Chrysalis – Capítulo 1106

Odin se escondia entre as larvas que cobriam o chão.

Agora até os joelhos, os demônios recém-nascidos estavam ainda mais frenéticos do que o normal, cortando e dilacerando uns aos outros com abandono selvagem.

Ele tinha sido um deles não muito tempo atrás, às vezes era difícil lembrar disso. Fraco, tendo que escalar sua própria espécie para sobreviver, assim como sua vida como humano.

Preguiçosamente, ele se perguntou quantas larvas foram geradas em todo o estrato em uma hora. Bilhões? Trilhões? Quebrar alguns ovos para fazer uma omelete era uma coisa, mas a ineficiência desse processo era quase ofensiva para ele.

A perda de vidas era algo com o qual Odin poderia se relacionar, dada sua linha de trabalho anterior, mas cada morte deveria ser significativa, devia significar alguma coisa, quando uma criatura morre. A maioria dessas larvas não passaria do avanço dois e ninguém se lembraria delas, ou mesmo perceberia sua passagem.

‘Estou ficando melancólico. Concentre-se no trabalho,’ ele se advertiu.

Abaixando o corpo, ele virou a cabeça de um lado para o outro, imitando o olhar arrebatador do caçador que os demônios evoluídos adotaram na planície, apesar das aparências, ele só tinha olhos para as formigas.

Eles estavam por toda parte, em todos os lugares, grupos vasculhavam as larvas como caçadores de ouro com detectores de metal, de vez em quando pegando um espécime e examinando-o. O demônio sortudo ou azarado era colocado de volta com os outros, ou guardado cuidadosamente em uma bolsa, debatendo-se como um… demônio selvagem.

As formigas viajavam em filas enormes, milhares delas, seguindo trilhas como uma formiga na Terra faria, só que essas eram ainda mais ordenadas, elas carregavam todo tipo de coisas, metais, minérios, biomassa, núcleos, transportando materiais de partes distantes das Planícies e despejando-os no ninho gigantesco que surgia à distância. Era como se aquela imensa estrutura fosse um monstro em si, todas as riquezas e recursos que poderiam ser reunidos por quilômetros ao redor estavam fluindo em direção a ela em uma inundação incessante.

Odin tinha certeza de que podia vê-las correndo no telhado acima, embora o que elas pudessem estar fazendo lá em cima estivesse além dele.

Cada vez que um grupo aparentava se aproximar, ele mudava de direção, afastando-se delas sem pensar muito. Uma sensação fria e tensa envolvia suas entranhas monstruosas, uma sensação que ele havia sentido apenas algumas vezes antes.

Quando recebeu a ordem de se infiltrar na gangue Mariachi, ele se fez passar por um guitarrista viajante fazendo reparos no telhado para pagar as contas, com seu sombreiro e escada, ele abriu caminho para o complexo e se viu cercado. O rancheiro da morte pairava em todas as janelas e cada vez que a luz brilhava em um colete de lantejoulas, ele sentia que havia dado seu último suspiro.

Esse mesmo sentimento tomou conta dele agora, ele estava profundamente no território das formigas, dentro da sede de seu poder, para chegar a essa posição aparentemente inofensiva, ele foi obrigado a passar por inúmeras patrulhas, várias minas, seis projetos de construção e o que parecia ser uma plantação de chá.

Tudo em busca daquele poder supremo que podia libertá-lo.

Para superar os demônios que o reivindicaram e o controle de Arconidem sobre sua alma, Odin precisava de ajuda, ele não estava acostumado a precisar de ajuda, mas aqui, neste mundo, onde as regras não eram totalmente compreendidas, ele precisava se adaptar. Se isso significasse agarrar a perna de uma formiga poderosa, então era exatamente isso que ele faria.

‘Achei!’

Quando ele balançou a cabeça naquele gesto mais uma vez, ele teve um vislumbre do que esperava ver. Fácil de identificar, mesmo cercada por outras da mesma espécie, a formiga gigante se movia pelas planícies como um rei, ou Queen, provavelmente, considerando as normas envolvidas.

