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Arifureta Shokugyou de Sekai Saikyou – Capítulo 141

Voz sussurrante

Howa, howa, fuwa, fuwa.

Com toda certeza, se existissem sons para descrever a atual situação, essas seriam as palavras certas. Entre os sete Grandes Calabouços, havia um local chamado de Caverna de Gelo e Neve. E dentro desse local, havia um labirinto gigantesco que contava com uma porta selada diante da qual estava uma tenda. O clima dentro da tenda se tornou um espaço rosa.

— … Hajime. Aaa… nn.

— Nn. Aaa… nn… mmn. Isso é bom. Como esperado, a melhor coisa a se comer enquanto se usa um kotatsu é guisado.

— Hajime-san, experimente um pouco do meu também. Aaa… nn.

— Aaa… nnn… mmn. De qualquer forma, Shia, suas habilidades culinárias estão melhorando a cada dia, você será uma excelente esposa.

— Pu-puxa, Hajime-san! Não diga isso! Ouvir que sou extremamente fofa, e acima disso, que me tornarei uma adorável esposa de quem você não desejará se afastar mesmo por um momento! Você está me deixado corad-!

— Hajime, e quanto a mim?

— Nn? Isso não é óbvio? Você será a melhor esposa do mundo.

— Nn… também darei o meu melhor para aprender a cozinhar.

— Fufufu, Yue-san, vamos estudar juntas e fazer os pratos favoritos de Hajime.

Enquanto, — Aaa… nn —, alimentavam Hajime, Yue e Shia, que se sentavam de ambos os lados do garoto, estavam tendo uma conversa que você não poderia imaginar dentro de um dos Grande Calabouço deste mundo.

Havia guisado em cima do kotatsu. Esse era um guisado de frutos do mar preparado por Shia, o cheiro dele fazia cócegas em todos os narizes na vizinhança. Os ingredientes foram adquiridos na Cidade Marítima Elisen, congelados e armazenados dentro da Caixa do Tesouro.

Shia, com habilidades esplêndidas no manuseio de facas, preparou os frutos do mar junto com vários vegetais e temperou toda a mistura de modo requintado. O molho que parecia Ponzu¹ também foi habilmente preparado e era mesmo maravilhoso. Como o trabalho doméstico dela também era perfeito, o elogio de Hajime sobre Shia se tonar uma excelente esposa não era exagero.

No entanto, a garota-coelho se empolgou na interpretação. O Sinergista, que ficou tolerante com essas atitudes dela, não se incomodou nem a corrigiu.

Então, assim que Yue puxou de leve suas mangas enquanto perguntava: — Vou me tornar uma boa esposa? —, com a expressão de um amante, é claro que Hajime não poderia discordar, em especial quando ela mostrava um sorriso gentil e exibia tal vontade para treinar duro e aprender a ser uma dona de casa.

— Ei, eii, Hajime-kun? E quanto a mim? Trabalho doméstico e culinária também são dois de meus pontos fortes, sabia? Farei muitos pratos deliciosos para o meu marido e vou recebe-lo de forma apropriada todos os dias, entendido?

— Mestre, esta também pensa que será uma boa esposa, entendeu? Como você sabe, esta é uma “esposa devota”. Esta garante que irá fazer o Mestre se sentir satisfeito todos os dias! Não é? Assim sendo, por favor, também dê a esta alguns elogios.

O espaço rosa de Hajime, Yue e Shia foi interrompido pela impaciência de Kaori e Tio. Se agarrando ao garoto por trás, elas estava implorando com um tom suave pelas mesmas palavras que ele disse a vampira e a garota-coelho.

— … hmm, como originalmente Kaori sempre esteve monopolizando o primeiro lugar das categorias “Eu quero sair com ela” e “Eu quero me casar com ela” na escola, ela já não é uma esposa encantadora?

— Mouu! Isso não. Não estou pedindo a opinião geral, mas a de Hajime-san!

— … Kaori. Por que você está se machucando?

—Yu-Yue!? O que você quer dizer!?

— … você já chegou a uma conclusão. Você ainda está cinco, não, seis anos atrasada.

— Números concretos, hum! Uu, o caminho pode ser difícil, mas não serei derrotada!

Yue respondeu no lugar do evasivo Hajime. Com olhos marejados, Kaori apertou seus punhos e renovou sua determinação. Na verdade, vendo como a Curandeira não ficou desanimado, o coração do Sinergista suavizou, mas ele manteve isso em segredo por ora.

— Umm, Mestre?

Tio, com olhos cheios de lágrimas, estava pressionando por uma resposta. Duas esplêndidas melancias estavam se apoiando na cabeça do rapaz, o acariciando. Sem dúvidas, ela estava fazendo isto de propósito.

— … você disse: “Como você sabe”. Mas vamos ver você declarar concretamente o conteúdo da “devoção” a que você se referiu.

— Mu? Isso não é óbvio? É claro que todos os dias, seja de manhã, tarde ou noite, esta irá fazer “isto” e “aquilo” para o Mestre, e então esta irá fazer “aquilo” e “isto” de novo. Assim, o Mestre irá fazer “isto” para recompensar esta, não é? Por isso esta irá retribuir o favor ao fazer “aquilo“. Ah, esta se sente aliviada. Fazendo “isto” e “aquilo” de forma correta, e então “aquilo”… ababababababababa!?

