O tempo passou.
Já havia passado meio ano desde a destruição do Reino do Caminho Celestial.
Céus estranhos, terras estranhas. Cidades estranhas, pessoas estranhas….
Essas terras eram na verdade compostas por cinco enormes massas terrestres chamadas de domínios imortais.
Qualquer um dos domínios imortais era dezenas de vezes maior que o Reino do Caminho Celestial ou mais. Em um deles, na parte oriental do domínio, havia uma vasta e sinuosa cordilheira que parecia um dragão adormecido. Muitas cidades podiam ser vistas dentro dessas montanhas, em torno das quais havia numerosas cidades.
Em uma dessas cidades havia um jovem em uma roupa branca amarrotada, com o rosto sujo e manchado. Ele parecia estar rindo e murmurando para si mesmo enquanto tropeçava bêbado na rua, com um jarro de álcool na mão, de onde ocasionalmente tomava longos goles.
“Domínios imortais, hein…?” Ele murmurou. Pela maneira como ele se arrastava, ele parecia completamente desanimado.
Era outono e um vento cortante varria as montanhas, fazendo folhas amarelas voarem pela rua. Essa cidade em particular não era muito povoada. Ela estava localizado em uma área relativamente remota e, na maioria das vezes, as pessoas guardavam para si a localização. Por causa do frio cortante do vento, as poucas pessoas que andavam pela rua usavam roupas grossas e quentes e corriam para seus destinos o mais rápido possível.
Claramente, ninguém queria estar na rua em uma noite tão fria. E qualquer um que precisasse sair queria voltar para casa o mais rápido possível, para onde estava quente e para onde seus amigos e familiares os esperavam.
No entanto, esse jovem bêbado não parecia ter nenhum conceito de lar. Ele vagava de maneira aparentemente sem rumo, com uma expressão vazia nos olhos, ignorando completamente o vento cortante. Ele não parecia se importar com o vento e, de fato, combinava com a solidão em seu coração. Enquanto caminhava pela noite, ele parecia incrivelmente melancólico…
Folhas amarelas e quebradiças flutuavam no ar ao seu redor, e elas pareciam ter encontrado nele um espírito semelhante e não desejavam sair de perto.
“Domínios imortais…? Quem se importa…?” Um aroma de álcool cercava o jovem enquanto ele cambaleava para a frente, levantando o jarro para outro gole. No entanto, naquele momento, ele percebeu que o jarro estava vazio. Amaldiçoando, ele levantou o jarro e balançou um pouco para obter as gotas restantes restantes. Depois de engoli-las, ele bateu nos lábios.
Quando a luz âmbar da noite brilhou em seus olhos apáticos, revelou a amargura e a perda contidas no fundo deles.
“Sem bebida novamente…. Pelo menos o álcool neste mundo é bom.” Abaixando a cabeça, ele começou a murmurar incoerentemente enquanto tropeçava na direção da taverna que frequentava, sua única companhia sendo o vento cortante do outono.
A taverna não estava muito longe, mas o jovem quase parecia estar andando através de águas profundas até os joelhos. Levou o tempo para queimar um bastão de incenso antes de chegar ao seu destino. Naquele momento, não restava muito do pôr-do-sol âmbar. Ele abriu a porta e cambaleou para dentro, permitindo simultaneamente uma rajada de vento frio entrar com ele.
Haviam apenas sete ou oito mesas na taverna, mas estavam todas cheias. Até os assentos aleatórios que não estavam presos às mesas tinham pessoas neles. Haviam algumas crianças presentes, correndo por entre as mesas, enquanto seus pais estavam conversando e bebendo. Não havia muito o que fazer nesta cidade remota e, portanto, essa taverna, que vendia licor Imortal Bêbado, há muito se tornara um centro de atividades.
Era aqui que as pessoas trocavam fofocas locais, rumores sobre os ricos da cidade e até histórias sobre imortais. Às vezes, as pessoas ficavam bêbadas e contavam seus segredos em voz alta, levando a muitas risadas de seus companheiros.
Para a maioria das pessoas da cidade, seu maior entretenimento era vir a esta taverna e desfrutar da companhia um do outro.
Assim que o jovem entrou, alguns dos frequentadores apontaram para ele e riram. “Bem, se não é o Estudioso Bai! Ei, lojista, parece que você tem outro viciado no seu Imortal Bêbado!”
Considerando o quão bêbados estavam os homens, era difícil dizer se estavam sendo amigáveis ou não.
Ninguém na cidade conhecia esse jovem, mas os frequentadores da taverna o reconheceram. Ele apareceu do nada alguns meses antes. Ele nunca conversou com ninguém e ninguém sabia o nome dele. No entanto, ele era claramente diferente dos habitantes da cidade, um tanto ásperos e sem instrução. Ele usava uma túnica branca comprida e parecia mergulhado em melancolia e dor. Nada disso adiantou para alguma coisa para impedir a especulação sobre quem exatamente ele era.
Ele parecia um estudioso, especificamente o tipo que havia passado apenas nos exames de nível municipal.
Por causa da túnica branca que ele usava, as pessoas começaram a chamá-lo… Estudioso Bai.
