Já fazia um mês desde que me tornei o tutor de Eris.
Desde o momento em que comecei a lecionar, ela não quis me escutar. Assim que chegava a hora da leitura, escrita ou aritmética, desaparecia. Não mostrava a cara de novo até que fosse a hora da prática com espadas.
Havia uma ou outra exceção, claro. A aula de magia era a única em que ela prestava verdadeira atenção. Na primeira vez que conseguiu criar uma Bola de Fogo, ficou toda feliz e entusiasmada. Ela viu o fogo rugir, engolindo uma cortina, e disse:
— Algum dia, farei até fogos de artifício no céu, igual você fez. — Claro, na mesma hora apaguei suas chamas e avisei para não usar magia de fogo quando eu não estivesse por perto.
Eris sorriu olhando para a cortina meio queimada, satisfeita consigo mesma. Parecia até uma piromaníaca, mas ao menos estava motivada. Eu tinha certeza de que ela poderia até aceitar todo o resto da programação de estudos.
Ou foi o que pensei… Mais tarde, percebi que minha previsão estava completamente errada. Eris se recusou a me escutar durante as aulas de leitura, escrita e aritmética. Se eu tentasse adverti-la, simplesmente fugiria. Quando tentava pegá-la, ela me dava um soco e voltava a fugir. Se eu a alcançasse, pararia apenas para me bater de novo e voltava a fugir.
Pensei que a garota entenderia a importância da alfabetização e aritmética depois de nosso sequestro. Mas pelo visto ela devia realmente odiar essas coisas.
Quando fui discutir os problemas com Philip, ele apenas disse:
— Fazer o aluno assistir às aulas também faz parte de seu trabalho como tutor a domicílio.
Não discordo. Ghislaine assistia minhas aulas e levava tudo a sério, mas era só um extra. Eu não poderia ensinar apenas a ela. Então tinha que procurar por Eris.
E Eris não era tão fácil de se encontrar. Ela viveu a vida inteira na mansão, enquanto eu havia chegado há apenas um mês. Existia uma enorme diferença entre nossas familiaridades com o local, e isso se provou um enorme problema no meio desse esconde-esconde.
Pelo visto, os outros tutores a domicílio enfrentaram o mesmo problema. Só às vezes que a encontravam, já que a área para se esconder era enorme, mas ao menos ainda ficava limitada à mansão.
Aqueles que a encontravam, entretanto, sempre eram espancados. Foi por isso que seu primeiro tutor desistiu.
Um tutor tentou bater nela, combatendo violência com mais violência. Eris entrou no quarto dele na calada da noite, enquanto ele dormia, e o atacou com uma espada de madeira. Seria desnecessário dizer que o sujeito pediu demissão após ficar tão ferido que levaria meses para se recuperar por completo.
Ghislaine foi a única que conseguiu derrotar Eris em seu próprio jogo. Eu não confiava na minha capacidade para tal. Se encontrá-la fosse a mesma coisa que ser hospitalizado, não queria. Não estava interessado em encontrá-la para ser agredido e ficar machucado.
Se a magia era a única coisa em que estava interessada, por que não desistir das outras coisas e se concentrar apenas nisso? Mas Philip insistiu que eu deveria ensinar a ler, escrever e fazer aritmética. Ensinar o mesmo tanto de magia e das outras coisas.
— Na verdade, essas coisas são mais importantes que a magia — disse ele.
E eu concordei.
Talvez ela precisasse de outro sequestro. Crianças que não aprendem as coisas precisam ser punidas.
Assim que pensei nisso, finalmente a encontrei.
Ela estava nos estábulos, escondida enrolada em um monte de palha, deixando a barriga exposta e descansando em paz.
— Zzz… zzz…
Estava dormindo profundamente. Seu rosto inconsciente parecia o de um anjo. Não, eu não seria enganado pela sua aparência – ela era o próprio diabo encarnado. E, claro, por diabo encarnado, quero dizer aquele do tipo que soca todos até vomitarem sangue.
Mesmo assim, eu precisava acordá-la.
A chamei em voz baixa:
— Jovem Senhora, acorde, por favor. É hora de se divertir com aritmética!
