Estou na região de Biegoya no Continente Demônio, dentro da propriedade de um certo prefeito da cidade. O cheiro de álcool impregnava o ar. Os homens na sala, todos completamente bêbados, estavam seminus. Nenhuma peça de roupa da cintura para cima.
Estava bem na frente do chefe do grupo. Eu conhecia o cara pela reputação, mas ele estava um pouco fora do meu alcance. Sabia seu nome, é claro. Já o havia visto de longe, mas nunca saímos juntos, nem sequer conversamos. Eu só sabia quem era ele, certo? Sabia que estava lá fora no mundo, fazendo alguma coisa. Essa era a extensão da nossa pequena relação, se é que se pode chamar isso de relação.
Ultimamente, eu vinha me insinuando no grupo dele, mas ainda não tinha me acostumado a ficar perto deles. Meus joelhos ainda estavam batendo.
— Fwahaha! Fwahaha! Fwah! Fwah! Fwahahaha!
O homem estava bebendo energicamente seu drinque. Seus seis braços agarraram um barril inteiro de cerveja; ele o virou e engoliu, engoliu e engoliu. A maneira como bebeu sugeria que não estava prestando atenção ao sabor. Desperdício de um bom drinque, se você me perguntar.
— Você está de bom humor — eu disse, aproximando-me do homem.
Depois de drenar a última gota do barril, o homem o jogou para longe. Seus olhos se fixaram em mim. — Fwahahaha! Sim, estou! — Ele ofereceu apenas essa breve resposta antes de desviar o olhar. — Traga-me outra bebida, estou gostando da sua cerveja! Um verdadeiro vintage. Fwahaha!
Esse cara não estava interessado em mim, mas eu sabia uma palavra que chamaria sua atenção. Assim que ele ouvisse, sabia que se sentaria e ouviria.
— Então… Você já ouviu falar do Deus-Homem? — perguntei.
Sua risada parou e seus olhos se voltaram para os meus.
— Você, — disse ele — onde ouviu esse nome?
— No mesmo lugar que você. Em um sonho.
— Ah, é mesmo? Vá até a Universidade de Magia no Reino de Ranoa! Lá você encontrará alguém com uma profunda conexão com o Deus-Homem! Fwahaha!
Presumi que ele estivesse se referindo ao Chefe. É verdade, se eu estivesse preso ao Deus-Homem e quisesse sair, esse seria o lugar certo para isso. Um conselho razoável.
— Não — respondi. — Tenho negócios com você.
— O quê?
— Estou me aliando ao Deus-Homem. Estamos lutando contra o Deus Dragão. Junte-se a nós.
— Ah?
Toda a sua postura mudou. Seu sorriso jovial se transformou em algo sério. Foi uma mudança surpreendente, considerando que ele era um cara sempre alegre e jovial.
— Se é isso que você quer, deixe-me dizer uma coisa. Considere isso um conselho.
Assenti com a cabeça.
— Vá em frente.
— Se você se aliar com o Deus-Homem, um dia destruirá com suas próprias mãos o que é mais precioso para você. Saia enquanto pode.
— Sim, eu sei. Segui o conselho D’Ele antes e isso me levou a destruir toda a minha terra natal.
Ele ficou olhando para mim sem entender nada.
— Sua terra natal? Hmm?! E você ainda segue aquele cara?
— Acho que sim.
Deve ser assim que se sente quando alguém muda de opinião a seu respeito. Senti que ele me considerava, de repente, uma figura interessante. Uma curiosidade. Acho que gostei.
— Você destruiu sua terra natal com suas próprias mãos e não sentiu nada?
Balancei a cabeça rapidamente.
— Não, claro que não. Foi um verdadeiro choque para mim. Como posso dizer? Foi só quando já era tarde demais, quando as coisas já estavam fora do meu controle, que, de repente, percebi que não odiava o lugar. Admito que pensava na minha família e meus irmãos apenas como uma escória, mas então percebi que nunca quis que eles morressem. Eu estava realmente arrependido. “O que foi que eu fiz?” Não conseguia nem ficar em pé por dias.
Já haviam se passado vários anos desde que comecei a seguir os conselhos do Deus-Homem e comecei a viajar depois que tudo aconteceu. Foi antes de eu conhecer Paul e os outros, quando era um aventureiro desesperado por dinheiro. O Deus-Homem havia me aconselhado a oferecer informações a um determinado indivíduo. Era um conselho diferente do habitual, formulado mais como um pedido. Senti que havia algo um pouco estranho nisso. Mesmo assim, fiz exatamente o que Ele me disse, ofereci as informações e ganhei uma bela recompensa pelo meu trabalho.
Não era nem tanto dinheiro assim. Parecia que sim na época, mas era apenas o suficiente para ficar um mês sem trabalhar antes de secar. Não importava para mim, eu estava muito satisfeito. Peguei meu dinheiro, fui até um bar, ofereci bebidas a todos os presentes e me afoguei em álcool.
No dia seguinte, tudo foi por água abaixo. Naquele dia, descobri que as informações que eu havia entregue tinham provocado a ira de um Rei Demônio. Esse Rei Demônio era um cara geralmente de maneiras suaves, mas todo mundo tem um segredo que não quer que seja revelado. Bem, as informações que eu havia passado estavam diretamente relacionadas a esse segredo. O Rei Demônio rastreou o boato até um demônio da Tribo Nuka.
O Rei Demônio foi direto para o assentamento do nosso clã e massacrou todo mundo. Sem piedade nenhuma. Homens e mulheres, idosos e crianças; um massacre indiscriminado. Nem mesmo o Rei Demônio sobreviveu ao seu próprio massacre. A informação que eu havia passado era fundamental para matar esse Rei Demônio. O homem que comprou essa informação de mim a vendeu, e os compradores mataram o Rei Demônio.
Eu fui o único sobrevivente.
Foi um choque. Eu chorei. Lamentei . Por que sou tão idiota? Por que confiei no Deus-Homem?
Como você acha que o Deus-Homem reagiu a tudo isso? Ele zombou de mim e riu.
— Que merda, não é? Ele me fez passar pela pior experiência possível e depois me deu um chute no estômago quando estava no chão — disse, pensando no passado.
— E você confia no Deus-Homem depois de tudo isso? Fwahaha! Você é um homem interessante!
— É mesmo? Escuto muito isso.
Duvido que houvesse outro homem vivo que tivesse caído nas profundezas do desespero e, apesar disso, ainda se apegasse ao Deus-Homem. Rudeus não tinha feito isso. Nem o cara com quem eu estava falando agora.
— Acho que você também é muito interessante. — Eu disse.
— Ah?
Embora estivesse cético em relação a tudo o que tinha ouvido até agora, comecei a suspeitar que esse cara não era como Rudeus. Ele parecia o tipo de cara como eu, para ser sincero.
— Não é que eu saiba todos os detalhes, mas… você tem uma garota em quem está interessado, certo?
— Tenho! Estamos noivos!
— Mas você não foi capaz de dizer o que sentia por ela, não é mesmo? — continuei, pressionando-o.
— É, você me pegou.
— Só conseguiu contar a ela graças ao Deus-Homem, certo? Você deve a ele. Não é?
Houve uma pausa.
— Hmm… Agora que você mencionou, acho que ainda não o paguei por isso!
— Por que não pagar a dívida que tem, emprestando-nos sua força agora? Não é um mau negócio, é?
