“Isso é muito”, exclamou Pellio enquanto se perdia no sonho de Noah.
A cena simples da espada perfurando o céu acompanhou Noah por muito tempo. Foi a base por trás do método Forjamento Elemental e uma das expressões mais fortes de sua Ambição.
Noah poderia ter adulterado a cena dada a Pellio. Ele poderia ter acrescentado sua visão do mundo, sua experiência e as várias melhorias que fez em sua existência para dar mais poder a seus sonhos.
No entanto, Noah não mudou nada naquela visão. Os sonhos deveriam ser irracionais. Eles não precisavam de nenhum apego à realidade, então Pellio pôde experimentar a forma simples que a Ambição de Noah havia assumido quando ele era um mero cultivador humano.
O sonho não fazia sentido, mas não precisava. Noah sonhou em perfurar o céu quando não sabia nada sobre a estrutura real do mundo. Ele nem sabia da existência de um plano superior. No entanto, desejava criar um buraco no que via como nada mais do que uma prisão de qualquer maneira, e Pellio experimentou essa vontade aparentemente ilimitada.
“Você era apenas um mero humano”, comentou Pellio.
“Esse é o objetivo dos sonhos, não é?” Noah riu.
“Mas isso não é um sonho”, exclamou Pellio enquanto seus olhos permaneciam fechados. “Esta é uma maldição aplicada a alguém sem poder.”
“Eu tenho poder agora”, respondeu Noah.
“Como você sobreviveu?” perguntou Pellio. “Como você evitou ser esmagado pelo peso de sua Ambição?”
Noah encolheu os ombros. Ele não estava lá para falar sobre sua vida. Ele passou por tanta coisa, mas sobreviveu por pura determinação e crueldade. Descrever isso levaria muito tempo, e Noah preferia que Pellio tirasse suas próprias conclusões.
Afinal, Noah havia dado a Pellio seu sonho para desencadear uma reação dentro do especialista. Noah realmente não se importava com o estado dos olhos, desde que seu novo companheiro permanecesse útil. Ele não estava lá para ajudar ninguém, só queria aliados.
Pellio reviu o sonho várias vezes. Não conseguia explicar como alguém nas fileiras humanas poderia gerar um sentimento tão forte. Parecia impossível, mas Noah estava bem na frente dele.
Noah viu os olhos de Pellio movendo-se para a esquerda e para a direita sob as pálpebras fechadas. Ele sentiu o desejo do especialista em abri-los, mas não disse nada. Pellio tinha que tomar essa decisão por conta própria.
“Eu realmente tenho que me conter contra os criadores do Labirinto?” Pellio finalmente perguntou quando seu sorriso gentil substituiu sua expressão de surpresa.
“Pelo menos até eu quebrar o céu”, exclamou Noah. “Além disso, tenho a vaga sensação de que você não é o mesmo especialista que eles prenderam aqui.”
“Eu realmente mudei”, Pellio suspirou. “Eu deveria me considerar sortudo por estar vivo.”
Pellio suspirou novamente antes de apontar o rosto para Noah. Suas pálpebras tremeram e ele lentamente começou a levantá-las. Noah logo conseguiu ver os olhos de Pellio, e a mudança de cor de suas íris imediatamente atraiu sua atenção.
Os olhos de Pellio não tinham uma cor fixa. Suas íris também não eram circulares. Elas tinham a forma de uma massa irregular que lançava pequenas chamas na esclera. Se assemelhavam a pequenos tentáculos que mudavam de tonalidade a cada segundo.
“Como é a realidade?” Noah brincou.
“Limitada como sempre”, respondeu Pellio enquanto movia os olhos pela sala, “Mas também é a verdade.”
“O que você quer tornar verdade, então?” Noah perguntou.
“Ainda tenho sua Ambição passando pela minha cabeça”, admitiu Pellio. “Acho que quero destruir o céu.”
“Isso é bom”, afirmou Noah, “mas esse é o meu sonho. Acho que é hora de recuperar o seu.”