— … seu dragão inútil. Você será a única a ser deixada para trás neste mundo.

— Tio-san, se contenha um pouco…

Em resposta a Tio, que estava, sem o menor pudor, continuando sua conversa indecente, um som de “Abababa” causado pela Capa do Relâmpago de Hajime interrompeu o discurso da mulher.

Com um som de “PikuPiku”, Tio continuou a convulsionar sem se levantar. O choque pareceu mesmo eficiente. Até Shia estava espantada com a aparência da mulher.

Contudo, como o “Vou te deixar para trás” foi usado como uma ameaça, podia se assumir de forma natural que o rapaz planejava levar ela também.

O fato de que a ryujin estava próxima do Sinergista era a prova óbvia de que ela estava pedindo a permissão de Hajime para estar a seu lado.

Kouki e os outros estavam sentados em um kotatsu do lado oposto, mordiscando o guisado em silêncio enquanto davam o seu melhor para ignorar a cena em andamento. Contudo, mal sendo capazes de suportar a cena irresponsável e irritante, seus hashi tremiam sem parar pela frustração.

— Kouki… mesmo pensando que eu tinha me acostumado com este tipo de comoção…

— Não fale sobre aquilo Ryutaro, minha mente já não pode mais lidar com isso…

— Isso não é algo bom? Vendo como nos acostumamos a isso?

— Nos acostumamos? Poderia ser que você na verdade está bravo com…? Não, esquece.

Kouki estava encarando Hajime e Kaori com um expressão extremamente complicada e falando em voz baixa com Ryutaro, cujo rosto mostrava profunda irritação. De modo estranho, a normalmente sarcástica Shizuku permaneceu quieta, com dificuldade para capturar o peixe do guisado. Ela iria encarar Hajime de vez em quando, com óbvia irritação. Suzu, que trouxe o tópico à tona, se encolheria de forma espontânea toda vez que era lembrada da confusão.

E, nesse momento, Hajime repousou seu hashi (item que ele mal usou devido a todos os “Aaa… nn”) e pegou uma chapa metálica cinza brilhante de seu bolso. Ela tinha uma ponta irregular afiada e um quadrada mágico gravado. Essa era uma “chave do portal” que conectava o espaço.

Hajime de repente se voltou e projetou a chave. Ela estava conectada com as Brocas de Cruz que ele enviou para procurar pela chave para abrir a porta selada que os impedia de seguir em frente. No centro da chapa que estava preso no espaço, um portal se abriu. Do outro lado do portal estava um objeto parecido com uma joia emitindo luz amarela de um pedestal em uma sala cercada por paredes de gelo.

Além disso, havia mais uma coisa.

— GuruaAAAAAAA!!!

Do outro lado da joia, também havia a forma de um Ogro de Gelo gigante com cinco metros de altura parecendo furioso se aproximando.

— Bufu!?

— Bufu!?

— Bufu!?

— Bufu!?

Kouki e os outros, que estavam sentado no kotatsu e mordiscavam seu guisado, todos ao mesmo tempo cuspiram o que tinham na boca. De qualquer forma, a refeição deles foi interrompido por um grito de guerra e eles se depararam com a súbita aproximação de um ogro claramente em um nível diferente dos ogros que eles enfrentaram até agora. Era inútil dizer a eles para não entrarem em pânico.

Contudo, o Sinergista não estava com medo e esticou sua mão pelo portal, pegando a joia amarela. Em troca, ele apenas extraiu uma bola de metal com cerca do dobro do tamanho de uma bola de basquete de sua Caixa do Tesouro. Um som de “Bachi” ressoou assim que ele colocou eletricidade dentro do item, em seguida, ele jogou a bola de forma casual através do portal como se estivesse jogando lixo para fora.

Então, na mesma hora ele virou a chave, fechando o portal e a recuperando.

Depois disso…

ZudoOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!

De um local distante, o som de uma explosão ridiculamente poderosa reverberou assim que o ar começou a vibrar.

Hajime se sentou e pegou seu hashi como se nada demais tivesse acontecido. A joia envolta em luz amarela em cima da mesa era prova que esta série inacreditável de eventos fez parte da realidade deles.

— … Hajime. Aaaaaan.

— Hajime-san, Aaaaaan desu.

E, como esperado, Yue e Shia voltaram aos “Aaaaaan”, como se nada tivesse acontecido. Kouki e seu grupo, que estavam suando frio, voltaram a realidade e abriram suas bocas ao mesmo tempo.

— Não, não, não, não, com certeza há algo que não está certo, não é!?!?

— Não, não, não, não, com certeza há algo que não está certo, não é!?!?

— Não, não, não, não, com certeza há algo que não está certo, não é!?!?

— Não, não, não, não, com certeza há algo que não está certo, não é!?!?

— Nn?

Hajime, cuja boca estava sendo enchida com frutos do mar frescos por Kaori e Tio, que entraram na competição de alimentação, inclinou sua cabeça como se dissesse: — Qual o problema?

Com uma expressão que não escondia sua irritação pelo comportamento do Sinergista, Kouki questionou.

