Azure achou que era uma boa ideia, já que ele era poderoso o suficiente para se proteger e não estaria preso a nenhuma obrigação. Além disso, ser uma parte neutra também dava a ele mais liberdade para escolher seu método de refinamento.
Claro, o lado ruim dessa decisão era que era necessário ser poderoso o bastante. Se alguém fosse fraco demais, qualquer besta poderia matá-lo sem enfrentar repercussões. Muitos esperavam por uma oportunidade de refinamento. Um Rei solitário que entrasse em um Império seria atacado por vários outros Reis, todos buscando lutar contra ele.
Mesmo que alguém fosse poderoso para o seu Reino, escolher a neutralidade ainda era perigoso. Se um dos Reis mais poderosos decidisse ficar sozinho, talvez não fosse atacado por outros Reis, mas sim por um Imperador. Esses Imperadores não estariam interessados no cadáver do Rei, mas em usá-lo para refinar seus soldados.
O Imperador poderia enviar cinco outros Reis contra ele. Talvez o Imperador interrompesse a luta se alguma de suas bestas estivesse prestes a morrer. No final, não importava o que esse Rei fizesse, ele acabaria sendo esmagado.
Por essas razões, era necessário ser um Imperador poderoso para considerar a neutralidade. Ainda assim, era importante lembrar que atacar uma besta neutra não era obrigatório. Podiam apenas negociar ou conversar. A única diferença era que uma das partes não teria nenhum respaldo e dependeria exclusivamente de seu próprio poder.
Felizmente, Gravis já era poderoso o bastante para seguir sozinho. Se ele ainda fosse um Rei de nível quatro, seria arriscado, pois teria o poder de um Imperador de nível um, o que não era seguro. Afinal, havia muitos Imperadores de nível dois.
Mas, com o poder de destruir imediatamente um Imperador de nível dois e até ter uma pequena chance contra um de nível três, Gravis estava seguro. Com isso em mente, sua decisão de deixar o campo das bestas terrestres fazia sentido.
Depois de algum tempo, os dois retornaram à Montanha do Orgulho, no Império Orgulho Gélido. Agora, em vez de Azure, quem estava sentado no trono era o Grande Ancião. No entanto, ele já não era mais chamado de Grande Ancião, pois assumira a posição de Imperador.
Styr, o Imperador, viu Azure e Gravis retornarem e os cumprimentou com um sorriso educado. — Bem-vindos de volta. Como foram os ganhos? — perguntou.
Gravis notou que Styr estava agindo de maneira diferente do usual. Não era que ele tivesse mudado, mas agora exalava uma aura de realeza. A maneira como se sentava e falava transmitia uma sensação de justiça, cordialidade e equidade.
O contraste entre Azure, enquanto era Imperatriz, e o atual Styr era marcante. Azure sempre parecia taciturna, fria, orgulhosa e reservada, como uma rainha de gelo.
Já Styr, em termos humanos, parecia um rei que frequentemente visitava os camponeses para verificar se havia algum problema. Alguém que valorizava a prosperidade de seu reino acima de tudo.
Claro, essa era apenas a impressão. Não refletia necessariamente a verdade. Styr apenas agia como um governante adequado deveria agir, mas, assim que visse uma oportunidade para se tornar mais poderoso, voltaria a ser quem era antes.
Obviamente, Styr era mais adequado para ser governante do que Azure.
Além disso, Gravis percebeu algo que o deixou empolgado. Styr realmente havia se tornado um Imperador de nível três. Isso significava que Gravis poderia levar sua Aura de Vontade ao máximo novamente. Agora, ele seria capaz de suprimir um Imperador de nível três em 30%, em vez de apenas 10%. Essa diferença era enorme!
— Muita coisa mudou — disse Azure para Styr.
— Oh? — murmurou Styr com um sorriso enquanto unia os dedos e se recostava no trono. — Conte-me sobre isso.
Então, Azure começou a relatar tudo o que havia acontecido. Styr não estava preparado para as mudanças violentas que o mundo sentiria em breve e, à medida que ouvia, tornava-se cada vez mais sério.
Quando Azure terminou de contar, Styr se levantou e começou a andar pelo topo da Montanha do Orgulho, acariciando sua longa barba.
— Isso é realmente problemático — disse Styr. — Nossas quatro primeiras linhas defensivas são territórios muito valiosos, e talvez precisemos redistribuir nossos soldados. No entanto, essas linhas estão sob o comando dos Impérios de nível quatro, o que me impede de fazer alterações.
Styr continuou andando. — Talvez seja necessário estacionar Imperadores de nível quatro nessas linhas, mas todos os Imperadores de nível quatro são líderes de seus próprios Impérios. Não sei se estariam dispostos a permanecer na linha de frente, dada sua posição.
Ele continuou refletindo. — Mas, se não estiverem dispostos a se posicionar na linha de frente, um Imperador de nível quatro aleatório pode destruir todas as quatro linhas defensivas principais. Se isso acontecer, perderemos metade de nossos Anciões, o que enfraquecerá nosso Império.
— Qual é o problema? — perguntou Gravis, erguendo uma sobrancelha. — Desde que você e Azure estejam aqui, o Império não cairá. As vidas dos Anciões realmente importam?
