Chrysalis – Capítulo 260

Terminada a entrega, voltei ao ninho para aguardar o surgimento iminente de minhas melhores criações.

‘Essas formigas podem mudar muitas coisas. Por um lado, seria bom ter mais opções de conversa… conversas intensas, provavelmente demais para o meu conforto, e a mãe tem muitas responsabilidades, sem falar nos muitos filhos, então não posso exatamente monopolizar o tempo dela em sã consciência.’

Tiny e Crinis também não eram os melhores conversadores, Tiny mal tinha capacidade cerebral para falar e Crinis tinha alguns bloqueios que dificultavam um pouco a conversa com ela. Talvez se eu descobrisse uma maneira de liberá-los de seu status de pet, eles poderiam ser um pouco mais engajados e não tão respeitosos.

Obviamente, ter uma conversa decente não era a razão pela qual embarquei neste projeto, eu queria encher a colônia com operárias mais inteligentes e mortais. Formigas com capacidade de raciocinar, de se comunicar, de pensar cooperativamente e acima de tudo, de lutar estratégica e taticamente.

‘Chega de investidas suicidas, chega de jogar suas vidas fora. Em vez disso, trabalho em equipe, algum instinto de autopreservação, planejamento e minimização de perdas.’

‘Uma colônia de formigas capaz de todo o pensamento tático de uma nação, isso é o que eu quero. E agora, aqui estou, no alvorecer de uma gloriosa nova era de formigas!’

‘Meus novos irmãos nascerão em breve e estou disposto a apostar que este mundo nunca viu nada parecido com eles. Monstros inteligentes existem, claro, mas não assim, as formigas são diferentes, as formigas são especiais.’

Elas cobriam toda a terra, estima-se que a massa combinada de formigas fosse a mesma dos humanos, assumindo que um milhão de formigas pesa o mesmo que uma pessoa e existem cerca de sete quatrilhões de formigas. Na Terra, as formigas eram pequenos insetos, incapazes de aumentar muito de tamanho, pois seus corpos não suportariam esse tipo de massa.

‘Aqui em Pangera? Este mundo tem magia e todo tipo de coisas malucas. Formigas do tamanho de cachorros grandes? Claro, por que não? E se tivermos sete quatrilhões de formigas do tamanho de cachorros grandes? E se conseguirmos tantas e todas elas forem tão inteligentes quanto um ser humano?’

‘Seríamos imparáveis!’

Tinha que admitir, porém, enquanto rastejava para a Câmara de Pupas onde as vinte pupas estavam encostadas na parede, cuidadas por um pequeno grupo de operárias, que eu também tinha algumas preocupações.

Fundamentalmente, o que tornava uma colônia de formigas tão bem-sucedida era a cooperação entre cada membro individual, a ponto de a colônia ser considerada uma única criatura, com cada formiga sendo uma única célula de algo maior que ela mesma.

Onde a humanidade na terra era dividida por conflitos, dentro das nações, dentro das cidades e dentro das famílias, uma colônia de formigas era unificada, singular em mente e propósito.

‘Ao elevar sua inteligência à de um humano, introduzi esses impulsos caóticos? Os novos trabalhadores exercerão o livre arbítrio? Rasgariam a colônia por dentro?’

Assim que dei espaço às dúvidas, elas começaram a sair do controle.

‘Haverá guerra civil? Formiga lutará contra a formiga dentro da colônia, colocando irmão contra irmão? Uma rainha chorosa será forçada a reprimir uma revolta de seus próprios filhos?’

‘Isso seria horrível!’

Não era como se eu tivesse que cooperar com a colônia. Eu, como humano renascido como monstro, poderia ter escolhido fazer o que quisesse, mas decidi abraçar a colônia, apoiá-la e ajudá-la, depender dela e prosperar ao lado dela, já outra pessoa poderia ter escolhido fazer isso de uma forma diferente.

Talvez, em vez disso, eles se banqueteassem com a colônia, matando operárias que não reagiriam, colhendo-os para obter experiência e biomassa, engordando com sua suposta família antes de seguir em frente na masmorra como um monstro independente, abandonando uma colônia destruída em seu rastro.

‘É com esse tipo de coisa que teremos de lidar agora? Formigas egoístas? Quem já ouviu falar em formigas egoístas?! Tal coisa nem faz sentido! Não é um conceito que deveria existir neste mundo ou em qualquer outro. Isso vai contra a própria natureza das formigas! As formigas são altruístas! Digo, eles também não têm cérebro, mas isso não vem ao caso!’

Minha mente estava cheia da imagem trágica de meus irmãos se despedaçando nos túneis de nosso ninho devido a uma justificativa estúpida e mesquinha.

‘A unidade da colônia será destruída pela nova geração?’

‘Eu desfiz o próprio tecido da sociedade das formigas com minha experimentação maligna?’

‘O QUE EU FIZ?!’

‘Espere.’

‘Eu ouvi algo.’

*Silêncio*

‘Tenho certeza de que ouvi. Foram as pupas!’