— Nagumo. O que foi isso mais cedo?

— Mais cedo você diz… mas você estava olhando, não estava?

— Eu estava! Mas não é isso! Estou falando sobre o que você fez!

— O que eu fiz… você pergunta sobre coisas estranhas. Foi exatamente o que você viu, não foi?

Hajime deu ao Herói um olhar questionando a sanidade de seu colega após ele erguer sua voz. Não obtendo a resposta que buscava, Kouki parecia pronta para atirar a mesa no chão pela raiva a qualquer momento.

Shizuku foi até o emocionalmente instável Herói enquanto esfregava sua testa como se estivesse enfrentando uma dor de cabeça e tentava explicar a parte “Foi como você viu” para seu amigo.

— Em resumo, Nagumo-kun encontrou esta joia amarela que você está vendo com as Brocas de Cruz, e a pegou usando o “portal”. É provável que no momento que as brocas de cruz invadiram o local onde a joia estava, algum monstro que deveria ser seu guardião ou algo do tipo reagiu com raiva, antes de ser morto pela bomba que Nagumo-kun jogou através do mesmo portal… ou assim imagino.

— Ah. É isso mesmo que você disse. Assim como o que vocês viram, não é?

— É isso o que estou dizendo! Não tem algo errado com isso!? Normalmente, você não vai enfrentando um guardião mantendo o tesouro do calabouço, o derrotando e recuperando seu prêmio dessa forma!

O Herói estava mesmo dizendo algo trivial.

— Espere, não é melhor coletar eles com facilidade deste jeito? Seria um tédio ter que ficar perseguindo cada uma das quatro chaves por conta própria, não concorda?

— Po-pode ser que sim. Mas se não seguirmos as regras, nosso progresso não será reconhecido pelo calabouço…

— Uma vez ou duas não deve causar problemas. Nós pegamos um belo atalho no Grande Vulcão, e nossa captura foi reconhecida sem nenhum problema. Deve ficar tudo bem se o grupo de Yue e o de Amanogawa derrotarem os guardiões das duas chaves restantes e as apanharem. Vou mapear uma rota para vocês.

— Uu… a dificuldade não vai ser um problema? Estamos falando da captura de um grande calabouço, não estamos?

— Kouki… pare de pensar tanto sobre Nagumo. Você não quer ficar com um buraco no estômago com sua idade.

O Herói estava segurando sua cabeça com suas mãos. Ryutaro deu um tapinha nos ombros do amigo com uma expressão de simpatia.

— Isso mesmo. Nagumo-kun é a personificação ambulante da irracionalidade. Não há porque ficar surpreso com isso.

— Shizu, Shizu… quando Suzu pensa sobre o Guardião-san, ela fica muito triste por algum motivo. Se outro Guardião-san for destroçado por Nagumo-kun, acho que as coisas vão mesmo parecer ruins. Então vamos trabalhar duro para preservar nossas sanidades, de acordo?

Ryutaro aprovou o conselho que Suzu, que parecia triste, deu a Shizuku, enquanto a Mestra de Barreiras estava engolindo o peixe e se virava.

— Parece que também seria difícil ter o “senso comum” que segui até hoje ser mais danificado por Hajime. Tenho que concordar com a sugestão de Suzu.

Kouki e seu grupo satisfizeram sua fome e estavam beliscando os restos de suas comidas quando o som de uma segunda explosão reverberou através do Grande Calabouço.


— Me pergunto se Shizuku-chan e os outros estão bem…

A voz preocupada de Kaori ecoou.

Eles estavam diante da porta dupla selada.

Três joias já estavam colocadas nas cavidades correspondentes da porta. Das três, tirando as duas joias que Hajime obteve sem esforços, a outra foi trazida pela equipe de Yue, que facilmente derrotou o guardião da joia e confiscou sua chave, algo esperado considerando a habilidades delas.

Apenas uma chave estava faltando, a última joia. Era a joia que o time de Kouki foi buscar enquanto era guiados por uma das Brocas de Cruz do Sinergista. Como resultado da divisão em dois grupos, Kaori estava ficando ansiosa, se perguntando se a equipe de Kouki seria capaz de derrotar o guardião da última joia.

— Parece que não há problemas. Eles tiveram uma luta difícil, mas eles conseguiram derrotar o monstro. Eles não aparentam ter nenhum ferimento sério. Em algum momento, parece que Ryutaro ficou com uma geladura, mas ela foi curada na mesma hora.

— Graças a Deus.

Kaori suspirou de alívio após ouvir a informação transmitida pelas Brocas de Cruz.

Hajime moveu a Broca de Cruz pairando diante da equipe de Kouki, que terminou sua batalha, e tentou pegar a última chave. Ao mesmo tempo, usando a Chave do Portal, o Sinergista conectou o espaço entre sua localização atual e a da Broca de Cruz. O espaço se distorceu suavemente e a figura do Herói e seu grupo, que estavam com uma expressão revigorada, podia ser vista do outro lado.

— Por algum motivo, vocês parecem felizes…

— Umu. Eles devem estar aliviados por terem conseguido passar pelo desafio do labirinto de forma apropriada.

Shia estava inclinando sua cabeça se perguntando o motivo para os rostos felizes dos alunos quando Tio respondeu sua pergunta com uma expressão que aparentava ser amável. Ela acertou o palpite.

