Quando o quarteto chegou no fundo do penhasco, eles foram até o veículo armado e Ramphil ligou os motores. Eles precisavam de um novo destino.
Leona e Cho-Yul pareciam enrijecidos e angustiados.
Leona estava se sentindo culpada. Seu passado, na época que o Ponto Ardente foi atacado por Salteadores, mas ela não conseguiu fazer nada, passou pela sua mente.
— Por que essas coisas acontecem com pessoas boas? — Leona perguntou sentindo seu peito apertar.
— Quem sabe. — Foi tudo que Zin podia dizer. No final das contas, os quatro estavam dando as costas para pessoas boas. Eles estavam escolhendo ignorar a tragédia das pessoas que os acolheram. Ele não ficou remoendo isso.
O Castelo do Poder Celestial enfrentaria o que o destino os reservava. Se eles escolhessem se render ou lutar estava fora das mãos dele.
Não havia tempo para pensar sobre algo que ele não tinha controle. Com tempo, se entendia que desapontamentos e deixar as coisas irem eram partes da vida. Zin sabia disso melhor do que ninguém. Ele também foi o primeiro a falar.
— Vamos para o norte. Nós precisamos saber mais sobre o Grupo.
Primeiramente, eles precisavam saber mais sobre SoSeoLan. Se eles decidissem que ela merecia morrer, o caçador de malignos tomaria sua vida não importa o que.
Por agora, eles não estavam prontos para confrontar ela.
Apesar disso, Zin sempre caçava sob as condições mais impossíveis. Ele era um caçador e caçadores não lutavam em guerras. Estava na hora de descobrir se a Asura era uma presa digna e se os interesses do Grupo eram exclusivamente poder.
*Vroooom!*
Ramphil pisou no acelerador.
—
Uma semana depois…
Como prometido, Asura voltou ao Castelo do Poder Celestial com suas tropas de milhares. Eles estavam fortemente armados com armas de alto poder empilhadas nos tranqueirões. Dois mil tranqueirões apareceram na planície como as tropas montadas dos tempos antigos.
*Vroooom!* *Vroooom!*
O ronco alto dos motores reverberavam por toda a terra e na vanguarda, estava Asura montada em sua motocicleta gigante, olhando para o castelo.
Hoje, eu construo meu império nessa terra próspera.
Se o Grão-mestre estivesse aqui ou não, ela estava pronta para o confronto. Se ele ficasse no caminho dela de novo, o mataria. Obter a Obscuridade dele seria a cereja no bolo.
Ela não estava nesse caminho por razões sentimentais. Ela esmagaria tudo que ficasse no caminho dela, até mesmo o próprio Céu.
Toda feitiçaria seria ineficaz e os Lutadores Piedosos estavam prontos para lidar com os fantasmas.
Se eles fossem saqueadores, teriam destruído o castelo, mas o Grupo estava aqui para reinar, não saquear.
— Meu Rei — O comandante sentado perto de Asura em um veículo armado disse, — as tropas estão esperando pelo seu comando. — Seu discurso era polido para um Salteador e sua pele era cinza. Ele era o líder das pessoas de pele cinzenta e o comandante do exército.
Asura escolheu seu time de defesa ela mesma.
— Preparem todas as armas, mas não atirem ainda.
O comandante não conseguia entender bem o motivo do Rei preparar as armas, mas não atirar.
— Já que eu estou fazendo uma aparição pessoal, vamos mostrar a eles quão benevolente eu posso ser.
O Rei tinha a palavra final. Logo o comandante enviou sinais e as armas apontaram para o castelo. Entretanto, antes do arranjo ficar pronto, Asura sorriu debaixo de sua máscara. Várias bandeiras brancas estavam soprando ao vento em cima do Castelo do Poder Celestial. As pessoas paradas na frente do penhasco nunca pareceram tão patéticas.
—
Asura subiu até o Castelo do Poder Celestial. Ela não precisava de seguranças ou séquito. As tropas assistiram seu Rei flutuar no ar e vibravram. O Rei poderoso era brilhante e podia fazer muitos milagres, ela merecia ser a líder deles.
