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The Zombie Knight Saga – Capítulo 3

Teu caminho não é gentil…

— Você não mencionou nada… sobre… que merda… você fez comigo naquela hora? — Dessa vez, suas pausas eram devido mais a sua exaustão e respiração ofegante.

Eu converti a energia que seu corpo geralmente usaria para manter sua vida em força muscular. O que meio que te faz parecer um cadáver e é o motivo daquele cara ter pirado quando te viu.

— Ah… tá bom…

A propósito, amanhã você vai sentir como se alguém tivesse arrancado seus músculos e tivesse trocado eles com agulhas  flamejantes.

— Eba…

———–

Se esgueirando de volta para sua casa foi tenso. Hector não podia entrar pela porta da frente, ele estava certo de que acordaria um ou seus dois pais. Então, em vez disso, ele escalou a parede até a janela do seu quarto – uma parede que claramente não foi feita para ser escalada. Ele perdeu a conta de quantas vezes caiu. Eventualmente, Garovel só decidiu fortalecer seu corpo de novo para que Hector conseguisse entrar no seu quarto e chegar no alívio de sua cama.

Cedo demais, entretanto, seu alarme despertou.

Oops, malz. Hora de levantar.

Ele gemeu em seu travesseiro.

— Oh, só… só vai se foder. Sério… eu não sairia dessa cama agora nem se você incendiasse ela…

Garovel tocou em sua testa.

Está tudo bem. Você recupera o sono depois.

Ele sentiu suas pálpebras se abrirem, o peso delas desapareceu completamente. Sua exaustão se foi, ele percebeu e se sentou encarando Garovel.

— Por que você não fez isso mais cedo? — Ele estremeceu enquanto dor ardida pulava de músculo para músculo em todo seu corpo. — E por que você não faz nada quanto essa dor?

Desculpe, mas isso realmente precisa ir embora naturalmente. Eu te disse para esperar dor, não disse?

Ele se levantou lentamente e se arrependeu de cada movimento.

— Agh, aíiii…

Não é bom se eu protelar as dores da recuperação e exaustão. Eles só vão voltar mais fortes depois.

— Você não pode só… ugh… continuar protelando elas para sempre?

Tá e, então, um dia eu me esqueço. Ou acabamos nos separando por um bom tempo e adivinha o que acontece? Você sente uma dor tão forte que te deixa maluco.

Ele suspirou.

— Tá, tá bom…

Você é muito mal humorado de manhã.

Hector piscou seus olhos e ficou vermelho.

— Ah – me desculpa. Eu não, ah, não qui-quis ser rude…

Garovel parecia entretido.

Está tudo bem. Não precisa se preocupar.

Ele se preparou para ir para aula e partiu, não precisando se despedir de seus pais que já haviam ido trabalhar e ele chegou no ponto de ônibus. Garovel flutuava firmemente junto com ele, até mantendo o ritmo do ônibus pelo lado de fora da janela de Hector. Ninguém se sentou do seu lado.

Colégio Calman era notoriamente apertado. O colégio ficava em uma rua principal lotada de gente, seus sete andares pareciam pequeno se comparado aos prédios ao seu redor e já que a propriedade não chegava nem perto de ser grande o bastante para ter campos ou instalações de qualquer tipo, cada uma das atividades de educação física e times de esporte da escola tinham que ser feitas em prédios alugados. Um oitavo andar estava sendo feito para lidar com o número de estudantes, mas aquele mísero alívio só chegaria daqui a alguns meses.

Hector chegou para sua aula matinal de matemática e se sentou num canto no fundo da sala, grato por haver paredes em ambos os lados em vez de um par de corpos quentes fungando no seu cangote.

Às vezes, ele achava estranho se sentir tão só com tanta gente perto dele, mas quanto mais ele pensava no assunto, mais ele imaginava que era esse o problema. Ele se perguntava se alguém mais se sentia tão perdido na multidão quanto ele. E agora, ser um morto-vivo e ver Garovel flutuar entre os estudantes como o professor mais inacessível de tão assustador de todo mundo, Hector também começou a se perguntar se uma escola onde todos se conheciam teriam mudado sua vida. Ou sua morte.