“Meu sonho está fora do Labirinto Amaldiçoado”, explicou Pellio.
“Vamos sair então,” Noah ordenou.
“Sim, chefe”, exclamou Pellio, e a casa desapareceu instantaneamente.
June e os outros não perderam essa mudança. Noah e Pellio apareceram ao ar livre, mas o ambiente continuou a se transformar. O céu e a pradaria começaram a fluir na direção dos olhos de Pellio, deixando nada além de áreas pretas no quarto andar.
As bestas mágicas, as nuvens, o filtro e até a dimensão escondida sob o chão desapareceram. O grupo se encontrou em completa escuridão, e apenas as bordas da realidade separada permaneceram em seu lugar para lembrar a todos que eles ainda estavam dentro do Labirinto Amaldiçoado.
“Por que você criou um ambiente tão estranho?” Noah perguntou enquanto endireitava sua posição.
“Era uma memória antiga”, revelou Pellio. “Eu só tinha isso para me entreter depois de ficar preso aqui por tanto tempo.”
“Você ainda não está livre”, riu Noah.
“É por isso que decidi segui-lo”, exclamou Pellio. “Eu preciso de você para recuperar o meu sonho.”
“Você está me usando então?” Noah perguntou.
“Claro”, admitiu Pellio. “Você tem algum problema com isso?”
“De jeito nenhum”, afirmou Noah. “Eu teria achado estranho de outra forma.”
“Decidirei se quero ingressar na sua organização depois de deixar o Labirinto”, explicou Pellio.
“Você não entende, não é?” Noah riu. “Você já aceitou minha Ambição. Você faz parte da minha organização quer queira ou não.”
Pellio sorriu, mas não respondeu. Ele sabia que Noah provavelmente estava certo. Seus sonhos não conseguiam encontrar uma saída do andar naquela época, mas ele podia ver isso claramente agora. Só precisava olhar para a escuridão para entender o que fazer.
“O que está acontecendo?” A tartaruga de nível superior perguntou enquanto voava em direção a Noah.
June e os outros imitaram a tartaruga de nível superior, e a figura de Pellio inevitavelmente atraiu a atenção deles. Eles queriam estudar o especialista, mas se viram incapazes de descobrir qualquer coisa sobre seu poder.
Noah estava na mesma situação de seus companheiros, mas sabia o motivo daquela estranha característica. Pellio não recuperaria seu mundo até que deixasse o Labirinto Amaldiçoado. Ainda assim, ele poderia invocar parte de seu poder, já que sua influência se espalhou muito além da realidade.
“Ele abrirá o caminho”, Noah limitou-se a explicar. “Ele é Pellio. Ele faz chá.”
Pellio riu alto enquanto fechava os olhos. A escuridão começou a tremer e a força icônica do Labirinto começou a envolver o grupo. A estrutura tentou teletransportar todos em lugares diferentes, mas Noah desvendou o Mundo das Trevas para manter todos por perto.
O Mundo das Trevas lutou para entender a figura de Pellio, mas este resolveu o problema. As bordas de seu corpo se condensaram no tecido da realidade e permitiram que Noah o contivesse por meio de sua técnica.
‘Ele definitivamente é um cultivador de estágio sólido,’ Noah comentou em sua mente enquanto inspecionava as transformações do chão. ‘O mesmo deve valer para os criadores do Labirinto. Acho que preciso atingir o estágio líquido antes de deixar esta estrutura.’
Noah não tinha intenção de cair nos caprichos de existências mais fortes, e sua solução era bem simples. Ele melhoraria antes de encontrar o criador para que eles fossem forçados a segui-lo.
Um olhar penetrante caiu sobre sua figura enquanto ele permanecia imerso naqueles pensamentos ambiciosos. Noah voltou-se para a fonte daquela sensação e sorriu ao encontrar June com um sorriso confiante. Ela havia entendido o que se passava em sua mente e tinha toda a intenção de segui-lo.