Asura estava disposta a aceitar a rendição, mas insistia que isso devia ser feito direito. Todos no Castelo do Poder Celestial se reuniram na frente do templo com o lorde na frente de todos. Havia muitos membros do clã na multidão, mas ninguém ousava dar um pio sequer.
Asura se sentou nos degraus do templo como se fosse seu trono e olhou para os milhares de aldeões reunidos na frente dela.
O lorde começou a falar. Seu corpo velho estava pesado com tristeza.
— Nós nos rendemos. Por favor, eu não ligo para o que você fizer com esse corpo velho, mas por favor, não machuque minha gente.
— É só isso que eu queria ouvir. — Asura disse por trás de sua máscara. — Eu quero dominar o mundo, então estou disposta a mostrar um pouco de misericórdia. Estou feliz que não houve mortes. Entretanto, o que houve com aqueles caras?
Yeongmun sabia de quem ela estava falando.
— Foram embora.
— Entendo.
Ela queria se vingar pela humilhação que sofreu da outra vez, mas a ausência deles não importava. Se preocupar com coisa pouca seria uma distração do seu Grande Trabalho. Aqueles quatro não eram nada além de um incômodo, como moscas voando perto de uma casa
— O lorde virá até aqui e se curvará perante mim.
— …
Yeongmun andou lentamente em direção a Asura, ficou de joelhos na frente dela e curvou sua cabeça. O rosto sombrio dos aldeões assistiam enquanto o lorde idoso deles se curvava perante o rei jovem em silêncio.
— Vocês não são mais o Clã do Poder Celestial. Eu vou rearranjar todas as práticas e posições. Desse momento em diante, todas as regras antigas não importam mais, eu sinto que o senso de dever de vocês é um fardo. Deixem isso para lá. Toda a responsabilidade e poder são minhas agora. Vocês vão comer, vestir e viver como eu digo. Todos vocês se prostraram para mim nove vezes para mostrar que me aceitam como seu rei. Mas eu não desejo que todos aqui se curvem para mim.
— Você, o lorde, por respeito a autoridade que teve até agora, pode se curvar para mim, sozinho, como um jeito de formalizar a transferência de poder e autoridade.
— Sua mesura não é para mim, mas para suas pessoas verem. Se prostre nove vezes e se certifique de que sua cabeça encostando no chão de rocha seja ouvida por todos. Depois disso, vou aceitar todos aqui no Castelo do Poder Celestial como meus súditos.
Ela não fez todos se curvarem para ela, só o líder deles. Ao fazer as pessoas verem isso, ela estava publicamente transferindo o poder, o que era bem mais sinistro do que fazer todos se prostrarem para ela.
Yeongmun se levantou lentamente e levantou ambos seus braços.
Ele se ajoelhou e abaixou sua cabeça até o chão.
*Kong!*
O som de sua cabeça acertando os degraus de pedra reverberou. Os derrotados tinham que serem humilhados para não morrerem. As pessoas assistiam enquanto o velho batia sua cabeça contra os degraus sem soltar um pio.
*Kong!*
Conforme o som preenchia o ar, alguns choravam de tristeza e outros de raiva, mas Asura não se incomodava.
Com as lágrimas das pessoas como música de fundo, o velho se levantou depois de bater sua cabeça nove vezes nos degraus. Yeongmun se decidiu e ele estava pronto para aguentar a dor e a humilhação.
Asura tirou sua máscara e revelou um rosto suave que quase parecia fora desse mundo.
Todos encararam seu rosto estóico.
— Faça de novo. — O Rei disse silenciosamente.
— …
Se submetendo, Yeongmun começou de novo. O som de sua cabeça acertando os degraus encheu o ar mais uma vez. Depois de nove batidas, a cabeça do lorde velho já estava começando a sangrar, mas ele curvou sua cabeça sem limpar o sangue.
— Faça de novo.
.
.
— Faça de novo.
.
.
— Faça de novo.
.
.
