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Apocalypse Hunter – Capítulo 9

Um caçador e um Gato de Rua (4)

Assim que o projétil acertou o comedor de homens, a besta ficou perplexa. Ela começou a balançar seus tentáculos selvagemente, mas era incapaz de identificar o que atacou-a. Zin não ficou parado e levantou o fuzil novamente. Logo depois, atirou de novo.

*Bang!*

— Aaaaah!

Leona deitou rente ao chão, cobrindo suas orelhas do barulho alto e o lampejo do disparo.

*Crash!*

Dessa vez, a munição não explodiu, mas acertou a boca destruída, reacendendo-a. Dentro de segundos, uma das bocas do comedor de homens começou a queimar devido às chamas, cobrindo-o com fumaça branca.

— Grrraaaaahhhhh!

— Krraaaaaarrrrrrrggggh!

Por causa das chamas, o comedor de homens balançou seus tentáculos, destruindo todos os prédios ao redor dele.

Zin carregou mais três munições. Duas delas eram de tipo diferentes: uma de chumbo grosso 7.62mm que explodia em contato; e a que acabou de ser atirada a bomba incendiária calibre 76 que engoliu a boca do comedor de homens em chamas. Lascas azuis eram infundidas em uma bomba incendiária normal para criar esta. Em um invólucro de 7.62mm, essa munição especial entregava grande poder destrutivo e chamas mesmo com só um pouco de pólvora. Leona olhou espantada para o comedor de homens que estava iluminando o céu noturno.

— Que porra foi aquela…?

— Acabou.

Zin assistiu o comedor de homens destruir tudo por causa da dor.

Ele sobrepujou o comedor de homens com duas munições.

— Como isso é possível?

— Sangue de besta é altamente inflamável.

Passado ou presente, fogo era o inimigo das bestas. Leona não estava certa do que Zin quis dizer; ele continuou a ficar parado.

— Ei, moço, a propósito.

— Graaaaahh!

Leona se sentia inquieta enquanto olhava para o comedor de homens lutando para ficar vivo.

— Ei, eu acho que o comedor de homens acabou de nos ver. Ou estou vendo coisas?

Leona não podia não sentir que o comedor de homens estava olhando para eles. Zin assentiu.

— Eu acho que você está certa.

— Sério? Então… Acckkk!

Zin puxou Leona e começou a correr com ela em seus ombros.

— Vamos meter o pé daqui.

— Grrrrooooowwll!

*Thud! *Thudthudthud!!*

O comedor de homens enfurecido começou a correr atrás de Zin e Leona em grande velocidade, e era aterrorizante.

— Aaaaaahhhhh!

Zin correu sem olhar para trás, mas Leona, que estava pendendo em seu ombro, olhava diretamente para o comedor de homens correndo atrás deles, destruindo os prédios em seu caminho.

— Corra! Corra mais rápido!

Era uma cena aterrorizante para Leona enquanto a besta coberta em chamas avançava em direção a ela.

— Grrrraaaah!

— Moço! Eu acho que o comedor de homens está dizendo que vai nos matar? Não é?!

— Provavelmente.

Zin pulou no telhado para o telhado de outro prédio, correndo para mais longe do comedor de homens. Não era uma coisa boa de se ver.

Desde que todos os caçadores de cadáveres fugiram, os únicos deixados na cidade de Zado eram Leona, Zin e o comedor de homens em chamas. O comedor de homens cresceu até ficar com uns 6 metros de altura, e Zin mal conseguia correr mais rápido que a besta. Recuar era a melhor opção nesse caso. Ele estava correndo o mais rápido que podia.

*Thud!* *Thud!*

Zin correu entre prédios onde o comedor de homens não podia entrar. Ele correu por pontos onde o comedor de homens tinha de destruir para passar.

*Bam!* *Wham!*

O comedor de homens estava destruindo os prédios que Zin passava, o atrasando no processo. Quando o comedor de homens conseguia passar por um prédio, Zin correria de novo para dentro de outro.

— Por que aquela coisa não morreu ainda?!

— Provavelmente por causa de seu tamanho! Vai demorar até ele morrer.

Era claro que o comedor de homens coberto em chamas estava morrendo lentamente. Mas não parecia fraco ainda, e estava incendiando a cidade de Zado conforme partes de seu corpo em chamas cairam no chão.