Ela não estava acordando. No momento, decidi cobrir sua barriga para que não pegasse um resfriado. Assim que tentei silenciosamente deslizar sua roupa para o lugar certo…
Eris abriu os olhos. Seu olhar foi até sua barriga, onde estavam minhas mãos, e depois até o meu rosto.
— Grrr!
Não parecia sequer sonolenta. Em vez disso, arreganhou os dentes enquanto seu rosto até mesmo escurecia de tanta raiva.
A-aqui vem ela, percebi. Mas era tarde demais. Seu punho voou. Meu rosto! Cruzei os braços na minha frente para me proteger.
— Agh! — Mas o impacto atingiu meu estômago. Seu punho bateu com tudo.
Quase desmaiei de agonia, meus joelhos cederam.
Bem, não cheguei a vomitar sangue, mas apanhei.
— Hmph! — Ela fungou para mim e depois me chutou. Uma vez que parou, passou por cima de meu corpo caído e saiu do estábulo.
Não havia nada que eu pudesse fazer. Finalmente fui até Ghislaine, buscando por ajuda. A mulher que, segundo Paul, tinha músculos no lugar de cérebro. Se ela falasse sobre o motivo pelo qual queria aprender a ler, escrever e calcular, isso certamente convenceria Eris. A garota escutava tudo o que ela tinha a dizer.
Ou, ingênuo, assim pensei.
No começo, Ghislaine mandou eu me virar, mas quando usei magia de água para fingir que estava chorando, ela concordou relutantemente. Que fácil.
Certo, agora me mostre o seu truque, pensei.
Ghislaine e eu não bolamos nenhum plano; só deixei com ela. A mulher decidiu fazer seu movimento durante a pausa de nossa lição de magia.
— Há muito tempo, eu achava que tudo daria certo desde que empunhasse uma espada…
Do nada, ela começou a falar sobre seu passado para Eris. Sobre como foi aceita por seu Mestre, mesmo sendo uma criança má… Sobre seus primeiros amigos e sobre quando virou uma aventureira…
A longa introdução acabou resultando em uma simples história dela falando sobre suas próprias batalhas pessoais.
— Quando eu era aventureira, os outros faziam tudo por mim. A compra e venda de armas e armaduras, suprimentos e coisas necessárias para o dia a dia. Além de lerem os contratos, mapas e tudo o mais. Depois que nos separamos, percebi a importância de muitas coisas: o peso de uma carteira cheia, a necessidade de conseguir carvão para acender o fogo e como era inconveniente não poder usar a mão esquerda enquanto carregava uma tocha
O grupo dela havia se dissolvido há sete anos. Foram forçados a fazer isso após Paul e Zenith se casarem e se isolarem do mundo indo para o interior. Eu adivinhei isso; parecia que Paul e Ghislaine realmente fizeram parte do mesmo grupo.
— Nós até pensamos em continuar juntos, mas Paul, o nosso especialista em bater e correr, e Zenith, nossa curandeira, partiram. Mesmo se não dissolvêssemos o grupo naquela hora, eventualmente o faríamos. Estava na cara.
Um grupo de seis pessoas.
Um guerreiro, um espadachim, uma espadachim, um mago, uma sacerdotisa e um ladrão. Provavelmente era essa a composição, se fosse dividir por ocupação. Embora Ghislaine fosse apenas uma espadachim de nível Sagrado naquela época, sua força de ataque devia ser bem alta.
Guerreiro (Pessoa Desconhecida): Tank1.
Espadachim (Paul): Tank secundário e DPS2.
Espadachim (Ghislaine): DPS.
Mago (Pessoa Desconhecida): DPS.
Sacerdotisa (Zenith) Curandeira.
Parecia um grupo bem equilibrado.
“Ladrão” era um termo geralmente usado para alguém que cuidava de alguns serviços estranhos, desde abrir fechaduras, detectar armadilhas, montar barracas, até fazer acordos com comerciantes. Era uma posição reservada a alguém capaz de ler bem, que tinha uma mente afiada e era ágil. A maioria era proveniente de famílias de comerciantes.
— Você poderia ao menos chamá-los de caçadores de tesouros ou coisa do tipo — falei sem pensar.
Ghislaine bufou.
— Ladrão é adequado para alguém que sempre roubava nosso dinheiro e saía para apostar.
— Vocês não se reuniram contra ele quando descobriram?
