Esse Lorde poderia ser descrito como uma espécie de polvo estranho. Sua cabeça tinha apenas um metro de altura, mas seus tentáculos tinham cinco vezes esse comprimento. Além disso, todo o seu corpo era coberto por escamas resistentes.
Naturalmente, esse Lorde era Orthar.
Seus tentáculos terminavam em garras longas e afiadas. No entanto, ao invés de serem arredondadas, as garras tinham a forma de um gancho de quatro pontas. Orthar podia movimentar essas garras livremente e, ao juntá-las, formavam uma lança poderosa. Depois de perfurar um alvo com essa lança, ele podia mover os ganchos dentro do corpo da vítima, ferindo-a gravemente ou se fixando nela.
Orthar podia se arrastar pelo corpo de seus inimigos, perfurando-os com pequenos ganchos pelo caminho. Seus tentáculos também possuíam outros ganchos móveis, permitindo que ele abrisse buracos para penetrar e matar seus oponentes de dentro para fora.
Quando Gravis viu o novo corpo de Orthar pela primeira vez, ficou surpreso com o tamanho pequeno. No entanto, Orthar explicou que não era capaz de deixar seu corpo tão pequeno de verdade. Ele esclareceu que essa era apenas uma forma temporária.
Gravis não entendeu muito bem no início. Então, Orthar explicou que, a partir do Reino Unidade, as bestas podiam alterar seu tamanho, tornando-se maiores ou menores. Contudo, ao mudar de tamanho, só conseguiam usar cerca de metade do seu poder total.
Essa alteração exigia concentração e colocava o corpo sob estresse. Para lutar em plena capacidade, era necessário retornar ao tamanho original. No caso de Orthar, sua cabeça tinha dez metros de comprimento em sua forma verdadeira, bem maior do que aparentava no momento.
Quando Gravis perguntou por que Orthar escolheu ficar tão pequeno, ele respondeu que era mais prático para se mover. Além disso, menos bestas o notariam, e ele poderia ouvir conversas interessantes sem ser detectado.
Depois de evoluir, Orthar foi até Gravis para mostrar seu novo corpo e também para assistir à evolução de Gravis. Queria ver como seria o corpo perfeito dele. Por isso, estava ao seu lado naquele momento.
Gravis estava em sua caverna dentro da Torre. Como planejado, a caverna ficava no nível do solo e só era acessível pelo túnel que conectava o Abismo ao topo da Torre. A caverna era vasta, ocupando quase metade da largura da base da Torre. Afinal, ela precisava ser grande o suficiente para acomodar todos os oficiais, caso fosse necessário reuni-los.
Não havia móveis ou iluminação na caverna. Bestas não entendiam o conceito de móveis, e Gravis também não se importava. A única coisa com aspecto humano na caverna era uma porta, que ele mesmo criou para impedir que qualquer um espiasse seu espaço.
Orthar observava Gravis atentamente, enquanto ele planejava sua evolução. Aquela seria a evolução mais crítica de Gravis, e nada poderia dar errado.
Assim que sentiu a familiar sensação de coceira, Gravis verificou seu Espaço Espiritual e convocou o corpo de Céu. Seu pai havia dito que ele deveria consumi-lo assim que atingisse novamente o Reino Unidade.
Quando o verme negro cheio de olhos apareceu, Orthar o encarou com uma mistura de emoções. De alguma forma, ao olhar para aquele corpo, sentiu-se como uma formiga diante de um imperador. O corpo exalava uma aura sagrada, poderosa e inspiradora. Parecia algo que jamais poderia ser profanado ou ferido.
Crunch!
Orthar foi tirado de seus pensamentos ao ver Gravis arrancar metade do corpo de Céu com os dentes. Em seguida, ele engoliu a outra metade inteira. Orthar ficou impressionado com a naturalidade com que Gravis despedaçou algo que parecia divino, como se fosse apenas mais uma refeição.
Assim que o corpo de Céu entrou em seu estômago, Gravis sentiu-se transportado para outro mundo. Uma visão surgiu em sua consciência, e ele teve a impressão de que estava vendo o mundo inferior novamente.
Gravis observou o mundo e sentiu sua consciência se expandir, até que todo o mundo apareceu diante de seus olhos. Ele viu tudo, incluindo a borda do mundo, onde ele se interrompia e se abria para um abismo.
Agora, Gravis finalmente entendia a forma do mundo. Era um continente único flutuando em meio ao caos, protegido por uma barreira nas bordas, no topo e na base.
Ao olhar mais de perto, Gravis notou peculiaridades. Ele viu todas as Seitas Elementais e percebeu que todas as pessoas mortas haviam revivido. Reconheceu Byron, o Velho Relâmpago, Lasar, Joyce e todos os outros que conhecera. Viu também Aion supervisionando a filial sudeste da Seita do Céu.
Gravis logo percebeu que estava vendo o mundo como era antes de sua chegada, pois Joyce, na visão, ainda parecia uma adolescente.
Sentiu também uma conexão íntima com o mundo. Era como se pudesse controlar tudo o que acontecia ali. Ele podia conceder ou retirar Sorte Cármica, moldar o mundo à sua vontade.
Todos os elementos respondiam ao seu chamado. Ele podia invocar raios, lava, vento, chuva, fogo e qualquer outra coisa. Nada estava fora de seu controle.
Ou, pelo menos, era o que pensava, até notar algo.
Percebeu que não conseguia controlar os elementos dos cultivadores ou das bestas. Os elementos deles pertenciam a eles próprios, e ele não tinha poder sobre isso.