Garovel ficou por perto durante todas as aulas iniciais, fazendo um comentário ocasional sobre como ninguém na sala estava prestes a morrer ou apontando para algum erro do professor. Honestamente, Hector estava feliz com a companhia, por mais estranha que ela fosse, mas ele não estava inteiramente certo do motivo do ceifador continuar ali. Certamente, Garovel tinha coisas melhores para fazer do que assistir uma aula sobre geografia do segundo ano sobre as regiões tropicais do continente Eloan. Hector se impediu de perguntar sobre o assunto, entretanto, pensando que isso faria com que Garovel fosse embora.

Mas conforme a aula do professor prosseguia e se dirigia para um evento atual, da agitação civil e brutalidades no mundo moderno, uma questão mais séria começou a se formar na mente de Hector e quando chegou na hora do intervalo, ele decidiu questionar Garovel.

Há uma coisa que eu quero saber, — Hector pensou, não querendo parecer a criança maluca no canto do refeitório que falava sozinha.

Que seria? — Garovel falou.

Uh… por que você não está em outro lugar fazendo algo mais importante?

Não, quero dizer… uh… por que você está tentando ajudar as pessoas aqui em Brighton? Quero dizer… com toda essa merda horrível acontecendo no mundo, não há vários outros lugares que precisam de ajuda…? Não que, uh… não que eu ache que prevenir assassinatos não seja importante e coisa e tal, mas, ah… há países inteiros em guerra no sudeste, você sabe…

Eu sei disso. O conflito Korgum-Dozer. E a guerra civil Kavian no norte. E Jesbol e Horsht no extremo oeste. Estou bem ciente desses acontecimentos.

Então, por que você está aqui?

Talvez você ache que eu sou o único ceifador no mundo inteiro.

Hector piscou.

Eu não sou, só para deixar isso claro. Eu sou meramente um dos centenas de milhares. E ao passo que a maioria de nós não tomam servos, o número de nós que acaba fazendo isso é bem substancial.

Então… você está dizendo que outros ceifadores cuidam das áreas arrasadas pela guerra? Porque isso não parece muito-

Garovel balançou sua cabeça.

Não, não. Infelizmente, circunstâncias são sensivelmente mais complicadas do que isso. —  O ceifador flutuou ao lado da mesa. Aqueles entre nós que decide tomar servos e se envolver com o mundo… bom, nós nem sempre concordamos uns com os outros.

Oh, você quer dizer… oh…

Sim.É especialmente predominante isso nas zonas de guerra. Alguns de nós vamos escolher ajudar um lado, talvez tentar proteger as pessoas no fogo cruzado, talvez… não.

Hector se sentou direito em sua cadeira.

Espera… você está dizendo… que alguns de vocês estão tentando mesmo deixar as coisas piores?

Garovel assentiu.

Pode depender do seu ponto de vista, mas… sim.

Mas… por que? Eu não…

Como eu disse, nós nem sempre concordamos uns com os outros. Isso se estende para questões mais essenciais também. Tais como se vidas humanas valem ou não apenas serem protegidas para começo de conversa.

Isso… parece horrível…

Entendeu? Se nós vagarmos por um campo de batalha, é quase certeza de que nós vamos encontrar outros ceifadores com servos. E, francamente, você não está nem perto de estar pronto para isso. Os outros servos te esmagariam num instante.  Aterrorizante…

Porém, eu não sou imatável?

Você é, mas eu não sou. E até você conseguir me proteger, nós vamos manter nossas cabeças baixas. Posso ser um ceifador sinistro, mas não quero morrer.

Tá-tá bom…

Mas há um motivo para eu ter escolhido Brighton especificamente. — Garovel disse, — hesitando levemente. Há algo… perturbador nessa cidade.

Perturbador? Como assim?

Garovel deu uma expressão tensa.

Não estou certo. Há uma presença nessa cidade que eu nunca senti antes. E ela está se escondendo. Acho que nós podemos atraí-la, dado um certo tempo.

Oh… hmmm.

Você tem alguma outra pergunta? Sinta a vontade para perguntar qualquer coisa.

Hector mordeu sua mação. Mastigar usava mais músculos do que ele havia percebido antes e acabou sentindo seu pescoço e rosto doerem em protesto.