A reboque estavam os três monstros que ele tinha visto seguindo a criatura antes. Cada um deles era poderoso, mais forte do que ele, talvez, mas não eram nada comparados ao que ele via naquele que seguiam.

Havia uma gravidade naquela formiga que o atraiu, uma autoridade e uma força não ditas que se agarraram e se recusaram a soltar. Ele podia ver isso nas outras formigas também, quando o gigante passava por elas, elas se viravam, muito sutilmente, para vê-lo ir, antes de se endireitar e continuar com seus negócios.

Ser apoiado por uma sociedade tão poderosa quanto esta, era exatamente isso que ele estava procurando.

Odin caminhou cuidadosamente pelas planícies, calculando o caminho do monstro, ele se posicionou cuidadosamente para interceptá-lo, mas não muito próximo, este grupo de quatro tinha bastante apetite pelo que ele tinha visto. Cada demônio forte que eles encontraram foi obliterado em questão de segundos, esse seria o seu destino, se ele não tomasse cuidado.

Enquanto ele se movia com perfeita indiferença, cada centímetro do demônio rondando em busca de uma presa, ele observou os movimentos do grupo e considerou seus próximos passos.

Havia várias maneiras de jogar isso, dependendo do resultado que ele mais desejasse. Se ele pudesse inventar uma maneira de trazer a formiga e os demônios que o atormentavam para um confronto direto sem se revelar, isso poderia ser o melhor, se a formiga saísse vitoriosa, ela estaria livre para cuidar de seus próprios negócios sem dever favores.

Ele poderia tentar intervir mais diretamente, revelar-se à formiga e guiá-la para o conflito, fazendo-se passar por um mensageiro útil, ele poderia revelar o perigo e fornecer conselhos, o problema com essa abordagem era que ele não tinha domínio da magia que lhe permitia conversar com os outros. Se a fala demoníaca existisse, ele não sabia, então como ele poderia falar com essa formiga?

Seria mesmo interessante se ele fizesse? As formigas trabalhavam com alguns demônios, isso ele sabia por observação, mas era um risco gigantesco de se correr.

‘Não.’

‘Melhor jogar pelo seguro e permanecer nas sombras,’ era onde ele, Odin, o temido assassino, estava mais confortável. Decisão tomada, ele acenou com a cabeça para si e então olhou ao redor.

A formiga havia se aproximado, muito perto para ser confortável, ele precisaria ajustar seu ângulo. O pequeno demônio pairava sobre sua carapaça escura, com a bolha negra de… alguma coisa. Bom, eles não tinham ido longe.

‘Espere. Onde está o macaco?’

Odin reagiu bem a tempo de bloquear quando um punho coberto por um raio atingiu seu torço. A eletricidade rasgou seu corpo, fazendo com que seus músculos tivessem espasmos e travassem, mesmo quando seus ossos demoníacos rangiam com a força do impacto.

‘Fui muito descuidado!’

Ele deveria estar focado como o fio de uma navalha, sem considerar o futuro! Um erro idiota que lhe custaria caro.

O macaco gigante pareceu surpreso por seu alvo não ter evaporado depois daquele soco, e após um momento de consideração, a enorme expressão da besta mudou para uma de alegria ansiosa quando um largo sorriso apareceu em suas feições e ele bateu seus dois punhos juntos.

‘Um fanático por batalhas.’ Odin já havia lutado contra esse tipo antes, só havia uma coisa a fazer.

Agindo rapidamente, ele se ergueu em toda a sua altura, revelando suas lâminas, deixando o brilho ondular nas espadas de osso. Quando o macaco deu um passo ousado à frente, Odin reuniu força nas pernas e saltou.

Um salto poderoso!

Ele voou majestosamente, cobrindo dezenas de metros em um salto, girando e flutuando como um acrobata armado com uma dúzia de lâminas.

Ele pousou perfeitamente, bem na frente da formiga gigante, ajoelhado no chão em súplica, com seu rosto demoníaco pressionado contra a rocha em chamas.

A formiga recuou um pouco surpresa e Odin sentiu um lampejo de alegria quando uma mente alcançou a sua.

[O que diabos?!] Uma voz surpreendentemente jovem tocou na mente do assassino.