Kouki, que estava segurando a joia em sua mão, passou pelo portal, passou pelo grupo de Shia e seguiu na direção da porta selada. Então, ele inseriu a joia dentro da última cavidade.

Na mesma hora, o arbusto espinhoso na porta foi coberto por luz. AS joias começaram a brilhar com força em todo o seu esplendor. Assim, as impressionantes portas começaram a se abrir por conta própria.

À primeira vista, a passagem começando da entrada do portão não parecia diferente das outras passagens do labirinto. Se havia algo diferente, parecia ser a reflexão brilhante das paredes de gelo. As figuras de Hajime e os outros estavam refletidas de modo vívido.

— Muito bem, vamos lá.

Seguindo a ordem de Hajime, todos avançaram em direção a porta. A cena diante deles, com toda certeza, transmitia a sensação de uma casa de espelhos. O gelo fazia o papel dos espelhos. A luz brilhante era refletida infinitamente. De fato, as paredes de gelo de ambos os lados da passagem agiam como espelhos opostos, e o grupo de Hajime era refletido um incontável número de vezes.

Deixando de lato o teto escondido por um jato de neve, parecia mesmo como se o corredor fosse infinito. A intensa refletividade do gelo deixava claro que isso não era gelo comum. Se não fosse pelo frio de arrepiar que ele irradiava, talvez ele pudesse até ser confundido com um espelho.

Um som de “Kotsukotsu” ecoou com os passos do grupo do Sinergista enquanto eles avançavam. Não apenas a luz, o som também parecia reverberar.

— … por algum motivo, parece que estamos sendo sugados dentro de algo.

Yue murmurou enquanto caminhava ao lado de Hajime e olhava para suas reflexões nas paredes.

As palavras acumuladas dentro das paredes de gelo se repetiram sem parar, as partes mais profundas ainda envoltas pela escuridão. As palavras da vampira estavam corretas.

Hajime segurou a mão de Yue com gentileza.

— Não vou te deixar ir embora, então está tudo bem.

— … nn.

— Vocês dois não podem parar de flertar em todas as ocasiões possíveis?

Os olhos reprovadores de Shizuku se enterraram em Hajime e Yue, que compartilhavam sorrisos. Entretanto, o amor deles já tinha há muito excedido o limite máximo teórico. Tal frase não os faria vacilar.

Dando uma olhada de canto de olho para a Espadachim que suspirava, o grupo continuou avançando.

Eles não encontraram sinal de quaisquer armadilhas ou monstros, e a bússola estava indicando que eles estavam no caminho certo, quando Kouki de modo súbito parou e começou a olhar ao redor de forma inquieta.

Shizuku, representando o grupo que estava ficando desconfiado com esse comportamento, questionou.

— Kouki? Qual o problema?

— Ah, não, é que, você não ouviu algo agora mesmo? Algo como a voz de alguém. Ou melhor, um sussurro como o que…

— Es-espere um minuto Kouki-kun, pare. Nós já tivemos nossa taxa disto nas Ruínas Submersas Merujiine.

Parecia que Kouki podia ouvir o sussurro de alguém. Como ela não achava que isso era possível para mais ninguém além do garoto, Kaori, cuja tolerância com o horror era fraca, se abraçou com força com ambos os braços enquanto erguia uma voz de protesto.

— Mais alguém ouviu alguma coisa? Shia?

Hajime apertou seus olhos e olhou ao redor para confirmar.

— Não. Não ouvi nada. E não sinto a presença de ninguém além de nós.

Shia, que fechou seus olhos e focou suas orelhas de coelho, respondeu enquanto balançava sua cabeça em negação. Os outros que também pareciam não ter escutado nada em particular, todos balançaram suas cabeças de modo negativo.

— … é sério, acho que ouvi alguma coisa…

— Você tem certeza que não está pensando demais nisto?

— … talvez eu esteja.

Entendendo que ele era o único a ouvir isso, Kouki se perguntou se isso era sua imaginação enquanto mostrava uma expressão desnorteada. Um preocupado Ryutaro, mostrando uma cara que não contava com sua usual autoconfiança, também concordou.

— … Shia.

— Entendido.

Enquanto todos pensavam que isso era a imaginação do Herói, apenas Hajime, com um olhar os lembrando de tomar cuidado, transmitiu seus pensamentos para Shia, que podia ser confiada com a missão de procurar pelo inimigo em tais circunstâncias. A garota-coelho também pensou que era apenas a imaginação de Kouki, mas como ela recebeu um pedido de Hajime, ela obedientemente concordou com sua cabeça. Suas orelhas de coelho tremeram.

Assim, eles continuaram avançando sem qualquer problema, cruzando vários entroncamentos sem se perderem, até que Kouki parou mais uma vez.

Desta vez, ele gritou.

— Ah, de novo! Não era só a minha imaginação! Escutei isso mais uma vez!

— Ko-Kouki?

Shizuku E os outros mostraram um olhar confuso para o Herói que estava procurando com desespero pelo dono da voz.

Pelos olhares voltados para ele, Kouki imaginou que ninguém além dele escutava a voz mais uma vez, e ergueu uma voz caótica.