Parecia bem arriscado, considerando que ele poderia esmagar a mim e meus ossos em uma pequena bola com suas mãos nuas. Afinal, seus interesses estavam mais voltados para o lado de Rudeus. Aposto que ele entendeu a dor de seguir o conselho do Deus-Homem e ver seu bem mais precioso ser esmagado. Ao mesmo tempo, aposto que ele também poderia compreender como eu me sentia. Sim, eu tinha sido roubado de uma coisa que era preciosa para mim, mas tinha escapado sem perder a coisa mais preciosa de todas.
Esse cara tinha que ser como eu. Embora tivesse sido enganado como muitos outros antes, ele era o único que ainda permanecia, porque, no final, ainda tinha conseguido o que mais queria.
— Não é um mau negócio! Tenho a obrigação de ajudar o Deus-Homem!
Eu me animei.
— Sim, você tem, não é?
— Mas eu me recuso!
— Hã? Por quê?! — Quase gritando de incredulidade.
— Você! — Ele me mostrou seus dedos, os dedos indicadores de quatro de suas mãos. — Fwahaha! Minha reputação como Rei Demônio seria prejudicada se eu me deixasse ser seduzido por truques de palavras e um pouco de culpa!
Fechei a boca com um estalo. Ah, já entendi. É isso mesmo, esse cara é um deles, dos demônios imortais. Sua longa vida útil lhe deu uma preocupação engraçada com reputação, acordos e outros aspectos. Teimoso em relação às regras que ele mesmo impõe.
— Meu nome é Rei Demônio Imortal Badigadi! Se quiser lutar ao meu lado, precisa me derrotar primeiro!
É isso mesmo. Esse era o Rei Demônio Imortal Badigadi. Um Rei Demônio que concedia sabedoria. Sua irmã, a Rei Demônio Imortal Atoferatofe, concedia poder. E só poderia ser forçada a se submeter por alguém mais forte do que ela. Em contrapartida, foi dito que Badigadi só capitularia diante de alguém que demonstrasse ter um pouco de astúcia.
— Está bem, tudo bem. Vou aceitar seu desafio.
— Um desafio de inteligência? Fwahaha! Que absurdo é esse? Qual seria o propósito de tal concurso?
— O quê?
Bem, eu me fodi. Se era uma briga que ele queria, eu não tinha chance. Devo trazer outra pessoa para lutar por mim?
— Mas não há muita glória em bater em um cara insignificante como eu, certo? Ou realmente acha que isso aumentaria sua honra como Rei Demônio?
Badigadi balançou a cabeça.
— Claro que não! É dever de um Rei Demônio dar uma chance de luta aos heróis em potencial.
Inclinei minha cabeça para o lado.
— Certo, então que tipo de disputa você está pensando?
O homem puxou outro barril de cerveja.
— Isto — disse ele. — Pela sua aparência, aposto que você bebe muito!
— Eu gosto de um levantamento de copo.
Uma competição de bebida, então. Eu não era muito bom em segurar minha bebida. Gostava mais do que Talhand, sim, mas não o suficiente para me gabar.
Badigadi tinha cerca de dez barris vazios espalhados ao seu redor. Levando isso em conta, talvez eu possa… Não, não posso ter muitas esperanças. Esse homem era um demônio imortal. Por mais que minha vantagem aqui pareça boa, aposto que o cara tem uma capacidade ilimitada de beber. Ele era como um poço sem fundo. Eu não ia ganhar.
— Então? — Badigadi me provocou. — Você se acovardou? Ou é do tipo que só aceita um desafio se tiver certeza de que pode vencer?
— Não, é mais como se não me incomodasse com desafios que sei que não vou vencer — disse, corrigindo-o.
— Rudeus Greyrat era diferente. Ele não recuou diante de uma briga. Começou a rir bem alto e, de repente, lançou um feitiço de nível imperador em mim. É claro que, mesmo assim, eu o derrotei! Fwahahaha!
— De qualquer forma, não gostaria que você pintasse o Chefe e eu com o mesmo pincel. Ao contrário dele, eu não recebi nenhum talento.
— Hmph. Que história é essa de não aceitar um desafio que não pode vencer e de não ter talento? Você acha que Rudeus Greyrat estava tão confiante na época? Que ele se lançou em cada batalha achando que seria protegido por seus próprios talentos?
Lembrei-me de nosso tempo no Labirinto de Teletransporte. O chefe tinha mais confiança do que eu, com certeza, mas tremeu de ansiedade algumas vezes. O deslize que cometeu no final quase o destruiu completamente. Roxy o forçou a se levantar, mas foi por pouco. Ele havia melhorado com o passar do tempo, mas ainda carregava a morte de Paul com ele como um peso.
Estava disposto a apostar que ele também não tinha ilusões de que poderia vencer quando enfrentasse Orsted. Rudeus mal conseguiu se defender daquela hidra, mas o tal Orsted poderia ter derrotado aquele monstro com uma só mão.
— Você também deve ter percebido isso, não é? Há algumas batalhas que você não pode vencer apenas manipulando as coisas na segurança das sombras. Às vezes, é preciso colocar sua vida em risco para apostar na chance de vitória.
Eu não disse nada em resposta.
— Eu sei — disse Badigadi. — Houve uma época em que eu não tinha, e foi por isso que acabei perdendo tudo. Então aprendi. Aperfeiçoei meu corpo, bebi todos os tipos de álcool e fiz batalhões de amigos! Fwahahaha! Gostaria de poder lhe mostrar o insignificante zé-ninguém que eu costumava ser!
Eu só sabia como era esse Rei Demônio sabichão com base no pouco que o Deus-Homem me contou. Ainda assim, deixando de lado a falta de informações, havia uma coisa de que tinha certeza: para um Rei Demônio, um contrato era absoluto. Essa competição não era impossível. Era apenas uma competição de bebida. Se eu conseguisse vencê-lo, sabia que ele honraria sua promessa. Ele se tornaria o fantoche do Deus-Homem e meu pau mandado. O Rei Demônio Imortal Badigadi, o cara que enfrentou e derrotou um Deus Dragão nos tempos históricos, estaria à minha disposição: Geese Nukadia, o pequeno “capacho” do Deus-Homem, um cara que tirava os ossos da vida de outras pessoas para sobreviver.
— Tudo bem — respondi.
Se fosse uma batalha de punhos, eu não teria a menor chance. No entanto, desde que ele não estivesse procurando um combate físico, não seria impossível.
Acenei com a cabeça para mim mesmo.
— Você tem um oponente. Espero que esteja pronto para ser esmagado, Rei Demônio.
— Fwahaha! Esse é o espírito! Venha, então, me mostre o que você tem!
— É melhor você não esquecer sua promessa — eu o adverti.
— O resto de vocês! Traga-nos mais cerveja!
Com os termos do nosso combate definidos, todos ao nosso redor ficaram entusiasmados.
— Muito bem, cara de macaco! Mostre-nos o que você tem!
— Sim, você tem um bom espírito para um estrangeiro.
— Esse cara vai machucar você! Cuidado!
Puxado pelos homens que nos cercavam, vi-me empurrado para uma cadeira. Examinei a área e meus olhos pousaram em uma pilha de corpos inconscientes; pobres idiotas que desafiaram Badigadi e falharam de forma espetacular. Havia cinco deles empilhados ali, mas eu suspeitava que havia muitos mais além daqueles que estavam dormindo em uma pilha. Isso significa que o homem já deve ter bebido muito, mas… Puxa, será que eu realmente tenho uma chance de ganhar isso?
