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Apocalypse Hunter – Capítulo 72

Sobrevivência e Vida (4)

Era irônico que nem Leona nem Zin conseguia dizer algo.

— Vamos juntos. Nós estamos juntos nessa.

Zin sabia que Leona viveria uma vida miserável na selva e Leona sabia que seria egoísta querer ir junto com ele porque ela não conseguiria ajudá-lo com muita coisa.

Zin e Ramphil estavam planejando ir embora da fortaleza assim que o veículo armado ficasse pronto amanhã.

O objetivo original de Leona era encontrar um lugar onde ela pudesse viver e a fortaleza era o lugar perfeito.


Leona e Sara estavam sentadas num banco juntas. Outras crianças ainda estava fazendo perguntas para o executor. Era engraçado ver Ramphil ficar tão aflito, mas Leona não conseguia rir.

— Leona, você vai ficar com a gente, né, né? — Sara sorriu e perguntou. Sara era uma garota boa, educada e amigável. Se ela não se aproximasse de Leona primeiro, Leona teria ficado de bobeira no quarto. Sara ajudou Leona a aproveitar seu tempo na fortaleza.

Sara parecia certa que Leona iria ficar na fortaleza.

Os monstros não poderiam machucar Leona aqui, então poderia viver na fortaleza se escondesse sua verdadeira identidade. Apesar de Leona gostar da vida na fortaleza, quando ela olhava para Sara que se sentia tão feliz, Leona se sentia fora do lugar e inquieta.

As crianças na fortaleza tinham que se preocupar com segurança e elas estavam felizes que podiam viver alegremente na fortaleza. Elas pensavam que Leona era uma amiga interessantes porque viveu em ambientes muito duros.

Leona se sentia estranha quando olhava para as crianças que não eram hostis com ela. Leona se sentia inferior e superior ao mesmo tempo.

Leona se sentia superior porque ela passou por muita coisa se comparada com essas crianças. Mas também se sentia inferior porque as crianças eram puras e inocentes e não tinham que se preocupar em sobreviver.

Leona matou muita gente para sobreviver. Ela era impura e se sentia inquieta olhando para tantas crianças inocentes

Ela percebeu que não seria capaz de assimilar com as crianças depois de olhar para Sara.

Sara viveu em um mundo onde ela podia ganhar o que quisesse. Por outro lado, Leona não tinha acesso a muitas coisas e ela tinha que lutar por sua vida todo dia.

Elas são boas crianças. São boas pessoas. — Leona pensou e estava verdadeiramente feliz.

Entretanto, ela não queria ficar com eles. Ela se perguntava se a tratariam da mesma quando descobrissem sua natureza ruim.

Leona testemunhou demais a natureza pecaminosa dos seres humanos. Não só dos Salteadores, ela viu pessoas demais matarem umas às outras sem remorso só por causa de uns trocados.

Leona suspeitava que as pessoas na fortaleza possuíam uma natureza ruim também. Ela pensava que eles simplesmente a estavam escondendo por trás de uma máscara que cobria a verdadeira natureza.

Conforme ela relutava, Leona não conseguia responder Sara.

Aquela noite, a maioria das luzes na fortaleza estavam desligadas. A vida no subterrâneo era diferente da na selva. As luzes principais eram ligadas e desligadas para controlar o dia e a noite. Sair de sua casa durante a noite era proibido e todos tinham que ir dormir. Ramphil, Zin e Leona estavam dentro do quarto.

Ramphil foi para cama mais cedo e Leona também estava deitada em sua cama.

Ela conseguiria ter sua própria casa e quarto se ficasse na fortaleza. Pouca gente rejeitaria essa oportunidade.

Leona sabia que Zin não precisava da ajuda dela. Ela sabia que precisaria de pelo menos mais cinco a dez anos de treinamento para se tornar uma caçadora que poderia ajudá-lo.

Leona não conseguia dormir. Zin iria embora amanhã e ela se sentia inquieta.

*Creaaaaak…*

Leona foi beber um copo de água, pois não conseguia pegar no sono.

— …

E ela viu Zin, que estava sentado no sofá olhando para ela.

— Ah… eu não tava conseguindo dormir…

Zin assentiu. Leona se sentou no sofá na frente dele. Quando ela se sentou, Leona pensou que a fortaleza não era um lugar ruim para se viver. Talvez estivesse na hora dela finalmente se estabelecer em algum  lugar…

Assim como ela estava pensando, Zin começou a falar.

— Você sabe que já vivi por muito, muito tempo.

— Sim.

Zin olhou para Leona e começou a falar lentamente.

— Eu conheci muitas pessoas diferentes.

Ele ajudou outros e lutou junto com outros. Ele recebeu ajuda de outros e se tornou uma pessoa importante para outros. Zin não explicou em detalhes sobre as pessoas que conheceu, mas Leona conseguia entender os sentimentos de Zin.