O Rei comandou sem dar uma razão. Ninguém sabia quantas vezes Yeongmun se curvou ou se ele ao menos estava vivo. O Rei não disse o motivo dela não estar satisfeita.
Ela ordenou que ele fizesse de novo. Conforme a cena aterrorizante continuava, não havia um indício sequer de emoção no rosto do Rei.
Alguns imploraram para tomar o lugar do lorde, mas o Rei os ignorou. Só um olhar dela era o bastante para congelar aqueles que se voluntariavam.
Na hora Yeongmun que completou nove séries de nove mesuras, só a parte branca de seus olhos estava aparecendo e ele mal podia ficar de pé. Aqueles que estavam chorando não tinham mais lágrimas restando. Todos só queriam que aquela cena aterrorizante e cruel terminasse. Alguns até queriam que Yeongmun desmaiasse para ele não ter que se levantar.
O Rei falou levemente.
— Eu aprecio sua persistência.
— …
— Você pode parar agora já que ninguém mais está chorando.
Com isso, o Rei se levantou dos degraus de pedra. As pessoas finalmente entenderam o motivo do lorde ter que continuar a se curvar.
Raiva e tristeza desapareceram do rosto de todos e só o medo pelo Rei restava. Era aquilo que Asura queria. Quando ela viu o medo nos olhos de todos, ela ordenou que o lorde parasse.
— Limpem o templo e construam nove colunas. Nós vamos fazer um ritual sempre antes de cada evento grande. Construam um quarto real na frente do templo, mas não o decorem ou façam alguma feitiçaria. O chão deve ser de madeira, mas não o envernizem. Vou ficar lá quando eu estiver aqui. — Asura disse enquanto escaneava cuidadosamente o rosto aterrorizados. Depois de dar sua primeira ordem, ela continuou. — Vocês são minhas pessoas agora.
Yeongmun ouviu com sua cabeça baixa. Sua barba tremendo.
O Rei deixou todos viverem. Mas, para Yeongmun, parecia que muitas coisas já morreram e ele estava cheio de pesar.
—
Enquanto o Grupo tomava o castelo, o quarteto de Zin estava na fronteira da China e da Rússia. No passado, o lugar era chamado de Blagoveshchensk, mas agora era uma cidade livre chamada Shane.
O veículo armado poderia trazer confrontos desnecessários, então esconderam em meio a escombros abandonados perto da entrada da cidade antes de entrar lá.
— Eu não acho que só entrar sem um plano definido seja uma boa ideia. — Ramphil disse.
— Nós só precisamos ver o que está acontecendo. Se o objetivo do Grupo é construir um pais, eles não vão ser hostis com forasteiros. Eles não devem ostracizar viajantes ou isso nem seria possível. — Zin deu de ombros.
— Seria uma coisa querer viver em meio a luxúria, mas ser um rei deve vir com muita dor de cabeça.
Zin estava certo que SoSeoLan estava completamente louca. Como eles haviam antecipado, quando chegaram na entrada da cidade, os guardas pararam eles, mas não os atacaram.
— Esse é o território do Grupo. Quais são seus negócios aqui? — Um patrulheiro da fronteira que não achava que eles pareciam com vagabundos ou refugiados perguntou. Ele estava fortemente armado com um fuzil de ataque e tatuagens brutas por todo seu corpo que indicavam que ele era um Salteador.
Ramphil tirou seu uniforme para não atrair atenção e estava usando roupas comuns em vez disso.
— Nós estamos buscando um lugar para descansar. — Zin disse. O patrulheiro da fronteira escaneou o quarteto com seus olhos e, então, sinalizou para entrarem.
— Se vocês causarem algum problema dentro do território do Grupo, isso vai ser visto como uma ação hostil ao Grupo. Mantenham isso em mente.
Com o aviso dado, estavam livres para entrar. Ninguém levantou um dedo para eles ou cobraram uma tarifa. Ninguém estava seguindo eles. A entrada ridiculamente fácil em Shane deixou o quarteto se sentindo transtornados.
— Isso foi bem até demais. — Leona disse.