— Vá em frente, tome sua primeira caneca.
Entregaram-me um caneco, um copo de madeira do tamanho de um punho enorme, no qual despejaram uma cerveja dourada translúcida, enchendo o caneco até a borda.
— Vira tudo!
— Isso aí, ponha-o em seu lugar!
Consegui engolir o primeiro sem problemas. Sim, essa cerveja realmente desce com muita facilidade. Eu poderia beber essa praticamente sem parar. Embora, a julgar pelos corpos no chão, eu não tenha sido o único a se convencer disso.
— Kehehe, eles eram tolos, todos eles… pensando que poderiam desafiar um Rei Demônio Imortal como eu para uma competição de bebida — disse Badigadi.
— Alguém já o derrotou nisso antes?
— Sim!
Alguém me entregou minha segunda caneca. Batemos nossas canecas cheias até a borda e depois as esvaziamos.
— Pwah! — Exalei quando terminei de engolir tudo. — Você vai me dizer o nome dessa pessoa?
— Isso deveria ser óbvio! Era a Grande Imperatriz do Mundo Demônio, Kishirika Kishirisu!
— Ah, dá um tempo. Ela não conta.
— Fwahahahaha! Uma vitória é uma vitória, e uma derrota é uma derrota!
Kishirika Kishirisu era a noiva de Badigadi. Durante a Segunda Grande Guerra Humano-Demônio, os dois tinham uma relação de mestre-servo. Era uma boa aposta que Badigadi havia perdido para ela de propósito como demonstração de deferência.
— Quer me dizer que perdeu em uma batalha justa? — perguntei, cético.
— Claro. Você tem a mesma chance! Seria uma boa história se o último Nukadia sobrevivente me derrotasse.
Eu estreitei meus olhos para ele.
— Por que você sabe disso?
— Fwahaha! Conheço as pessoas da minha região. Eu sei quais clãs foram extintos recentemente!
Terminei minha quarta caneca. Era uma cerveja deliciosa. Desceu sem problemas.
— Geese Nukadia, — continuou Badigadi — o que você considera uma “batalha justa”?
— Essa é uma pergunta estranha. Eu diria que é exatamente como você disse antes. Não perder de propósito, não se conter e continuar até que um dos lados saia claramente vitorioso. Não é?
— Sim! Exatamente!
Um dos homens me presenteou com minha quinta caneca. Eu a peguei em minhas mãos. Ainda posso fazer isso. Está tudo bem, disse a mim mesmo.
— Mas a vitória é um conceito vago. Você não concorda?
Assenti com a cabeça, pensativo. — Sim, eu acho que sim. Há muitos perdedores por aí que agem como se tivessem ganhado alguma coisa.
— Fwahaha! Viu só, você entendeu!
Em seguida, veio minha sexta caneca. Senti que as bordas da minha visão começaram a ficar embaçadas, mas ainda estava no jogo. Eu poderia continuar na batalha. O álcool ainda não havia me embriagado. É isso mesmo, está tudo certo.
— Pense por um momento. O que a vitória significa para você? — perguntou Badigadi.
— Vitória?
Isso não é bom. Essa cerveja é perigosa. Era deliciosa o suficiente para beber sem pensar. Em comparação, essa coisa era mais potente do que o vinho de Asura. Estava no mesmo nível do licor forte de Ranoa ou da cerveja que os anões serviam. Era difícil de notar graças ao sabor, mas esse era um drinque para pessoas que queriam ficar chapadas o mais rápido possível. Não era o tipo de coisa que você queria continuar virando assim.
Acalme-se um pouco, disse a mim mesmo. Você precisa diminuir o ritmo ou vai perder isso. Eu não podia me dar ao luxo de ser derrotado aqui. Ganhando ou perdendo, eu não poderia deixar as coisas terminarem aqui.
— Sim, você entendeu. Pense bem sobre isso.
O que você acha? Pensando nisso… Pensando em quê? Oh, vitória. Sim, vitória… Afinal, o que é vitória? O que isso significa para mim? O que preciso fazer para vencer? Embriagar Badigadi até ele cair desmaiado? Nah. Não é isso que estou buscando. Deve haver alguma outra coisa… algum outro motivo pelo qual estamos fazendo essa competição.
— Aqui está, número oito.
Eu não conseguia nem me lembrar da sétima. Algo estava ficando claro para mim, essa era uma batalha de inteligência para ele. Era um método indireto, com certeza, mas ele ia me embebedar e depois me desafiar a me recompor e convencê-lo a fazer algo. O importante não era tentar beber mais do que ele. Ele queria que eu soubesse que o verdadeiro jogo era fazer com que ele admitisse a derrota.
Percebi que ele estava dando dicas de maneiras de alcançar a vitória durante toda a nossa conversa. Isso era um jogo. Um jogo ao qual eu tinha que seguir as dicas, encontrar as palavras apropriadas e adivinhar corretamente.
Pfft, como se eu pudesse me lembrar de uma só palavra que tenha saído dele. Você está tentando me confundir, fazendo-me beber essa cerveja forte apenas para fazer perguntas que exigem que eu pense?
— Está tentando me fazer dançar na palma da sua mão para seu entretenimento? É isso? Não é? — Fiz uma careta para ele.
— Fwahaha! As palmas das minhas mãos são bem grandes, então deve ser fácil dançar nelas!
— Com quem você acha que está falando, hein? Quem estará dançando antes que isso acabe é você! Na palma de minha mão!
A nona caneca desceu pela garganta.
— Muito bem! Mas, meu Deus, parece que seu corpo está começando a balançar antes do meu!
— Ah, cale a boca! — eu o repreendi.
Aceitei a décima caneca com uma mão que tremia incontrolavelmente. Eu sabia que se engolisse tudo isso, com certeza iria vomitar depois. Isso não me impediu. Não tive escolha a não ser fazer isso. Na verdade, eu não tinha um motivo específico. Eu sabia que, se desistisse, não conseguiria vencer o Rudeus.
— Urp…
Incapaz de suportar todo o álcool, meu estômago começou a se contrair. Parecia que minha cabeça estava girando sem parar. Cerrei a mandíbula, tentando desesperadamente conter o que estava acontecendo, mas algo azedo subiu pela minha garganta e começou a encher minha boca. Mantive meus lábios fechados, mas, em vez disso, o líquido entrou em meu nariz. Um arrepio enjoativo me percorreu.
— Bleeeegh!
Eu vomitei. O que saiu de mim não tinha forma, era tudo fluido, ácido estomacal misturado com cerveja, o que criou uma poça nojenta no chão. Um odor acre encheu a sala. Os homens ao nosso redor franziram o rosto em sinal de repulsa, mesmo quando começaram a aplaudir, bajulando o Rei Demônio e sua vitória.
— Fwahaha! Então, esse é o fim de nossa partida!
Eu estava de quatro no chão, com saliva escorrendo pelo queixo enquanto olhava para a poça nojenta que se formava debaixo de mim. Tudo parecia horrível. Todo o meu corpo, meu coração, tudo. Eu havia perdido, total e completamente. Eu era um perdedor.
Forcei minha cabeça para cima, onde pude ver o Rei Demônio de seis braços. Ele se levantou, ainda parecendo digno como sempre, mesmo quando se aproximou com a bebida na mão. Estava com uma expressão de triunfo no rosto.