Memórias reluziam na frente dos olhos de Leona.

— Senhor Caçador! Obrigado! — Uma criança segurava a mão de sua mãe e acenava para Zin.

Avanço rápido – no meio das ruínas, Zin estava olhando para os cadáveres da criança e da mãe que foram mortos selvagemente por monstros.

Zin sempre salvava os outros.

Ele salvava e protegia pessoas de monstros, humanos ou não. Entretanto, as pessoas que ele protegia se mostravam ser casos perdidos na sua frente. Ou ele só não conseguia encontrar com elas de novo visto que estavam  mortas.

Seres humanos sempre morrem.

Zin estava dolorosamente ciente dessa verdade.

— Caçador! Por favor nos salve!

Pessoas estavam gritando pedindo por ajuda em meio aos monstros.

— Caçador!

Criancinhas que estavam fugindo dos tranqueirões foram mortas por Salteadores.

— Eu não quero morrer!!

Alguém que teve a parte inferior de seu corpo rasgada e morreu em agonia.

— Por favor, pelo menos salve minha criança… por favor.

E havia pessoas que imploravam para que Zin salvasse seus bebês recém nascidos.

Zin protegia a todos em algum ponto. Ele testemunhava suas mortes ou não os via de novo. Muitas vilas em que salvava se tornavam ruínas mais tarde.

Ele até viu pessoas que salvou se tornarem Salteadores.

Por que pessoas se agarram tanto a lascas?

Não era só porque elas prolongavam suas vidas.

Leona finalmente conseguiu entender.

Nos olhos de Leona, Zin era um caçador perfeito, mas era um ser humano imperfeito.

Ele encarou muitas falhas em suas relações e amizades. Ele não conseguia proteger ninguém e não conseguia ver eles vivendo felizes para sempre depois. E ele até teve que matar pessoas amadas com suas próprias mãos.

O mundo era um lugar cruel para Zin, alguém que não conseguia ser feliz. Zin não era capaz de impedir a tristeza dos lugares que ele deixava. Ele só conseguia sobreviver. Zin se tornou estarrecido com suas falhas.

Ele escolheu permanecer um caçador visto que caçar era a única coisa no mundo que conseguia fazer. Zin desistiu de viver como um ser humano nesse mundo cruel.

Zin queria permanecer um caçador. E só ligava em conseguir mais lascas. Ele pensava que era menos doloroso perseguir lascas. Se ele não amasse ninguém e se não ligasse para ninguém, ele não se machucaria com a perda de outras pessoas.

— Matar malignos não vai mudar nada! — um homem loiro murmurou enquanto olhava para o corpo morto de uma mulher estraçalhada por um monstro. Perto dela estava o cadáver do monstro trucidado.

— Eu vou parar de ser um caçador de maligno.

A imagem do homem desapareceu e uma nova imagem apareceu.

— Você vai sentir minha falta.

No corredor escuro de um castelo, uma mulher ferida, sangrando estava falando enquanto se ajoelhava.

— Eu não acredito que uma pessoa deva aceitar sua identidade como ela é.

Um vislumbre de uma mulher sorrindo dirigindo um tranqueirão desapareceu.

Em um momento breve, Leona teve um vislumbre de centenas de memórias do passado. Ela não conseguia entender tudo, mas sentia uma tristeza profunda. Parecia mais com desespero do que tristeza. Zin não sabia para o que Leona estava olhando enquanto ele a observava.

Leona se perguntou o que Zin se tornou depois de entorpecer seus sentimentos por tantos anos.

Leona não conseguia entender todas as emoções dele, mas se sentia emocionada só de ter um vislumbre de todas essas memórias. Ela se perguntava como uma pessoa conseguia viver depois de tanta dor.

Como uma pessoa podia ficar viva depois de passar por tanta coisa? Como alguém poderia viver depois experimentar tantos eventos dolorosos? Ele poderia continuar seu caminho com outra pessoa indo junto?

Zin estava totalmente ciente de que todos os relacionamentos levavam ao desespero e destruição. Naquele momento, Zin estava andando com Leona, apesar de ser breve.

Leona conseguiu entender o motivo de Zin manter distância dela, o motivo de seu rosto endurecer quando eles estavam ficando mais amigáveis e o porquê ele queria deixar ela em um lugar seguro.

E ela não conseguia mais pedir para ir junto na viagem.

Zin olhou para ela e disse.

— Eu me deparei com mortes de pessoas demais.

Um caçador tinha que ir para lugares onde havia tragédia e esse era o destino de Zin. Ele estava sorrindo, mas era um pouco incomum. Seu sorriso parecia estar misturado com desespero.

— Leona.

— Sim..

— Lá em Hewl-Jin, você disse que eu era um covarde.

— Você é um covarde, moço!

Na época, Leona gritou com Zin que estava deixando ela. Leona queria morder sua língua enquanto relembrava aquela conversa.

