— Fregueses espancaram minha mãe até a morte e meu pai me colocou para ser sua nova prostituta. Então, esfaqueei ele e fugi.
Leona explicou sua vida em duas sentenças simples, ela não parecia guardar rancor ou ódio em relação à memória. Entretanto, era um pouco estranho para Zin, que ela, alguém que não era relutante em se tornar uma prostituta, mataria seu pai que tentou fazer dela sua prostituta. Leona parecia perceber o que Zin estava pensando e, então, deu de ombros.
— Não é estranho que alguém vá tomar meu dinheiro quando sou eu que vai ralar? Minha mãe viveu daquele jeito, mas eu não.
— Você poderia só ter fugido. Por que matar ele?
— Se ele não tivesse me estapeado quando falei para dividirmos o dinheiro em 7:3, não teria matado ele.
Leona e Zin riram, atônito demais para responder. Se ser imprudente era um talento, Leona seria um gênio nesse departamento. Zin disse para ela se juntar a um castelo, mas agora ele não pensava que havia necessidade disso. A última vila que passou parecia um lugar perfeito para ela.
— Eu retiro o que disse sobre o castelo.
— Huh?
— Você lembra que nós vamos para o Ponto Ardente?
— Sim.
— Aquele lugar é muito bom.
As pessoas no Ponto Ardente eram benevolentes. Em um mundo onde era difícil encontrar qualquer hospitalidade humana, Ponto Ardente parecia um paraíso para Leona.
— É um lugar seguro onde há poucas bestas, menos pessoas más, e possui mais recursos se comparado a outros lugares.
— Isso é perfeito!
Zin continuou falando mesmo sentindo que não era necessário explicar mais.
— Não há lordes já que é um Ponto, e tem mantido uma comunidade. Eles provavelmente vão te dar a oportunidade para fazer algo.
— Há crianças lá?
Zin tentou lembrar de seu tempo no Ponto Ardente, mas não conseguia se lembrar. Mas se era um lugar onde suas pessoas podiam oferecer três batatas para andarilhos, era provavelmente um bom lugar para se viver. Zin sorriu quando Leona olhou para ele.
— Ponto Ardente não é grande o bastante para ter um bordel.
Onde existe demanda, existe oferta, mas Ponto Ardente não era grande o bastante para ter um bordel.
— Uou… isso é bom.
Leona concordou, interessada com a explicação de Zin. Logo depois, ele ficou cansado de responder todas as perguntas que Leona fazia sem parar.
— Bom, se você quer chegar logo, melhor dormir mais cedo.
— Sim, eu deveria fazer isso.
Leona pegou alguns pedaços de pano ao redor do fogo, os juntou para formar um travesseiro e deitou-se no chão. Zin ficou olhando ela, que dormiu logo depois. Ele lentamente fechou seus olhos também.
No próximo dia, os dois começaram sua jornada enquanto mastigavam carne seca de morto-vivo. O caminho até o destino não era curto ou longo demais, e eles desciam a selva. O caminho estava bem quieto, provavelmente por causa das bestas com medo do comedor de homens. Leona continuava bocejando como se não tivesse acordado totalmente ainda.
— Bom, você não roubou meus pertences ontem.
Depois que Zin falou isso, Leona começou a rir ao lado dele.
— Eu sou uma profissional, moço.
— O que ser uma profissional tem a ver com roubar?
— Uma profissional só rouba o que ela pode.
— Eu pareço uma pessoa difícil de se roubar?
— Parecia que você podia se levantar a qualquer momento.
Zin sempre parecia estar em guarda, mesmo quando dormia. Com suas palavras, Zin olhou para Leona de forma brincalhona.
— Bom, parecia que você pretendia fazer algo.
— !
Leona percebeu seu erro e ficou assustada. Ela tinha bons instintos, mas era apenas uma criança no final das contas.
— Bom… eu acordei no meio da noite… e… você sabe o que quero dizer… certo?
— Claro. — Zin cruzou seus braços.
— Uma gata de rua sem sono parecia estar dormindo, mas quando ela tentou roubar a bolsa de seu mestre, percebeu que não era possível. Então, voltou a dormir. E agora está bocejando desse jeito. É essa a sua história?
— Não… mentira… há um mal entendido aí… talvez…
Zin riu de Leona, que parecia estar morrendo de medo. A fim de sobreviver neste mundo, uma criança tentando roubar a bolsa de um caçador era provavelmente um instinto natural.
Já que Zin tinha de levar Leona com ele de qualquer jeito, ele estava disposto a deixar essa passar.
— Você deveria ser grata por seus instintos de sobrevivência. São uma ótima coisa de se ter.
— Sim… — Leona suspirou de alívio. Zin continuou para perguntar:
— Você roubou da primeira vez desse jeito?
— Essa é a primeira vez que eu viajo com alguém. Quando alguém se aproximava de mim de longe, sempre me escondia. Se não era possível sobrepujar o outro, a escolha certa era evitar o desconhecido.
