Supreme Magus – Capítulo 16

 Depois dessas palavras, Opal caiu de joelhos. Seu mundo estava desabando debaixo de seus pés. Tudo que ele sabia, tudo que ele tinha planejado, tudo com o que ele sonhava, havia desaparecido com uma única palavra.

Deserdar.

Isso significa que ele seria desonradamente expulso de sua própria família, deixando ele com nada que pudesse chamar de seu. Ele se tornaria apenas um garoto órfão sem um único tostão.

Quando os pais dos outros garotos chegaram, as coisas escalaram rapidamente. Vendo os seus filhos quebrados no chão, desmaiados em uma casa desconhecida, fedendo com o cheiro de suas próprias fezes e urina, eles ordenaram uma explicação.

 Todos eles eram amigos de longa data, então foi fácil para Raaz fazê-los se acalmarem e terem uma conversa civilizada.

“Você.” Raaz ordenou para o sem nome. “Explique o que você fez.”

Apesar de ainda estar em choque, ele já estava bravo o suficiente para retornar a sua antiga versão.

“Se eu for cair, então vou derrubar todos eles junto comigo. Nós compartilharemos o mesmo destino, então eu não ficarei sozinho. Eu me recuso a ser o único que vai pagar por isso!” Ele pensou.

O sem nome confessou que ele sempre odiou seu irmão, e como ele tinha planejado ensinar disciplina e respeito para ele, com a ajuda de seus amigos.

Quando ele terminou de falar, todos no quarto estavam pálidos, se recusando a acreditar em suas palavras. Eles sempre conheceram Orpal como um jovem bom e gentil.

“Lith, você pode nos contar exatamente o que aconteceu aqui?”

 Lith agiu como se estivesse relutante em deixar os braços de sua mãe, e depois de um momento de pausa dramática, ele deu um passo à frente. Ele teve certeza de mancar e segurar o seu braço direito, enquanto arrulhava de dor a cada passo.

“Como vocês sabem, minha família tem muitas despesas, e minha irmãzinha está doente também. Então, já que eu sou talentoso em magia doméstica, Selia me paga para limpar a casa dela. Eu entrego o dinheiro para os meus pais, para ajudá-los com as despesas.”

“Eu escolhi cuidadosamente cada palavra para esse diálogo.” Lith pensou. “Se eles não sentirem pena e compaixão por uma criança de cinco anos de idade que foi espancada, mesmo depois dessa história triste, então seriam psicopatas completos.”

“Hoje, a senhora Selia está fora da cidade, então eu estava sozinho aqui quando seus filhos apareceram e começaram a me espancar.” Ele segurou firme seus braços, dando uma voltinha para eles verem o quão machucado ele estava.

“Eu tentei me defender, como o papai me ensinou, ama eles eram muito grandes e fortes.” Lith começou a lacrimejar novamente. “Eu tive que usar minha magia para me defender, eu estava com tanto medo! eu achei que ia morrer.” Ele voltou para os braços de Elina, chorando sem parar.

“Pobre criança.” Disse Bromann, pai de Rizel, pegando o bastão de madeira da mão de seu filho. “Esse pedaço de lixo ainda ousou usar a última memória de seu avô. Elina, Raaz, lith, eu ofereço a vocês minhas mais sinceras desculpas. Eu falhei como um homem, e como pai, ao criar uma cobra na minha casa. Seja lá qual for a sua decisão, eu vou cumprir sem questionar. Mas primeiro…”

Bromann jogou um balde de água suja na cara de Rizel, para acordá-lo.

Ele precisava ouvir a verdade de seu próprio filho. Ele ainda não conseguia acreditar totalmente em seus olhos.

“Pa..pai? O que você está fazendo aqui?” Rizel segurou seu queixo enquanto arrulhava de dor, quando de repente ele se lembrou do que aconteceu.

 Todos os olhos estavam nele, incluindo os de lith. Os mesmos olhos frios, e brilhando com uma energia azul que lith tinha, antes de eletrocutá-los.

“Eu vou fazer algumas perguntas, jovenzinho. E se você não quiser ser espancado novamente, ou pior, é melhor me contar a verdade. O que, em nome dos deuses você estava fazendo aqui?”

Aterrorizado pelos dois, seu pai e seu torturador, Rizel só pode falar a verdade.