Desviei os olhos. Eu não conseguia acreditar que ele havia me derrotado. É claro que, por fora, eu sabia que não havia uma maneira de vencer, mas, em algum lugar lá no fundo, tinha certeza que devia haver uma maneira de vencer. Que se estivéssemos apenas fazendo uma competição de bebida, eu teria uma chance. Mas, na realidade, eu…
De repente, me dei conta disso.
— Hm?
Voltei ao meu assento e, silenciosamente, peguei minha caneca e a levantei. Foi a décima primeira caneca que alguém serviu para mim em algum momento.
— Quem criou a regra de que se vomitar, você perde, hein? — eu falei.
O rosto de Badigadi ficou em branco por um momento. Ele ficou completamente surpreso, mas logo sorriu e se sentou. — Ninguém! — admitiu ele com alegria.
Ah, claro que sim. Hora da segunda rodada.
Eu me esqueci de quantas canecas havia bebido e quantas vezes vomitei toda aquela cerveja novamente. No meio do caminho, comecei a vomitar entre cada caneca que bebia. Cheguei a vomitar enquanto bebia algumas vezes. Meu corpo já havia ultrapassado seu limite. Eu sabia disso. Minha consciência estava entrando e saindo, minha visão embaçada e minhas memórias desarticuladas. Não conseguia nem falar, apenas gemer. Eu me tornei uma máquina, pegando roboticamente uma caneca recém-enchida e imediatamente a virando. Foi uma espécie de milagre o fato de ainda não ter desmaiado.
— Ooh… Urgh…
— Fwahaha! Fwahaha! Fwahaha! Fwahahahaha!
Em meio à névoa de meu estupor de embriaguez, a risada calorosa de Badigadi se esvaiu e desapareceu. Há algum tempo, parei de ouvir a multidão e seus gritos e aplausos. Eu me senti como se estivesse no meio de um sonho.
Espera. Quando Badigadi caiu para o lado? Não, eu é que caí, não é? Droga…
— Se continuar assim, senhor, ele vai morrer.
— Hm. Eu não imaginava que ele fosse do tipo que iria tão longe — disse Badigadi, pensativo.
— O que faremos com ele?
— Use a magia de desintoxicação nele e deite-o ali.
— E quanto à sua partida?
— Fwahaha! Para um covarde como ele colocar sua vida em risco, isso é heroísmo! Não tenho escolha a não ser admitir a derrota! Ser um herói não significa necessariamente ser fisicamente forte, não é mesmo? Fwahahaha!
Consegui entender essa breve troca de palavras antes que minha consciência afundasse na escuridão faminta.
POV BADIGADI
Uma oportunidade perfeita! Permita-me falar um pouco sobre o passado. Vou lhe contar sobre um cara que se achava esperto. Errado. Todos ao seu redor eram completamente idiotas, então ele havia sido enganado. Seus companheiros, sua irmã mais velha, cujo poder não era nada comparado ao seu, aliás, e até mesmo o monarca que ele e seus colegas deveriam amar e respeitar. Todos ao seu redor não tinham bom senso. Era natural que ele presumisse ter inteligência.
Veja bem, todos em sua tribo eram — como regra geral — idiotas. O que o diferenciava era o fato de tentar expandir sua inteligência. Ele entendia a lógica por trás de certas coisas, conseguia prever corretamente o que as pessoas estavam pensando e era hábil em descobrir as soluções para os problemas.
O pai do homem o chamava de prodígio dos prodígios, nascido apenas uma vez a cada dez mil anos. Ele recebeu até mesmo o epíteto de Rei Demônio da Sabedoria. Não é de se admirar que ele se considerasse inteligente, não é?
O que foi? Você argumentaria que, se ele realmente era mais inteligente do que todos que conhecia, então ele não estava errado? Fwahahaha! Isso sim é uma suposição!
Pense nisso por um momento: Se um homem em um mar de tolos é apenas um pouco mais esperto do que os demais, pode-se realmente dizer que ele é inteligente? Não, você não pode! O fato dele mesmo não ter percebido prova que ele não era um gênio!
Estamos saindo dos trilhos. Estou contando uma história!
Na época, humanos e demônios estavam envolvidos em um conflito que mais tarde seria chamado de Segunda Grande Guerra Humano-Demônio. Foi pouco mais do que um conflito quando comparada à Guerra de Laplace, ocorrida mais tarde.
Nossa longa expectativa de vida faz de nós, demônios, um grupo paciente, portanto nossas invasões são lentas. Somos descontraídos mesmo quando perdemos as batalhas mais importantes em uma guerra, o que dá aos humanos tempo para se recuperarem e se unirem contra nós novamente. Vencer uma batalha é menos importante do que vencer a guerra.
Nosso herói idiota se juntou ao exército do Rei Demônio, onde recebeu o cargo de conselheiro tático. Ele viu como seu povo estava se envolvendo na guerra e ficou desanimado. As coisas não poderiam continuar assim. Se realmente quisessem vencer, precisariam se comprometer com uma ofensiva mais agressiva, tomar locais importantes no território inimigo.
E sabe o que aconteceu? Ninguém quis ouvi-lo. Afinal, eram todos idiotas, incapazes de entender a lógica da guerra! Fwahahaha!
De qualquer forma, um dia… sim, estou sendo vago, mas não foi um dia especial. Foi algo inesperado, de fato. Será que foi mesmo? Talvez algo tenha acontecido para precipitar o evento, mas nosso protagonista não foi inteligente o suficiente para descobrir a causa.
Enfim!
Um dia, o homem começou a ter um sonho recorrente. Uma pessoa apareceu nele, alguém cujo sexo era indiscernível, cuja própria aparência era tão indistinta quanto uma sombra. Apenas um sonho. Essa pessoa se autodenominava o Deus-Homem. Literalmente, o deus dos humanos.
O homem imediatamente perguntou por que o deus tinha vindo até ele. Foi para matá-lo?
O deus disse:
— Eu sou um deus, você sabe. Todo mundo que vive no mundo é como uma criança para mim. Eu jamais sonharia em matá-lo. Na verdade, vendo o quanto você tem trabalhado duro, gostaria de ajudá-lo.
Então, um lunático.
O homem estava naturalmente desconfiado desse deus, mas o deus ainda lhe deu um pequeno conselho antes de desaparecer. Um conselho inconsequente e fácil de seguir: ele disse para enviarmos algumas tropas, mesmo algumas seriam suficientes, para as Ruínas de Galgau.
Agora, nosso protagonista era sério até demais. Ele sabia que havia um Rei Demônio já situado nas ruínas com suas tropas. Ele não viu muita necessidade de enviar tropas extras, pois não parecia ser uma posição vulnerável, mas mesmo assim seguiu o conselho dado e enviou algumas de suas tropas para lá.
Quando chegaram, foi uma visão chocante. As Ruínas de Galgau já haviam se transformado em um campo de batalha. Os demônios estavam em menor número, mas os humanos não esperavam que o homem chegasse com reforços. Ele não havia trazido muitos com ele, mas eram suficientes para derrubar a formação do inimigo. O homem acabou salvando o Rei Demônio mais central do exército do Rei Demônio. A vitória reforçou sua influência.
A partir daí, foi um sonho.
O homem manipulou o exército do Rei Demônio dos bastidores com sua esperteza. Ele assumiu o controle dos territórios dos humanos em uma velocidade alarmante. Também conseguiu a simpatia do povo fera, que eram considerados um subconjunto de demônios na época, e os convenceu a se unirem aos demônios. No entanto, esses não foram os únicos aliados que conquistou. O homem até conseguiu trazer os povos do mar para suas fileiras. Juntos, seus exércitos ganharam territórios de forma constante. Era apenas uma questão de tempo até que os humanos fossem completamente exterminados. O homem ficou grato ao deus. Graças a esse deus, nosso protagonista logo seria capaz de vingar seu grande e nobre pai.