Styr sorriu amargamente. — Gravis, administrar um Império é diferente de gerenciar uma Tribo — disse ele, em tom didático. — Um Império não existe apenas para servir como trampolim para o Imperador. Estamos todos juntos nisso, e, se o Império se torna mais poderoso, o Imperador cresce junto.
— Colocar meus próprios objetivos acima do bem do Império resultaria em um ganho de poder a curto prazo, mas cortaria o ganho a longo prazo. Precisamos de bestas poderosas para manter os Reinos sob controle e resolver problemas que eles não conseguem resolver sozinhos.
— Em troca, recebemos os direitos sobre suas Áreas de Compreensão de Leis. Com menos Anciões, o Império será menos poderoso, e, por segurança, alguns Reinos podem desertar para outros Impérios. Assim que os Reinos virem que o Império sofreu um grande golpe, podem acreditar que ele logo cairá.
— O Império, obviamente, não cairá, já que Azure e eu ainda estamos aqui, mas isso não importa. Os Reinos acreditam no que querem acreditar e agem com base nisso.
— Se os Reinos desertarem para outros Impérios, perderemos acesso a Áreas de Compreensão de Leis valiosas. Entre essas áreas estarão aquelas que vários Anciões têm grande interesse. Quando perceberem que não têm mais acesso a essas áreas, também podem desertar para outros Impérios. No fim, teremos apenas um punhado de Anciões e quase nenhuma Área de Compreensão de Leis.
— Lembre-se, Gravis — continuou Styr. — Quando você cultiva, a imagem que os outros têm de você é irrelevante, mas, se quer criar e manter uma grande força, sua imagem se torna muito importante.
— O cultivo depende de si mesmo, enquanto um Império depende dos outros. Se você construir uma força com a filosofia do cultivo, ela se desintegrará rapidamente — explicou Styr.
Gravis ouviu atentamente. Na maior parte do tempo, ele já conhecia os conceitos que os outros explicavam, mas dessa vez havia aprendido algo novo. Os ensinamentos de Styr ressoaram com ele enquanto pensava na Tribo do Rio.
Styr estava certo.
Se um Cultivador tivesse um Reino inferior ao de um oponente, muitas vezes este não se interessaria por ele. Porém, terras e recursos sempre seriam valiosos, mesmo para forças mais poderosas. Se Gravis estivesse sozinho e tivesse eliminado tantas Tribos por conta própria, nenhum Lorde de nível quatro teria se dado ao trabalho de visitá-lo. Afinal, Gravis não possuía nada de valor.
No entanto, como sua Tribo havia sido a agressora, múltiplos Lordes de nível quatro apareceram naquela época, condenando toda a Tribo.
“Eu liderei minha Tribo de forma incorreta”, pensou Gravis. “Fiz exatamente o que Styr disse para não fazer. Levei a Tribo ao limite absoluto até que ela se desmoronasse. Em pouco tempo, toda a Tribo tornou-se incrivelmente poderosa para a nossa região, mas também se desfez muito rapidamente.”
Gravis fez uma reverência educada. — Obrigado, Styr — disse.
Styr apenas riu levemente. — Sua conduta exótica é realmente revigorante, Gravis. Presumo que você pretende deixar o campo das bestas terrestres, já que me chamou pelo meu nome? — perguntou.
Gravis assentiu. — Sim, mas antes de partir, gostaria de pedir algo a você. Claro, se for pedir demais, pagarei de alguma forma.
Styr sorriu enquanto olhava para o horizonte. — Presumo que você queira passar por outra sessão de refinamento de vontade, certo? — perguntou.
Gravis assentiu.
Styr voltou-se para ele, sorrindo. — Sua sabedoria me permitiu me tornar mais poderoso. Tornar você mais forte em troca é algo natural. Não precisa se preocupar em retribuir ao Império. Na verdade, somos nós que deveríamos retribuir você.
— Lembre-se disso, Gravis — continuou Styr enquanto se aproximava. — Se Azure ou eu tivéssemos matado você naquela época para descobrir o segredo de como conseguiu compreender uma Lei de nível três como Lorde, nenhum de nós seria tão poderoso quanto somos hoje.
— Talvez pudéssemos ter encontrado algo valioso em sua mente usando algumas Leis relacionadas à mente, mas isso só nos daria o conhecimento que você tinha naquela época. Desde então, você aprendeu muito mais e tornou-se mais sábio. As coisas que nos contou voluntariamente já valem mais do que o que poderíamos ter encontrado naquela época à força.
— É isso que quero dizer. Não persiga ganhos de curto prazo sacrificando os de longo prazo. Se algum dia decidir criar outro poder, lembre-se das minhas palavras — disse Styr, colocando as mãos nos ombros de Gravis.
Gravis assentiu. — Vou lembrar.
Styr sorriu. — Certo, então vamos começar seu refinamento de vontade. Começarei diretamente com 30%. Tudo bem para você?
— Pode ir — respondeu Gravis com um olhar frio.
Então, Gravis caiu novamente em um abismo de dor enquanto seu corpo começava a ser dilacerado.
Azure continuou conversando com Styr enquanto planejavam as ações futuras do Império, enquanto Morus permaneceu em silêncio atrás de Gravis, em sinal de respeito.
Morus sempre estava atrás de Gravis em silêncio. Não era o lugar de um servo falar quando seu mestre estava falando.