— Bom, você tem uns instintos bem-bons…
— Moço. — Leona cortou Zin, levemente irritada enquanto ela olhava para ele.
— Você está com raiva de mim?
— … Raiva de você?
— Eu acho que você está. Você está bravo, certo? Certo?
— Você não me entendeu. Eu…
— Não, você está bem com tudo isso. Você quer me estapear? Assim podemos acabar com isso, vamos então? — Conforme Leona oferecia sua bochecha, Zin riu, atônito.
— Haha… bom, eu não sei o que dizer. Você é a culpada, e agora está me dizendo que sou eu que está guardando mágoa.
— Viu. Você está bravo, haha. — Conforme Leona ria alto, Zin olhou para o holograma mostrando os sinais vitais dele.
[BPM – 160]
Seus BPM dobraram. Por mais esperta que Leona fosse, ela tinha um jeitinho para irritar as pessoas. Zin suspirou e olhou para Leona.
— Isso! Eu não estou com raiva, mas irritado.
— Huh… o que?
*Bam!*
Com uma batida em sua testa, Leona gritou.
— Owwwww!
— Por favor, fique quieta e só me siga.
— Isso doeu! Moço maldito!
Zin começou a andar para frente, e Leona o seguiu por trás, encolhendo-se.
Leona seguiu e manteve o passo com Zin o máximo que conseguia. Uma criança e um adulto tinham condições físicas diferentes. Devido a estamina física de Zin que não era ordinária, era óbvio que Leona não conseguia acompanhá-lo.
Entretanto, para a surpresa de Zin, Leona continuou o seguindo sem reclamar. Mas ela claramente estava lutando para fazê-lo. Leona cambaleava como se fosse cair, mas ainda o seguia com bravura. Então, Zin diminuiu o passo, e Leona foi capaz de acompanhá-lo sem se exaurir completamente.
Um lugar bom pra caralho de se viver.
Zin e Leona não encontraram nenhuma besta, mesmo quando eles estavam se aproximando do Ponto Ardente. As bestas na região central da Península da Coreia eram em sua maioria caçadores de cadáveres e cachorros venenosos. Se o incidente na cidade de Zado dizimou os Lobos Gigantes, então as áreas ao redor iriam se tornar um lugar ainda melhor para se viver. Acima disso, muitos caçadores de cadáveres fugiriam para centenas de quilômetros por causa da aparência do comedor de homens. Ponto Ardente provavelmente se tornou um lugar muito melhor de se viver.
— Ei, moço, lavoura é algo difícil? Eu acho que consigo cuidar dessa área.
— Hmm… bem.
Conforme eles se aproximavam do Ponto Ardente, Leona ficou mais curiosa e começou a perguntar coisas.
— Na lavoura, pessoas utilizam técnicas agrícolas, mas uma colheita bem sucedida depende de sorte. É difícil de aprender, e mesmo se você aprender, colheita depende de sorte.
— … Você pode explicar em palavras que eu consiga entender? — Leona perguntou com raiva. Zin sabia que ela tinha um vocabulário limitado, mas ele ficou irritado com o fato de que tinha que explicar em termos leigos. Zin começou a explicar de novo.
— Lavoura é algo difícil para um caralho.
— Ah… entendi.
Leona continuou murmurando. — Mundo maldito, nada é fácil. — Apesar de ser uma viagem de volta bem pacífica, Zin não estava muito feliz, pois ele precisava caçar bestas a fim de estender seu tempo de atividade.
E quando eles chegaram a salvos no Ponto Ardente, Zin pensou que foi fácil demais a viagem de volta.
— Uou… é alta.
Leona ficou espantada ao ver a muralha como se ela nunca tivesse visto uma antes. Alguém bisbilhotou do portão, e sem dúvida, era Baek-Goo. Baek-Goo começou a balançar sua mão de longe como se estivesse esperando o retorno do caçador. Ele começou a gritar para as pessoas dentro da muralha.
— O caçador voltou! Abram o portão!
*Krrrrrrrrrrr!*
Leona parecia espantada ao ver o portão de aço abrir lentamente.
— Eu realmente… — Leona começou a gritar, incapaz de segurar suas emoções. — … quero viver aqui!
A muralha grossa da prisão parecia tão segura para Leona que ela ficou emocionada. Baek-Goo desceu de uma escada na muralha e sorriu para eles.
— Eu estava esperando por cê, caçador! Pensei que estivesse morto. — Baek-Goo cumprimentou Zin como se fosse um amigo de longa data que havia retornado.
— Eu não atrasei tanto assim, não é?
— Bem, você podia ter morrido muito rápido.
— Olha para você, falando merda.
— Sim, eu sou muito bom nisso. Não pareço mais alto também? — Baek-Goo apontou para sua altura relativamente baixa, mas Zin balançou sua cabeça.
— Cresceu não.
— Ah bom… tanto faz, cê completou sua missão?
— Você poderia dizer que sim.
— Quem é sua amiguinha?
— Uma sobrevivente da cidade de Zado. Ela servirá como testemunha.