Eu corri para mais perto dos casulos, abrindo caminho entre as operárias que zumbiam repentinamente.

‘Sim! Há um som vindo de dentro.’

‘Eles estão saindo!’

As formigas recém-formadas dentro estavam começando a sair de seus casulos e as operárias do lado de fora se moveram para ajudar, descascando as camadas com suas mandíbulas e ajudando a libertar as operárias emergentes.

‘Oh meu Deus Oh meu Deus Oh meu Deus Oh meu Deus Oh meu Deus!’

‘Estou animado, mas também nervoso! Fazer formigas inteligentes foi um erro? Será este um momento de triunfo, ou de fracasso?’

‘É tarde demais para se arrepender agora, os frutos do meu trabalho estão sendo lançados no mundo diante dos meus olhos!’

Quase me senti como um cientista maluco vendo sua criação ganhar vida. Eu brinquei com essas formigas quando eram larvas, mas muitas vezes era difícil colocá-las juntas em minha mente como as mesmas criaturas que eu. Olhando para as formas vagas empurrando-se contra o interior de seus casulos, sentia como se as estivesse vendo pela primeira vez.

‘Meu coração está batendo forte dentro do meu peito. Estou tonto. Eu preciso respirar. Dentro, fora, dentro, fora. Relaxa Anthony, tudo bem. Você elevou sua colônia ao pico do mundo ou os condenou ao colapso em uma luta interna selvagem que coloca irmão contra irmão?’

‘Portanto, sem estresse.’

‘MAS QUE POR… EU NÃO AGUENTO!’

Os trabalhadores cercavam as pupas agora, cortando as fibras dos casulos e rasgando-os, e gradualmente as operárias ainda macias e pálidas dentro deles estavam sendo reveladas.

Elas eram menores do que filhotes normais, e filhotes já eram bem pequenos, mas estes eram visivelmente menores. Eu tive que sacrificar muito para aumentar suas estatísticas de Astúcia e Vontade e seus corpos eram ainda mais fracos do que o meu quando nasci neste mundo.

Isso iria mudar quando elas começarem a evoluir, o início de suas vidas seria mais difícil, sem dúvidas, mas a recompensa viria depois de algumas evoluções e eles começarem a se especializar.

A outra coisa que dei a eles era uma glândula de feromônio de linguagem totalmente desenvolvida, essas pequenas operárias seriam capazes de falar quando nascerem.

‘Eu me pergunto, o que eles vão dizer? Uma declaração de guerra contra a Rainha?!’

‘Certamente muito cedo para isso.’

‘Talvez eles declarem sua independência? Eles vão reclamar? Protestar? Os gritos angustiados de suas próprias almas ressoarão por toda a câmara a qualquer momento!!!’

‘Quanto de sua natureza vai ser inerentemente formiga? Quanto disso depende da mente com a qual eles nasceram? Este é um monte de perguntas que eu deveria ter respondido antes de embarcar neste projeto…’

‘Eu tenho um medo profundo de que essas formigas vão fazer algo um dia que faça eu me arrepender.’

‘Oh! Esta está quase saindo!’

‘Assim como essa outra!’

As operárias avançavam mais rapidamente à medida que as camadas externas se desprendiam e as formigas internas começavam a se mover mais, com seus novos corpos rígidos e sem resposta.

Logo os casulos foram rasgados e os vinte membros da nova geração estavam deitados no chão da câmara, lentamente se acostumando com suas novas formas.

Observei apreensivo. Já trabalhei demais, não sabia o que esperar.

Então um deles falou.

“M…M… Morte.”

‘O quê?’

“M… mah… Minha moite.”

‘Você já quer morrer???? Você é como o monstro de Frankenstein? Você anseia por se livrar de sua existência atormentada???’

A operária em questão mexia seus membros com mais vigor, ganhando força a cada momento que passava.

Então falou novamente.

“Minha morte… Pela… colônia!”

Então outra falou.

“Minha… vida… pela… colônia!”

E outro.

“Minha…. Existência…. pela colônia!”

À medida que as operárias gradualmente colocavam os pés sob si e se levantavam, todas começavam a gritar, com suas vozes fracas no início, mas ficando mais fortes a cada segundo.

“Darei minha vida a serviço da Colônia!”

“Pela Rainha, eu morrerei!”

“Serei o primeiro a me sacrificar pela glória da colônia!”

“Serei eu que me lançarei sobre nossos inimigos, deixando-me dilacerar pela colônia!”

“Pela colônia!”

“Pela colônia!”

“PELA COLÔNIA!”

As pequenas formigas começaram a rugir como uma só, com o fervor em suas vozes combinado com o fogo ardente em seus olhos. Eu já havia visto isso antes, esse calor apaixonado que parece irradiar delas, enchendo o ar da câmara. Eu vi isso nos olhos de meus irmãos, os trabalhadores, enquanto eles se jogavam na batalha.

‘Agora posso ouvir o que eles estavam pensando naquele momento.’

‘A nova geração pode ter a inteligência das pessoas, mas ainda são formigas, por completo.’

…