Arran mostrou um olhar de concentração no rosto ao se concentrar no selo que Mestre Zhao havia criado anos antes.
O selo continuava o mesmo de sempre – um tecido incrivelmente complexo de Essência das Sombras, que era tão impenetrável quanto complexo.
No entanto, a complexidade do selo não era o que o frustrava.
Com o passar dos anos, ele começou a conhecê-lo tão bem como ao seu próprio corpo – melhor, talvez. Por mais complexo que fosse, ele sabia perfeitamente a que ponto cada fio de Essência pertencia, e exatamente como todos eles estavam entrelaçados.
O que o deixava frustrado era que, mesmo sabendo disso, o selo conseguia resistir facilmente a todos os seus esforços para removê-lo.
Ele já tentou todos os métodos que o Patriarca do Sexto Vale lhe mostrou para removê-lo, mas nenhum deles conseguiu fazer nada. Não importava que ele fizesse, o selo regenerava-se logo quando ele o danificava.
Era como se o selo possuísse uma mente própria. Ou não uma mente, exatamente – era mais como se ele tivesse uma vontade única, que aparentava ser algo enraizado na própria trama da Essência.
Essa vontade, se é que se pode chamar assim, rejeitou qualquer tentativa de Arran de mudar ou destruir o selo. Seja o que for que ele tenha feito para o atacar, o selo limitava-se a ignorar os danos e voltava ao seu estado original sem o mínimo atraso.
Era enlouquecedor – era como tentar fazer uma estátua de água.
Ainda assim, não restava outra solução senão continuar a procurar uma solução. E sem qualquer ideia de por onde começar, só lhe restava estudar o selo. Pode ser que, eventualmente, ele encontre alguma fraqueza que lhe passou despercebida.
Passou três horas à beira do riacho que corria pelo pequeno vale, com a árvore ao seu lado a oferecer sombra à medida que ia examinando os muitos e complexos pormenores do selo mais uma vez.
Embora o ambiente fosse agradável e pacífico, o humor de Arran foi ficando cada vez mais amargo conforme passava as três horas de estudo sem nenhum progresso.
O Patriarca disse que o selo possuía um pouco dos conhecimentos do Mestre Zhao e, nos meses que se passaram desde então, ele percebeu o que pensava ser um sinal disso.
Era com se o selo refletia uma lei fundamental da realidade – tal que sua própria existência era uma caraterística indelével do mundo.
No entanto, por mais que ele tentasse, a visão que o selo trazia permanecia inescrutável. Ele mal podia entender sua existência, mas além disso, ele se negava a revelar nem o menor fragmento de seus segredos.
No início, ele acreditava que era só uma falha do seu próprio conhecimento – algo que ele podia resolver com mais estudos, se houvesse tempo suficiente.
Mas com o passar dos meses, ele passou a suspeitar de que havia outro problema. De alguma forma, a visão dentro do selo parecia incompleta, como se existisse outra parte dele. E pior, ele começou a pensar que romper o selo sem essa parte faltante poderia ser impossível.
Talvez ele conseguisse encontrar uma forma de contornar a situação se atingisse o nível de habilidade e conhecimento do Patriarca, mas isso era um pequeno consolo. Fazer isso levaria séculos, se não mais.
Ele sabia muito bem que lhe faltava alguma coisa, mas não sabia o que era…
Frustrado pela completa falta de progresso, decidiu fazer um intervalo para desanuviar a cabeça.
Depois de um momento de reflexão, ele se levantou e iniciou a prática do estilo Mil Cortes. Por mais difícil que fosse – especialmente se seguisse o conselho da Lâmina Brilhante para não repetir a mesmo série de movimentos mais de uma vez – pelo menos aqui, ele sentiu que fez algum pequeno processo.
E se a prática era difícil, pelo menos sua espada não resistia aos seus esforços.
Passou meia hora a praticar os Mil Cortes, ao ponto que a frustração de trabalhar no selo se desvaneceu. Então, ele tomou uma rápida refeição, e começou a trabalhar no selo mais uma vez.
Frustrante ou não, essa era uma tarefa na qual ele teria que se dedicar mais cedo ou mais tarde.
No entanto, com toda a sua determinação, esta tentativa em encontrar um ponto fraco no selo não foi melhor do que a anterior. Várias horas se passaram lentamente e sem resultados, e Arran logo se sentiu como uma pessoa que tentava carregar água numa cesta.
