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Chrysalis – Capítulo 203

O Mundo Subterrâneo - Parte 3

Suas mãos doíam infernalmente.

Mirryn encostou-se ao parapeito do QG da Legião e apreciou a vista, apoiando os antebraços na pedra.

“Como você está indo?” Uma voz veio por perto.

Mirryn se virou para ver Donnelan se aproximando ao longo da parede.

“Também não conseguiu dormir, hein?” Ela perguntou a ele.

“Sem chance nesse inferno”, ele murmurou.

Nenhum dos dois queria falar sobre seu batismo, mas não conseguiam deixar de pensar nisso. Quando foram finalmente retirados da bacia, os recrutas imediatamente perderam a consciência, com suas mentes não mais sustentadas pelos encantamentos complexos que os cercavam.

Ao acordar, souberam que três de seus amigos haviam morrido.

Considerando tudo, não era um número ruim, ficando baixo da média. Ela podia ver o alívio nos rostos dos oficiais por não perderem mais. Parecia estúpido agradecer apenas três mortes, mas ela entendia a lógica delas.

A situação seria melhor se quatro tivessem morrido?

Não.

O comandante e o restante dos legionários haviam passado para visitá-los nos dias seguintes. Os estagiários foram colocados em uma unidade de convalescença, camas confortáveis, boa comida, equipe médica 24 horas por dia, especialistas em aconselhamento, tudo que tinham direito.

Na superfície, Mirryn teria ficado chocada ao pensar no custo do tratamento luxuoso, já que a Legião era lendariamente econômica. Eles faziam a maioria de seu próprio equipamento, comiam alimentos nutritivos, mas brutalmente sem sabor. Era uma visão regular para os estagiários serem vistos limpando seus couros e polindo suas espadas fora do quartel na luz do amanhecer ao lado de seus oficiais.

Os estagiários estavam aprendendo quantas coisas eles achavam saberem serem um engano elaborado. A Legião Abissal que eles achavam conhecerem, a masmorra que achavam que conheciam, de fato, o mundo em que pensavam ter vivido estava muito longe da verdade.

“Você já pensou que algo assim poderia existir?” Mirryn perguntou a Donnelan quando ele se juntou a ela.

“Absolutamente não”, ele respondeu categoricamente, “Na verdade, lembro-me especificamente de ter ouvido que tal coisa era impossível.”

Mesmo olhando para ele, Mirryn ainda achava que era impossível.

Era uma cidade.

Na masmorra.

Uma vasta caverna em forma de ovo de tamanho impossível, quilômetros de diâmetro e muito alto, cheia de gente. As construções cobriam o fundo da caverna e depois se estendiam pelas paredes, esculpidas diretamente na rocha.

Uma gigantesca pedra luminosa no topo do espaço fornecia iluminação durante o dia e desaparecia à noite, regulando o tempo para os milhares de cidadãos aqui em Railleh.

Graças a algum mecanismo que ela não conseguia imaginar que o espaço cavernoso conseguiu manter as veias da Masmorra fora, não havendo risco de monstros surgirem dentro da própria cidade. Essa segurança dentro da Masmorra parecia estranha para ela, já que ela passou cada momento no subsolo até este ponto completamente alerta. Estar tão relaxado aqui parecia antinatural.

De seu ponto de vista, Mirryn podia ver a cidade fervilhando de atividade dia e noite, com as pessoas se movendo como formigas nas ruas apertadas abaixo. Mesmo agora, a luz de milhares de lâmpadas iluminava a cidade à noite como um mar de velas na escuridão. Foi incrível.

O quartel-general da Legião ficava na metade do caminho, uma cidadela que ocupava uma posição de destaque, com vista para o resto da cidade. Ela não tinha conseguido explorar muito ainda, os estagiários estavam basicamente confinados à recuperação. Na verdade, não os estagiários… Legionários completos agora.

Mirryn ansiava por isso há tanto tempo…

“Como estão suas mãos?” Donnelan perguntou.

Ela olhou para as bandagens pesadas que envolviam seus antebraços até a ponta dos dedos.

“Melhor”, ela disse, “elas foram curadas, mas estão preocupados com danos ao osso, então ficarei em reclusão por alguns dias ainda.”

A expressão de Donnelan se contorceu um pouco. Incapaz de conter sua curiosidade, ele finalmente perguntou:

“É verdade sobre como você as machucou?”

“O que você ouviu?” Ela respondeu.

“Que você deu um soco na cara do comandante.”

Mirryn encolheu os ombros desconfortavelmente.

“É verdade.”

