Chrysalis – Capítulo 3

Rosnados e estalos de garras ecoam pelas paredes da caverna. Ondas de vibrações atingiram minhas antenas, me deixando tonto. A caverna estava repleta de bestas que lutavam e se moviam pelo o que parecia ser um caminho central. 

Corri o mais rápido que pude pela caverna na direção a um lado mais escuro de uma estalactite , pendurada como uma ponta de lança no teto. Achatei-me contra a rocha, e tentei fica o mais imóvel possível ao olhar ao redor. 

As estranhas linhas azuis que eu vi pulsando nas paredes também estavam aqui, tecendo-se e ramificando-se em todas as superfícies, até mesmo enrolando-se nos pilares de pedras pontiagudas que existiam no teto e no chão, iluminando todo o espaço com a mesma luz azul suave. 

Perto de onde estava, no centro de uma clareira, parecia haver uma grande poça de água, com talvez vinte metros de largura, que se formou no chão da caverna. Olhando de perto, vi que era alimentada por um gotejamento constante de água de rachaduras no teto, possivelmente de um rio ou aquífero acima. A água parecia banhada pelo brilho azul ao ser iluminada por baixo. 

Meu pobre coração de formiga pulou para minhas mandíbulas quando percebi o zoológico de monstros que se reunia ao redor da poça. ‘Que tipo de desfile de pesadelos é esse Gandalf?!’ 

Graças à minha visão, que ainda era péssima, estavam meio difícil distinguir os detalhes, mas graças às criaturas serem elegantemente iluminadas por baixo enquanto bebiam, eu consegui enxergar o suficiente. 

Os dois mais próximos de mim eram seres que pareciam ser uma espécie de cachorro ou lobo, cada um com um rabo reptiliano que se estendia por trás deles. Suas cabeças apresentam um focinho alongado cheio do que eu imagino serem dentes afiados. Com as caudas balançando no chão da caverna, as duas criaturas se revezam para beber cuidando uma da outra e emitindo grunhidos de alerta para qualquer coisa próxima. 

Ao lado deles, eu consegui ver outra Croco-besta, inclinando-se para a frente, apoiando o peso nas patas dianteiras, tomando a água com as mandíbulas alongadas. Os outros monstros pareciam dar à besta um pouco mais de espaço, eu também faria isso! Parece que as criaturas entendiam que é melhor não incomodar dragões adormecidos. 

Foi então que percebi, parecia que não havia nenhum conflito em torno da água. Talvez os habitantes deste lugar tenham estabelecido uma trégua silenciosa aqui? Estou surpreso. Eu não esperava que essas criaturas aterrorizantes estivessem dispostas a dividir espaço, especialmente se elas pudessem ficar mais fortes obtendo biomassa como eu. 

‘Já que este é o caso, irei me aproximar um pouco mais e tentar ver melhor!’ 

Muito lentamente, me aproximo da poça de água, movendo uma perna de cada vez, mantive meu corpo o mais perto possível do teto. O progresso era muito lento! Se eu pudesse suar, seria possível construir uma segunda poça nesse lugar! Eu testei cada ponto de apoio e agitei minhas antenas muito lentamente no ar. 

【Furtividade atingiu o nível 2】 

‘Aí sim hein!’ 

‘Avanço no nível de habilidade! Que coisa boa!’ 

Isso confirmou minha suspeita de que minhas habilidades podiam ser treinadas pelo uso, neste caso minha habilidade de furtividade subiu de nível ao me mover sem ser notado pelos monstros abaixo de mim. Isso me deu uma grande oportunidade! Eu podia me esconder e observar continuamente os monstros, movendo-me lentamente o tempo todo, o que me permitiria obter informações e ao mesmo tempo treinar minha furtividade. 

‘Ok, acalme-se. A pior coisa que posso fazer agora é perder a calma.’ 

Respirei fundo algumas vezes para me acalmar antes de continuar minha aproximação. Um erro significaria morte, por isso sabia que deveria ser cauteloso o triplo de vezes em tudo que eu fizesse. Entrar em um combate significava destruição instantânea para mim, não podia esquecer isso nem por um momento, ser encontrado significava ser morto. 

‘Mantenha-se firme, Anthony!’ 

Por fim, cheguei mais perto da poça e consegui ver as criaturas do outro lado com um pouco mais de clareza. O que parecia ser um monte de mutantes agora se revelou como uma massa de criaturas semelhantes a centopeias, girando e caindo umas sobre as outras enquanto bebiam e empinavam seus corpos para estalar suas mandíbulas pontiagudas. 