Fez outra pausa e depois recomeçou o seu trabalho.
Quando o sol se pôs, a sua mente já estava cansada do esforço e não conseguiu deixar de se sentir desapontado por não ter conseguido nada. Não tinha obtido nenhum conhecimento, nenhuma habilidade, nenhum discernimento – só tinha perdido tempo.
Naquela noite dirigiu-se para a cama com o coração pesado, o seu objetivo estava ainda mais distante do que de manhã.
Quatro dias se passaram assim, com Arran passando cada dia totalmente dedicado ao selo. No entanto, mesmo com todos os seus esforços, ele não conseguiu fazer nenhum progresso.
Era como se o selo tivesse uma fechadura que precisasse de uma chave para ser aberta – algum conhecimento especial ou perceção do que lhe permitiria derrotá-lo. E sem essa chave, os seus esforços estariam condenados ao fracasso.
No entanto, a única pessoa com conhecimento da verdade era o próprio Mestre Zhao, e anos se passaram depois da separação. Pelo que Arran sabia, talvez ele nunca o encontrasse novamente.
Há muito tempo ele examinou as coisas que Mestre Zhao tinha dado a ele quando partiu, mas nada disso foi útil. Entre os pergaminhos, amuletos e outros recursos que ele havia recebido, não havia nenhuma informação que o ajudasse nessa tarefa.
O treinamento do Mestre Zhao também não servia para nada. O homem mal havia explicado como os selos funcionam quando eles estavam juntos. Em vez disso, ele apenas colocou vários no Domínio que Arran possuía e disse para ele descobrir sozinho.
Arran tinha descoberto os selos mais fracos rapidamente. Mesmo que eles fossem quebrados com a ajuda de Pílulas de Abertura de Reinos, ele aprendeu a recriá-los quase perfeitamente.
No entanto, o conhecimento que ele adquiriu ao fazer isso foi de pouca ajuda. O selo em seu Reino da Destruição era completamente diferente e era necessário algo muito além de alguma habilidade em selos das sombras para abrir.
A ideia era suficiente para o deixar sem esperança.
No quinto dia, ele se sentiu exausto assim que acordou, a possibilidade de passar mais um dia sem conseguir nada pesou muito em sua mente.
Como de costume, foi até à árvore junto ao ribeiro e, como de costume, passou várias horas a estudar o selo sem obter nada de útil.
Quando sentiu que não podia continuar, soltou um suspiro, depois se levantou e se esticou, preparando-se para fazer uma pequena pausa praticando os Mil Cortes.
No entanto, mesmo quando desembainhou a espada, os seus olhos abriram-se de repente.
“Mas ele me ensinou uma coisa…”
Arran disse as palavras em voz alta, a perceção atingindo-o como um raio de trovão.
Quando se encontraram pela primeira vez, o Mestre Zhao tinha passado meses ensinando a ele nada além de esgrima. Na altura, ele acreditou que o único objetivo do homem era aprender a controlar, para o preparar para aprender magia.
Mas agora, ele se deu conta de que havia algo estranho nisso. Pelo que tinha aprendido desde então, o controlo era algo com que os magos se familiarizavam quando praticavam magia, não antes de começarem. E mesmo assim, a arte da espada não era a maneira mais fácil de melhorar o controlo mágico de alguém.
Além disso, considerando a situação, o estilo de espada que Mestre Zhao usou era estranho. Na época, por mais inexperiente que fosse, ele pensou que os movimentos do Mestre Zhao condensavam cada golpe de espada até a sua essência.
Mas agora, ele conseguia ver que isso não é bem verdade. Embora as técnicas do homem estivessem livres de todo o excesso de movimento, tinham um estranho sentido de objetivo.
Ele percebeu com um choque que aquilo que ele se lembrava do estilo de espada do Mestre Zhao de alguma forma se parecia com a lasca de perceção dentro do selo.
Um arrepio de excitação percorreu seu corpo quando ele enxergou um novo caminho à frente. Talvez ele tenha se enganado em ver algo onde nada existia, mas mesmo assim, só a possibilidade era o suficiente ao ponto de enchê-lo de expetativa.
Rapidamente levantou a espada. Então, ele começou a praticar os movimentos que o Mestre Zhao o havia instruído todos aqueles anos atrás.