 Um depois do outro, os garotos foram forçados a acordarem e contarem a história inteira. Um deles tentou expor a tortura de lith, mas seu pai o fez calar a boca com um tapa em sua cara.

“Cinco de vocês, contra uma pequena criança, e vocês ainda têm a coragem de culpá-lo por tudo dar errado? Nossas famílias são amigas há gerações, suas ações desonraram todos nós! Quando chegarmos em casa, eu vou te mostrar o que é tortura de verdade.”

“Que idiota!” Lith riu involuntariamente. “A credibilidade deles é menor que zero, não importa o que eles digam. Vai parecer a desculpa patética de um criminoso tentando se safar do castigo.” 

“Raaz, o que você quer que nós façamos?” Bromann perguntou.

“Eu vou deserdar Opal, e depois denunciar todos eles por tentativa de assassinato. Eu não vou pedir a nada a nenhum de vocês. Nós sabemos o quão difícil é ser um pai, especialmente em momentos assim. Eu só queria que vocês soubessem, antes que eu fosse até o chefe da aldeia.”

“Eu não vou deserdar meu filho. Pelo menos, não ainda.” Bromann disse. “Mas eu posso te prometer que eu não vou fazer nada para defendê-lo de nenhuma forma. E quando ele voltar para casa, eu vou ter certeza de que ele nunca vai ter a chance de machucar a sua família novamente!”

 Então, todos eles foram para lutia, aonde o chefe ouviu a confissão dos seis garotos, antes de pronunciar a sentença.

“Depois de ouvir todos os fatos e testemunhas, venho por este meio, declarar a vocês seis, quatro horas de pelourinho^, onde serão raspados os seus cabelos, e vocês seram açoitados dez vezes pelos seus crimes, depois, vocês vão passar três dias na cadeia para reconsiderar suas ações.

Alguma objeção?” Todos os presentes balançaram a cabeça.

“Eu tenho uma pergunta.” Lith disse.

“Para mim, ou para os prisioneiros jovem?”

“Para os prisioneiros, eu posso?”

“Mas é claro, pergunte o que quiser.”

Lith balançou a cabeça, e depois chegou perto de Rizel.

“Trion sabia?”

“Claro que ele sabia!” Orpal gritou. “Ele sempre esteve do meu lado, diferente de você, sanguessuga.” Lith ignorou ele.

“Ele sabia?”

“Não.” Rizel olhou para Opal com olhos cheios de nojo. “Nós planejamos tudo quando estávamos sozinhos. Orpal disse que não confiava em Trion o suficiente. Que Trion era um covarde sem senso, e ele temia que ele nos entregasse.”

“Obrigado.” Então lith falou com o chefe da aldeia novamente. “Você poderia, por favor, reduzir a sentença dele? Sua sinceridade ajudou toda minha família, e também clareou as minhas dúvidas sobre o meu irmão.”

“Mas é claro! Se a vítima pede misericórdia, como eu poderia recusar? Rizel receberá apenas cinco chicotadas, e depois que o tempo do pelourinho passar, sua família está livre para levá-lo para casa. Está tudo bem para você?”

Lith assentiu, e Bromann apertou a mão de Lith enquanto sua esposa chorava de alegria.

“Obrigado, Lith. Isso significa muito para minha pobre Lisa. Não vou esquecer sua gentileza. Tenho certeza de que você se tornará um grande homem, assim como seu pai.”

Lith ficou completamente satisfeito com o resultado.

“Eu não sabia que deserdar um filho, especialmente o primogênito, era possível. Tudo foi ainda melhor do que eu imaginava. Os amigos de Orpal mal podem esperar para passar um tempo sozinhos na prisão com ele, e quando sua sentença acabar, ele está condenado. Ou alguém da vila o adota, algo que eu acho difícil de acreditar, ou ele será deportado para o orfanato mais próximo. Eu esperava me livrar de Trion também, mas talvez seja o melhor. Não acho que meus pais suportam perder dois filhos de uma vez. E entre a felicidade deles e a vingança com aquele idiota, eles vêm em primeiro lugar de longe.”

 Os dias seguintes foram muito difíceis para Raaz, Elina e Trion. O casal precisou de algum tempo antes de superar a dor.