“O Estudioso Bai deve ter falhado nos exames imperiais e não tem coragem para voltar para casa. É por isso que ele está bêbado o tempo todo…”
“Não. Me ouça. A família do Estudioso Bai morreu e ele foi assaltado por bandidos. A dor de tudo o que ele passou é o motivo pelo qual ele parece tão deprimido.” A multidão na taverna havia notado quantas vezes ele vinha comprar álcool e, considerando o quão desanimado ele parecia, eles não podiam deixar de suspirar e surgir com várias suposições sobre seu passado.
O jovem podia ouvir muito do que estava sendo dito sobre ele, mas não parecia se importar. Ele cambaleou até o balcão, largou o jarro de álcool e depois falou com uma voz um pouco incoerente.
“Outro jarro, lojista…. Imortal Bêbado. Esse seu Imortal Bêbado… é coisa das boas.”
O lojista, um sujeito mais velho em roupas verdes, olhou para o jovem e suspirou.
“Estudioso Bai, é quase o fim do ano. Por que você não economiza sua prata e volta para casa?”
“Casa…?” O jovem riu, com um olhar vazio nos olhos que parecia tingido de dor. Alcançando a dobra de sua túnica, ele pegou uma pilha de prata e a colocou no balcão. “O que, você acha que eu sou pobre ou algo assim?!”
O velho lojista franziu a testa para a aparente incapacidade do jovem de aceitar uma gentileza. Parecendo um pouco irritado, ele pegou a prata, jogou um novo jarro de álcool na mesa e depois ignorou o jovem.
Foi com os olhos um tanto vidrados que o jovem pegou o jarro de álcool e tomou um gole longo. Sorrindo tolamente, e com o rosto corado de vermelho pelo álcool, ele balançou pelo caminho em direção à porta.
A essa altura, as crianças que brincavam na estalagem já haviam notado o rapaz, e, considerando como ele estava tropeçando, começaram a brincar o chamando de bêbado.
O jovem não se importou. Quando saiu da taverna, já estava escuro e o vento estava ainda mais frio. Ele olhou em volta para a luz da lanterna piscando nas janelas das casas, e seu coração ficou ainda mais escuro.
Conforme a escuridão em seu coração se espalhava para cobrir seus olhos, ele tropeçou na direção de um templo onde costumava dormir. Ao chegar, ele caiu contra a parede e continuou a beber…
O único som que ele podia ouvir era o choro do vento e o farfalhar das folhas que ocasionalmente pousavam nele.
A certa altura, uma folha caiu em sua mão… destacando uma cicatriz ali que parecia uma faísca.
“Hao’er…” ele murmurou, a dor em sua voz clara. No momento, a única coisa que ele conseguia pensar era beber, usar o Imortal Bêbado para mergulhar em um torpor confuso. Só estando bêbado… ele poderia esquecer toda a dor e confusão.
Este jovem era Bai Xiaochun.
Era uma vez, ele estava feliz e cheio de risadas. Mas da mesma maneira que o verão muda para o outono… essas coisas se foram, e ele mudou.
Também se foi a sua casa. Pouco antes de desmaiar, ele ouvira o barulho ensurdecedor e viu o Reino do Caminho Celestial ser destruído.
Mais tarde, ele acordou em uma terra estranha e desconhecida descobrindo que todos do seu passado se foram….
Sua casa não existia mais.
A Seita Desafiadora do Rio. Li Qinghou… a Senhora Poeira Vermelha. Song Junwan…. Todos se foram.
Felizmente, o Celestial também se foi. No entanto, esse fato não lhe trouxe alegria, apenas tristeza. Um oceano de tristeza, com ele estando bem no fundo.
Ele queria se animar. E, de fato, depois de ser teleportado para esse domínio imortal, ele passou meses pesquisando. Ele usara tudo em seu poder, incluindo todo o poder de sua base de cultivo e todo seu sentido divino.
Mas as únicas coisas que ele encontrou… eram cadáveres. Um após o outro, ele localizou pessoas das Terras do Caminho Celestial que haviam sido teletransportadas para este mundo desconhecido. Nenhum deles foi capaz de sobreviver ao processo e chegaram a seus destinos como cadáveres. Foi como um pesadelo para ele e levou a um momento de choro no qual ele simplesmente não aguentou mais.
Durante seus meses de busca, ele encontrou cadáveres que incluíam cultivadores da Alma Nascente e até Devas. Eventualmente, ele não se atreveu a procurar mais. Ele temia que um dia encontrasse Li Qinghou, a Senhora Poeira Vermelha, Song Junwan ou alguns outros rostos familiares… mortos.
A morte de Bai Hao. O plano do Coveiro. As lágrimas de Du Lingfei. A destruição do mundo. Um cadáver após o outro. Eventualmente… Bai Xiaochun não aguentou.
Exausto em todos os sentidos da palavra, ele chegou a esta cidade, onde acabou em um estupor bêbado…
Ele não era do tipo impiedosamente ambicioso como o Celestial. Ele era Bai Xiaochun… uma pessoa simples que queria ser feliz e viver para sempre.
“Se todos vocês ainda estão vivos, então onde vocês estão…?” Ele disse, com sua voz se arrastando um pouco conforme ele lentamente fechava os olhos e desmaiava.