A Matriarca permaneceu no chão por mais de 20 segundos. Precisou de tempo para processar o que acabara de acontecer, e Gravis deu a ela esse tempo. Enquanto isso, Orthar flutuou até Gravis com um suspiro.
— Subestimei seu poder — admitiu Orthar. — Peço desculpas.
Gravis apenas acenou com a mão. — Não importa. É normal não acreditar em algo assim sem ver por si mesmo. Afinal, se você acreditasse em tudo o que ouve, seria apenas ingênuo.
— O que foi isso? — a Matriarca perguntou, ainda em choque ao recuperar algum controle sobre a mente. A única coisa em sua mente era entender o que tinha acontecido.
— Isso foi um terço do meu poder, Matriarca — Gravis disse, chocando-a novamente. — No momento, tenho uma técnica ativa que reduz meu poder para um terço do seu auge, mas posso desativá-la quando quiser. No meu auge, sou confiante o suficiente para matar Lordes de nível três.
A princípio, a Matriarca não acreditou. Afinal, a ideia de um Lorde de nível um matar um Lorde de nível três nem existia em lendas. Algo assim parecia impossível.
No entanto, ao relembrar a pressão assustadora e o raio poderoso, ela começou a acreditar nele. Gravis provavelmente também poderia matar um Lorde de nível dois com aqueles dois recursos, considerando o poder que ele havia demonstrado agora. Se ele pudesse triplicar sua força, não seria impossível matar um Lorde de nível três. Seria difícil, mas possível.
A Matriarca suspirou. — Não mereço ser chamada de Matriarca por você, Líder — disse ela, em tom de rendição. — Por favor, me chame de Liza, Líder.
Gravis assentiu. O fato de ela chamá-lo de Líder significava que havia aceitado se juntar à Tribo Rio. Mesmo que se pudesse dizer que Gravis foi o motivo da morte de 90% de seus filhos, ele não duvidava da palavra dela. As bestas eram diferentes dos humanos.
Se um humano matasse os filhos de outro humano, o segundo nunca descansaria até que o primeiro estivesse morto. Mas, para as bestas, era diferente. Skye também aceitou a morte de seu pai sem problemas. Enquanto as bestas almejassem poder, era normal morrerem no processo. Todas as bestas aceitavam isso e não guardavam rancor. Nesse sentido, as bestas tinham uma mentalidade mais simples do que os humanos.
— Qual é o seu objetivo? — Gravis perguntou.
— Desculpe? — Liza perguntou, confusa. O que ele queria dizer com objetivo?
— Você quer alcançar o poder supremo? Quer vingança? Quer autoridade? Quer uma família poderosa? Estou perguntando qual é sua razão para querer se tornar mais forte — Gravis questionou.
Liza suspirou ao pensar em seu passado. — Minha principal razão é a vingança, mas também sonho em me tornar a mais forte. No entanto, minha vingança é a prioridade no momento.
Gravis assentiu. — Imaginei algo assim. Sua abordagem para o poder não parecia ter um objetivo de longo prazo. Eu esperava que você tivesse percebido isso, mas escolheu esse caminho mesmo assim.
Liza assentiu. — Sim. Quero me tornar uma Lorde de nível três. Só então serei capaz de me vingar.
Gravis coçou o queixo. — Se não se importar, poderia me contar mais sobre isso? — perguntou Gravis.
Liza ponderou por um tempo. Se revelasse quem era seu inimigo, Gravis poderia achar que o risco de ofender tal poder seria maior do que o benefício de tê-la na Tribo. Nesse caso, ele poderia decidir simplesmente devorá-la.
No entanto, no final, ela decidiu contar. — Eu fazia parte de uma Tribo cujo líder era um Lorde de nível três. Quando eu era jovem, não me destacava em nada. Meu poder de combate era abaixo da média, e a Tribo me rebaixou a Presa.
— Se eu conseguisse vencer três lutas, poderia voltar para a Tribo. Minha primeira luta aconteceu logo após o rebaixamento e, para ser honesta, só venci por sorte. Depois disso, fugi da Tribo e nunca mais voltei. Desde então, lutei muitas batalhas perigosas e consegui alcançar o poder que tenho agora.
Clap!
Gravis bateu palmas uma vez. — Ótimo! Tenho procurado inimigos poderosos para aumentar meu poder e o da Tribo. Isso veio no momento certo! — disse Gravis com um sorriso animado.
Liza olhou para Gravis com um pouco de confusão, mas então lembrou das palavras anteriores dele. Ele havia dito que sua Tribo não buscava se tornar maior, mas sim mais poderosa. Se esse fosse realmente o objetivo dele, um inimigo tão poderoso ajudaria muito.
Seu nervosismo desapareceu, e Liza suspirou novamente. Ela havia se preocupado à toa. — O que você quer que eu faça? — perguntou ela.
Gravis apenas a olhou com um sorriso de canto. — Já tenho dois comandantes muito capazes. Também tenho dois conselheiros poderosos. Tenho três posições diferentes em mente, mas para encontrar a melhor para você, preciso saber mais sobre você. Diga-me, você está interessada em batalhas de vida e morte perigosas?
Liza assentiu diretamente. — Sim. Quanto mais forte eu me tornar, melhor. Mas não quero morrer antes de conseguir minha vingança. No momento, a vingança é mais importante do que alcançar o poder supremo.
Gravis coçou o queixo em pensamento. — Se a Tribo aniquilasse seu inimigo odiado sem você, isso te incomodaria?