Foi muito difícil para eles aceitarem que o garoto gentil e brilhante que eles criaram por quase doze anos tinha ido embora para sempre. Pior ainda, eles começaram a suspeitar que o Orpal que eles conheciam nunca existiu de verdade.

Pensando em todas as coisas ruins que ele fez e disse ao longo dos anos, ele poderia muito bem tê-los enganado o tempo todo.

Trion era quem estava passando por momentos mais difíceis. Ele havia perdido seu irmão favorito e a confiança de sua família ao mesmo tempo. Apesar de Rizel ter limpado seu nome, as suspeitas permanecem. Como ele poderia ser tão próximo de Orpal e ainda assim nunca ter notado nada?

“Não posso culpá-los. No lugar deles, eu também me consideraria um mentiroso ou um completo idiota.” Trion não sabia se ria ou chorava.

Lith, Eliza e Tista, por outro lado, estavam se divertindo muito, mesmo fazendo o possível para evitar que seus pais percebessem.

Eles ganharam mais comida, roupas melhores e não teriam mais que tolerar as palavras maldosas e piadas mesquinhas de Orpal. Além disso, havia todos os presentes que as cinco famílias enviaram a eles como um pedido de desculpas.

Ambas as meninas pararam de considerar Orpal como um irmão desde o dia em que ele propôs se livrar de Tista, chamando-a de aleijada.

Lith estava acima e além deles, ele nunca o considerou seu irmão. Sua única preocupação era com seus pais, então ele tentou aliviar o fardo deles o máximo que pôde.

A magia de Lith agora era forte o suficiente para que ele pudesse cultivar e arar os campos usando a magia de terra.

Ele também podia caçar presas muito maiores, seu objetivo era veados, javalis e ursos, cuja pele poderia ser vendida por um bom dinheiro.

A época do festival da primavera estava se aproximando, e Lith queria algum dinheiro extra para comprar algo legal para seus pais e irmãs. Trion ainda era um estranho para ele.

O festival da primavera era realizado no meio da primavera, durante o equinócio, para celebrar o momento em que a luz finalmente superava a escuridão e o frio do inverno.

Lith estava brincando alegremente na floresta de Trawn, procurando a melhor oportunidade para matar um enorme javali.

“Droga, o pescoço e a pele dele são grossos demais para quebrar com meu nível atual de magia espiritual. Fogo e trovão poderiam facilmente derrubá-lo, mas isso significaria danificar a pele ou a carne. Preciso ser criativo.”

Os movimentos do javali eram fáceis de prever, já que ele sempre atacaria em linha reta. Usando a fusão de ar, o corpo de Lith era rápido o suficiente para desviar das investidas com facilidade, desde que conseguisse evitar que a fera se aproximasse demais.

“Quando um boi enlouquecia, meu pai me dizia que a melhor maneira de derrubá-lo era golpear as pernas, em vez da cabeça. Uma vez que você tira a mobilidade deles, feras como essa são presas fáceis.”

No próximo golpe, Lith conjurou uma espessa camada de gelo antes de se esquivar. Quando o javali pisou nele, ele perdeu o equilíbrio, girando sobre si mesmo como um pião.

O javali bateu contra o enorme carvalho com o qual Lith o alinhou, seus ossos quebrando com o impacto. Lith se aproximou o suficiente para não perder o próximo golpe, mas sempre mantendo uma distância segura.

“Uma presa encurralada é a mais perigosa. Sempre respeite a presa, nunca a subestime. Basta um golpe para matá-lo.” Lith lembrou-se dos ensinamentos de Selia.

Lith fez uma arma de dedo, alinhando-a com seu alvo antes de disparar uma flecha de gelo que penetrou no olho direito do javali, perfurando seu cérebro.

A fera caiu no chão, mas Lith atirou outra flecha no olho esquerdo também, só por segurança.

“Ok, morto, está morto. Agora o problema é como diabos eu o carrego para fora da floresta? Minha magia espiritual pode não ser suficiente para carregar um animal morto de várias centenas de quilos até a casa de Selia. E mesmo se eu realmente conseguir fazer isso, como posso explicar?”

Lith estava nervosamente batendo com o dedo em uma árvore próxima, tentando encontrar uma solução antes de ter que lutar para defender sua caça, quando o animal morto desapareceu de repente.

“Que merda é essa?!? Desde quando javalis somem no ar? Quem está aí?”