— É verdade! Desta vez eu escutei com clareza! Ela disse: “Está tudo bem deste jeito?”!

— Não, Kouki. Eu não ouvi nada.

— Merda! Quem é você!? Onde está você!? Que tal mostrar sua cara sem ficar se esgueirando por aí!?

— Kouki, acalme-se.

Aflito por ser o único a escutar, o Herói se virou e proferiu essas palavras duras para o espaço vazio. Shizuku e os outros se moveram para tentar acalmá-lo.

— Shia.

— Não, eu também não ouvi. Eu realmente não escutei nada…

Hajime buscou uma confirmação com Shia, mas parecia que as orelhas de coelho dela também não captaram o som de qualquer voz.

— … Hajime. Alguma resposta mágica?

— Nenhuma. Foi o mesmo com os zumbis de antes, é como se as paredes de gelo tivesse algum tipo de habilidade que esconde qualquer resposta mágica. O Olho Mágico não é de confiança aqui.

— Fumu. Também existe a possibilidade de ceder à pressão do Grande Calabouço e nossas mentes estarem confusas… mesmo assim, isto é súbito demais. Seria mais racional assumir que estamos recebendo algum tipo de interferência.

— Mas as orelhas de Shia não conseguem ouvir nada, e além disso, Hajime não sente nada. Não há nada que possamos fazer para impedir isso.

Enquanto o Sinergista e seu grupo discutiam, Kouki estava desesperadamente tentando encontrar o dono da voz para provar que não tinha perdido a sanidade. Neste momento, Hajime falou com ele.

— Amanogawa, por enquanto, se acalme.

— … Nagumo, é verdade. Tenho certeza que ouvi isso …

— Eu sei. Não pretendo ignorar este problema dizendo que é sua imaginação.

— Eh?

Se acostumando a receber um tratamento cruel de Hajime, os olhos de Kouki começaram a se movimentar em círculos após escutar essas palavras que indicavam que o Sinergista acreditava nele.

— Devemos assumir que estamos recebendo algum tipo de interferência. Se esse for um dos desafios do labirinto, então a possibilidade de não apenas você, mas todos aqui, estarem recebendo a interferência é alta. Neste momento, não posso pensar em uma maneira de combater isto. Todos, fiquem atentos.

Hajime voltou um olhar sério para os outros. Eles trocaram olhares e concordaram.

De fato, ao invés de renegar a possibilidade de isso ser culpa da imaginação de Kouki, negar a existência de um fenômeno inexplicável, era melhor chamar isso de “interferência” do Calabouço. O Sinergista acreditava nas palavras do Herói. Não seria estranho que tal fenômeno acontecesse, já que eles estavam desafiando um Grande Calabouço.

Kouki estava mostrando uma expressão complicada, mas ele parecia ter se acalmado. Em silêncio, ele estava acompanhando Hajime, que voltou a caminhar, enquanto tinha pensamentos agourentos sobre suas imagens refletidas nas paredes de gelo.

E então…

“Você não acredita.”

— Uu, de novo…

Um sussurro suave entrou nos ouvidos de Kouki mais uma vez. Mas como ele estava pensando nas palavras de Hajime sobre uma possível interferência do Grande Calabouço e estava atento, ele não ficou confuso desta vez.

Era difícil dizer se ele estava calmo, mas ele agora foi capaz de tentar procurar a origem da voz com calma. Assim, o Herói percebeu algo.

— … eu já não escutei esta voz?

De alguma forma, ele sentia que já tinha ouvido esta voz. Shizuku e os outros se viraram preocupados com Kouki, que estava com a cabeça inclinada e fazia uma busca em sua memória.

— Kouki. Você estão bem?

— Ah, sim. Estou bem. Só estava pensando, posso já ter ouvido essa voz em algum lugar…

— … havia monstros com a habilidade de imitarem a aparência e a voz das pessoas no Mar de Árvores Haltina. Talvez eles estejam imitando alguém que conhecemos. Não seja enganado. Se algo acontecer, diga na mesma hora.

— Obrigado, Shizuku. Tome cuidadoso você também. Se Hajime estiver correto, você pode ouvir uma voz cedo ou tarde.

— Entendido. Vou tomar cuidado.

Kouki sentiu que sua mente desordenada se acalmou e foi capaz de mostrar um pouco de compostura para Shizuku, que tinha um leve sorriso no rosto. Ele devolveu um sorriso para sua amiga de infância que sempre o encorajava e apoiava.

“Você percebeu, não é?”

Contudo, seu rosto imediatamente congelou com a voz que mais uma vez ressoou. Ele teve arrepios desagradáveis após ser incapaz de se livrar da inquietação habitando seu coração nascida dos sussurros que ouvia.

Sem querer, Kouki virou sua cabeça na direção de Shizuku, que estava caminhando ao lado dele, com uma cara que parecia pedir ajuda.

Entretanto, o olhar de preocupação que ele estava esperando ver no rosto de sua amiga de infância não podia ser encontrado. Em seu lugar, ela mostrava uma expressão quase tão paralisada quanto a reflexão de seu próprio rosto nas paredes de gelo.