Isso nunca aconteceu.
Lembro-me como se tivesse acontecido há poucos instantes.
A estratégia que o nosso protagonista havia criado era impecável. Não havia um único buraco nela, lembrando agora. Fwahaha! Estou exagerando um pouco, minha memória não é perfeita. Uma coisa ainda me escapou. O que posso lhe dizer é o seguinte: o plano do homem era perfeito e, se tivesse sido bem-sucedido, poderia ter estabelecido uma ponte para o Reino Asura. Os humanos não teriam mais para onde fugir. A vitória era certa. Foi assim que ficou perfeito.
Então, um aspecto crucial falhou.
Era estranho. Seu exército era superior em números e força bruta. Na verdade, ele e suas tropas tinham uma noção melhor de como essa batalha era crucial. Os humanos estavam alheios. Foi exatamente por isso que a fortaleza que os demônios tentaram invadir tinha tão poucas pessoas guardando-a. Esses fatos garantiram ao homem que ele não poderia perder.
E, no entanto, ele perdeu.
Foi um massacre. As pessoas usam essa palavra ao léu, mas estou falando sério. Não foi simples, não foi fácil, todos eles morreram, e cada morte foi do tipo desagradável. Não houve um único sobrevivente.
O homem ficou horrorizado quando viu o resultado sangrento. Seus homens eram mais de dez mil, mas todos foram massacrados. Ele não conseguia entender como o massacre havia acontecido. A única coisa clara era que parecia ser quase inteiramente obra de um único ser humano. Era a mesma técnica brutal, repetida várias vezes.
O homem percebeu que um tremendo monstro havia nascido entre os humanos, ou, do ponto de vista deles, um herói, eu acho. Durante a Primeira Grande Guerra Humano-Demônio, um herói semelhante apareceu e expulsou os demônios com uma força avassaladora. Nosso tolo protagonista já tinha ouvido a história, e foi assim que ele reconheceu que o culpado dessa vez era alguém similar.
Esse foi o ponto de virada. Depois disso, não importava o que o homem fizesse, nada dava certo. Esse herói interferia e impedia todos os planos que ele fazia. Foi tudo culpa daquele herói.
Hmm?! Você pergunta como ele sabia? Não, não, isso é explicado com bastante facilidade. Nem todas as tropas foram mortas em todas as batalhas, então ele conseguiu coletar informações dos sobreviventes. Ele descobriu que nem mesmo os humanos tinham certeza do que era esse herói. Ele era um homem vestido com uma armadura dourada que aparecia de repente na batalha para levar os humanos à vitória. Essa era a única informação que tinham.
As pessoas chamavam o homem de “Cavaleiro de Ouro Aldebaran”.
Aldebaran comandava um poder tão avassalador que podia mudar completamente a maré da batalha, dando impulso aos humanos.
Era ridículo. Não importa o quanto o nosso homem tenha exercitado sua inteligência, nem o quanto seu plano fosse complexo e bem planejado, ele sempre era superado pela força insuperável do herói humano.
As pessoas a chamavam de Segunda Grande Guerra Humano-Demônio, mas não era exagero dizer que a guerra era apenas entre os demônios e o homem Aldebaran. No meio de todo o conflito, o homem parou de se preocupar com sua armadura. Mesmo assim, conseguiu nos dominar.
Os demônios não conseguiram vencer Aldebaran. Nosso protagonista perdeu todas as grandes batalhas depois disso. O exército humano fez suas forças recuarem até serem derrotadas no último bastião de defesa dos demônios, o Castelo Kishirisu.
Naquela época, nosso herói demônio tinha um forte senso de dever. Estava convencido de que era inteiramente culpa dele o fato de estarem na situação atual. Eles haviam perdido tantos Reis Demônios corajosos. Sua irmã, uma das mais fortes de todos os reis demônios, ficou impotente no meio de tudo isso. Eles perderam todo o território que haviam conquistado durante a guerra. Tudo isso foi culpa dele. Ah, como ele havia sido presunçoso.
Em retrospectiva, isso não era verdade. Não havia necessidade dele se sentir responsável por perder para um adversário tão poderoso. O que deveria ter feito era cortar as perdas e fugir como o resto dos Reis Demônios, se escondendo em sua região para ter uma vida tranquila.
A culpa não mudava muito. A guerra terminou e o exército de demônios caiu em pedaços. Era apenas uma questão de tempo até que os humanos tomassem todo o território dos demônios.
Foi então que uma mulher que nosso protagonista sempre considerou a mais tola de todas disse a ele:
— Isso não é culpa sua. Eu cuidarei do resto, pare de se preocupar.
Ela era a monarca que ele e os outros deveriam amar e respeitar, um espírito livre e desinibido que vivia exatamente como queria. O homem era abertamente hostil a ela. Fwaha! Porém, no fundo, estava loucamente apaixonado. Por que esse Rei Demônio da Sabedoria ultrapassou seus limites como conselheiro tático? Amor, é claro! Para fazer essa mulher — sua amada — feliz.
Foi somente no final de tudo que percebeu essa verdade. Foi então que ele orou ao deus.
Por favor, ajude essa mulher. Ajude a nós, os demônios. Eu farei qualquer coisa em troca, eu juro.
Naquela mesma noite, depois de fazer essa oração, o ser inquietante apareceu em seus sonhos mais uma vez. Ele ainda não conseguia dizer se o ser era homem ou mulher, nem conseguia discernir nenhuma de suas características, mas o deus sorriu para ele e acenou com a mão, quase como se fosse um velho amigo sinalizando para ele na beira da estrada.
— Olá — disse o deus.
O homem estava naturalmente cauteloso. Por que esse deus — um deus humano — havia chegado para atender às orações de um demônio como ele?
Como se respondesse às suas dúvidas, o deus disse:
— Aldebaran é um terrível Deus da Luta, como você pode ver. Estou tão perdido quanto você em relação a isso. No ritmo em que as coisas estão indo, sua amada rainha e o resto dos demônios terão um destino terrível.
Pensando agora, havia algo estranho nisso. Por que um deus humano se preocuparia com algo tão trivial como a extinção da raça demônio? Todavia, o homem estava desesperado demais para ouvir seu melhor julgamento. Ele estava se agarrando a qualquer coisa para reverter a situação.
— O que devo fazer? — perguntou ele.
Os lábios do Deus-Homem se curvaram em um sorriso presunçoso e conivente.
— Siga exatamente minhas instruções.
Então, o homem partiu em uma jornada. Pode ser difícil de acreditar agora, mas ele estava frágil na época, só pele e ossos. Ele era um demônio imortal, por isso andava sem descanso ou sono. Abrindo caminho através do exército humano, passou por mais de dez florestas, atravessou cinco rios e escalou três montanhas inteiras. Então, finalmente, mergulhou nas profundezas de um labirinto que não existe mais. Foi lá que o encontrou: um único frasco de cor púrpura. Antes era um medicamento comum, mas a mana espessa que permeava o labirinto o havia alterado.
— Este é o elixir especial do Olho Anti-Demônio. Se beber isso, nenhum olho demoníaco será capaz de vê-lo.
