Chrysalis – Capítulo 1107

O demônio deslizou pelo ar com uma graça muito requintada, apenas para pousar em uma postura ajoelhada perfeita na minha frente. Fiquei surpreso, para dizer o mínimo, e reflexivamente amarrei uma ponte para poder me comunicar com este estranho espécime.

[Você está se curvando?] Eu perguntei após minha exclamação inicial.

‘Isso parece muito uma coisa da Terra a se fazer, não consigo me lembrar de ver demônios se curvarem uns aos outros, independentemente das circunstâncias. A menos que isso seja algum costume ainda não visto dos habitantes do terceiro estrato, algo diferente está acontecendo aqui.’

[Eu queria falar com você, então me aproximei, mas cheguei muito perto. Chamei a atenção do seu… associado… e fui forçado a me revelar para preservar minha vida.]

Algo na forma como o demônio falava, uma voz calma, profunda e um tanto silenciosa, me dizia que ele não necessariamente acreditava no que dizia. Como se ele realmente pensasse que teria uma chance contra Tiny.

[Você acha que poderia enfrentá-lo?] Eu disse, sacudindo minhas antenas para o macaco mal-humorado que se aproximava do lado.

[Claro que não,] veio a resposta imediata.

Mais uma vez, o tom que recebi parecia implicar algo totalmente diferente e fiquei meio tentado a jogar o demônio em uma briga com Tiny imediatamente, só para mostrar a ele quem manda, mas decidi não fazer isso.

‘Isso não é importante agora.’

[Você está falando apenas comigo no momento,] eu garanti ao demônio ainda ajoelhado, [para que você possa falar livremente. Eu tenho que perguntar… isso não seria sua segunda vida, seria?]

Eu observei atentamente qualquer reação, mas o demônio, com o rosto pressionado no chão, não revelou nada, nem mesmo uma contração. Felizmente, sua linguagem corporal não era a única maneira de obter informações, a ponte mental que nos conectava era mais do que apenas um canal de comunicação, à medida que minha habilidade em lidar com essa conexão e mana específica aumentou, me tornei capaz de coletar mais até mesmo de uma ponte simples como esta.

O que detectei nessa mente foi uma agitação rápida de pensamentos enquanto o demônio considerava como responder. Ele estava percorrendo possíveis respostas como um computador, pesando opções, considerando resultados e tentando encontrar o melhor curso de ação possível com o menor risco.

‘Esse cara está trabalhando seriamente em seu cérebro agora! Estou surpreso por não ver vapor saindo dessas orelhas… Estou meio confuso, para ser honesto. Com o que ele está tão preocupado?’

Decidi facilitar as coisas para ele.

[Eu era originalmente da Terra,] confidenciei a ele em um sussurro abafado, [morri e renasci aqui como uma formiga, eu presumo que você experimentou algo semelhante? E renasceu como uma larva demoníaca?]

A agitação borbulhante dentro dessa mente aumentou, e não o contrário.

‘Seus pensamentos estão praticamente fervendo lá dentro!’

Eu olhei para a parte de trás da cabeça do demônio enquanto ele a mantinha pressionada contra o chão.

‘O que diabos você está pensando aí?’

Quase involuntariamente, ergui uma antena no ar e a baixei rapidamente.

‘Um bom *THWACK!* Vai ensinar esse demônio a endireitar sua mente!’

Exceto que meu golpe não acertou como eu pretendia, como se tivesse olhos na nuca, o demônio deslizou para trás rapidamente, usando seus braços de lâmina para sair do caminho. Uma esquiva magnífica, especialmente considerando que ele não podia me ver, mas as coisas não se desenrolaram assim.

Dotado de previsão, sabia que a esquiva estava chegando e instintivamente ajustei minha mira.

*THWACK!*

O demônio pareceu atordoado por ser atingido, levantando a cabeça pela primeira vez desde aquele salto notável, mas não lhe dei tempo para pensar.

[Pare de torcer seus pensamentos em sua cabeça e responda à pergunta honestamente! *Sheesh*. Sua mente é tão distorcida, é como se você fosse um assassino lendário ou algo assim.]

O demônio ficou imóvel.

[Você… pode ver meus pensamentos?]

Percebi então que podia ser considerado uma violação de privacidade espiar a atividade da zona cerebral de outra pessoa. Um pouco tarde demais para essa epifania.

[Sim. Um pouco. Não. Mais ou menos.]