— Shizuku…

— … sim. Eu acabei de ouvir também. Era a voz de uma mulher. Eu também ouvi isso em algum lugar antes. “Desviando seus olhos de novo”, foi o que ela disse.

— … a minha foi uma voz masculina dizendo: “Você percebeu, não é?”. Parece que as palavras mudam de acordo com a pessoa que escuta a voz.

Kouki e Shizuku estavam se olhando com expressões complicadas, em seguida: — Hyaaa! — Suzu pulou dando um grito penetrante. Parecia que a garota também podia ouvir agora.

Além disso, Ryutaro, que também parecia ter ouvido algo, ficou confuso e começou a olhar ao redor.

— O que ela disse para vocês?

Hajime os perguntou sobre o conteúdo enquanto olhava por sobre seu ombro.

Assim que ele ouviu a descrição do que todos tinham escutado, ele estava planejando juntar todas as peças para descobrir o objetivo do Grande Calabouço.

— Um, Suzu ouviu algo como Kouki. “Você percebeu de verdade, não é?”, foi o que ela disse.

— Ah, a minha foi: “Qual a necessidade para hesitar?”.

Ambos estavam mostrando uma expressão que parecia descontente. Um desconforto se revelou em seus rostos, o tipo de sentimento de alguém que teve seu coração pisoteado.

— … isso é abstrato demais. Sinto que isso é indireto demais para poder seduzir alguém…

Hajime inclinou sua cabeça. Essas não eram palavras como: — Faça isto e aquilo. —, ou: — Vá por aqui e por ali. —, que poderiam na mesma hora afastar as pessoas de seus objetivos.

— Vocês dois. Vocês ouviram essa voz antes?

— Un. Agora que você mencionou isso, sinto como se tivesse a ouvido em algum lugar… talvez.

— Também tenho a sensação que já ouvi ela.

Eles concordaram em confirmação a pergunta de Tio. As palavras sussurradas variavam, mas no fim, todos ouviam sussurros de uma voz familiar, ou assim parecia.

— … de qualquer modo, temos que seguir em frente.

— Hmm, isso mesmo.

Eles tinham uma sensação ruim, mas parar e ficar se preocupando não traria nenhum resultado. Assim que eles saíssem do labirinto, talvez o sussurro parasse. Dessa forma, como disse Yue, eles deviam seguir em frente por ora.

Após decidir avançar, eles encontraram múltiplas bifurcações e continuaram sem se perderem. De acordo com a informação obtida graças a bússola, havia três quilômetros em linha reta até chegarem a saída. Como eles não se perderiam, mesmo que eles encontrassem armadilhas ou monstros, eles poderiam completar o trajeto em menos da metade de um dia.

Eles correram em frente enquanto davam seu melhor para ignorar o sussurro que seria ouvido de forma intermitente.

Entretanto, conforme o tempo passava, a frequência dos sussurros aumentou, e antes que eles percebessem, Hajime e seu grupo começaram a ouvir também.

“Você será traída de novo.”

Yue escutou. Essas foram palavras tóxicas que a fizeram se lembrar que ela antes confiou em seu tio, sua família e seus vassalos. “De novo”. Yue podia muito bem imaginar o significado dessas palavras.

“Você irá perdê-los de novo por sua própria culpa, sabia?”

A voz fez as orelhas de coelho de Shia tremerem. A origem da tragédia que tomou as vidas de incontáveis membros de sua família foi de fato o próprio nascimento da garota-coelho. Isso se enraizou profundamente dentro do coração de Shia e a fez ter incontáveis pesadelos. A voz estava a lembrando dos gritos em suas mortes. Agora, ela tinha muitas “pessoas importantes” perto dela e ela não queria perdê-los.

“Não existe essa possibilidade de ser aceita pelos outros.”

Tio ouviu a voz que invadiu sua mente sussurrando de forma suave.

Há muito tempo, quando ela era inexperiente e não podia controlar seu poder, e sua família estava enfrentando perseguição… fogo surgiu, o som de uma explosão sacudiu a atmosfera, um grito e um rugido de raiva reverberou. Enquanto ela estava discutindo com seus remanescentes compatriotas reunidos, os olhos que a encaravam possuíam medo extremo e desprezo…

“Você está com tanta inveja que deseja até matar, não é verdade?”

Sussurrou uma voz que invadiu o coração de Kaori. A Curandeira inconscientemente se voltou para a garota que mostrava um ar de compostura e estava em um local que ela mesma não poderia alcançar, mesmo após trocar de corpo e obter poder. Algo negro surgiu e começou a se espalhar como tinta preta se espalhando em um pedaço de papel branco.

— Ah. Entendi. Esta é a minha própria voz.

Todos que estavam com suas consciências atormentadas pelos sussurros ficaram espantados com a súbita declaração de Hajime.

— … Hajime?

O Sinergista respondeu ao olhar questionador de Yue enquanto não mostrava estar incomodado com os sussurros.

— Todos disseram que já ouviram a voz sussurrante antes, não é verdade? O mesmo vale para mim, mas a voz sussurrando que eu ouvi é a minha própria voz. No passado, quando estava ajudando meu pai a fazer jogos, tive a oportunidade de ouvir minha voz muitas vezes quando fazia testes de voz. Se você escuta sua própria voz, você está sujeito a sentir um pouco de desconforto. É difícil perceber, mas posso garantir a vocês após ouvir minha própria voz incontáveis vezes que a voz sussurrando para mim é a minha própria.