Talvez isso tenha sido algo originalmente planejado para cair nas mãos de outro herói humano; poderia ter criado um segundo Aldebaran. Esse elixir teria criado uma fraqueza na líder mais poderosa dos demônios, a Imperatriz Kishirika Kishirisu.
Os efeitos deste elixir continuariam até sua morte. Sabendo disso, o homem engoliu tudo. Então começou a correr novamente. Passou por vales infinitamente profundos, um prado nevado e, no final, escalou a maior montanha do mundo.
Foi lá que encontrou a segunda coisa que estava procurando: uma armadura de ouro. Ela brilhava da cabeça aos pés, mas não parecia ridícula. Não, essa armadura era sinistra, com o poder de enfeitiçar todos que a contemplassem. Essa armadura temível estava escondida em uma montanha muito íngreme, selada, longe da vista.
— Quem vestir essa armadura terá um poder invencível — disse-lhe o deus.
Vale a pena repetir: o homem era um idiota. Ele não parou para pensar no porquê essa armadura havia sido selada, ou no porquê alguém a havia escondido aqui. Era o cúmulo da arrogância chamar a si mesmo de Rei Demônio da Sabedoria. O Rei Demônio da Estupidez teria sido muito melhor para ele.
O homem seguiu as instruções do Deus-Homem e liberou o selo que prendia a armadura. O selo era bem complexo, mas, especialmente para um autoproclamado Rei Demônio da Sabedoria, a remoção não foi tão difícil. Depois de remover, ele vestiu a armadura… e perdeu o controle.
A armadura era de fato poderosa. Imbuída de um excedente de mana tão grande que desenvolvia uma consciência própria. Não que o homem tenha percebido isso a princípio. Ele estava bêbado demais com o poder que saía da armadura e entrava nele. Estava convencido de que, com isso, seria capaz de derrubar Aldebaran.
Vou matar aquele Aldebaran e depois massacrar o resto, pensou ele.
Se já não estiver óbvio, ele foi imediatamente expulso de seu juízo perfeito. O homem normalmente era inútil quando se tratava de batalha, mas se viu motivado por uma sede de batalha. Ele se movia tão rápido quanto o vento. Então desceu da montanha gigantesca, atravessou o vale, o prado nevado, mais três montanhas, cinco rios e dez florestas. Depois derrotou o exército inimigo e, finalmente, voltou para o lado de sua amada.
Consegui, pensou ele. A mulher que ele adorava ainda estava viva. Ela havia lutado, foi espancada até a beira da morte, mas estava viva.
Contra quem ela havia lutado? Talvez seja um pouco difícil de explicar, mas na verdade não foi Aldebaran que estava se opondo a ela. Em um certo sentido, o oponente era o mesmo que Aldebaran, mas não exatamente. Veja bem, o humano conhecido como Aldebaran, o cavaleiro de ouro que apareceu na batalha inicial que mudou tudo, já estava morto a essa altura.
O inimigo que se opôs a eles foi o Deus Dragão Laplace. Deus Dragão Demônio Laplace, se você quiser o título completo. Nosso protagonista o conhecia.
O Deus Dragão Laplace vivia uma vida isolada nas montanhas distantes, descendo apenas ocasionalmente para a aldeia abaixo para ensinar artes marciais às pessoas. Era um indivíduo de maneiras suaves que os demônios imortais há muito tempo advertiam seus filhos e os filhos de seus filhos a não contradizerem. Isso era realmente tudo o que o homem sabia sobre Laplace.
Esse Laplace estava tentando matar a mulher que nosso protagonista amava, por algum motivo. Se o homem estivesse em seu juízo perfeito, ele poderia ter parado para pensar no que motivou o Deus Dragão, ou pelo menos exigido uma explicação. Ele poderia ter usado seu intelecto para convencer Laplace a desistir, para evitar completamente o combate.
Infelizmente, a sede de sangue do homem o dominou. Quando viu que sua amada estava ferida, ficou furioso. O homem soltou um rugido de um tipo que nunca havia escapado de sua garganta, nem antes nem depois, então se lançou contra Laplace.
O Deus Dragão ficou surpreso. É claro que ficou. Seu oponente usava a armadura que ele tinha certeza de que ninguém jamais encontraria. Pior ainda, nenhum olho demoníaco podia percebê-lo. No entanto, o título do homem como Deus Dragão Demônio não era apenas para exibição. Ele era o único rei sobrevivente da antiga raça de dragões, uma pessoa a quem o próprio povo do homem não ousava se opor.
Se o homem tivesse enfrentado Laplace com sua força normal, a batalha não teria durado nem mesmo alguns segundos. De fato, com o primeiro ataque, o Deus Dragão conseguiu cortar os braços do homem e decapitá-lo também. Se o homem não estivesse usando aquela armadura, tudo teria terminado ali. Se o homem não fosse um demônio imortal, tudo teria terminado naquele exato momento. Essas são meras hipóteses, porque o homem estava usando a armadura e era um demônio imortal.
Novos membros surgiram do que restou do corpo do homem e a armadura se reparou automaticamente. Isso forçou o corpo do homem a se mover e a lutar, mesmo enquanto sua consciência estava meio perdida.
Foi uma batalha feroz.
Se Laplace havia calculado mal alguma coisa, era o fato de nunca ter imaginado alguém além de seu escolhido usando a armadura que ele mesmo havia criado.
O homem não tinha como lutar, mas a armadura tinha. Ela havia treinado com todos os tipos de armas, imitado muitas artes marciais diferentes e podia analisar o fluxo da batalha. Ela possuía um repertório de mais de mil técnicas secretas e era capaz de selecionar a que fosse mais adequada para a situação. Entre suas técnicas secretas estavam, é claro, algumas que o Deus Dragão Demônio havia passado muitos anos criando.
Irônico, não é?
Não tenho ideia do que Laplace deve ter pensado para desenvolver essa técnica, mas criou uma que era incrivelmente letal para si mesmo. Quando usada contra ele, dividiu Laplace ao meio.
O homem havia derrotado o adversário mais poderoso do mundo e protegido a mulher que amava. Maravilhoso, não? Que final feliz! Fwahahaha!
Bem… na verdade, a história continuou, mas deixe um homem sonhar um pouco.
Por que ainda não havia terminado? Porque o homem ainda não havia terminado depois de derrotar Laplace. A armadura havia tomado conta de sua consciência, transformando-o em um monstro controlado inteiramente por sua própria sede de sangue.
Quando o homem voltou a si, já havia cravado sua espada no coração de sua amada. Ele não tinha ideia do porquê sua consciência havia retornado. Talvez a mulher tenha usado o que restava de sua força para fazê-lo voltar a si, ou talvez o ato irrevogável de enfiar sua arma nela tenha causado um choque tão grande que ele voltou por conta própria.
Independentemente de como, já era tarde demais. O homem havia matado sua amada com suas próprias mãos.
— Ah… Ah… — Ele chorou, sua voz nem mesmo formando palavras coerentes.
Tudo o que sempre quis foi proteger essa mulher.
— Fwa… haha… — A mulher era diferente. Ela riu, apesar das circunstâncias, apesar de ter sido traída por alguém em quem confiava, ela riu. — Você não mudou… Continua com a mesma cara enrugada de sempre… Que homem chato você é… Ria.
— Hã?
— Não importa o que esteja acontecendo… apenas ria.
— Mas eu… você…
— Não me importo — assegurou-lhe ela. — Você é muito sério… Muito careta. Sempre se escondendo em seu quarto… nunca bebendo cerveja… nunca dormindo…! O que há de tão divertido… nisso? Dê algumas risadas… durma com algumas mulheres.
