamos sair da água, e você pode lutar no seu habitat natural.
Agora Orthar entendia por que Gravis não estava satisfeito.
— Então, se a densidade de Energia nos levou direto para o continente, significa que não estamos na parte do continente que nos permite entrar pela água.
Gravis assentiu. — Exatamente. — ele disse. — Talvez precisemos mudar nossos planos.
— O que você pretende fazer? — Orthar perguntou.
— Viajar ao redor do continente até alcançarmos nosso destino pode levar anos. Talvez você não se importe com a espera, mas eu me importo. Quero ficar mais forte e obter meu corpo perfeito — disse Gravis. — Acho que deveríamos caçar perto da costa até ambos alcançarmos o Estágio Unidade.
Orthar refletiu por um momento. — Porque assim poderemos moldar nossos corpos para podermos ir à terra firme sem desvantagens em combate, certo?
Gravis assentiu. — Com o corpo que tenho em mente, poderei lutar confortavelmente tanto na terra quanto na água, embora talvez com um desempenho um pouco melhor em terra. A partir do Estágio Unidade, as bestas também conseguem voar. Se você diminuir o tamanho do seu corpo, alongar e afinar seus tentáculos e adicionar garras a eles, também poderá lutar bem em terra.
— Concordo com o plano — disse Orthar. — Não posso estar sempre preso ao oceano. Adaptabilidade ao ambiente é essencial.
Gravis assentiu novamente. — Certo. Então vamos nos aproximar da costa. — disse Gravis.
— Nunca vi a costa antes. Estou curioso para saber como ela é — disse Orthar.
Assim, continuaram nadando por alguns minutos. O oceano ficou mais raso até ter apenas cerca de cinco quilômetros de profundidade, bem menos comparado aos habituais 60 quilômetros. Ao chegar a esse ponto, pararam.
Não era por falta de vontade de continuar, mas porque uma nova situação exigia atenção.
Uma vasta concentração de Bestas Espirituais surgiu diante deles. Elas estavam todas aglomeradas, como se esperassem por algo. Gravis não viu nenhuma besta mais fraca entre elas. Tudo ali era formado por Bestas Espirituais.
— Por que há tantas Bestas Espirituais aqui? — Gravis perguntou a Orthar, franzindo a testa. — Além disso, elas não mostram sinais de combate, mesmo com tanta presa ao redor.
— Isso é uma horda — disse Orthar.
— Horda? — Gravis perguntou, ainda com a testa franzida. — Você está se referindo apenas ao fato de haver muitas delas ou essa palavra tem um significado específico?
— Uma horda é uma reunião de bestas sob a liderança de alguém. Você pode compará-la às Seitas, vilarejos, cidades ou Clãs dos humanos que você me contou. As bestas pertencem a uma mesma facção e, por isso, não são inimigas — Orthar explicou.
Os olhos de Gravis brilharam um pouco. — Interessante — disse ele, coçando o queixo. Como Gravis suspeitava, o conhecimento de Orthar sobre as bestas se mostrava útil. Inicialmente, Gravis estava apenas interessado em ficar com Orthar até se tornar forte o suficiente, mas acabou gostando do polvo. Por algum motivo, os dois realmente se davam bem.
Talvez fosse por conta de suas mentalidades. Orthar era bastante inteligente e lógico, assim como Gravis. Embora Gravis ficasse irritado com as constantes perguntas de Orthar, ele nunca repetia uma pergunta. Além disso, Gravis estava impressionado com a facilidade com que Orthar assimilava conhecimento.
— Então, isso significa que ou elas estão reunidas aqui porque este é seu lar, ou porque querem fazer algo — disse Gravis, enquanto observava a horda. Ele tinha certeza de que conseguiria encontrar alguma pista sobre o motivo daquela reunião.
Viu todos os tipos de bestas: enguias, serpentes marinhas, polvos, lagartos aquáticos, lesmas, caranguejos, lagostas e camarões. Quase tudo estava presente. No entanto, Gravis percebeu uma peculiaridade que rapidamente explicou a razão daquela reunião.
— Quase não há peixes, embora eles representem a maior parte da população marinha — disse Gravis. — Acho que sei o que estão planejando.
— Estão atacando a terra — Orthar disse, ao também perceber a composição peculiar da horda. Ele não precisava que Gravis explicasse, pois era inteligente o suficiente para deduzir isso por conta própria.
Gravis assentiu. — Acho que sim. Será que está acontecendo uma guerra entre a terra e o mar?
— Não sei — disse Orthar. — Vamos perguntar a alguém.
— Acho melhor você fazer isso, Orthar — disse Gravis. — Externamente, você parece mais forte do que eu. Será mais fácil para você falar com eles.
Gravis e Orthar nem cogitaram atacar as bestas, pelo menos não até entenderem o que estava acontecendo. Se as outras bestas se envolvessem em um combate, Gravis seria obrigado a usar sua Aura de Vontade. Nesse caso, eles não conseguiriam obter nenhuma experiência de combate.
Havia muitos peixes no mar. Por isso, não era necessário atacar tudo o que viam. Eles poderiam encontrar outros oponentes sem dificuldade mais tarde. Afinal, estavam tão perto do continente quanto possível. Praticamente todas as Bestas Espirituais de grau alto nascidas no mar deveriam estar ali.
Poucas Bestas Espirituais de grau alto tinham corpos adequados para combate em terra, razão pela qual não deixavam a água até alcançarem o Reino Unidade. Muitas bestas nem sequer sabiam da existência do continente antes de atingirem o nível de Besta Espiritual. Se alguém não soubesse da existência de um ambiente diferente, não teria como modificar seu corpo para se adaptar a ele.
Nesse ponto, seria necessária mais uma evolução para que pudessem ir à terra com confiança. Por isso, havia muitas Bestas Espirituais nadando por ali.
Orthar conversou com várias bestas, mas era difícil obter informações úteis de suas mentes fracas. Depois de um tempo, ele decidiu falar com outro polvo, o que deveria facilitar bastante a conversa.
Orthar passou vários minutos conversando com o polvo e, em seguida, voltou.
— Temos um problema — disse Orthar a Gravis.