— Ah, agora que você mencionou isto… — Era a expressão começando a se formar nos rostos de todos. Sua própria voz, a que você ouve quando fala em seu cotidiano, tende a ser inesperadamente diferente de sua voz gravada quando você a escuta. Portanto, eles foram incapazes de reconhecer suas próprias vozes.

— Mas, se isso é verdade, então o que a voz está dizendo…

— … pode ser uma voz vindo do fundo de seu coração… talvez. Revivendo várias memórias desagradáveis.

— … correto. É como se nossas mentes estivessem sendo invadidas e pisoteadas por sapatos enlameados. É extremamente desagradável.

Tio, criando um palpite, declarou o que uma carrancuda Kaori hesitava em dizer. Shia concordou. Os outros mostraram rostos sombrios e sinistros.

No geral, a atmosfera podia ser considerada como estática. Shizuku, que percebeu isto, ergueu sua voz em uma tentativa de mudar o clima e falar com Hajime e Yue, que pareciam calmos e serenos por algum motivo.

— Nagumo-kun e Yue não parecem estar tão afetados, isso está correto? Vocês têm algum tipo de contramedida?

O casal trocou olhares. Então o Sinergista mostrou uma expressão serena, enquanto a vampira mostrava um sorriso um pouco provocante.

— E se eu te disser que só não estou prestando muita atenção a isso?

— … o que você ouviu?

— Ahhhh, algo como “Você acha que um assassino poderia viver uma vida normal?” ou “Não há lugar para um monstro como você, não é?”, coisas desse tipo, sem parar. Não acho que há nada de muito importante nisso.

— Isso são… referências para quando voltarmos ao Japão?

— Ah, é verdade. Hmm, também é difícil dizer que sou mesmo um humano. Talvez eu esteja ponderando em meu interior se vou ser capaz de voltar a ter minha vida antiga mais uma vez.

Para Hajime, que estava fazendo uma autoanálise de forma muito indiferente, Kouki, cujo rosto sombrio mostrava mais e mais angústia conforme o tempo passava, conseguiu exprimir sua voz.

— Então como você consegue ficar calmo? Você que já está pronto para abandonar os habitantes deste mundo e quer voltar para casa, após ouvir muitas vezes que mesmo que consiga voltar, você não terá um lugar só seu, como diabos você pode permanecer tão calmo!?

Kouki exigiu uma explicação. Ele já não era mais capaz de segurar sua irritação no fim de sua sentença e sua voz ficou áspera. Parecia que a voz que ele ouvia de seu coração estava mexendo bastante com sua mente.

Hajime apenas encolheu seus ombros e respondeu:

— Não perca a calma. Na realidade, mesmo que eu não saiba a resposta até voltar, se preocupar com isso agora é inútil, não concorda?

— Como você pode se convencer com tanta facilidade? Isso é algo que você não pode ignorar, algo que entra em sua mente e você não pode descartar, algo que não há nada que você possa fazer a respeito!

“Mas que tipo de voz você ouviu?”, Kouki quase estava gritando essas palavras para Hajime enquanto escondia sua fúria causada pelo ódio dentro dele.

O Sinergista encarou o emocionalmente instável Herói com um olhar um pouco sério.

— Primeiro, por desejar que as coisas “sejam do seu jeito”, ganância nascerá. Em seguida, para acalmar essa ganância, seu coração tomará uma decisão. Assim, tudo o que precisa ser feito é carregar esta decisão até o fim. Você não deveria se preocupar com coisas como: “Vou ser capaz de fazer isso ou não?”, ao invés disso, pense: “O que eu deveria fazer para continuar com esta decisão”… eu já decidi. Vou voltar para minha cidade natal e viver uma vida normal com Yue e as outras. Vou mostrar a elas muitas coisas esplêndidas e apresentá-las aos meus pais. Vou colocar minha vida em jogo para isso. Não há tempo para se preocupar com algo tão trivial quanto a ansiedade que surge da decisão que tomei.

— … isso é absurdo. Uma coisa dessas…

— Não é como se eu estivesse te pedindo para entender. Talvez minha forma de pensar não seja muito humana.

Hajime não hesitaria, não importava o que ouvisse, não importava o que fosse feito para ele. Kouki sentia que viu os principais pontos da mente inabalável do Sinergista e não pensou que poderia entendê-los. Entretanto, ele desviou seu olhar enquanto parecia ter percebido algo.

Dentro da delicada atmosfera, o rosto de Shia, que estava irritado devido a inquietação causada pelos sussurros, foi substituído por um sorriso amigável assim que começou a procurar por Yue.

Parecia que a garota-coelho também foi capaz de escapar dos pensamentos abusivos causados pelos sussurros desagradáveis. O humor dela logo mudou de um sombrio causado por este lugar para o seu usual e inocente.

Apesar de também estar angustiada mais cedo, Shizuku, que conseguiu imaginar o que estava acontecendo até certo ponto e esteve falando com Hajime, agora estava em completo silêncio, refletindo as palavras anteriores do Sinergista como se ela percebesse algo.