— Deve ter sido uma bela viagem, tentando arrastar uma criancinha até aqui. Você com certeza é um senhor caçador.
— Criancinha? Você não é mais alto do que eu!
— Hmm? Sério? Ah, desculpe minhas palavras, haha! — Baek-Goo só riu dos comentários sarcásticos de Leona sem discutir. Ela estava surpresa que Baek-Goo responderia de maneira tão estranha.
— Agora, tenho que ir. Cê sabe onde o ancião está, certo? Por favor, vá até o prédio dele.
— Claro, obrigado.
— Te vejo depois!
Baek-Goo balançou sua mão para eles e voltou para a muralha. Os outros guardas e residentes olhavam para Zin e Leona enquanto passavam. Todo mundo pensou que o caçador ou morreria ou fugiria, mas eles estavam alegres de ver o caçador voltar. Leona parecia irritada.
— Quem era aquele? Seu amigo?
— Ele só age daquele jeito.
— Eu odeio esse tipo de pessoa.
— Hmm, ele parece ser o tipo de pessoa que não pode ser odiado.
Leona balançou sua cabeça com suas palavras.
— Eu não gosto de pessoas que agem amigáveis demais quando não estou preparada.
— Bom, eu não acho que você seja melhor.
Baek-Goo e Leona não eram diferentes demais no quesito que ambos eram intrusivos, parecidos em personalidade. Eles agiam levemente diferentes, mas Leona era um pouco mais sarcástica.
— Hmm… moço, você não entende. — Leona riu. — Pessoas odeiam aqueles com personalidades similares. — Enquanto Leona falava como uma vovó de sessenta anos, Zin riu alto.
— Que você goste ou não, não tem motivo para agir estranha nesse lugar. Você vai viver aqui no final das contas.
— Ah, verdade. — Leona cobriu sua boca enquanto sorria.
— Eu devia me desculpar depois?
Leona parecia que estava de bom humor, perguntando-se o que devia fazer.
O ancião cumprimentou Zin com o mesmo olhar que os outros, e Zin brevemente reportou o que encontrou. Leona, que veio como testemunha, falou com o ancião também. Não era inteligente acreditar nas palavras de uma testemunha só porque ela era uma testemunha. E o ancião começou a perguntar várias coisas a fim de testar Leona.
— O capitão da cidade de Zado ainda tem aquele narigão? Ele ainda tem aquela verrugona?
— Bom. Eu não me lembro bem. Ele parecia feroz e de sangue frio. Tinha um nariz grande? Não sei. Não acho que ele tinha uma verruga…
— Hmm… você pode mesmo ser uma sobrevivente.
— Ancião, como você conhece o capitão da guarda de Zado? — Com o questionamento dela, o ancião deu uma resposta estranha.
— Bom, eu não conheço ele.
— O que? Então, por que você me perguntou aquelas coisas?
— Eu estava te testando para verificar se você estava fingindo ser uma sobrevivente.
Olhando para como Leona estava pensando muito para responder suas perguntas, o ancião começou a perguntar mais, e assim que ouviu as perguntas, assentiu com sua cabeça sombriamente.
— Uma alcateia de Lobos Gigantes… não faz sentido…
— Sim, mas é verdade!
— Um comedor de homens apareceu por causa dos cadáveres, e aqui está a prova.
Zin puxou alguns tentáculos de comedor de homens do armazém do vazio, e também tirou alguns dentes dos Lobos Gigantes antes de ir embora de Zado.
— Hmm… você não seria capaz de caçar os Lobos Gigantes em tão pouco tempo… Acima disso, um comedor de homens… Você realmente caçou o comedor de homens.
— Sim. Eu não vou pedir por mais dinheiro contanto que você pague o prometido.
— Muito grato por isso… huh… comedor de homens… o que está acontecendo…
O ancião tinha de acreditar nas palavras de Zin por causa dos dentes de Lobo Gigante, e um tentáculo de comedor de homens mais ou menos torrado, não eram itens possíveis de serem adquiridos em um curto período de tempo.
O ancião assentiu lentamente, tirou a recompensa do cofre, e a colocou na frente de Zin.
— Bom trabalho. Se os Lobos Gigantes foram mortos, não há necessidade de fugir do Ponto Ardente. Obrigado de novo.
Zin abriu a bolsa, contou as lascas, e assentiu.
— Duzentas. Perfeito.
— E isso é um pequeno sinal de apreciação por matar o comedor de homens. Ele poderia acabar vindo para cá. — O ancião pegou mais 50 lascas e as deu para Zin.
— Eu vou aceitar recompensas extras sempre. Obrigado.
— Isso é uma conclusão muito melhor do que tentar procurar um novo abrigo. Obrigado, eu realmente aprecio. Você trouxe evidências convincentes e terminou o trabalho perfeitamente. Mesmo em meus dias de Ninho, nunca vi um caçador como você. — O ancião riu, sabendo que uma das maiores preocupações tinha se resolvido.