*Baaam!*

As partes do comedor de homens explodiam em chamas conforme elas caiam.

Uma hora.

Esse foi o tempo que levou para as chamas subjugarem o comedor de homens gigantesco.

*Thud!*

Arfando de tanto fugir do comedor de homens, Zin e Leona encaravam o corpo da besta deitada morta no chão, não mais se contorcendo. Os dois sentados em um pedaço de concreto, esperando o corpo do comedor de homens esfriar o bastante para que Zin pudesse extrair as lascas.

Leona não estava tão impressionada com Zin, apesar dele ter derrotado o comedor de homens com dois tiros. Ela começou a reclamar.

— Você sabe, eu pensei que um caçador só precisava de alguns segundos para matar uma besta, e que seria mais animador também…

Leona tinha alguns preconceitos com caçadores, e eles não eram tão diferentes das outras pessoas.

Pessoas imaginavam que caçadores matavam bestas em uma batalha espetacular, com troca de golpes, usando movimentos suaves.

— Só amadores lutam dessa forma. — Zin disse sorrindo.

Um caçador de verdade não era chamativo. Se caçava com mínimo esforço. E se colhia máximo de lucro. E era ainda mais relevante para Zin, cuja sobrevivência dependia das lascas. Leona também assentiu; ser chamativo não tinha nada a ver com lucro.

— Você não tem muito medo de bestas, hein?

Zin perguntou para Leona. Ela gritava de tempos em tempos, mas não de terror. Leona respondeu como se fosse nada:

— Eu não vou ter medo, mesmo se eu não puder lutar contra eles.

Terror levava a hesitação, e hesitação levava a morte certa.

— Estar aterrorizada não tem benefício.

Conforme Leona ria, Zin reconheceu que a criança era bem especial.

— Sua atitude combina com seu nome.

— Nome? O que tem meu nome? — Leona balançou sua cabeça. Nomes eram só nomes, e ninguém realmente se importava para a origem ou significado deles.

Sem medo, mesmo não podendo lutar contra eles.  Zin pensou que as palavras de Leona eram bem descoladas.

— O que tem meu nome?!

— Nem… nada.

Apesar de não existir mais nesse mundo… Leona, uma leoa.

Algumas horas depois, Zin enfiou o extrator no corpo do comedor de homens, fumaça ainda estava saindo de sua carne, e extraiu as lascas. 108 lascas do comedor de homens, junto com as lascas das bestas devoradas por ele, chegando em um total de 229. Levando em conta o custo das duas munições, o lucro era de 168 lascas; foi uma caçada muito eficiente.

Zin teve ótimos lucros dessa investigação em Zado considerando que ganharia a recompensa do pedido, as lascas de Leona, assim como as lascas do comedor de homens.

[400h de tempo de atividade adicionadas]

Zin lucrou, mas o fato de que consumia a maior parte das lascas não mudou. Leona estava atônita ao ver que Zin despejou centenas de lascas em sua boca.

— Moço… você é maluco? Por que você comeria isso tudo?

Era compreensível que Leona estivesse surpresa. Pessoas usavam as lascas azuis como moeda na era do Apocalipse, e as lascas azuis era a única fonte de energia. Entretanto, lascas azuis continham um veneno chamado CP, e não era seguro para humanos consumirem. De volta nos dias antes do Apocalipse, seria como alguém beber petróleo.

Zin limpou sua boca, e falou como se nada tivesse acontecido:

— Não tem problema comer. Então não se preocupe.

— Não é estranho comer elas só porque está tudo bem comê-las. — 400 lascas eram o bastante para suprir o consumo de energia de uma vila por alguns meses.


Os dois se acomodaram em um prédio abandonado na cidade de Zado, um no qual todas as bestas fugiram. Eles estavam planejando partir na manhã seguinte e a missão de Zin estaria completa assim que voltassem ao Ponto Ardente para sua recompensa.

Por razões desconhecidas, Zin desistiu de tentar entender os eventos inexplicáveis no mundo.

Zin começou um fogo e pôs um pote sobre ele, depois tirou um pedaço de carne e olhou para Leona.