Na verdade, há outra coisa. Aquela mulher da noite passada… você… quero dizer… você ia deixar ela morrer…? Para pegar o assassino, quero dizer. Se eu não tivesse interrompido, você teria…

Uou, uou, calma ae. O plano era para a polícia pegar ele enquanto ele torturava ela, não com ela morrendo. A razão dele escolher matar ela foi porque você o assustou ao bater na porta. Caso contrário, ele teria torturado ela a noite toda, o que teria dado muito tempo para a polícia chegar.

Ah… tá bom… então eu… então eu só ferrei com tudo então…

Não, você foi bem, Hector. Na verdade, sua intervenção garantiu que aquilo não se tornasse uma situação de refém. — Garovel olhou para ele por um momento. Não se engane, é um território arriscado para onde estamos indo. A ideia é ser inteligente e conseguir tirar o melhor de situações já péssimas. Às vezes, não vai haver uma boa opção para escolhermos e nós só vamos ter que aguentar. Com sorte, você é bem durável agora.

Um copo de chili voou acima da cabeça de Hector e ele abruptamente percebeu que uma guerra de comida começou a algumas mesas de distância. Um cachorro quente meio comido caiu no seu colo e sujou sua camisa toda com ketchup.

— Ah, merda! — Veio uma voz da multidão. — Desculpa por isso, véi! — Ela pertencia a um jovem que ele sabia que se chamava Micah, sorrindo em desculpas. Micah levou um punhado de purê de batata no rosto.

Isso parece divertido, — Garovel disse. Um grande desperdício, mas divertido.

Hector se levantou e teve que segurar um gemido. Quando ele ficava parado, quase dava para esquecer que cada músculo em seu corpo o odiava naquele momento. Ele foi até a dispensa dos guardanapos na mesa de condimentos, mas alguém esbarrou nele. Eles se viraram, presumivelmente para se desculparem, mas pararam.

Quando Hector viu quem era, ele desviou o olhar e ofereceu sua desculpa. — Desculpa, Davia.

Ela olhou para ele como se estivesse falando com uma parede em branco. — Por que você está se desculpando? — Ela disse. — Eu que esbarrei em você, não?

Hector nem tentou responder.

— Eu vou olhar para onde estou indo da próxima. — Ela disse. — Então, não me dedure Hector. — Ela o deixou sozinho.

O que foi aquilo? — Garovel perguntou, flutuando mais próximo. Você nem consegue falar com uma garota? Você esqueceu que só precisou de uma mão para dominar um assassino em série? Aquilo não fez nada para sua auto-estima?

Não, não é isso. Ela é… quero dizer… eu não… é porque ela é do clube de carpintaria e… eu…

Hmm? Você tem uma história com ela?

Hector inclinou sua cabeça para o ceifador.

Você… não sabe?

Garovel meramente balançou sua cabeça.

Eu pensei que você sabia tudo sobre mim…

Eu te segui ocasionalmente por mais de sete meses. Não sei tudo sobre você.

Cer-certo… — Hector se ocupou com a mancha em sua camisa. O vermelho do ketchup o lembrou da camisa ensanguentada que ele destruiu na noite anterior.

Então? Quem ela é para você então?

Ele olhou na direção que ela foi e a viu comendo com um grupo de outros estudantes.

Eu quase fui parte daquele grupo. — Ele disse. Nós fomos… nós fomos quase amigos, eu acho.

Garovel o seguiu de volta para sua mesa, passando por dentro de um jogador de lacrosse.

Eu imagino que as coisas não terminaram muito bem.

Hector não respondeu.

Me conte o que aconteceu.

Ele suspirou e pegou seu garfo.

Por que?

Você se lembra do que eu falei antes? Você me ajuda e eu ajudo você.

Obrigado, mas… não há nada para me ajudar…

Mesmo assim, eu gostaria de saber mais sobre você.

Uma onda de gratidão correu por seu corpo como um calafrio e Hector abaixou seu rosto, como se sua comida fosse totalmente fascinante. Por um momento incrível, ele pensou que poderia começar mesmo a chorar, o que só o fez ficar vermelho de vergonha. Ele queria poder conseguir falar a Garovel quanto aquelas palavras de agora significaram, mas ele não conseguia. Ele não sabia o que o impedia e odiava o que quer que fosse, mas ele não conseguia.