Silêncio…

[Eu meio que posso sentir como sua mente está se movendo através da ponte que nos conecta, não consigo ver seus pensamentos exatos ou memórias ou qualquer coisa desse tipo.]

[Você… não pode… ver minhas memórias?]

[Não! Claro que não, digo… bem… eu poderia, se usasse um espigão mental e invadisse seu cérebro… mas não vou fazer isso! Então você pode relaxar, eu não deveria ter batido em você, e peço desculpas por isso, mas percebi que você estava procurando a resposta mais vantajosa, apenas me dê algo verdadeiro e não teremos problemas.]

O demônio me olhou por um minuto, e podia sentir seus pensamentos se movendo em círculos lentos e deliberados até que finalmente ele concordou.

[Eu era um humano,] ele admitiu, [da Terra, como você, meu nome é Odin Malum, eu renasci aqui neste lugar… não faz muito tempo, não sei dizer quanto tempo. Prefiro não falar sobre minha última vida se puder evitar, eu quero focar nesta, se possível.]

Imediatamente, meu coração se aqueceu com o pequeno demônio e corri para a frente para bater em seu ombro com uma perna de apoio.

‘Cara, ele deve ter tido uma vida difícil na Terra, minha situação não era a ideal, mas tenho a sensação de que esse tal de Odin passou por momentos muito difíceis.’

[Eu te entendo, cara, eu te entendo totalmente, supostamente, a Masmorra só escolhe pessoas que tiveram uma vida ruim e enlouqueceram um pouco na Terra de qualquer maneira. Não se sinta muito mal com isso, aparentemente, as pessoas normais realmente não lidam bem quando jogadas na Masmorra.]

[Então… há mais de nós? Todo monstro é um humano renascido?]

[Claro que não! Somos super raros, você é como o… quinto, que eu conheci? Sou eu, Sarah, Jim, a Árvore-Mãe e você, e… uh, Garralosh, eu acho. Tenho certeza de que há mais de nós por aí, mas não os encontrei.]

Havia muito para absorver, mas o demônio pareceu se prender a uma informação em particular.

[Como você sabe que a Masmorra só aceita pessoas malucas? Onde você pode ter aprendido isso?]

[De Gandalf.]

Ele olhou para mim um pouco estranho e deu um passo lento para longe, deixando minha perna cair de volta no chão.

[Ei! Oi! É assim que eu o chamo, já que ele não me dá um nome, quando eu evoluo, tenho uma pequena janela de tempo para trocar palavras com ele. Você não experimentou algo semelhante?]

‘Sarah não evoluiu literalmente por décadas, então quem sabe como será sua experiência na próxima vez? A Árvore-Mãe com certeza não vai falar comigo sobre a evolução de seu tempo, então estou super ansioso para saber como é o de Odin.’

Ele estremeceu, o que não era um bom sinal.

[Não, eu não falei com nenhum… bruxo. Falei com Arconidem, o Deus Demônio, ele… tomou conta da minha mente, eu posso senti-lo agora, batendo em mim, tentando dominar minha vontade.]

‘Oh, opa.’

[Você falou com Arconidem?! O Antigo?]

‘É melhor eu não deixar nenhum desses lagartos da Verdade Vermelha descobrir sobre esse cara, eles perderão suas mentes de sangue-frio. Pelo menos ele não falou com Yarrum, Granin já estaria correndo para cá, tendo de alguma forma sentido o nome de seu grande e glorioso verme… deus… coisa.’

‘Mas agora, há algo muito mais importante.’ Eu me inclinei para frente, atentamente.

[Odin Malum, diga-me, você falou com Arconidem?]

Ele estremeceu mais uma vez, então, o demônio acenou com a cabeça.

‘Isso é bom.’

[Na próxima vez que você evoluir, preciso que você faça um favor para mim, quando você ficar cara a cara com ele, há algo que você tem a dizer a ele por mim.]

O demônio pareceu um pouco confuso com esse pedido. Eu podia dizer que ficar cara a cara com o Antigo novamente não era exatamente o que ele queria fazer.

[O… o que você quer que eu diga?]

Eu estalei minhas mandíbulas, decisivamente.

[Diga a ele… que ele é um bunda-mole.]

Odin olhou para mim. Eu encarei de volta.

[Um bunda… você quer que eu diga ao deus demônio… que ele é um bunda-mole?]

[Sim, por favor.]