E Zin concordou.

— Sim, sou um covarde. Tenho medo de muitas coisas.

Ele não tinha medo de monstros ou de Salteadores, mas tinha medo de pessoas. Ele tinha medo de pessoas se aproximarem emocionalmente dele.

Zin tinha mais medo de Leona do que da Bruxa Branca que estava a solta por aí.

Zin tinha medo de Leona.

— Eu falhei demais e… cometi erros demais. Eu não quero… falhar mais. — Zin soava muito gentil, mas ainda triste.

Zin estava contando para Leona que todas as pessoas vão morrer e que ela não era exceção e que também iria morrer em algum ponto. Ele não queria vê-la morrer na frente dele.

Zin falou de tal maneira porque percebeu que era impossível proteger as pessoas com que ele mais se importava. Ele tinha medo que Leona iria morrer na frente dele. E, dessa forma, tinha medo de Leona.

Leona sabia que machucaria seus sentimentos se pedisse para ir junto com ele.

Entretanto, conforme Leona encarava o desespero profundo de Zin, ela mordeu seus lábios. Ela não só leu as memórias passadas de Zin. Ela percebeu que o caçador velho também estava com medo de ficar sozinho, parecido com o medo dela. Zin vivia em meio a solidão, mas não gostava disso. Ele aceitou seu destino e prosseguiu.

— Moço, você se sente sozinho também.

— …

— Você precisa de mim. Eu posso ficar aqui e sei que vai ser melhor para mim. Mas… — Leona falou de novo lentamente, mas com firmeza, — ninguém precisa de mim nesse lugar. — As pessoas da fortaleza acolheriam Leona, mas eles não precisavam dela. — Mas, eu preciso de você, moço.

— …

— E, moço, você precisa de mim. Tenho certeza disso. Então, essa é a razão… que nós estamos tendo essa conversa.

Se eles não precisassem um do outro, não haveria razão para essa conversa. Se separar e cada um seguir com seu caminho seria o bastante. Entretanto, Zin estava declarando a razão que ele tinha que deixar Leona para trás e Leona estava preocupada com Zin e não conseguia pedir para seguí-lo.

Eles precisavam um do outro, mas estavam dizendo apenas as razões que precisavam se separar.

Leona tinha que tomar uma decisão. Ela poderia viver uma vida confortável onde ninguém precisaria de sua ajuda ou poderia viver uma vida perigosa onde viveria com alguém que precisava da ajuda dela. Pessoas diferentes tomariam decisões diferentes, mas Leona se decidiu. Sua vontade estava ficando mais forte conforme ela se deparava com as memórias do passado de Zin.

— Uma vez você disse que vale mais a pena pensar sobre como viver sua vida do que simplesmente sobreviver a cada dia.

— Com certeza eu disse.

Zin queria que Leona vivesse uma vida confortável na fortaleza ao perseguir outros objetivos em sua vida.

Comida e armas eram necessárias para a sobrevivência.

Entretanto, Leona se perguntava o que mais seria necessário para continuar a viver. Leona olhou para Zin e falou a verdade sem mentiras ou fingimento.

— Não quero viver aqui apenas para sobreviver. Eu quero estar ao seu lado para viver minha vida.

Zin não conseguiu responder o que Leona disse. Ela simplesmente queria seguir o caçador velho e solitário. Quando Leona descobriu o motivo dele estar tentando afastá-la, ela não conseguiu mais deixá-lo e ir embora. Leona acreditava que ela e Zin poderiam ser uma grande ajuda um para o outro.

— … — Zin fechou seus olhos na frente da criança tola, mas sábia. Depois de uma pausa longa, ele abriu seus olhos, e começou a falar lentamente.

— Leona, eu  vivi uma vida cheia de erros e falhas. — Sua voz estava tremendo. — Então… — Zin continuou a falar como se esse fosse seu destino. — Eu acho que está tudo bem se eu cometer mais um nessa jornada.

Zin sabia que ele podia falhar de novo, mas, no entanto, ele tomou uma decisão que o deixaria miserável no fim.

Ele não ligava se iria ganhar mais uma cicatriz por cima das várias que ele já recebeu no passado. Ele falou como se uma cicatriz não fosse nada demais.

Leona sabia que Zin tinha tomado uma decisão difícil. Ela sabia que Zin tinha falhado muitas vezes e escolheu um relacionamento que ele sabia que falharia e que lhe causaria dor. Leona sabia o quão difícil foi para Zin tomar essa decisão.

*Gota*

Lágrimas começaram a cair dos olhos de Leona. Ela tentou secá-las, mas elas continuavam a cair. Leona cobriu suas lágrimas silenciosamente sem fazer muito barulho.

— Arg… — Leona sabia que chorar não resolveria nada.


Apesar dela saber disso, havia horas na vida em que não se podia fazer nada além de chorar.

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