— Mulheres? — Ele balançou a cabeça. — Mas eu… eu estou apaixonado por você!
— Fwahaha… o que você está dizendo? Então você deveria… tentar ser mais alegre… Faça isso e… eu me casarei com você.
— S-sim. Farei o meu melhor.
— Tudo bem… então, em nossas próximas vidas, eu serei sua noiva. Fwahaha… Fwaha… — A mulher riu até o fim. Sim, ela soltou uma gargalhada animada, que ecoou ao redor dos dois. — Fwahahaha! Fwaha, fwaha, fwahahahaha!
A luz envolveu os dois enquanto suas vidas desapareciam do mundo.
Hmm?! Cético com relação à luz? Um pouco bonito demais? Dificilmente! Aquele maldito Laplace tinha feito seu corpo explodir. Aquele idiota vingativo havia pensado no que fazer se fosse morto. Havia preparado uma arte especial para usar quando estivesse às portas da morte, uma arte que dividiria as menores partículas de seu corpo após sua morte — o fator Laplace — que se espalharia por toda a matéria do mundo, aguardando seu momento. Infelizmente para ele, o Deus-Homem havia criado um esquema para combater isso. A técnica secreta que a armadura utilizou contra ele tornou sua arte incompleta. Quando seu corpo foi dividido, metade da mana destinada a executar essa técnica estava faltando. Então saiu do controle, explodindo, uma destruição terrível, mas não totalizante. O imortal Laplace morreu.
Ok, ok, foi um pouco mais complicado do que isso. Ele foi dividido ao meio: Deus Demônio e Deus da Técnica, respectivamente, mas o ser que se autodenominava Deus Dragão Demônio Laplace não existia mais. Fragmentos dele viviam, mas o ser completo como quando ele existia estava morto.
Quanto ao nosso protagonista, mesmo tendo morrido, ainda era um demônio imortal. Demorou alguns anos para que se recuperasse totalmente, mas conseguiu. Até lá, no entanto, permaneceu inconsciente, perdido em um mundo de sonhos fugazes.
Foi lá que encontrou o Deus-Homem mais uma vez.
— Hehe… Ahahahahaha! — O Deus-Homem zombou dele. — Rei Demônio da Sabedoria? Que ridículo! Você dançou na palma da minha mão e matou a mulher que dizia amar! Você não passa de um fantoche de cabeça vazia!
O Deus-Homem sabia desde o início. Ele sabia que, quando o homem recuperasse a armadura, lutaria com Laplace, perderia a consciência e mataria sua amada. Ele persuadiu nosso protagonista a confiar nele. Ele o havia manipulado. Sabia como tudo, desde o início, terminaria.
— Ah, isso é sempre tão agradável, não importa quantas vezes eu faça isso. É a melhor sensação do mundo… ver a cara de idiota que você está fazendo agora. Eu sempre quis isso!
O Deus-Homem humilhou o homem.
— Bem, até mais. Acho que não vou usá-lo novamente, mas desejo-lhe uma vida longa mesmo assim, ó Rei Demônio da Estupidez.
Esta foi a última coisa que o Deus-Homem disse antes de desaparecer.
— E agora você quer que eu, um “Rei Demônio da Estupidez”, lhe dê uma mão? — exigiu, agora que estava de volta àquele mundo de sonhos vazio.
— Sim. Bem, veja, você é um demônio imortal, diferente dos outros. Sua amada ainda está viva e você está aproveitando a vida agora, não? Você não guarda rancor, não é?
— Você tem um ponto, mas, desta vez, a história pode ser diferente. Talvez nosso protagonista e sua amada simplesmente… desapareçam. Para sempre.
— Não, vamos lá, isso não vai acontecer. Estou em uma situação difícil. Eu não o enganaria em uma situação como essa. Até te peço desculpas… Apenas me empreste seu poder, está bem? Está vendo como sou sincero? — O Deus-Homem, o ser que não era nem homem nem mulher, nem mesmo corpóreo o suficiente para ter características distintas, abaixou a cabeça.
— Hm.
O gesto foi casual, com pouquíssima sinceridade, apesar da insistência do Deus-Homem, mas foi definitivamente um pedido de desculpas. O Deus-Homem não parecia ser do tipo que pedia desculpas, já que só se preocupava em degradar as pessoas. Seria de se esperar que ele se gabasse de suas façanhas, certamente, mas pedir desculpas? Totalmente fora do personagem. No entanto, aqui estava ele, fazendo uma reverência.
— O que você planeja fazer se eu não lhe emprestar minha força? — perguntou o homem.
— Então eu vou morrer. Não imediatamente, mas em um futuro distante.
O homem contemplou. Sim, o Deus-Homem o havia enganado. Seguir o conselho do Deus-Homem fez com que a invasão dos humanos prosseguisse em um ritmo mais rápido, despertando o leão adormecido entre eles. Mais tarde, a armadura possuiu o homem e o levou a matar a mulher que amava mais do que tudo no mundo. O Deus-Homem havia brincado com sua devoção, zombando dele. Ele sabia que o Deus-Homem devia saber o que aconteceria, devia ter previsto o olhar de desespero no rosto do homem, a visão patética dele soluçando ao perder tudo. Ele riu como se tudo isso fosse um jogo para ele.
Ele deveria ter se ressentido com o Deus-Homem até o fim de seus dias.
Entretanto, o orgulhoso exército do Rei Demônio não existia mais. O homem não era mais um consultor tático. Não era nada mais do que um Rei Demônio solitário.
— Eu o ajudei com aquele homem, você se lembra?!
— Sim, sou grato por isso — admitiu nosso protagonista.
— Está vendo?
Esse conselho não foi dado a Badi diretamente, mas sim por meio de outra pessoa. Um estranho lhe ofereceu duas informações, ambas em uma direção promissora. Foi só depois disso que o homem pensou em perguntar ao estranho como ele havia conseguido a informação. Então responderam: “Esse deus que vi em um sonho me disse para informá-lo”. A expressão do homem ficou amarga ao ouvir isso.
De qualquer forma, o homem estava agradecido. Esse conselho permitiu que ele ajudasse tanto uma tribo de demônios que antes residia em sua região quanto o herói que eles idolatravam. O último parecia tão feliz quando se reuniu com eles. O homem não esqueceria tão cedo a expressão em seu rosto.
— Então… Vamos lá, por favor — suplicou o Deus-Homem, abaixando a cabeça novamente.
— Hmm.
O homem continuou a considerar a questão. Mesmo que o Deus-Homem tenha lhe prestado um pequeno serviço, isso não poderia apagar os pecados imperdoáveis que ele havia cometido. Por outro lado, haveria algo no mundo que estivesse totalmente além da redenção? Talvez para outras pessoas, mas ele era um demônio imortal. Ele não sabia disso na época, mas a mulher que ele amava tinha um destino forte o suficiente para que a morte não pudesse detê-la. Os dois haviam sobrevivido a esse episódio miserável.
Deve-se dizer que, se o homem fosse mais jovem, ele teria rejeitado o pedido do Deus-Homem imediatamente. Na verdade, teria se aliado ao lado oposto, na esperança de se vingar de toda a dor e humilhação que havia sofrido.
No entanto, ele havia mudado.