— Entendi que Hajime-san não está sendo afetado graças a sua cara de pau, mas por que Yue-san parece bem? Ou melhor, o que estão sussurrando para Yue-san?

A têmpora de Hajime reagiu de súbito a forma com que Shia estava falando com ele, mas parecia que o garoto reconheceu a situação e decidiu ignorá-la por ora. É claro que a noite após a conclusão do Grande Calabouço, ela iria chorar de várias formas diferentes.

Yue, que despertou o interesse de Shia, respondeu sem particular hesitação.

— … ela está dizendo repetidas vezes que vou ser traída de alguma forma.

— Traída… se não estou enganada, como em seu passado…

— … nn. Coisas como: “Hajime e Shia também vão te trair”.

Assim que escutaram essas palavras, o Sinergista e a garota-coelho trocaram olhares. Se esses sussurros realmente se originavam do inconsciente da pessoa, isso significava que Yue estava com medo dessa traição no fundo de seu coração.

De fato, a vampira foi traída pela família e vassalos em que ela depositou sua confiança e foi trancafiada na escuridão por trezentos anos. Isso era motivo mais do que suficiente para se tornar um trauma, e não seria estranho que ela se sentisse doente ao ponto de nunca mais confiar em ninguém.

Na realidade, deixando de lado Hajime e Shia, sua interação com as outras podia ser chamada, para ser justo, de fria. De forma simples, conquistar a confiança da vampira era bastante difícil. Por sorte, seu encontro com o Sinergista a fez acreditar que confiar em outros ainda era possível… mas talvez a preocupação de ser traída de novo ainda residisse dentro de seu coração, mesmo que só um pouco.

Ainda mais com suas memórias da severa traição, isto era algo que não podia ser evitado. Ela não estava suspeitando que seria traída de novo. Porém, isto era algo gravado profundamente em seu inconsciente.

De forma natural, havia confiança em Hajime e Shia que superava com facilidade tal trauma. Um fantástico encontro e as coisas que ela viu na jornada que se seguiu apareceram em seu coração. O que explicava o motivo para ela estar calma.

Percebendo seus sentimentos, Shia a mostrou um sorriso suave e falou:

— Hein, fufu, se você baixar sua guarda, posso trair você com…

— … garota má. Punição é necessária para coelhos mentirosos.

Com Yue e Shia resumindo sua conversa frívola, a atmosfera parecia ter voltado um pouco ao normal.

— Hmm, com certeza, não há como eu abandonar Yue…

— Verdade. Seria muito mais fácil acreditar que o mundo seria destruído amanhã do que o Mestre trair Yue.

Um olhar triunfante apareceu nos rostos de Hajime e Tio. De fato, a atmosfera do Sinergista e da vampira era tão doce que parecia ser uma mistura de Calpis² com açúcar, calda e mel. Se você ouvisse que um iria trair o outro, você só poderia responder: — Hã?

— … nn. É impossível. Mas mesmo se eu for traída, isso não causará nenhum preocupação.

Yue concordou com as palavras de Hajime e Tio, mas como se tivesse pensado em algo no meio do caminho, ela fez uma suposição enquanto suas pupilas brilhavam com travessura.

— O que você quer…?

Com um ar de compostura, a vampira respondeu ao Sinergista e os outros que inclinavam suas cabeças.

— Porque independentemente dos sentimentos de Hajime, não vou deixá-lo escapar

— …

— …

— …

— …

Enquanto todos ficavam em silêncio, Yue, que estava lambendo seus finos lábios rosas com sua língua, de repente semicerrou seus olhos. Ninguém foi capaz de tirar seus olhos dos lábios molhadas da garota que se destacavam. Ao mesmo tempo, ela começou a emitir um charme que causou calafrios nas espinhas de todos, homens e mulheres, e fez seus abdomens ficarem quentes.

Então, com uma quente e longa expiração.

— … fufu, você não pode fugir da princesa vampira.

Ela declarou isso.

Hajime, que estava preso na atmosfera excessivamente provocante e seu olhar caloroso, teve seus braços segurados em suas costas por Shia, que mostrou um tempo de reação esplêndido.

Se não fosse por ela, não havia engano de que o Sinergista já estaria em cima de Yue. Não importava como você olhasse para o rapaz, ele já não mais estava raciocinando direito. Ele estava olhando para a vampira como uma besta.

Por um tempo, a discussão improdutiva continuou entre Shia e as outras que estavam tentando impedir uma aventura amorosa no meio da captura de um Grande Calabouço, e Hajime estava desejando apenas Yue.

De qualquer forma, por enquanto, parecia que o opressivo clima causado pelos sussurros tinha se dissipado.


Notas:

[1] Ponzu, também grafado ponju ou ponsu, é um molho à base de limão utilizado na culinária japonesa. É de sabor muito ácido, com uma consistência fina e aquosa e uma coloração amarelo-clara. Ponzu shōyu, ou ponzu jōyu, conta com a adição de shoyu (molho de soja); o produto da mistura costuma ser chamado também apenas de ponzu.

[2] Calpis é um refrigerante sem gás japonês. A bebida tem um sabor suave parecido com leite e um sabor um pouco ácido que lembra iogurte de baunilha ou Yakult.

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