— Não. Aquele cara era bom com apostas, na maioria das vezes voltava com mais dinheiro do que antes. Raramente voltava com menos da metade. E até se continha quando estávamos com poucas moedas.
Ou ao menos foi o que ela disse. Ainda assim, não importa quanto lucro conseguissem com apostas, por que deixaram ele se safar? Sofri para compreender. Não é para me gabar, mas nunca tive vontade de fazer apostas. Embora tenha gasto mais de cem mil ienes em jogos online…
Por outro lado, eles tinham um mulherengo igual ao Paul em seu grupo, então provavelmente não estavam lá muito preocupados com a moralidade um do outro. Todo mundo devia ter alguma falha. Havia tantas regras quanto pessoas.
— Qual é a diferença entre um guerreiro e um espadachim? — perguntei com curiosidade. Se as duas posições eram de vanguarda, então não parecia haver uma razão para separar uma da outra.
— Se você usa uma espada e um dos três estilos principais, é um espadachim. Se usa algum estilo diferente, mas ainda usa uma espada, então é um guerreiro. Se usa um dos estilos, mas nenhuma das espadas, continua sendo um guerreiro.
— Aah, então isso quer dizer que espadachim é um título especial.
Mais precisamente, eram os três principais estilos de espada que tornavam suas habilidades especiais. A técnica que Ghislaine usou quando derrotou nossos sequestradores foi incrível. Ela mal se mexeu e arrancou a cabeça deles. Depois descobri que aquela técnica se chamava Espada de Luz, uma técnica secreta do Estilo Deus da Espada.
— Então o que é um cavaleiro?
— Um cavaleiro é um cavaleiro. Cavaleiros são nomeados pelo Rei ou pelos lordes suseranos. Aprendem a ler e a calcular. Alguns podem até mesmo usar magias simples. Como a maioria deles são nobres, também são bastante orgulhosos.
Provavelmente recebiam educação, já que frequentavam a escola.
— Naquela época meu pai ainda não era um cavaleiro, era?
— Não tenho certeza, mas ele se chamava de espadachim.
— E cavaleiros magos ou guerreiros magos? Ouvi dizer que também existem.
— Existem pessoas que usam magia ofensiva e se chamam assim. Você é livre para se chamar do que quiser, sua profissão não importa.
— Aha.
Os olhos de Eris brilhavam enquanto escutava a conversa. Eu esperava que ela não estivesse se decidindo a arrastar Ghislaine direto para o labirinto mais próximo. Isso me deixou ansioso. Não era esse o tipo de aventura que desejava. Gastar todos os dias cercado de mulheres bonitas? Preferia algo desse tipo.
Ah, merda. Ghislaine deveria estar falando sobre a importância de aprender a ler e escrever, e não sobre isso, lamentei. Estraguei tudo.
Mas ainda havia misericórdia.
No dia seguinte, Eris assistiu todas as aulas: leitura, escrita e aritmética. Foi tudo graças a Ghislaine. Depois disso, sempre que acontecia algo, a mulher recomeçava a contar suas aventuras dos velhos tempos. Eu ficava com dor de estômago sempre que isso acontecia, mas, graças a isso, a garota finalmente entendeu a importância de ler, escrever e calcular.
Ou talvez o principal motivo para o seu interesse tenha sido porque achou as histórias de Ghislaine interessantes. De qualquer forma, o resultado foi bom para mim.
Parte de mim deseja ter pensado em algo do tipo desde o começo… mas, claro, se não tivéssemos sido sequestrados, ela provavelmente nunca me escutaria. Naquela época, a garota olhava para mim como se eu fosse um verme. Então meu plano não foi inútil.
De qualquer forma, as coisas acabaram bem.
Nossas primeiras lições envolviam ensinar a Eris as quatro operações aritméticas básicas. Desde que ela frequentou a escola e foi previamente instruída por tutores capacitados, já sabia como fazer uma soma simples.
— Rudeus! — Minha pupila energicamente ergueu a mão no ar.
— Sim, Eris?
— Para que serve a divisão?
Ela não entendia a importância de multiplicação e divisão. Além disso, era horrível em subtração. Se algo tivesse mais de um dígito, simplesmente desistia.
— No lugar de se preocupar com a necessidade, pense nisso como o oposto da multiplicação — expliquei.