Cho-Yul assentiu em concordância. Como em toda cidade livre, muitas pessoas iam e viam da cidade. Era difícil acreditar que esse lugar era território de Salteadores.
A cidade não era muito animada, mas não era deprimente também. Parecia igual a uma cidade comum.
— O que nós deveríamos fazer? — Cho-Yul perguntou com uma expressão vazia. Ele não esperava que as coisas fossem assim.
— Nós precisamos encontrar o que está abaixo da superfície. Vamos encontrar um quarto primeiro.
Era cedo demais para decidir. Porque cidades livres eram cheias de pessoas indo e vindo e porque Shane tinha uma população bem grande, ninguém os tratou como forasteiros.
Havia guardas Salteadores armados vagando pela cidade. E como qualquer um esperaria, os cidadãos instintivamente evitavam eles, uma reação natural para canibais comedores de gente. Mas estranhamente, os cidadãos agiam como se não odiassem os Salteadores, apesar de temerem eles.
O quarteto entrou em um prédio de apartamentos velho. Parecia que o térreo expandido estava sendo usado como um restaurante e algumas pessoas estavam comendo lá dentro.
O dono levantou quatro dedos silenciosamente e Zin entregou as lascas.
— É o último quarto na direita no segundo andar. Refeições custam o mesmo.
Uma lasca por refeição parecia razoável. Talvez por segurança, havia um Salteador armado no prédio com suas costas apoiadas na parede. Ele travou seus olhos em Zin brevemente, mas rapidamente passou por eles.
O quarto era grande o bastante para todos os quatro dormirem lá. Já que o que restava eram prédios abandonados, hospedarias era um negócio fácil para qualquer um que tenha posse de um prédio, contanto que a pessoa tivesse as bolas e meios para lidar com pessoas problemáticas.
Depois de desempacotar suas malas, o quarteto se reuniu na sala de estar.
— Parece que o Grupo está patrulhando a cidade. — Zin disse e todos assentiram. Já que eles controlavam o território, não havia nada fora do comum. Entretanto, o fato de que todos eram Salteadores era um problema.
— Certo, parece haver pelo menos um Salteador em cada prédio. — Ramphil compartilhou o que ele notou com uma escaneada rápida do lugar.
O grupo que vivia por destruição e matança agora estava protegendo algo? Isso era um oxímoro.
— É um mundo de ponta-cabeça…
Por um momento, o pensamento que o Grupo pode não ser uma organização perigosa passou pela mente de todos.
— Vamos nos dividir e juntar informação. Leona, você… — Pensando que Leona não conseguiria descobrir muita coisa, Zin estava prestes a falar para ela ficar aqui e esperar.
— Você não sabe que há coisas que só uma criança pode fazer?
— Hmm…
— Um motivo, crianças não mentem.
Leona queria reunir informação das crianças. Era verdade que crianças responderiam mais honestamente quando outra criança perguntasse do que um adulto.
— Ela tem razão. — Ramphil disse, mas Zin não falou muito mais.
— Tá bom, você fica encarregada de conseguir as informações das crianças. Descubra o que puder de que tipo de organização o Grupo é, como eles estão controlando a cidade e o que mais você conseguir descobrir.
— Pode deixar comigo!
— Eu vou andar pelas lojas. — Ramphil já tinha uma ideia de onde ele iria reunir informações.
— Eu vou beber. Estou certo de que há um licor ou pelo menos alguma cerveja numa cidade desse tamanho.
— Parece que você estava esperando por isso.
— Ha, sem chance…
Zin queria dizer umas coisinhas para Cho-Yul sobre beber assim que houvesse uma oportunidade, mas deixou quieto já que bêbados gostavam de falar. Todos tinham uma missão: Leona falaria com as crianças, Ramphil com os mercadores, Cho-Yul com os bêbados.
— Eu vou fazer o que eu faço melhor.
Zin era um caçador e caçadores resolviam problemas. Essa era razão boa o bastante para encontrar as pessoas poderosas na cidade.
— Nos encontramos quando o sol se pôr. Agora, vamos.
Eles não tinham muito tempo para investigar, então precisavam se mover rapidamente.