— Isso é carne do comedor de homens? — Leona estremeceu com o pensamento. Carne de morto-vivo foi assustador, e ela se perguntou o quão horrível seria o gosto da carne do comedor de homens.

— Se você quiser provar o gosto de carne grelhada e bombardeada, eu posso pegar um pouco.

Zin não comia carne carbonizada por fumaça venenosa. Exceto pelo veneno, a carne teria um gosto bom. E carne de morto-vivo não seria nenhum pouco melhor.

— Então… você está falando que não é carne do comedor de homens, certo?

— Sim, é carne de morto-vivo.

— … isso não me deixa nenhum pouco feliz…

Carne de comedor de homens ou de morto-vivo; qualquer escolha seria ruim. Mas Leona sabia que era escolher o menor dos dois males. A carne de morto-vivo fervida cheirava mal, mas ela devorou facilmente devido a já estar acostumada com o sabor.

— Você se adapta bem. Provavelmente, explica o motivo de você ter sobrevivido tanto tempo.

Quando Leona pensou em comer carne de morto-vivo pela primeira vez, ela ficou enjoada, mas agora estava focada em sua refeição. Zin começou a se perguntar o motivo dela estar andando por aí nesse mundo terrível.

Mas ele ficou em silêncio. Leona começou a falar de novo.

— Moço, qual seu nome?

— Zin.

— Sílaba única. Bem único.

— Há nomes incomuns assim como há um nome para cada pessoa.

Leona se sentou perto da fogueira, assistindo distraidamente o fogo queimar.

Zin era um velho que não dormia muito, e Leona não era uma criança boazinha que iria para cama cedo.

— Você teve muitas oportunidades de visitar diferentes lugares, certo?

— Pode-se dizer que sim.

Leona olhou para Zin e perguntou:

— Há algum lugar bom que você possa chamar de lar?

— Um lugar como um lar?

— Uma cidade onde uma criancinha como eu possa viver. Ponto, Castelo, qualquer lugar.

Zin pensou por um tempo.

Qual o critério para se chamar um lugar de sua casa?

Da perspectiva de Zin, não havia tal lugar neste mundo. Entretanto, ele pensou em um lugar relativamente, ou mais ou menos bacana.

— Assim que você terminar com seu pedido, eu gostaria de viver em tal lugar.

— Uma cidade onde você possa roubar não é considerado um bom lugar para você?

— Depois de ser espancada tantas vezes, eu gostaria de ganhar dinheiro com um trabalho. Não quero voltar aos velhos dias. — Leona balançou sua cabeça. Zin olhou lentamente para ela e disse:

— Um castelo seria bom.

— Um castelo?

— Se você entrar no harém do lorde, você viveria sem problema.

— Harém? Eles deixariam uma criança como eu entrar?

Leona não tinha relutância em se tornar membra de um harém, mas ao invés disso, perguntou se eles a aceitariam. Em um mundo onde integridade não existia mais, sobrevivência era mais importante.

— Bom, não é muito surpreendente que exista esses tipos de lordes de castelos quando há bandidos que já tentaram me estuprar. — Leona respondeu enquanto ria.

— Um harém seria melhor do que uma prostituta, certo?

Uma criancinha não tinha muito poder nesse mundo. Não ter poder significava ser fraco, e os fracos estavam sempre em perigo. Eles não eram capazes de trabalhar e não lhes confiavam trabalho.

Independente se você era homem ou mulher, criancinhas sem guardiões acabariam expostas a prostituição. Obviamente, algumas crianças com guardiões ainda podiam acabar como prostitutas. Elas se prostituiriam ou porque seus pais as forçaram, foram sequestradas, ou precisavam de lascas.

Leona não expressou qualquer sinal de dignidade ou tristeza. E nem mostrou agonia ou pesar.  Se tornou uma coisa natural nesse mundo. Zin sentiu essa diferença entre os velhos dias e o presente.

— Por que você está buscando por um lugar?

— Eu fugi de casa.

— E por que?

— Eu matei meu próprio pai. Assassinos não são tolerados naquela vila, então fui embora.

Leona deixou sua cidade natal como uma assassina. E vagou em busca de um novo lar. Enquanto Zin olhava para Leona, ela sussurrou:

— Mãe era uma prostituta e pai era um cafetão. — Leona descreveu sua curta vida em palavras bem simples.

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