— Estou perguntando quando é que vou usar isso!
— Certo, veja, por exemplo, digamos que você tem cem moedas de prata e precisa dividi-las igualmente entre cinco pessoas…
— Meu último tutor falou a mesma coisa! — Ela bateu com o punho na mesa. — Então por quê! Eu tenho que! Dividir igualmente?! — Estava me desafiando exatamente como uma criança faz.
Para ser sincero, isso não seria necessário.
— Quem sabe? Isso é algo que você teria que perguntar para as cinco pessoas. Isso é só para o caso de querer dividir igualmente, então seria mais conveniente usar a divisão.
— Mais conveniente?! Então significa que não preciso usar isso, certo?!
— Se não quiser, não precisa. Embora exista uma grande diferença entre não usar e não poder usar.
— Ugh… — Perguntar sobre ser capaz ou não de fazer algo era uma ótima maneira de calar a boca de alguém com tanto orgulho quanto Eris, embora isso não fosse o bastante para resolver a raiz dos problemas. Ela estava tentando argumentar que não precisava aprender a calcular.
Em tempos assim, o melhor seria procurar pela ajuda de Ghislaine.
— Ghislaine, você alguma vez já precisou dividir as coisas uniformemente?
— Sim. Certa vez, perdi meus suprimentos alimentícios em um labirinto, então tentei refazer o caminho de volta. Mas errei no racionamento de meu alimento, para que durasse até chegar aonde precisava. Fiquei três dias sem poder comer ou beber. Pensei até que ia morrer. Quando não aguentava mais, comi algumas fezes de demônios que encontrei jogadas pelo chão, mas aquilo rasgou meu interior. Consegui superar a dor de estômago, náusea e diarreia, mas então vi um grupo e…
A história continuou por quase cinco minutos, me deixando com o estômago revirado. Ouvi com uma cor doentia no rosto. Mas, para Eris, era como um conto heroico. Seus olhos brilharam o tempo todo.
— E é por isso que quero aprender a dividir. Continue com a lição. — Assim que Ghislaine falou isso, Eris parou de discutir.
Toda a família Greyrat parecia ter alguma afinidade com o povo fera, embora talvez não tanto quanto Sauros. Eris estava claramente ligada a Ghislaine. Sempre ouvia em silêncio quando ela começava a contar suas histórias. Era como uma criança se agarrando à irmã mais velha, ansiosa para poder imitá-la.
— Certo, então, vamos fazer mais algumas práticas tediosas hoje. Tragam-me esses problemas resolvidos. Se houver algo que não entendam, podem me chamar.
Com isso, as coisas foram gradualmente progredindo.
Ghislaine era uma excelente professora. Ela apontou cada uma das minhas falhas, falando sobre os detalhes e dando conselhos. Paul diria em quais partes errava, mas não sabia apontar como melhorar.
Nesse dia, ela deu uma espada para mim e outra para Eris, e nos fez praticar enquanto nos instruía.
— Lembrem-se da postura de ataque, observem o oponente de perto. — Eris repeliu minha espada de madeira com um baque surdo. — Se puderem se mover mais rápido que o oponente, leiam seus movimentos e depois movam a espada. Se forem mais lentos, movam o corpo para evitar a trajetória da lâmina.
Incapaz de fazer isso, levei um golpe forte de Eris. O impacto foi suficientemente poderoso, senti a dor através do estofamento do meu protetor de couro curtido.
— Vejam as pontas dos dedos dos pés dos oponentes e prevejam os movimentos deles!
Voltei a golpear.
— Rudeus! Pare de usar a cabeça! Apenas se concentre em avançar e, quando estiver diante do oponente, balance a espada!
Mas para focar eu precisava usar a cabeça, não precisava?!
— Eris! Não pare de atacar! Seu oponente ainda não se rendeu!
— Certo!
A diferença entre nós era óbvia. Eris tinha mais liberdade para responder Ghislaine do que eu. Essa liberdade também permitia que ela continuasse me batendo até que a mulher finalmente mandasse parar. E a garota não se continha, era como se estivesse liberando toda a raiva reprimida que sentia durante nossas aulas de matemática.
Merda.