Depois de um tempo, Garovel desistiu.

Bom, faça do seu jeito.

Quando Hector finalmente olhou para cima de novo, esperando que o vermelho de seu rosto tivesse saído, ele viu o resultado da guerra de comida. Vários estudantes estavam limpando a bagunça sob a supervisão de vários professores e inspetores. Mesmo depois do sino tocar, eles ainda continuaram limpando.

Eu vou checar algumas coisas enquanto você está na aula, — Garovel disse. Eu vou te encontrar de novo depois da aula, potencialmente com uma nova tarefa, então esteja pronto.

Hector sentiu um leve pânico.

Ah-hmm… onde você está indo?

Delegacia de polícia e outros lugares. Eu gostaria de acompanhar nosso caso do assassino em série, me certificar de que não houve problemas.

Hmm… por favor…

Hmm?

Por favor… não me deixe sozinho…

Garovel pausou para dar um sorriso cheio de dentes. Ele tocou na testa de Hector com a retaguarda de sua foice.

Você não se lembra? Quando você falar comigo na sua cabeça, vou te ouvir não importa onde eu esteja. Então não faça essa cara. Entendeu? Você nunca está sozinho, Hector. Não mais.

Ele assentiu com incerteza.

A menos que você queira ficar sozinho, é isso. Então, só não pense em mim.

Certo…

Grupos de estudantes passavam por ele enquanto ele assistia Garovel desaparecer pela parede de azulejos azuis e brancos metálicos. Hector respirou fundo e prosseguiu para sua aula de história.

Enquanto ele se sentava e ouvia o tímido Jeremy Voller tentando relatar sobre a história recente da Coroa, Hector começou a se perguntar o motivo dele se incomodar em ir para a aula. Ele podia ver o professor ficando mais e mais impaciente com cada palavra redundante de Jeremy. Sr. Cormac tinha uma reputação de inocência que fazia com que a maioria dos estudantes gostassem dele e Hector poderia estar nesse grupo se ele não achasse todos os professores inerentemente assustadores.

— Obrigado Jeremy. Isso foi bem informativo e chato. Você pode se sentar agora.

Jeremy se sentou.

Sr. Cormac ficou parado e se dirigiu a classe.

— Bom. Qual de vocês adoráveis cachorros gostariam de ser os próximos a nos entediar com seus discernimentos históricos? Hector Goffe, que tal você?

Hector balançou sua cabeça furiosamente e tentou se encolher em sua mesa.

— Ah vamos lá. Você fez a tarefa, não fez?

Claro que ele não fez. Ele planejou estar morto para a aula de hoje. De fato, não ter feito nenhum dever de casa foi mais uma motivação para ele se matar. E agora que pensava no assunto, ele não estava certo se conseguiria passar em alguma de suas aulas. Ele não estava certo se devia ligar, também.

Depois de um tempo, o professor ficou cansado do silêncio de Hector e prosseguiu.

Hector só estava esperando o dia terminar. Depois de um tempo, ele decidiu falar com o ceifador,

Hmm… Garovel?

Fale

Ele sorriu levemente.

Você… éee… você já descobriu algo?

O caso parece estar prosseguindo bem. Melhor do que eu esperava na verdade. Eu pensei que eles só conseguiriam acusá-lo pela tentativa de assassinato da mulher que você salvou, mas eles descobriram evidências em seu apartamento que o ligam aos assassinatos que ele cometeu anteriormente.

Isso é bom.

Sim. Porém, aparentemente você esmagou a traqueia do homem.

Oh merda… ele… ele não morreu, né? Eu não estava tentando…

Não, ele está vivo. De algum jeito. Eu devia ter dado um tempo para você se familiarizar com aquele nível de força.

Se você tivesse feito isso, então… nós talvez não tivéssemos chegado a tempo.

Bom argumento. A propósito, a condição dela está boa… espera um minuto.

Hector olhou ao redor de sua sala, como se isso fosse ajudar de alguma forma.

 Garovel?

Ah não.

Qual o problema?

Um dos oficiais de polícia. Eu vejo a aura da morte nele.

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