Mal consegui distinguir, mas cada centopeia parecia ter dois pequenos braços com pinças, como um caranguejo ou escorpião, e seus corpos longos, cobertos de patas, terminavam em uma ponta afiada. 

‘Que nojo!’ 

‘Essas coisas são extremamente nojentas, Gandalf! Deve haver dez delas empilhadas uma em cima da outra ali! A maneira como elas se contorcem e se retorcem me deixa um pouco enjoado. Eu vou desviar o olhar.’ 

A última besta que consegui ver era uma criatura pequena e atarracada com quatro pernas, como um lagarto, mas com longos espinhos que pareciam pedra saindo de suas costas. De todas as criaturas aqui, parecia a menos ameaçadora, mas como as outras criaturas estavam dando um amplo espaço para ela, deveria haver algo sobre os espinhos que os faziam evitá-la. 

Mesmo estando escondido, um pensamento me deixou bastante animado, cada uma dessas terríveis criaturas poderia ser considerada uma possível colheita de Biomassa, a barrinha vermelha de XP, esperando pela minha colheita! 

Primeiro eu tinha que fazer os preparativos. As próximas horas passaram lentamente enquanto eu permanecia diligentemente sobre a água. Mudava minha posição de tempos em tempos para ficar mais escondido enquanto observava a maneira como as criaturas se moviam e tomando cuidado para ver para onde as criaturas iam depois que saiam dali. 

As centopeias deslizaram para a extremidade oposta da caverna e, curiosamente, a Croco-besta também. Os cães se moveram para uma pequena abertura de túnel na extremidade sul, próximo ao túnel de onde eu saí. O lagarto com espinhos foi em direção a uma parede e começou a subir antes que eu o perdesse de vista nas sombras. 

‘Outro andador de paredes hein? Eu te chamaria de irmão se não precisasse te comer! Hehehehe.’ 

À medida que as criaturas partiam, elas eram substituídas por mais que saiam das sombras e por trás das rochas. 

Depois de duas horas, finalmente fui recompensado. 

【Furtividade atingiu o nível 3】 

‘Finalmente! Agora minhas pobres garras de formiga precisam de uma pausa!’ 

Pode parecer fácil ficar pendurado de cabeça para baixo, mas estava gastando energia e não tinha comi nada. Estava cansado e com fome. A comida teria que esperar por enquanto. Ainda era muito cedo para isso. 

Eu rastejei de volta para o meu túnel e fui para o meu esconderijo.  

‘Ufa! Só quando estou neste lugar que eu realmente me sinto seguro. Talvez seja o espírito de formiga começando a surgir dentro de mim?’ 

‘Esqueça isso! É hora de trabalhar mais um pouco!’ 

Comecei a alargar o espaço e usei a terra escavada para bloquear o túnel que leva para a caverna. Usei minhas mandíbulas para mover a terra e comecei a pressionar para baixo com meu corpo para compactá-la. Aquilo era estranhamente reconfortante. 

Normalmente, quando uma colônia está escavando um ninho, é empilhado um pouco de solo solto em volta do topo para criar uma barreira, a fim de ajudar a manter a água fora do ninho. Não fiz isso por alguns motivos: em primeiro lugar não estava preocupado com a chuva e, em segundo lugar, não queria que ninguém soubesse que tinha uma formiga ali. 

Portanto, meu plano era tentar restringir o túnel dos dois lados, deixando apenas uma pequena brecha para eu passar para o teto. Dessa forma, as criaturas maiores iriam desistir de me perseguir até o meu esconderijo. Eles poderiam entrar aqui se realmente quisessem, é claro, afinal é só terra, mas esperava que eles não se incomodassem com o trabalho que daria de fazer isso. 

Depois de algum tempo: 

【Escavação atingiu o nível 2】 

‘Ha! Agora posso cavar mais rápido!’ 

Depois de algumas horas movendo terra para lá e pra cá, consegui bloquear completamente um lado do túnel, deixando apenas uma pequena brecha no teto. Além disso, minha escavação atingiu o nível três. 

‘Estou exausto, hora de tirar uma soneca!’ 

Cobri a entrada do meu esconderijo, agora muito mais espaçoso, soltei minhas seis pernas e deitei meu corpo na terra macia. 

’Estou com tanta fome!’ 

Meu estômago estava se contorcendo e tendo cólicas. Conheci esse sentimento quando minha família não mandava dinheiro para o lanche ou deixava de colocar comida na geladeira. Essa sensação de fome não era tão estranha para mim. 

‘Eu só tenho que esperar. Quando eu acordar irei caçar minha primeira presa.’ 

‘Em já tenho um alvo!’