Dentro de um mês, entretanto, senti uma melhora dramática. Fiquei feliz por ter uma parceira como Eris, que tinha habilidades parecidas com as minhas. Assim como em qualquer outra coisa, estar perto de alguém com o mesmo nível de habilidade estimula o crescimento.
Embora Eris realmente fosse um pouco melhor do que eu. Mas não era nada parecido com a diferença entre mim e Paul ou Ghislaine. Ela ao menos ainda estava em um nível em que eu entendia o que estava acontecendo. Se conseguisse entender, poderia aprender com isso. Era algo como eu me tornar mais cauteloso sempre que ela usava alguma técnica diferente. Pensar dessa forma era possível quando estava em pé de igualdade com o oponente.
Paul, por outro lado, era tão habilidoso que era impossível lutar com ele. Se não conseguisse entender o que o oponente estava fazendo, seria fácil que tudo acabasse antes de realmente compreender o que estava acontecendo.
Receber a orientação de alguma pessoa muito mais habilidosa pode ser difícil, graças à diferença fundamental entre as habilidades de um e do outro. Isso faria qualquer um duvidar do que estava fazendo.
Ghislaine era boa em ensinar, então com ela as coisas eram diferentes. Entretanto, a mulher também ensinava como reagir e combater ataques ao mesmo tempo; assim, quando acabava diante dessas coisas, era difícil não hesitar, já que ainda precisava antecipar uma forma de contra golpear.
Com Eris servido de oponente, entretanto, truquezinhos ou até mesmo a menor mudança de movimento surtia em um resultado totalmente diferente. Às vezes, algo que funcionava em um dia não funcionava no outro, ou Eris faria algo completamente diferente. Às vezes, as coisas que eu não conseguia fazer em um dia, poderia no outro, e o mesmo acontecia com minha oponente. Era quase como se não existissem diferenças entre nossas habilidades, e isso funcionava. Foram essas pequenas mudanças e descobertas que foram acumulando e promovendo nosso crescimento.
Era bom ter um rival. Às vezes, ela ficava à minha frente, outras, eu a superava. Mesmo que nosso progresso fosse feito aos pequenos passos, nos revezávamos, seguíamos adiante e, no final, melhorávamos muito. Antes que percebêssemos, o progresso disparou e ficamos muito mais fortes.
Ainda assim, Eris aprendia mais rápido do que eu. Ainda que um leão e um cervo aprendessem as mesmas coisas, era óbvio que o leão seria mais forte. Isso era algo amargo de se engolir, e também algo pelo que passei desde pequeno, quando treinava com Paul.
— Rudeus tem um longo caminho pela frente, hein?! — Eris cruzou os braços e olhou para mim, caído no chão.
Ghislaine a repreendeu:
— Não fique arrogante, Eris. Você maneja uma espada há mais tempo do que ele e é mais velha. — Ghislaine só não a chamava de “Senhorita” quanto estávamos praticando. Ela disse que isso era necessário.
— Eu sei! Mas ele pode usar magia!
— Verdade.
Minhas habilidades mágicas eram a única coisa pela qual eu podia levar algum crédito.
— Mas é estranho que ele só demonstra um pouco de calma quando está sendo atacado. — Observou Ghislaine.
— Isso é porque é assustador enfrentar um oponente que está te atacando de verdade.
Assim que falei isso, Eris me deu um tapa na cabeça.
— O que diabos foi isso?! Que patético! É por isso que as pessoas ficam te olhando de cima!
— Não, ele é só um mago. Está tudo bem.
Assim que Ghislaine falou isso, Eris balançou a cabeça arrogantemente.
— Sério? Então acho que não posso culpá-lo!
Mas então, porque levei mais um soco?
— Desculpe, mas não sei como curar sua covardia. Você terá que cuidar disso sozinho — disse Ghislaine.
— Certo. — No momento, não importava quem era o oponente; eu congelava. Ainda tinha um longo caminho pela frente. — Mas ao menos sinto que fiquei muito mais forte desde que você começou a me ensinar.
— Isso porque Paul é do tipo instintivo. Não é um bom professor.
Do tipo instintivo! Ah, acho que também existiam pessoas assim nesse mundo.
— O que é isso de “tipo instintivo” — perguntou Eris.
— O tipo de pessoa que simplesmente faz as coisas sem conseguir explicar como aprendeu.