Donnelan suspirou em apreço.

“Não consigo… não consigo nem imaginar. Ele disse alguma coisa?”

Ele não disse.

O comandante visitou cada estagiário pessoalmente ao acordar. Quando ela finalmente abriu os olhos e se orientou, ele já estava lá. Ele não se explicou ou se justificou, ele apenas ficou sentado lá, e ao ver o homem em quem ela tanto confiara, quase como um pai, mas que fez uma coisa tão indescritível com ela e seus amigos… ela perdeu o controle. Raiva e fúria explodiram nela.

Ela foi capaz de conter-se a princípio… qual seria o sentido de bater nele?

Quando ela perguntou quantos haviam morrido e ele respondeu, ela pulou da cama e o socou bem no rosto com as duas mãos. Ele não resistiu de maneira alguma, aceitando de bom grado seus golpes, mas o resultado foi que ela quebrou os dois punhos.

Ela não acreditava que o comandante havia se quer se mexido.

Ela havia falado com alguns de seus colegas estagiários, especialmente Donnelan. Havia sentimentos de raiva, de traição e de medo. Medo da dor que os mantinha acordados à noite, medo do horror sem fim disso e, no fundo, medo de que a Legião estivesse certa.

Eles podiam sentir agora. Desde que acordaram, perceberam que algo estava diferente. Seus corpos estavam absorvendo mana do ar, inspirando e expirando através de seus poros. Mirryn se sentia mais forte, mais saudável, sua mente parecia se mover mais rapidamente, com maior agilidade.

Eles ainda nem haviam começado a treinar ou usar seus novos corpos, mas já podiam dizer que mudaram fundamentalmente. Ela também não achava que terminaria apenas com isso, ela sabia que haveria mais segredos por vir.

Ela sabia que seus oficiais eram boas pessoas, a impressão que ela teve deles por anos vivendo ao lado deles não estava errada e eles eram de fato o tipo de linha dura, cabeças-duras ligadas ao dever que colocariam as pessoas de quem gostavam em tal tormento, desde que tivessem um bom motivo para isso.

O tormento acabou, mas Mirryn estava com medo de descobrir o motivo daquilo tudo ser necessário.

A Legião fez isso por milhares de anos, por quê? Contra o que exatamente eles estavam lutando aqui?

Ela se virou para Donnelan

“Quando você acha que eles vão nos deixar sair e entrar na cidade?” Ela perguntou.

Ele sorriu. “Espero que em breve. Depois de tudo o que aconteceu, eu queria tirar uma folga. Alguns refrescos não iriam ser perdidos.”

“Um mundo totalmente novo para explorar aqui e a única coisa que importa é ficar bêbado?” Mirryn balançou a cabeça.

“Sim”, ele disse.

Depois de uma pausa, ambos riram e se voltaram para a cidade que se estendia abaixo deles. Crescer em um país de fronteira subdesenvolvido como Lirian os havia limitado de várias maneiras e eles raramente encontravam membros de outras raças e não entravam em contato com os raros e poderosos artefatos dos antigos impérios.

As nações fronteiriças foram estabelecidas em terras que ninguém queria por pessoas com coragem para tentar esculpir uma nova vida para si mesmas. Os reinos, impérios e alianças que resistiram desde o Cataclismo até hoje eram lendas distantes para eles. Aqui e agora, olhando para a cidade impossível abaixo deles, eles sentiram como se aqueles contos de fadas que ouviram estivessem tão próximos que pudessem alcançá-los e tocá-los.

Uma tosse soou atrás deles e os dois pularam, virando-se rapidamente para encontrar a Tribuna Aurillia atrás deles.

“Espero não estar incomodando, estou, Legionários?” A mulher mais velha perguntou.

Os dois ficaram tensos ao serem abordados por sua oficial.

Levaria muito tempo para que qualquer tipo de confiança existisse entre eles novamente, mas Aurillia não ficou ofendida, nem mesmo surpresa. Ela naturalmente sabia como eles se sentiam, ela mesma havia passado pela mesma coisa.

“O comandante chamou vocês para se reunirem. É hora de saber se o que vocês suportaram valeu a pena.”

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JotaD
Membro
Jota
27 dias atrás

Tenho a sensação que esses dois vão dar trabalho pro prota ainda

super irônico
Membro
super irônico
2 meses atrás

eu quero saber da rainha humana

KiaboD
Membro
Kiabo
5 meses atrás

Que bom q os dois sobrevieram, o Donnelan não tinha sido citado nos dois caps anteriores, já tava achando q ele tinha morrido ou tinha sido desclassificado

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