“Então, é assim que Céu se sente, huh?” pensou Gravis.
Enquanto estava dentro da visão, sentiu seu corpo mudar. Percebeu que não estava ali apenas com sua consciência, mas com seu corpo físico. Seu corpo longo e serpentiforme de cinquenta metros pairava sobre o mundo, no caos.
Sentiu a afinidade com os elementos começando a se fundir ao seu corpo. Nesse instante, Gravis compreendeu o que estava acontecendo, e também entendeu a escolha que seu pai mencionara no passado.
Ele poderia manter sua afinidade com o raio, ou poderia recuperar a Sincronia Elemental que havia perdido, combinando o melhor dos dois mundos: uma afinidade sem precedentes com o raio e a Sincronia Elemental.
Mas Gravis apenas sorriu de canto.
BANG!
Todas as conexões com os outros elementos se romperam, deixando apenas o raio em sua essência. Quando quebrou essas conexões, sentiu sua consciência se expandir. Era como se sua mente estivesse mais leve do que nunca.
Aparentemente, manter as conexões com os elementos colocava sua mente sob uma pressão constante. Ele não havia percebido isso antes, mas agora que essa pressão desaparecera, sentia sua ausência.
“Sentir-se sem pressão, huh? Não sou fã disso”, pensou Gravis com um sorriso.
Whoooom!
Sua mente se concentrou inteiramente no raio. Ele sentiu sua mente se esforçar mais, mas, ao mesmo tempo, seu controle sobre o raio aumentava. Logo, até mesmo o raio presente nos corpos vivos estava sob seu domínio.
Sabendo que aquele mundo era apenas uma ilusão, Gravis não teve escrúpulos em destruí-lo. Todos os cultivadores e bestas com afinidade com raio morreram quando seus raios os abandonaram. As tempestades elétricas que assolavam o mundo desapareceram, até não restar mais nenhum raio.
Todo o raio convergiu em uma enorme esfera de energia elétrica diante de Gravis.
BZZZZ!
Um buraco queimou pelo abdômen de Gravis enquanto seu próprio raio se unia à enorme esfera de raio. Então, a esfera começou a se transformar até ser completamente convertida em Raio de Punição. Em seguida, Gravis se concentrou nela, forçando-a a encolher.
Depois de alguns minutos, a esfera de raio tinha o tamanho de uma maçã. Parecia minúscula na gigantesca mão de Gravis. Ele a observou com um sorriso, sentindo o cansaço se acumular em sua mente. Controlar aquele raio sugava toda a sua concentração.
— Só existe raio — Gravis declarou.
Então, ele engoliu a esfera.
Imediatamente, Gravis sentiu seu corpo ser destruído pelo raio. Uma dor imensa o tomou, mas ele percebeu que não era apenas uma destruição sem propósito. À medida que o raio ‘devorava’ partes de seu corpo, deixava para trás uma réplica idêntica.
No entanto, essa réplica não era composta por energia como a matéria comum do mundo. Não havia energia; só havia raio.
Gravis sentiu a dor, mas ao mesmo tempo, uma excitação intensa. Era como se ouvisse os gritos de agonia de seu corpo inadequado, sendo substituído por algo mais poderoso.
Toda a matéria no mundo era feita de energia. Mas isso já não se aplicava ao corpo de Gravis.
Seu antigo corpo queimou, dando lugar a um novo. O gigantesco corpo desapareceu no nada, deixando para trás apenas uma pequena forma.
No entanto, essa forma só parecia pequena em comparação ao corpo anterior. Aquele era o novo corpo de Gravis.
Ele agora tinha dois metros de altura, e suas escamas negras pareciam absorver toda a luz ao seu redor. Além disso, havia uma nova adição: pernas. Gravis já havia decidido há muito tempo como seu corpo ideal seria, e chegou à conclusão de que pernas humanas eram inadequadas.
Em vez disso, suas pernas eram quase idênticas às de um velociraptor, com apenas pequenas diferenças que só poderiam ser notadas com uma análise minuciosa.
Agora, o corpo de Gravis estava completo.
Ele possuía escamas negras incrivelmente resistentes, proporcionando uma defesa formidável. Seus braços eram longos e poderosos, com uma força de apreensão superior à de um humano. Suas mãos tinham garras longas, que poderiam servir como armas adicionais.
Sua boca estava repleta de presas afiadas. Seu focinho lembrava o de um jacaré, permitindo-lhe aplicar uma mordida devastadora. Seu peito e pescoço eram largos, dando suporte à força dos braços e da cabeça. Sua cintura era flexível, permitindo-lhe realizar movimentos complexos sem precisar mover a parte inferior do corpo.
A cauda era longa e forte, protegendo suas costas e funcionando como mais uma arma. Suas pernas eram otimizadas para velocidade e aceleração, capazes de impulsioná-lo a velocidades absurdas com um único salto.
As pernas cobriam o aspecto da velocidade.
As escamas cobriam o aspecto da defesa.
Todo o resto era voltado para o ataque.
Gravis havia convertido seu corpo em uma arma poderosa.
Além disso, ao consumir o corpo de Céu, ele finalmente alcançou o que lhe faltava. No passado, a manifestação do raio havia transformado seu Espírito e sua Energia em raio. Contudo, seu pai e o Céu mais elevado haviam interrompido o processo antes que seu corpo fosse completamente convertido.
Agora, seu Espírito era raio, sua Energia era raio, e seu corpo era raio.
Gravis sorriu. Então, todo seu corpo se transformou em um raio, disparando para fora do mundo, em direção ao caos infinito.