Ela fez beicinho quando expliquei, provavelmente porque era o mesmo tipo de pessoa.
— E há algo de errado com isso? – perguntou
Eu não sabia como responder. Como estávamos no meio de uma aula, decidi deixar isso com Ghislaine. Direcionei meu olhar para ela.
— Não há. Mas não importa o seu talento, você não ficará mais forte se não usar a cabeça, e também não conseguirá ensinar bem as outras pessoas.
— Por que não vou conseguir ensinar bem as outras pessoas?
— Porque não sabe nem o que está fazendo. Além do mais, se você não entender tudo, não conseguirá melhorar.
Parecia que, para um Rei da Espada como Ghislaine, a chave para alcançar um nível de habilidade avançado era ser capaz de aplicar todo o básico em sua prática. Se dominasse o essencial, poderia usá-lo em qualquer situação. Somente então poderia ser considerado um espadachim de nível Sagrado.
Mas o mais importante era o trabalho duro e o talento.
— Eu também costumava ser do tipo que age por instinto, mas depois que comecei a usar minha cabeça e agir logicamente subi para o nível Rei — disse Ghislaine.
— Isso é incrível. — Fiquei sinceramente impressionado. Ela mudou seu caminho para alcançar o sucesso. Isso era incrível.
— E você é um mago de água de nível Santo, Rudeus.
— Também sou do tipo instintivo. Mas magia é diferente de esgrima. Você pode fazer qualquer coisa, mas só se tiver poder mágico suficiente — falei..
— Hum Se você diz… Mas, de qualquer forma, o básico é importante, entendeu? — Afirmou Ghislaine.
— Entendo. Nesse caso, entretanto, foi graças à minha professora ser tão boa no que fazia que alcancei o nível Santo.
Mas agora estávamos conversando sobre a importância do básico, e eu me concentrei exclusivamente em fazer magia sem entoar os feitiços. Isso indicava que minha base era fraca? As lições de Roxy se concentravam menos no básico e mais na progressão. Talvez ela, sendo um tipo de prodígio, não se preocupava com o básico.
Hmm.
— Bem, não quero ficar tão forte assim, então essas coisas não me importam! — Eris declarou orgulhosamente enquanto eu estava perdido em pensamentos.
Revelei um sorriso irônico diante de suas palavras. Quando estava no ensino médio, na minha vida anterior, falei algo semelhante “Não é como se eu quisesse ser o número um”, falava, mas era só uma desculpa para minha falta de esforço.
Eu estava prestes a repreendê-la por sua atitude, mas ela continuou:
— Mas farei o melhor para ser tão boa quanto vocês dois!
Ao menos ela tinha um objetivo. Era bem diferente do velho eu.
Tínhamos tempo livre após as lições matutinas e o treino da tarde. Nesse dia, eu estava indo para a biblioteca. Ghislaine e Eris tinham vários livros de magia, então pensei que poderia haver algum grimório guardado. Eu estava sendo guiado por uma empregada com orelhas de cachorro, já que não sabia o caminho.
— Ah!
Passamos por Hilda, a esposa de Philip. Ela tinha o mesmo cabelo vermelho escuro que Eris, com um peito bem farto. Eu esperava que Eris fosse ficando parecida com ela conforme crescesse. Fomos apresentados, mas tivemos pouco contato. Vejamos, acho que devia colocar minha mão no peito…
— Minha senhora, parece que hoje é meu dia de sorte…
— Tch. — Ela estalou a língua para mim e ignorou minha saudação.
Fiquei lá, congelado, minha mão no peito.
— Lorde Rudeus…
— Não, tudo bem — falei, levantando a mão para interromper a tentativa da empregada de me acalmar. Foi um tanto chocante. Ela me odiava? Acho que não tinha feito nada de errado.
Parando para pensar, ela não tinha nenhum outro filho além de Eris, tinha? Não, não seria bom perguntar isso. Se fizesse algo assim, senti que alguém ainda pior do que Eris apareceria e aumentaria minha carga de trabalho em três ou quatro vezes. Era melhor deixar essa possibilidade de lado.
Quando cheguei à biblioteca, Philip estava lá.
— Ah, está interessado na biblioteca, não está? — Ele tinha um brilho animado nos olhos.
Com o que ele está animado? pensei.