Ele prontamente ativou a Visão da Vida, examinando os arredores em busca de seu inimigo, mas os únicos seres vivos que conseguiu encontrar foram pequenos pássaros e roedores.

“Ok, isso está ficando assustador, mas preciso recuperar meu javali.”

O javali apareceu de volta, bem perto de Lith, fazendo-o pular para longe, assustado.

“Por que você está brincando comigo? Quem é você?”, Lith gritou enquanto verificava a melhor rota de fuga.

“É um inimigo invisível que poderia facilmente me matar. Dane-se o javali, preciso sair daqui rápido.” Ele pensou.

“Não há necessidade de escapar.” Uma voz feminina gentil respondeu em sua mente. “Eu não sou seu inimigo, meu anfitrião.”

“Ok, se você quer me assustar, você está fazendo um ótimo trabalho. O que você quer dizer com anfitrião? Onde diabos você está?” Lith continuou olhando em volta, o inimigo de alguma forma era indetectável até mesmo por seus sentidos mágicos.

“Pare de olhar ao redor, anfitrião. Estou aqui onde você me colocou. Em volta do seu pescoço.”

Lith instintivamente agarrou a bolsa e jogou-a fora. Ele finalmente pôde notar que tanto a força vital quanto o fluxo de mana da pedra estavam maiores do que nunca.

Lith sempre a manteve em um ponto cego e, como era inútil, ele se esqueceu de verificar com a Visão da Vida desde o dia da emboscada.

“Ok, eu odeio enigmas. Diga-me quem ou o que você é, ou eu vou embora. Por mais que me doa perder uma caça assim, não vale a pena ter uma pedra misteriosa e assustadora falando na minha cabeça 24 horas por dia, 7 dias por semana.”

“Por favor, não!” A voz ficou desesperada. “Eu vou morrer sem meu hospedeiro.”

“Chega de enigmas!” Lith gritou alto. “Que merda é você?”

“Nossas mentes estão interligadas, é mais fácil mostrar do que contar.”

De repente, a mente de Lith se encheu de imagens e memórias que não eram suas. Ele poderia ter pensado em ter sido teletransportado para longe, se as imagens não estivessem cheias de buracos, permitindo que ainda visse parte da floresta através delas.

“Sinto muito, mas meus poderes estão quase esgotados, isso é o melhor que posso fazer.”

Lith podia ver uma torre gigantesca, cuja abóbada era tão profunda que alcançava o fundo do oceano, seu topo tão alto que tocava o céu. Ele podia perceber que toda a estrutura era um artefato mágico gigante, pulsando com mana.

Em algum momento, o dono da torre morreu e, sem sua mana para nutrir seu núcleo, a torre começou a declinar. Séculos se passaram, enquanto a torre continuava procurando seu próximo hospedeiro, usando ilusões para mandar embora aqueles que considerava não talentosos o suficiente ou indignos.

Com o tempo, a torre esgotou todos os seus poderes e, para evitar a morte, foi forçada a um sacrifício extremo.

Para prolongar sua existência, passou a consumir suas próprias paredes, pisos, tudo dentro de si, até mesmo suas memórias.

Mais séculos se passaram, agora só restava o núcleo da torre, quase do tamanho de uma pedra. Não tinha mais nada, exceto seu senso de identidade. Preferindo a morte em vez de se tornar uma ferramenta irracional, o núcleo da torre tentou uma aposta desesperada.

Enviou um sinal que qualquer ser com o mínimo de poderes mágicos para sustentar sua vida poderia perceber. O relógio estava correndo, a cada segundo que passava, o núcleo da torre podia sentir sua vida se esvaindo.

Quando aquele que atendeu o chamado foi um Ry, o núcleo da torre tentou se comunicar sem resultados. A mente da besta era muito diferente do primeiro hospedeiro, tornando a ligação mental impossível.

A esperança estava perdida, o núcleo da torre só podia esperar pelo seu fim.

Mas então um salvador chegou, salvando o núcleo da torre da boca da besta, usando seu próprio sangue para se unir ao núcleo da torre, logo antes dela cair em um sono profundo para se recuperar dos ferimentos.

As imagens desapareceram, deixando Lith sozinho com a bolsa e o javali morto.

A mente de Lith estava sobrecarregada, incapaz de qualquer pensamento além de piadas estúpidas.

“Isso nos torna casados ou o quê?”