Liza pensou um pouco. — Não, acho que não. Já sou capaz de matar a oficial responsável pelo meu rebaixamento. Desde que eu a veja morrer, estou bem em não participar do massacre da Tribo.
Gravis ergueu uma sobrancelha. — Então, por que você não voltou para matar essa oficial? — Gravis perguntou.
Liza ficou um pouco surpresa com a pergunta. Será que Gravis nunca havia feito parte de uma Tribo? A pergunta parecia estúpida em sua mente. No entanto, decidiu responder mesmo assim. — Porque não posso simplesmente matar alguém nessa posição. Se eu fizesse isso, toda a Tribo me mataria. Minha vingança é importante para mim, mas não mais importante do que minha vida.
Gravis fez uma expressão cética. Então, olhou para Orthar. — Isso é verdade? Outras Tribos são assim? — ele perguntou.
Orthar já havia conversado muito com Morn, que tinha muito mais experiência nesse tipo de assunto. — Sim. Normalmente, não é permitido que membros da Tribo lutem entre si. Isso porque reduziria o poder da Tribo e geraria inquietação entre os membros.
Gravis ficou um pouco surpreso com a resposta. — Mas isso é tão estúpido! — ele disse.
— Sim, eu sei — respondeu Orthar de forma direta.
Liza ficou surpresa com a troca entre eles. Será que a Tribo Rio era diferente? Então, como funcionava? Vendo a expressão confusa de Liza, Gravis deixou Orthar explicar as regras e a mentalidade da Tribo Rio. Não era que Gravis se sentisse superior para explicar, mas Orthar tinha muito mais experiência em ensinar as regras da Tribo, já que já havia feito isso para quase todos os novos recrutas do mar.
Liza ficou chocada. — Espere. Isso significa que eu posso simplesmente desafiar outro Lorde da Tribo e vocês me deixariam matá-lo?
Gravis deu de ombros. — Claro. Seria chato ter que encontrar um novo Comandante, Ancião ou Oráculo, mas não há nada que impeça.
Então, Liza olhou para Orthar. — Então, eu poderia desafiá-lo diretamente e matá-lo, e você não faria nada?
Gravis sentiu um aperto no peito ao ouvir isso. Orthar era seu amigo mais próximo naquele mundo. Mesmo assim, Gravis suspirou. — Orthar é meu amigo mais próximo, mas ninguém vai impedir ou se opor se você decidir fazer isso. No entanto, vocês precisariam lutar em um terreno igualmente vantajoso para ambos. A água não faz muita diferença nos seus níveis, mas, pelo menos, as chances de vitória dele seriam um pouco maiores.
— Não se sinta mal, Gravis. Essas são as regras, e eu as aceitei. Se eu morrer por causa delas, não me arrependerei — Orthar disse.
Gravis suspirou novamente. Ele realmente não gostava disso, mas foi ele quem criou essas regras e não podia ter favoritismos. Se Orthar morresse por causa delas, não haveria nada de errado.
Liza ficou surpresa. Gravis permitiria que alguém de sua própria Tribo matasse seu companheiro mais próximo. Nunca havia visto um Lorde tão neutro e justo.
Então, Liza riu um pouco. — Não se preocupe — ela disse. — Por que eu mataria alguém da minha Tribo quando há tantos Lordes nos territórios vizinhos? Além disso — ela disse com um sorriso malicioso, olhando para Orthar. — Uma Tribo inteira provavelmente seria um desafio maior do que ele.
Quase todas as outras bestas ficariam furiosas ao enfrentar esse tipo de desdém. No entanto, Orthar tinha controle total sobre si mesmo. Ele sabia que Liza poderia matá-lo sem muito esforço. Então, qual era o problema dela demonstrar desprezo por ele? Orthar só precisava se tornar mais poderoso que ela. O poder era a única verdade.
Gravis soltou um suspiro de alívio. — Obrigado — disse ele. — Posso permitir isso, mas isso não significa que não sofreria se meu amigo mais próximo morresse.
Liza sorriu para ele. — Você não precisa me agradecer. Afinal, agora fazemos parte da mesma Tribo — disse ela, virando-se em seguida. — De qualquer forma…
Gravis olhou surpreso para ela. — Para onde você vai? — perguntou.
Liza sorriu de forma genuína. — Só preciso de mais um Lorde para me tornar uma Lorde de nível dois. Já que vejo a morte do meu inimigo se aproximando pelas garras da Tribo Rio, não há motivo para eu ficar complacente.
A Tribo Rio ficava a oeste do território das hienas, mas ela olhava para o leste. — Vou lidar com a Tribo vizinha, a leste daqui. Vou devorar o Lorde e enviar os membros interessados para a Tribo Rio como Presas. A maioria deles ficará eufórica ao saber que só precisam vencer uma luta para se juntar à sua Tribo.
Então, ela olhou de volta para Gravis. — Estarei de volta em um ou dois dias e, então, serei uma Lorde de nível dois. Enquanto isso, pense em uma posição que eu possa assumir. Vou assumi-la assim que voltar.
Gravis assentiu com um sorriso. — Sem problema. Vou informar a Tribo sobre você e nossos futuros recrutas. Divirta-se!
Liza sorriu docemente. — Obrigada. Até mais — disse ela, partindo em seguida.
Gravis coçou um pouco a parte de trás da cabeça. — Ela pareceu muito mais casual no final.
— Ela provavelmente sentia falta de conversar com bestas de igual poder — disse Orthar.
— Pode ser — disse Gravis. — De qualquer forma, vamos informar a Tribo.
Orthar concordou, e então eles voaram de volta para a Tribo.
Hoje, a Tribo Rio se tornava muito mais poderosa.