O Rei Demônio da Sabedoria, como o idiota convencido que era, estava morto. O homem havia treinado seu corpo, ria alto, dormia com mulheres, se embebedava e dormia com o corpo esparramado e ocupando o máximo de espaço possível, independentemente de quem incomodasse. Ele havia se tornado alguém realmente merecedor da mulher que amava.
Não era um Rei Demônio da Sabedoria. Nem era tão fraco e patético que precisasse confiar nos conselhos de um deus para proteger sua amada. Agora era o Rei Demônio Imortal Badigadi, mestre de Rikarisu, a cidade onde os restos do antigo castelo de Kishirika se erguiam em direção ao céu, e rei da região de Biegoya. Ele não era uma pessoa que guardava rancor por causa de besteirinhas. Ele tinha uma mente aberta e era magnânimo.
Um demônio insignificante, sem força alguma, o desafiou e ele admitiu a derrota. Além disso, seu inimigo declarado também veio até ele para pedir desculpas. Ele não tinha escolha.
— Fwahaha! Muito bem! Se você é tão insistente assim, acho que vou ajudá-lo!
— Está falando sério? Ugh, isso é um alívio!
Com isso, Badigadi tornou-se um dos apóstolos do Deus-Homem.
— Então, quem é nosso inimigo? — perguntou Badigadi.
— Nosso inimigo é o Deus Dragão Orsted.
— Aha.
O Deus-Homem acrescentou:
— Mas quem realmente temos que derrotar é seu subalterno, Rudeus Greyrat.
— O garoto com uma reserva de mana ridícula?
Badigadi havia passado apenas um curto ano com Rudeus. Kishirika havia lhe contado sobre o garoto cuja reserva de mana superava até mesmo a do Deus Demônio Laplace, e isso despertou seu interesse. Ele estava ansioso para conhecer Laplace quando sua reencarnação chegasse. No final, o garoto não era Laplace; simplesmente possuía um incrível poder mágico. Era uma curiosidade, mas, fora isso, o garoto não era digno de nota.
— Fwahahaha! Então, esse garoto se tornou o subalterno do Deus Dragão, não é? O que poderia ter acontecido para que ele se tornasse o garoto de recados daquele homem de pedra? Que divertido!
O Deus-Homem deu de ombros.
— Não me pergunte. Não tenho a menor ideia.
— Hmph. Se você diz… Aposto que você enganou o garoto e o transformou em um demônio vingativo, não foi?
— Bem, seria um pouco chato explicar tudo, mas… sim, acho que você não está errado.
— Fwhahaha! Então, o que vai, volta! — O homem soltou uma gargalhada forte, zombando do deus da mesma forma que o deus havia zombado dele.
O Deus-Homem parecia particularmente irritado em ser ridicularizado. Ainda assim, não teve escolha a não ser engolir seu descontentamento. Badi havia concordado em se tornar seu peão, então ele tinha o que queria.
— Não importa — disse o Deus-Homem. — Geese é quem está cuidando dos detalhes. Você só precisa cooperar com meus outros apóstolos e atrair Rudeus para uma armadilha.
— É mesmo? Não vai lutar com ele de forma justa?
— É melhor vencer sem um confronto direto, se você puder evitar. Não concorda?
Se ele fosse o mesmo homem que se autodenominava o Rei Demônio da Sabedoria, provavelmente teria assentido sem hesitar. No entanto, agora era o Rei Demônio da Estupidez, o Rei Demônio Imortal Badigadi. Ele era do tipo que deixava o oponente atacar primeiro, resistia ao golpe e depois o devolvia com um contra-ataque próprio para derrubá-lo. Rudeus o chamaria de lutador profissional.
— Eu não gosto disso — disse o homem.
— Sabendo como você está agora, imaginei que diria isso. Contudo, você entende melhor do que ninguém, não é mesmo? Se você tentar enfrentar o Deus Dragão em uma luta justa, não terá chance de derrotá-lo.
— Sem chance alguma, sim.
O Deus-Homem continuou:
— É exatamente por isso que eu gostaria que você fosse a um determinado local para mim e recuperasse algo.
— Presumo que você não queira que eu passe por um exército humano, atravesse mais de dez florestas, cruze mais de cinco rios, escale mais de três montanhas, passe por um vale de profundidades desconhecidas, por um prado nevado e escale a montanha mais alta do mundo… quer?
— Não, nada disso. Você só precisa atravessar um oceano. Isso é tudo. — Depois de dizer isso, o Deus-Homem sorriu. — É claro que o que estou pedindo para você recuperar é algo com o qual você já está bastante familiarizado.
Badigadi soube instantaneamente o que havia nas profundezas do oceano. Algo que ele deveria ter detestado com todo o seu ser, mas, se quisessem enfrentar o Deus Dragão, sem mencionar a esperança de derrotá-lo, isso seria absolutamente necessário.
— Hmm… Tudo bem. Eu farei isso! — Badigadi ficou apenas um momento refletindo sobre o assunto antes de concordar.
Afinal, ele era o Rei Demônio Imortal Badigadi, o noivo de Kishirika Kishirisu. Ele não era tão mesquinho a ponto de se preocupar com os detalhes. Havia concordado em servir sob o comando de Geese se conseguisse vencê-lo em uma competição de bebida. Ele havia feito um pacto e recebido seu pedido de desculpas, então estava tudo bem.
Para um Rei Demônio, um contrato era absoluto. Talvez isso parecesse superficial, tendo em vista que o Deus-Homem ainda era um mentiroso, mas o fato é que ele havia concordado com isso. Se o Deus-Homem quisesse que ele recuperasse aquela coisa detestável, a trouxesse de volta e a usasse para derrotar os inimigos do Deus-Homem, então não havia motivo para hesitar.
— E você não tem nenhum outro conselho para mim? — O homem perguntou.
— Infelizmente, minha visão conta como uma espécie de olho demoníaco. Não consigo ver seu futuro desde que você bebeu o elixir Olho Anti-Demônio.
— Aha, agora eu entendo! Boas notícias para mim! Afinal de contas, a vida seria entediante se você pudesse ver exatamente onde ela termina! Fwahahaha!
Badigadi era turbulento e alegre. Quanto mais forte era sua risada, mais o rosto do Deus-Homem se enrugava de desagrado.
— Talvez eu não consiga ver seu futuro — disse o Deus-Homem —, mas posso ver o futuro de outro homem. Ele não é tão inteligente quanto você, talvez, mas é inteligente o suficiente e sabe lutar, embora não seja fisicamente forte. Siga suas instruções.
— Fwahahaha, você quer dizer aquele homem magricela com cara de macaco? Muito bem! Serei o braço direito dele!
— Excelente. Então, Rei Demônio da Sabedoria Badigadi…
— Não — corrigiu o homem —, não sou mais aquele homem. Eu sou o Rei Demônio da Estupidez, o Rei Demônio Imortal, Badigadi!
— Neste caso, Rei Demônio Imortal Badigadi, eu confio isso a você.
O homem assentiu vigorosamente com a cabeça.
— Sim, você pode deixar tudo comigo! Fwaha! Fwahaha! Fwahahahahahahaha!
Seus negócios foram concluídos. Com sua própria risada soando em seus ouvidos, a visão de Badigadi se tornou branca.
— Fwahahahaha!
Ele observou o rosto enojado do Deus-Homem com grande prazer e, mesmo quando sua consciência se esvaiu, sua risada não desapareceu.
rudeus vai precisar ficar mais forte, mesmo que tenha kalman 3 e ruijerd ao seu lado
porra vei, nem sei oq falar… tipo por que cara, eu gostava tanto de vc porra vei