— Sim, um pouquinho.
— Então devia dar uma olhada no que temos aqui.
Aceitei a sugestão e examinei a biblioteca. Infelizmente, não encontrei o que estava procurando. Eu esperava encontrar um grimório como o de Roxy, mas tudo que vi foram volumes caros que não poderiam ser tirados da biblioteca. Parecia que havia apenas um número limitado de grimórios pelo mundo, e as pessoas não os deixariam em qualquer lugar.
Acho que no final não tive tão pouca sorte assim. Afinal, encontrei alguns livros com a história deste mundo. Poderia ao menos estudá-los sempre que tivesse um tempo.
No final de cada dia, eu passava um tempo no meu quarto, preparando-me para as lições do dia seguinte. Na maior parte desse tempo ficava preparando folhas com exercícios de leitura, escrita e aritmética. No final, revisava meu livro de magia.
Não havia qualquer grade curricular. Mantive um ritmo suave, para não ficar sem nada para ensinar durante os cinco anos. Meu objetivo principal era focar na prática repetitiva para garantir que Eris e Ghislaine entenderiam completamente tudo. Fiz a mesma coisa enquanto ensinava Sylphie.
Revisar tudo sobre magia também seria importante. Normalmente, eu não entoava para lançar os feitiços, então costumava esquecer as palavras. Os únicos feitiços que realmente memorizei foram os de cura e a magia básica de veneno. Nunca pensei em memorizar feitiços ofensivos.
Este livro de magia era do mesmo que eu tinha em casa. Eris e Ghislaine também tinham suas cópias. Foi publicado pela primeira vez há quase mil anos, era um dos mais vendidos e teve inúmeras reimpressões. Antes de ele aparecer, era necessário encontrar um mestre para aprender magia. A maioria sabia só o básico de cada escola, e muita gente começou a estudar, mas não conseguiu aprender quase nada.
Embora o livro fosse um dos mais vendidos, não teve muitas cópias quando foi escrito. Mesmo com cópias o bastante para circulação, aqueles sem interesse em magia simplesmente o ignoraram. Foi apenas quinhentos anos depois disso que ele começou a ser plenamente distribuído.
De repente, qualquer um poderia colocar as mãos em um livro de magia barato, então o número de magos aumentou exponencialmente. Não era como se de repente aparecesse um monte de magos pelo mundo, mas ao menos no Reino de Asura, a magia virou parte do currículo de muitas famílias nobres.
Ainda assim, por que o número de livros de magia subitamente aumentou? Conforme eu pensava, olhei para o final do livro. Havia uma informação ali: Publicado pela Universidade de Magia de Ranoa. Aha, mas que estratégia de marketing inteligente.
Dessa forma, meus dias como professor passaram em um piscar de olhos.
NOME | Eris Boreas Greyrat |
OCUPAÇÃO | Neta do lorde suserano de Fittoa |
PERSONALIDADE | Feroz |
NÃO FAZ | Se importar com o que os outros têm a dizer. |
LEITURA/ESCRITA | É capaz de escrever o nome das pessoas de sua família. |
ARITMÉTICA | Não é confiável em contas de subtração. |
MAGIA | Parece que tentará o seu melhor. |
ESGRIMA | Estilo Deus da Espada – Nível Iniciante |
ETIQUETA | Pode fazer uma saudação normal. |
PESSOAS DE QUEM GOSTA | Avô, Ghislaine |
[1] O cara que segura o tranco, que recebe o dano pelo grupo.
Sigo lendo. É gratificante acompanhar o desenvolvimento do Rudeus, ele demonstra que é possível, com esforço, sair da lama e se limpar
a diferença é q ele ganhou um save novo e começou do zero
Muito daora ver essa “ficha técnica” da Eris mudando aos poucos KKKKKKKKKKKKKK
Na repreenção achei engraçado essa fala “— Eu sei! Mas ele pode usar magia! — Verdade.” Para mim n fez sentido ele n tá usando nem 1% da magia dlee de um mago santo q é apenas 1 nivel abaixo da professora ali. Ai ela falar isso foi pura imbecilidade, ele saber magia so dar mais creditos pois ele virou um mago santo e ainda tá no msm nivel dela em esgrima tornando ele muito superior. E todas as vzs… Ler mais »